Saturday, July 28, 2007

Os "amigos de Israel" nos EUA



Rapture Ready: The Unauthorized Christians United for Israel Tour from huffpost and Vimeo.

Via Antiwar.com Blog.

Nota: a "rapture" de que alguns falam entusiasmadamente é isto.

Israel - o segundo maior fracasso do século XX

Esta discussão no blogue atlântico relembrou-me uma opinião que tenho há muito tempo - Israel foi o segundo maior fracasso do século XX (o maior foi o comunismo).

Poderão perguntar "Israel, um fracasso? É o pais mais próspero da zona, ganhou todas as guerras (algumas contra inimigos muito mais fortes), é uma potência nuclear! Como é que Israel pode ser um fracasso?". Mas é que a ideia da criação do Estado de Israel foi criar um território aonde os judeus (por serem a maioria) estivessem protegidos de perseguições. Ora, se existe um país no mundo aonde os judeus não vivem em segurança, é exactamente em Israel.

Tuesday, July 24, 2007

Gastar muito vs. gastar mal


"Correndo o risco de voltar a comentar em duplicado, mas não querendo deixá-lo sem resposta à sua questão, digo-lhe que não é por os autarcas encostarem as inaugurações à época das eleições que os munícipes são lesados. Se fosse só essa a questão de algum modo cