Saturday, March 31, 2007

Será um elogio?

"cromo como eras, dificilmente te safarias na banca" (disse-me uma ex-colega de faculdade, há dias).

Friday, March 30, 2007

The Concept and Characteristics of War in Primitive Societies

Estou agora a ler este texto[.pdf] (em rigor, é um capitulo de uma dissertação da Universidade de Groningen, "The origin of war: the evolution of a male-coalitional reproductive strategy) sobre a guerra (e conceitos aproximados) nas "sociedades primitivas".

Pelo que li, parece mais interessante que as teses do "selvagem pacifico" e do "selvagem assassino".

Thursday, March 29, 2007

Mesmo a propósito

A questão do que Rousseau pretendia dizer quando dizia que é "a sociedade que faz o homem mau" vem mesmo a propósito deste artigo (postado, tanto nos comentários ao post de Palmira Silva como por Patricia Lança n'O Insurgente).

A tese central do texto ("A History of Violence") é que a violência humana tem vindo a diminuir ao longo dos últimos milénios, séculos e anos, num processo continuo.

Em que medida é que isso se relaciona com as teses de Rousseau, e as suas diferentes interpretações? Acho que se relaciona de duas maneiras contraditórios.

Como disse, a tese de Rousseau (que é a sociedade que faz o homem mau) costuma ser apresentada de duas maneiras: uma (que é a que eu aprendi na faculdade) é a de que o homem, naturalmente, não é nada, e que é a sociedade que o vai fazer "bom" ou "mau" (e que, portanto, melhorar o homem é fácil - é só melhorar a sociedade em que ele está inserido); outra (que é a que aprendi no secundário) é a de que o homem é naturalmente "bom".

Ora, se a efectivamente a violência humana tem vindo a diminuir, e o Homem está se a tornar cada vez "melhor", isso tem duas conclusões opostas - por um lado, parece deitar por abaixo o "rousseaunanismo" em "versão ensino secundário"; por outro, parece confirmar em absoluto o rousseaunanismo em"versão ensino superior".

O mito do mito do bom selvagem

Por vezes fala-se do "mito do bem selvagem"; eu acrescentaria que esse mito é ele próprio um mito; afinal, creio que nenhum pensador com algum destaque alguma vez disse que o homem era naturalmente bom - há os que dizem que o homem selvagem não é nem bom nem mau (como Rousseau), há os que dizem que o homem selvagem vive numa economia de abundância (como Marshall Sahlins), há os que dizem que o homem selvagem é livre e que os chefes não mandam nada ou quase (Pierre Clastres, Theodore "Unabomber"Kaczinsky), etc. No entanto, não sei de nenhum que diga que o homem selvagem é "bom" (diga-se que a expressão inglesa "noble savage" já me parece poder ter implicações diferentes do que o "bom selvagem" das linguas latinas).

E, se alguêm me vier com o exemplo de Rousseau, deixo esta passagem:

"os homens nesse estado [de natureza], não tendo entre si nenhuma espécie de relação moral, nem deveres conhecidos, não poderiam ser bons nem maus, e não tinham vícios nem virtudes (...). Não vamos, sobretudo, concluir com Hobbes que, por não ter a menor idéia da bondade, o homem seja naturalmente mau; (...) de sorte que se poderia dizer que os selvagens não são maus justamente por não saberem o que é serem bons,"

Isto é, a tese de Rousseau não era de que "o homem é naturalmente bom e que é a sociedade que o corrompe"; era de que o homem, naturalmente, não é nada, e que é a sociedade que o faz mau ou bom.

O "mau selvagem"

A respeito da questão sobre se o ser humano é ou não naturalmente um "monstro sanguinário", seria conveniente quantificar a problema - a partir de quantas mortes dentro da mesma espécie por x habitantes poderemos considerar o homem (ou outro animal qualquer) como "naturalmente mau"?

É que por vezes desconfio que o que se passa é que os adeptos do "mau selvagem" usam como critério "basta ser maior que zero para provar que o homem é naturalmente mau" e os do "bom selvagem" usam como critério "basta ser menor que durante a II Guerra Mundial para provar que o homem é naturalmente bom".

Já agora, se fossemos aplicar este critério a outros animais (p.ex., para ver quais são os animais "piores" que o homem), será que o canibalismo de crias recém-nascidas (como por vezes acontece, p.ex., entre os gatos) deverá contar para a estatistica? É que se pode argumentar que, muitas vezes, esse canibalismo não é uma manifestação de agressividade intra-especifica, mas apenas sinal que não distinguem essas crias como membros da espécie (logo, os bloqueios instintivos contra matar animais da mesma espécie não são activados); afinal, o mesmo gato que come um gatinho recem-nascido pode, umas semanas depois, estar a brincar alegremente com as crias sobreviventes.

[Ou será que eu acabei por entrar por caminhos pouco recomendáveis para um post que, provavelmente, muitos leitores vão ler antes ou a logo a seguir ao almoço?]

Wednesday, March 28, 2007

Quioto e "anti-capitalismo"

Na revista Atlântico, A.A. Alves escreve que "quanto mais radicais forem as implicações anti-capitalistas de uma determinada causa ambientalista, mais apetecível ela se torna como mecanismo de propaganda (...) não é surpreendente que o tema das alterações climáticas suscite tantas paixões e esteja hoje no topo da agenda dos inimigos do capitalismo".

Mas a questão do "aquecimento global" (e das soluções propostas) terá alguma implicação "anti-capitalista"?

Para começar, diga-se que a expressão "anti-capitalista" é um bocado ambígua, porque pode significar duas coisas distintas - pode querer dizer "hostilidade aos capitalistas" ou "hostilidade ao capitalismo". Pode parecer o mesmo, mas não é - podermos facilmente imaginar politicas, atitudes, etc. que sejam favoráveis aos princípios do "sistema capitalista" (nomeadamente se definirmos "capitalismo" como "mercado livre") mas contrários aos interesses dos "capitalistas" (e vice-versa). No entanto, como o A.A.A refere-se aos "inimigos do capitalismo" (e não apenas dos "capitalistas"), deduzo que queira mesmo dizer "hostilidade ao capitalismo".

Agora (após esta aparente divagação que vai ser justificada mais para a frente) regressemos à questão - quais são as implicações "anti-capitalistas" da luta contra o aquecimento global? A filosofia de sistemas como o protocolo de Quioto ou Sistema de Transacções de Direitos de Poluição da UE é limitar a emissão de gases de estufa através da atribuição de "direitos de emissão de gases poluentes" transaccionáveis. Ora, isso é tudo menos "anti-capitalismo" - basicamente, isso mais não é que aplicar a lógica capitalista à atmosfera: mercantilizar o "direito a poluir" (como, no fundo, é dito pelo liberal Luis Pedro ou pelo trotskista Michael Lowi), em vez do sistema actual, que é uma espécie de "comunismo utópico" em que os "bens" (neste caso, o ar) não têm dono e cada um se serve à vontade ("de acordo com as suas necessidades"...).

É verdade que poderíamos dizer que essas medidas são "anti-capitalistas" no sentido de, em principio, irem contra os interesses dos "capitalistas" (já que reduzem o seu direito a poluir gratuitamente), mas acho que não é nesse sentido que a questão do "anti-capitalista" é levantada (diga-se que, mesmo nesse sentido, a limitação de emissão de gases poluentes não é necessariamente "contra os interesses dos capitalistas": se fosse feita leiloando os "direitos de poluição" e usando a verba obtida para reduzir os impostos sobre os lucros significaria apenas uma transferência de rendimento dentro da "classe capitalista" - dos capitalistas que poluem muito para os que poluem pouco).

Um ultimo ponto - há uma curiosa ironia no debate sobre o grau de gravidade da poluição atmosférica. Em principio, claro, sendo, em si, uma questão puramente cientifica e não politica, nem deveria haver grande relação entre as opiniões politicas de uma pessoa e a sua opinião sobre, digamos, se o aquecimento global existe e/ou qual a sua origem. No entanto, atendendo que os preconceitos ideológicos acabam sempre por afectar a nossa opinião, acho que o que seria de esperar, de acordo com o que as diferentes ideologias defendem, seria o seguinte:

O campo dos que dizem que a poluição, o aquecimento global, etc. não são graves deveria estar a abarrotar de adeptos do "Movimento Socialista Mundial" e de anarco-comunistas (este "abarrotar" deve ser relativizado, atendendo a que são duas ideologias ultra-minoritárias), que argumentariam "Estão a ver como é perfeitamente possível uma sociedade sem dinheiro nem preços e em que cada um se sirva simplesmente tirando o que necessita? É assim que funciona com o ar que respiramos e tem dado para todos sem haver nenhuma tragédia até agora".

O campo dos que dizem que a poluição ameaça a vida na Terra deveria estar a abarrotar de liberais (que, aliás, comparados com os anarco-comunistas ou com o MSM até parecem muitos), dizendo "Estão a ver como na ausência de direitos de propriedade, dinheiro, um mercado e preços o cálculo económico e o eficiente uso dos recursos é impossível? Veja o que aconteceu com a atmosfera - completamente destruída pela ausência de direitos de propriedade!".

Não preciso de dizer qual é a "curiosa ironia" que referi à pouco, pois não?

Monday, March 26, 2007

Sempre fui contra o "voto útil"

No entanto, este Sábado, decidi fazer uma excepção, e troquei o meu voto no Infante D. Henrique para o D. Afonso Henriques (mesmo se este e muitos dos outros candidatos foram, provavelmente, tão ou mais autoritários que Salazar).

Afinal, não adiantou nada - D. Afonso Henriques nem sequer ficou em segundo. Ou seja, mais uma vez se confirma a inutilidade do "voto útil".

Saturday, March 24, 2007

Ainda a respeito do "obrigado a ser ajudado"

Esta questão lembrou-me destes textos, argumentado que o "Estado Social" é um instrumento da "classe dirigente" para exercer o seu poder sobre os pobres:

Liberalism and Social Control de Kevin Carson
Welfare, the Exterminating Angel, panfleto de 1968 do Movement for a Democratic Society ("braço adulto" dos SDS)

Note-se que, no geral, eu não subscrevo essa posição, mas em casos pontuais pode ser verdade.

Obrigado a ser ajudado?

Hoje, no Sol falava-se do caso de um casal da Nazaré que morreu, meio "abandonado", na barraca que habitava, após ter recusado várias ofertas da Segurança Social e da Câmara Municipal para apoio domiciliário, acompanhamento, etc.

Na sequência, responsáveis da Segurança Social lamentavam-se por a lei portuguesa não lhes permitir intervir contra a vontade das pessoas que querem "ajudar". E qual é o problema, pergunto eu? Se as pessoas não querem ser ajudadas, o que é que a Segurança Social tem a ver com isso? Seria diferente se estivéssemos a falar de menores, em que por vezes a sociedade tem que os proteger dos próprios pais ou tutores, mas, no caso de adultos, se eles preferem ficar "abandonados" numa casa suja e miserável, é problema deles.

Poderão argumentar "o Miguel é hipócrita! Defende que os pobres têm o direito a recusarem auxilio, mas já é contra os contribuintes poderem recusar-se a contribuir para os auxiliar". A diferença é que, quando um potencial "ajudado" recusa ajuda, só se está a prejudicar a ele próprio (excluindo, volto a lembrar, os casos em que tenha outras pessoas a seu cargo, como crianças) - na verdade, até se pode argumentar que essa recusa é "benéfica" para o resto da sociedade (menos trabalho e despesa); pelo contrário, se alguêm se recusar a contribuir financeiramente para a assistência social, tal vai prejudicar outras pessoas (nomeadamente os beneficiários que queiram ser ajudados).

Mapa horário

Se olharmos para este mapa e compararmos os meridianos com a hora legal, vemos que Portugal, geograficamente, já esta na fronteira entre a "zona 0" e a "zona -1" (na verdade, a fronteira entre essas 2 zonas está ligeiramente a ocidente da fronteira Portugal-Espanha). Ora, no fundo, a nossa hora legal já está 1 hora adiantada face à hora natural (já que adoptamos a hora da "zona 0") - faz sentido irmos adiantar ainda mais uma hora?

Espanha e França, que ficam na "zona 0", adoptam o horário da "zona +1" (Alemanha, Itália), suponho que pelas referidas vantagens económicas. Mas agora imagine-se que isto feito pelos vários paises - Espanha e França adoptam o horário alemão; depois Portugal iria adoptar o horário espanhol (que já não é o horário "natural" de Espanha mas o da Alemanha); se a Europa não acabasse aqui, aonde é que se iria parar??

Mudem vocês o vosso horário

«"Quatro confederações patronais escreveram ao primeiro-ministro, José Sócrates, a pedir a uniformização da hora legal em Portugal com a que está em vigor na maior parte dos países da Europa continental."»

«Na carta, a que o DN teve acesso, as cúpulas patronais da indústria, comércio e agricultura argumentam que "a diferença de uma hora provoca dificuldades nos contactos comerciais"»

Se a diferença de horário prejudica os "contactos comerciais" com o resto da Europa, os empresários têm uma solução muito simples - mudem eles o seu horário. Por exemplo, se lhes dá jeito começarem a trabalhar à mesma hora que os seus colegas espanhóis, é só começarem a trabalhar às 8 da manhã em vez de às 9 (ou, caso comecem a trabalhar às 8, passarem a começar às 7). É verdade que, para as empresas, o que interessa não é apenas a hora a que os empresários começam a trabalhar, mas sobretudo a dos funcionários - mas aí a solução também é simples: podem negociar com os empregados envolvidos nos contactos internacionais essa antecipação do horário. Claro que, até por razões de compatibilidade familiar, muitos desses empregados não gostariam de começar a trabalhar uma hora mais cedo que o resto da população, mas era questão de lhes pagar mais para os convencer a isso (seja através de salários mais altos, de um "subsidio de horário antecipado" ou lá o que fosse).

Assim, se efectivamente começar a trabalhar uma hora mais cedo tivesse ganhos económicos significativos, provavelmente seriam suficientes para pagar esses prémios salariais aos empregados que iriam passar a trabalhar uma hora mais cedo; por outro lado, se os ganhos económicos não gerarem receitas suficientes para pagar o "horário antecipado", então é sinal que se calhar os beneficios não são assim tantos.

Friday, March 23, 2007

Comentário tornado post

O comentário que Hugo fez ao meu post de há vários meses A Revolução Hungara de 1956:

Este meu comentário resulta de uma investigação pessoal sobre factos, baseada principalmente em relatos na "primeira pessoa" de quem viveu a revolução de 56 (acrescento que um das fontes é o avô de minha esposa, húngaro, oficial combatente da segunda guerra mundial, que ainda no sábado passado esteve comigo a almoçar). Também a minha vivência diária em Budapeste me leva a entender as "coisas" e as causas desta gente (passadas e presentes).


Nagy Imre realmente demonstrava tendências reformistas, mas é o movimento estudantil, não em Budapeste, mas em Szeged que inicia aquilo que veio a tornar-se numa NÃO planeada revolução. Andropov, embaixador soviético na Hungria, sempre esteve atento aos movimentos de Nagy Imre, não podendo evitar a posterior proclamação separatista da república que Nagy Imre assume como consequência da vontade do povo (e do modo como o povo se manifestou). Andropov, leva até o novo governo a acreditar que Kruschev abdica de reacção e permita esta libertação da Hungria.Mas porque atrás da Hungria (e da Polónia) se seguiriam outros e dar-se-ia o colapso, é o enviado chefe máximo da KGB que em conjunto com o Embaixador que manobra um "entertenimento" de credulidade na independência e finge a retirada dos blindados da capital, que a apenas 15 km da capital estacionam e esperam por reforços mais pesados de unidades que eventualmente se dirigiam para o canal de Suez, antes passando por Budapeste para sanear a situação em favor da decisão do presidente da União soviética.


O movimento estudantil em Szeged, é um simples movimento sem aspirações maiores (recorde-se que Szeged é bastante longe da capital, junto à fronteira com a Jugoslávia, hoje Sérvia). apenas demanda de condições académicas, liberdades ideológicas e de expressão. Certo é que esse movimento acabou influenciando as associações académicas da capital (nao de imediato, mas passado uma semana) principalmente porque a primeira não foi reprimida (pelo explicado anteriormente, não terem havido aspirações revolucionárias). Assim na capital, aos estudantes juntaram-se reformistas, opositores e oportunistas, numa confusão instalada que acabou estimulada e aproveitada para uma revolução. Que se torne claro que ninguém toma repentinamente o poder porque foi o poder que tentou se moldar às palavras de ordem do povo frente ao parlamento, e é aos poucos que as declarações de independência e de vontade própria da república são anunciadas de modo a "testar" as reacções soviéticas. Em pouco tempo é verdade que o povo se inflamou e pegou em armas juntando-se (somente depois) o exército bem como partes de unidades do contingente militar soviético (que alguns blindados soviéticos parquearam junto aos manifestantes, apenas soldados, russos, Azeris, ucranianos, não importa a sua nacionalidade, que fartos de um sistema, acreditaram ser a solução húngara um "passaporte para a sua liberdade pessoal" e a ela se juntaram. Quanto à Igreja católica, não encontrei também referências de intervenção neste processo, bem como confirmo não se tratar de uma revolução anti-comunista ou de ideais fascistas.

[Como o post já é antigo, de certeza que este comentário iria ficar perdido]

Efeito underdog?

Imagine-se uma instituição dividida em dois locais de trabalho, o "local A" (aonde fica a sede), com 1300 trabalhadores, e o "local B", com 150.

Essa instituição tem um conselho consultivo com 1 representante dos trabalhadores. Para a eleição desse representante, apresentam-se 2 listas: uma em que todos os candidatos (um efectivo e um suplente) e os subscritores da lista trabalham em A, e outra em que todos os candidatos e subscritores trabalham em B.

Qual a probabilidade da segunda lista ganhar?

Qual é a diferença...

... entre "engenheiro" e "licenciado em Engenharia"?

Tuesday, March 20, 2007

Ementa jacobina?


Thursday, March 15, 2007

Produtividade dos EUA e da França

N'O Insurgente, A.A.Alves refere um artigo argumentando que a superior produtividade francesa é derivada aos trabalhadores pouco qualificados terem mais dificuldade em arranjar emprego em França (logo, isso faria, nas estatísticas, aumentar a produtividade média).

Há cerca de um ano, escrevi um post a criticar esse raciocínio, já que, mesmo que grande parte dos desempregados franceses arranjassem emprego e tivessem uma produtividade zero (!) a produtividade média francesa continuaria superior à norte-americana (embora possa haver alguma pertinência nas observações que Luis Pedro fez ao post).

No entanto, para países com um nível de desenvolvimento semelhante, se calhar, tão importante como comparar a produtividade (que pode ter variações devido aos factores referidos) é comparar o crescimento da produtividade, já que a) a longo prazo, é o crescimento da produtividade que determina o crescimento do nível de vida; e b) factores como um maior desemprego podem aumentar estatisticamente a produtividade mas já é mais difícil que aumentem a taxa de crescimento da produtividade.

Não encontro nenhuma estatística com o crescimento comparado da produtividade nos anos mais recentes; no entanto encontro um estudo [pdf] sobre a evolução da produtividade de 1990 a 2002:



















Ou seja, pelo menos até 2002, a França tinha, não só uma maior produtividade, como uma taxa de crescimento da produtividade ligeiramente maior que os EUA (Portugal e a Grécia estão ainda melhor, mas aí estamos a falar de países que partem de uma base muito inferior, logo é explicável que a taxa de crescimento seja maior).

É verdade que este gráfico vai só até 2002, e creio que a produtividade norte-americana acelerou nos últimos anos, mas, pelo menos até essa altura a economia francesa parece ter sido mais dinâmica que a norte-americana.

Sobre Persas e Espartanos

Acerca do filme 300, muita gente tem falado da batalha das Termópilas como um conflito entre "liberdade" (representado pelo gregos, nomeadamente espartanos) e "tirania" (os persas).

Bem, se definirmos "liberdade" no sentido de "soberania nacional" ou "soberania da cidade-Estado" (ou seja, como "liberdade colectiva"), isso faz sentido - de um lado temos Esparta, a defender a sua independência (e a das outras cidades gregas), e do outro, o expansionista Império Persa.

Mas, se formos ver a coisa em termos de liberdade pessoal, será que, apesar de tudo, não haveria mais disso na Pérsia do que em Esparta?

Registe-se que se calhar a Pérsia não era tão tirânica como se anda a dizer - afinal, os persas, quando conquistaram Babilónia, até permitiram aos judeus (que lá estavam cativos) regressar à "Terra Prometida".

Ainda os "bons" e os "maus selvagens" (II)

Do meu anterior post não se deduza que eu subscreva a tese do "selvagem pacífico que não faz mal a uma mosca"; muito pelo contrário - por norma, sobretudo os caçadores-recoletores são excelentes guerreiros, nem que seja porque a tecnologia e treino necessários para ser um bom caçador são essencialmente as mesmas que para ser um bom guerreiro (a ideia do "selvagem pacifico" não passa de um tipico mito imperialista, em versão "que queridos que os outros povos são!").

Mas, por outro lado, os "selvagens" têm menos motivação para se lançarem em guerras de conquista territorial - no seu grau de desenvolvimento tecnológico, os "lucros" que um "Império" poderia propiciar (via cobrança de tributos) seriam relativamente baixos, comparados com os custos de o conquistar e manter.

Ainda os "bons" e os "maus selvagens"

Na polémica sobre as as "sociedades primitivas" são mais, menos ou tão violentas como as "não-primitivas", um dado que é frequente ir-se buscar é a taxa de homicidios em cada tipo de sociedade. Mas essa comparação esquece um pormenor importante - as "sociedades primitivas" não têm "Estado", o que significa que disputas territorias, punição de crimes, etc. são feitas atravéz do que podemos designar como "violência privada". Será que os mortos na disputa entre dois clãs por um terreno de caça devem contar como "homicidios"? Ou os mortos numa "vendetta" porque o trisavô de um foi morto pelo trisavô do outro?

Aonde é que eu quero chegar? Que os número de homicidios numa "sociedade primitiva" são inflacionados, já que acaba por se incluir, não apenas o equivalente aos homicidios no mundo desenvolvido, mas também situações que são o equivalente, não aos nossos homicidios, mas às nossas guerras, punições criminais, etc.. Ou seja, não se podem comparar os homicidios das "sociedades primitivas" com os das "sociedades desenvolvidas", porque nós, alêm dos homicidios, temos também as "mortes pelo Estado" (e, na verdade, suspeito que a tendencia para considerar que o "Homem é o animal mais perigoso do mundo" deriva mais das guerras e violência governamental do que dos assassinios "privados").

Como avaliar, então, as "mortes pelo Estado"? Li algures que, no século XX, os Estados (incluindo guerras) terão sido responsáveis por 203.000.000 mortos, ou seja 2.030.000 mortos por ano; assumindo uma população mundial de 6 mil milhões, isso dá, anualmente, cerca de 34 mortos por 100.000 habitantes (este valor está calculado por baixo, já que durante a maior parte do século XX a população mundial foi inferior a 6 mil milhões).

Segundo este texto (pretendendo refutar a suposta não-violência das sociedades primitivas), o nível de homicidios nos EUA seria, em 1980, de 10,2 por 100.000 habitantes, enquanto entre os bosquimanos do Kalahari seria de 29,3 por 100.000 habitantes. Vamos admitir que esses valores podem ser generalizados para o conjunto das sociedades "desenvolvidas" e "primitivas" - à primeira vista parece, efectivamente, que os "selvagens" são mais violentos. No entanto, se juntarmos os 34 /100.000 mortos "vitimas do Estado" (e, admitindo que os EUA são um país relativamente violento, assumirmos que os homicidios no resto do "mundo desenvolvido" andarão pela metade), concluimos que o total de homicidios (ilegais e legais) no mundo "desenvolvido" andará pelos 4o mortos por 100.000 habitantes, ou seja, mais 50% do que entre os bosquimanos (já os Gebusi da Nova Guiné continuarão acima dessa marca, mesmo tendo em atenção que grande parte dos homicidios nesse povo são mais aplicações de pena de morte do que homicidios "clássicos").

Agora, há uns pontos que convêm esclarecer - o que conta efectivamente como "sociedades primitivas"? Apenas os caçadores-recoletores? Os povos pastoris? Horticultores? As sociedades agrárias anteriores à invenção do arado?

E como "mundo desenvolvido"? Provavelmente alguns leitores vão argumentar que grande parte dos "massacres pelo Estado" que refiro não ocorreram no "mundo desenvolvido", mas recordo que a dicotomia é "sociedades desenvolvidas"/"sociedades primitivas", ou seja, com "sociedades desenvolvidas" estou-me a referi a tudo o que não sejam "sociedades primitivas", e não apenas ao chamado "Primeiro Mundo". Aliás, convem recordar que os autores que elogiavam o "bom selvagem" contra o "mundo civilizado", por "mundo civilizado" referiam-se a sociedades (Europa do séc. XVIII) com um nivel de desenvolvimento, em muitos aspectos, comparável ao do actual "Terceiro Mundo".

Por outro lado, se por "mundo desenvolvido" contarmos apenas o mundo desenvolvido propriemente dito, não sei se isso afectará muito a "taxa de mortalidade pelo Estado" - é verdade que os mortos serão muito menos, mas a população total também o será.

The Myth of Man the Killer

A respeito dos mitos do "bom selvagem" e do "mau selvagem", este texto de Eric Raymond - The Myth of Man the Killer:

"Our original sin is not murderousness — it is obedience."

Já agora, a respeito deste post de Cláudio Tellez, noto que o facto de várias tribos se matarem umas às outras "em disputas por terras ou animais" em nada afecta o argumento de que a propriedade privada seria rara nas "sociedades primitivas" - penso que nunca niguém sustentou que houvesse propriedade colectiva universal (i.e., propriedade de toda a humanidade) nessas sociedades, apenas que - sobretudo - os bens imóveis (nomeadamente a terra) costumariam ser propriedade da aldeia ou do clã.

Wednesday, March 14, 2007

Estimativa dos resultados de leiloar as emissões de CO2

Há uns tempos, eu escrevia sobre as vantagens de passar a atribuir as licenças de emissão de CO2 por leilão.

Continuando nesse raciocinio, vou tentar calcular qual seria o impacto sobre a receita pública e como poderia ser aproveitado.

Em 2005, em Portugal, a indústria emitiu 36.413 milhões de toneladas de CO2. É de supor que, se esses direitos fossem leiloados, o seu preço fosse parecido com o seu valor a nivel do mercado europeu (em Março de 2007, estava a 1,2 euros a tonelada), o que daria uma receita de cerca de 43.695 milhões de euros. No entanto, penso que o que é transacionado é o direito a poluir durante vários anos (tenho a impressão que os direitos de emissão na segunda fase serão respeitantes a 5 anos - de 2008 a 2012).

Portanto, se o leilão de direitos de emissão, válidos por 5 anos, rendesse 43.695 milhões de euros, isso seria, mais ou menos, o equivalente a uma receita anual de 8.700 milhões de euros.

Para o que essa receita poderia ser usada?

A minha hipotese favorita é usá-la para financiar um "dividendo do cidadão" - p.ex., pagar 800 euros/ano a cada pessoa.

Outras hipotéses:

Abolir o IRS (segundo o Orçamento de Estado para 2007 [pdf], a receita prevista do IRS é de 8.600 milhões de euros)

Abolir o IRC (como a receita prevista é de 4.805 milhões de euros, ainda sobrava dinheiro)

Reduzir o IVA de 21 para 7% (a receita prevista do IVA 13.190 milhões de euros; o valor que eu calculei lá acima corresponderia a cerca de 2/3 disso)

Relembro que estas hipoteses são alternativas (se seguirmos uma, claro que não podemos seguir outra).

Claro que este cálculo deve estar cheio de erros, já que o meu conhecimento disso é o de qualquer "curioso" (no entanto, tentei que os erros fossem no sentido de minimizar a receita prevista).

Tuesday, March 13, 2007

Venezuela - a polémica sobre as negociações salariais no sector petrolifero (II)

Efeito de estufa - comentário feito em post

Aproveito para pôr aqui uma versão corrigida e melhorada de um comentário que fiz ao post Continua a ofensiva eco-religiosa contra a ciência, n'O Insurgente (em resposta a um comentário de Carlos Carvalho - cujas passagens, como é habito, aparecem a mangenta).

“porque razao os seus amiguinhos verduscos sao uns mentirosos, aldraboes, intrujoes e servem eles sim interesses esquerdistas nauseabundos”

Por outras palavras “their work derided, and themselves labelled as stooges.”

“Interesses esses que tentam ‘a viva forca destruir a estrutura capitalista ocidental para implantar uma nova ordem mundial baseada em principios ecologistas e socialistas desfazados da realidade.”

Acho que há uma grande confusão na cabeça de Carlos Carvalho - o protocolo de Kyoto é capitalista: a sua essência é privatizar o direito a poluir e torná-lo uma mercadoria transacionável. Pelo contrário, o sistema actual em que se pode poluir sem pagar nada por isso é que é “comunista”, na versão mais extrema (estilo "Movimento Socialista Mundial", que defende a abolição dos preços e do dinheiro)

“o que levou os seus amiguinhos a declarar que estavamos a caminhar para uma nova ice-age que foi agora substituida pela global-warming.”

Eu já li livros escritos em 1977 em que se falava do perigo do aquecimento global (e parece que até já nos anos 50 essa hipótese era ponderada).

“O Co2 e’ apenas um dos gases de estufa cuja concentracao e’ insignificante quando comparada com o vapor de agua que e’ o maior. Fazer-se o argumento de que o aumento de C02 e’ responsavel pelo aumento da temperatura, quando o C02 nao e’ o maior gas de estufa e’ simplesmente intrujice, pura e simples intrujice e aldrabice.”

Primeiro - o facto do CO2 ter um papel insignificante no efeito de estufa não é muito relevante: o efeito de estufa faz a terra ser para ai mais 30º C quente do que seria sem ele. No “aquecimento global”, o que se fala é do aumento de mais alguns graus na temperatura média - ora, um aumento pequeno (em termos relativos) pode perfeitamente ser causado por um gás com um papel pequeno.

Segundo - “Fazer-se o argumento de que o aumento de C02 e’ responsavel pelo aumento da temperatura, quando o C02 nao e’ o maior gas de estufa e’ simplesmente intrujice, pura e simples intrujice e aldrabice” - não sei se o que o Carlos Carvalho está a escrever é intrujice ou simples deficiência cognitiva. Qual pessoa que saiba fazer contas vê que é perfeitamente possível o CO2 não ser o principal gás de estufa e o aumento do CO2 ser o responsável pelo aumento da temperatura. Imagine-se o seguinte cenário hipotético: primeiro, tínhamos na atmosfera 100 unidades de CO2 e 900 unidades de outros gases de estufa; depois, ao fim de algum tempo, passávamos a ter 150 unidades de CO2 e 900 unidades de outros gases. Ou seja, neste exemplo hipotético, o CO2 não é (nem de longe) o principal gás de estufa, mas o aumento do CO2 seria o responsável pelo aumento de gases de estufa (neste exemplo, todo o aumento dos gases de estufa é motivado pelo aumento do CO2).

Terceiro - o facto de o principal gás de estufa ser o vapor de água não reduz o papel do CO2, na verdade até o reforça. Porquê? Porque, quanto maior a temperatura, maior a quantidade de vapor de água na atmosfera. Ou seja, o aumento do CO2, além do aumento directo da temperatura, vai também aumentar a evaporação, e, por esse meio, aumentar ainda mais a temperatura (já que o vapor de água também é um gás de estufa).

Monday, March 12, 2007

Auto-emprego, risco, liberalismo, etc.

Há uns dias, n'O Insurgente, Helder Ferreira escreveu "A base do capitalismo neoliberal é o empreendedor, o trabalhador por conta própria e não há nenhuma actividade tão flexível e com tão pouca segurança".

Não vou por em causa que a actividade do trabalhador por conta própria é mais arriscada que a do assalariado - mas isso não será unicamente porque há leis protegendo os trabalhadores por contra de outrém de serem despedidos sem mais nem menos?

Afinal, se não existissem limites legais aos despedimento de trabalhadores por conta de outrém, talvez essa situação fosse mais arriscada que a do trabalhador por conta própria - em muitos aspectos, um trabalhador por conta de outrém é como um trabalhador por conta própria só com um cliente; ora, parece-me muito mais arriscado vender serviços no valor de 1.000 euros/mês a apenas um "cliente" do que no valor de 2o euros/mês a 50 clientes - afinal, a probabilidade de um só "cliente" se fartar de mim (ou deixar de poder comprar os meus serviços por outras razões) é muito maior que a de 50 clientes se fartarem de mim.

Steve Pavlina, em "10 Reasons You Shoud Never Get a Job", expõe isso (claro que para uma realidade laboral com leis completamente diferentes da portuguesa):

Many employees believe getting a job is the safest and most secure way to support themselves.

Morons.

Social conditioning is amazing. It’s so good it can even make people believe the exact opposite of the truth.

Does putting yourself in a position where someone else can turn off all your income just by saying two words (”You’re fired”) sound like a safe and secure situation to you? Does having only one income stream honestly sound more secure than having 10?

The idea that a job is the most secure way to generate income is just silly. You can’t have security if you don’t have control, and employees have the least control of anyone. If you’re an employee, then your real job title should be professional gambler.

Agora, já saindo do ambito do post de Helder Ferreira e divagando para outros assuntos, vou comparar o grau de "liberalismo" (medido pelo indice da Heritage Foundation) com a perentagem de população que trabalha por conta própria (dados da OCDE):


Auto-
emprego
"Liberdade Económica"
Australia 12,6 82,7
Austria 11,8 71,3
Belgium 13,6 74,5
Canada 9,2 78,7
Czech Republic 15,3 69,7
Denmark 7,8 77,6
Finland 12 76,5
France 8,9 66,1
Germany 11,2 73,5
Greece 30,1 57,6
Hungary 13,3 66,2
Iceland 14,1 77,1
Ireland 16,6 81,3
Italy 24,9 63,4
Japan 10,2 73,6
Korea 27 68,6
Luxembourg 6,5 79,3
Mexico 28,5 65,8
Netherlands 11,1 77,1
New Zealand 17,8 81,6
Norway 7,1 70,1
Poland 20,4 58,8
Portugal 23,5 66,7
Slovak Republic 12,6 68,4
Spain 16,5 70,9
Sweden 9,6 72,6
Switzerland 9,3 79,1
Turkey 29,1 59,3
United Kingdom 12,7 81,6
United States 7,3 82


Pelos vistos, no conjunto da OCDE, até há uma correlação negativa (-0,65, para ser mais exacto) entre o liberalismo económico e o trabalho por conta própria.

Esta ligação pode nem ter importância nenhuma (e, a haver uma relação causal, nem sei em que sentido será), mas contribui para relativizar certas teorias que associam a maior preferencia de certos paises pelo liberalismo económico a uma cultura mais valorizadora da "autonomia" e da "iniciativa pessoal".

Friday, March 09, 2007

Ainda a respeito de Salazar e do fascismo

Acerca dessa polémica (e da tendência que por vezes há para fazer disso quase um caso de vida ou de morte), aproveito para relembrar algo que escrevi em Maio de 2006:

Mas, será que isto é muito relevante? Eu acho que não (ou melhor, é, mas noutro contexto [*]) - para os oposicionistas, serem presos e torturados pela policia não é substancialmente diferente de serem presos e torturados por uma mílicia de camisas-coloridas. Também é mais ou menos indiferente se os adjuntos do ditador são "notáveis" tradicionais (catedráticos e generais) ou quadros partidários.

A diferenças entre fascistas e conservadores autoritários "à moda antiga" é mais relevante antes de chegarem ao poder (uns organizam manifestações e usam uniformes, enquanto os outros conspiram em restaurantes selectos). Depois de chegarem ao poder, as diferenças tenderão a esbater-se (sobretudo se os "conservadores à moda antiga" forem também nacionalistas): uma ditadura clássica, se tiver ambições de continuidade, tenderá a organizar os seus apoiantes (criando, assim, uma espécie de "partido do governo"); por seu lado, depois de um movimento fascista chegar ao poder, muita gente irá entrar para o partido ou para a milicia apenas para fazer carreira, diminuindo o seu vigor ideológico e tornando-os como um mero prolongamento do aparelho de Estado.

* neste outro post, digo qual é esse contexto em que a discussão se torna relevante

Quem foi e quem não foi "fascista"

Face à questão se Salazar foi ou não fascista (e a questões associadas, como se Franco foi ou não fascista), para mim os ditadores fascistas da Europa foram:

Benito Mussolini
Adolf Hitler
Horia Sima* (Roménia, 1940)
Ante Pavelic (Croácia, 1940-44)
Ferenc Szálazi (Hungria, 1944-45)

Quanto aos motivos porque não considero Salazar fascista, já os expus há uns meses atrás.

E, pegando nos exemplos hungaro e romeno, Salazar (e Franco) teria muito mais a ver com o almirante Horthy (que foi para o Estoril após a II guerra Mundial) ou com o general Antonescu do que com os Setas Cruzadas de Szalazi ou a Guarda de Ferro de Sima e Corneliu Codreanu (e, se fossem alemães, imagino mais facilmente Salazar e Franco no "Partido Nacional Popular" do que Partido Nazi). Claro que podemos considerar que toda essa gente era "fascista", mas os confrontos entre essas facções (Szalazi derrubou Horthy, Antonescu expulsou a Guarda de Ferro do governo, etc.) parecem demonstrar que são coisas diferentes (por outro lado, as alianças que frequentemente estabeleceram também parecem demonstrar que são coisas parecidas).

*Sima foi só um semi-ditador, já que partilhava o poder com o general Antonescu, mas pronto...

Venezuela - a polémica sobre as negociações salariais no sector petrolifero

Alguns artigos sobre a negociação sobre o processo negocial dos trabalhadores da indústria petrolifera venezuelana (aparentemente, o governo venezuelano terá assinada um acordo colectivo com sindicatos que há vários anos que não realizam eleições internas, em vez de com as direcções sindicais "de base" recentemente eleitas):

Los petroleros están Rojos de la rabia por maniobras en la Convención Colectiva, 08/03/2007
"Con esta Acta mataron la democracia participativa y protagónica de los petroleros",08/03/2007
José Bodas: "la burocracia sindical petrolera, de la IV y de la V, tiene sus días contados" , 05/02/2007
¡¡ Negociación de contrato ya, en PDVSA Gas y PDVSA Petróleo !!... ,27/01/2007

Provavelmente, os leitores estão a pensar "Não somos venezuelanos nem trabalhamos na indústria petrolífera, logo o que é que isto nos interessa?", mas, como já escrevi, acho que a sutuação venezuelana é merecedora de atenção e estudo (até pela quantida imensa de gente cá que gosta de evocar o exemplo venezuelano, seja pela positiva ou pela negativa).

Thursday, March 08, 2007

Azadi, Dimuqrati

"Azadi, Dimuqrati" (ou coisa parecida), em português "Liberdade, Democracia", um hino da Associação Revolucionária das Mulheres do Afeganistão (homenagem* - tardia - ao Dia Internacional da Mulher)

* no meu local de trabalho eu propus outra homenagem (as mulheres pagarem o almoço aos homens), mas foi recusada pelas homenageadas

Tuesday, March 06, 2007

A indisciplinaeviolência nas escolas

Frequentemente fala-se/escreve-se do problema da "indisciplinaeviolência nas escolas" (bem, normalmente é escrito "indisciplina e violência", mas como as palavras vem sempre em conjunto, quer dizer que são considerados o mesmo conceito e não duas coisas distintas).

Mas o que eu quero dizer é que "indisciplina" e "violência" são coisas distintas: podemos ter indisciplina sem violência: alunos a jogarem à batalha naval ou a lerem livros de quadradinhos durante uma aula é indisciplina mas não é violência; e, mais importante, podemos ter disciplina e violência: escolas de elite como o Colégio Militar ou as "public schools" inglesas são bastante disciplinadas e, ao mesmo tempo, têm grande fama (não sei se proveito) de violência entre os alunos.

Já agora, quando se fala de "violência", seria também conveniente distinguir entre a violência simétrica, como dois alunos (ou dois grupos) à pancada (ou à facada) um com o outro, e a violência assimétrica (o chamado bullying), em que há uma divisão clara entre agressores e agredidos (e que tem por objectivo, exactamente, marcar essa divisão). Arriscaria-me a dizer que a violência que está mais especificamente associada à indisciplina (e a meios sociais problemáticos) é a primeira; quanto ao "bullying", pode facilmente coexistir com um ambiente "disciplinado", já que, como por regra se trata de violência de baixa intensidade prolongada no tempo, é relativamente "invisível" e não chega a ser considerado "indisciplina" (porque não perturba a "ordem pública" na escola) - se calhar, até é mais provável que seja nos casos em que os agredidos reagem que mais se fale em "indisciplina e violência".

Já agora, uma leitura recomendada

Sobre "revoluções" e "socialismos-a-partir-de-cima" e "a-partir-de-baixo" - The Two Souls of Socialism, de Hal Draper (embora a sua critica ao anarquismo seja, a meu ver, muito discutível).

"Mas o que deu neste?"

Devem estar os meus leitores a pensar - "Quase post sim, post não, o tema é a Venezuela. Estará a pensar em emigrar?".

Não, não estou a pensar emigrar. O que se passa é que acho que a Venezuela está à beira de momentos decisivos, em que se desenvolvem três processos distintos (não necessariamente opostos): a "revolução vinda de cima", protagonizada pelo governo de Chavéz; a "revolução vinda de baixo", feita por muitos dos seus apoiantes (p.ex., ocupações de latifúndios, empresas paradas, etc.); e a "contra-revolução" (que aguarda na sombra).

Aliás, este triângulo já se evidenciou durante o golpe de 2002: quando soube que tinha perdido o apoio do exército, Chavez demitiu-se e entregou o poder aos golpistas; mas, nos dias seguintes, os seus apoiantes mobilizaram-se e derrotaram o golpe. Ou seja, a "revolução vinda de cima" rendeu-se à "contra-revolução", mas esta foi derrotada pela "revolução vinda de baixo" - infelizmente, o povo venezuelano parece ter continuado a acreditar na ideia de "Chavez salvador do povo" apesar da realidade ter sido "o povo salvador de Chavez".

No entanto, dando um volta pelo "chavismo social" representado na Net (p. ex. a Aporrea, Frente Camponesa Ezequiel Zamora) nota-se um discurso bastante critico face ao "chavismo institucional" (em versão "Chavez é o maior, mas os seus ministros, altos funcionários, dirigentes partidários, etc. são uma porcaria"). Na verdade, creio que as contradições dentro desse triângulo ("revolução vinda de cima", "revolução vinda de baixo" e "contra-revolução") tenderão a agravar-se e o desenlace talvez seja uma questão de meses. E penso que o desfecho, seja ele qual for, terá grandes consequências, não apenas para a Venezuela, mas para todo o mundo: se ganhar a "revolução vinda de baixo", isso dará um impulso considerável à esquerda radical em todo o mundo; se ganhar a "contra-revolução", isso dará um impulso considerável à direita em todo o mundo (e, na América Latina, poderá ser o regresso das ditaduras militares à moda dos anos 70 - "abriria a caça" aos governos "progressistas" que têm sido eleitos nos últimos tempos, nomeadamente o de Morales); finalmente, se ganhar a "revolução vinda de cima", não tenho certeza se o resultado seria parecido com os antigos regimes comunistas ou se seria algo mais no gênero das ditaduras "nacionalistas-revolucionárias" do tempo da Guerra Fria (Nasser, Nkrumah, o Ba'ath na Siria e no Iraque, etc.), mas, de qualquer forma, não seria nada de particularmente recomendável.

E é por isso - eu achar que o destino da politica mundial nos próximos anos se joga nesse país - que ando a dar um destaque, talvez exagerado, à situação venezuelana.

Monday, March 05, 2007

Desconfio que o "partido unido" da Venezuela não se vai unir

Há uns meses, o presidente da Venezuela, Hugo Chavez "apelou" (ou ordenou?) que os partidos que o apoiaram se fundissem num único partido.

Cá os comentários a isso foram de dois tipos: por um lado, houve logo quem falasse em "partido único" (não ouvi esses comentários quando, em França, Chirac tentou fazer exactamente a mesma coisa com os partidos da sua área politica), tal como, aliás, o fim da limites à reeleição foi transformado em "presidente vitalicio"; por outro, houve os que ficaram entusiasmados.

Ora, afinal parece que as preocupações/entusiasmos se calhar não valeram a pena - três dos quatro maiores partidos chavistas, o "PODEMOS - Pela Democracia Social", o "Patria Para Todos" e o Partido Comunista já deram a entender que não estão muito entusiasmados com a ideia.

China e Taiwan

Quando se fala da possível independência de Taiwan, surge frequentemente a conversa "a China não reconhece Taiwan e considera-o uma provincia chinesa". Realmente é verdade; no entanto, porque quase nunca se refere que, oficialmente, Taiwan ("República da China") também não reconhece a "China Popular" e a considera como um conjunto de provincias rebeldes (em teoria, a capital da "Republica da China" é Nanquim)?

Aliás, Taiwan reivindica, não apenas a China continental, mas também a Mongólia, uma provincia russa e parte da Birmânia! É verdade que o actual governo taiwanês do Partido Democrático Progressista não reivindica activamente esses territórios, e até fez acordos comerciais com a Mongólia, mas oficialmente a "Republica da China" nunca renunciou a essas reivindicações.

Terra plana?

[Alguêm escreveu que "devemos ter uma cabeça aberta, mas não tão aberta que o cérebro caia para fora"]

Por outro lado...

... ainda bem.

Sunday, March 04, 2007

Sobre os "referendos revogatórios" na Venezuela

Entre os fãs internacionais de Hugo Chavez, uma das instituições que mais elogiam na chamada "revolução bolivariana" é o chamado "referendo revogatório", que permite, em certas circunstâncias, aos eleitores destituírem um eleito.

Eu já não dava grande valor a esse "referendo revogatório", por uma razão: o referendo só pode ser convocado após metade do mandato; entretanto, o mandato presidencial foi alterado de 4 para 6 anos - ou seja, o periodo em que o Presidente pode exercer o mandato sem ser revogado (3 anos) é quase o duração do mandato inteiro sob a anterior constituição.

Entretanto, li na Aporrea (um portal com uma linha geral pró-Chavez) este artigo sobre como funciona esse sistema, e expondo as suas limitações. O que concluo, agora, é que a utilidade desse instituto é mesmo quase nula - afinal, com a excepção do Presidente, para todos os outros cargos a consequência da aprovação de um "revogatório" não é a realização de novas eleições, mas a substituição do politico em questão pelo seu sucessor legal (isto é uma versão simplificada; o melhor é ler mesmo o artigo). P.ex., se houvesse um referendo revogatório em Lisboa e vencesse o "Sim", o resultado não seria a realização de novas eleições para a CML, mas sim a substituição de Carmona Rodrigues por Paula Teixeira da Cruz, ou coisa assim. Ou seja, dificilmente esse referendo pode ser utilizado pelo povo para alterar a politica dos governantes (já que, em principio, o sucessor será da mesma "cor").

Saturday, March 03, 2007

Eclipse




















Além da Lua, se olharem bem, também devem conseguir ver uma grua das obras.

Thursday, March 01, 2007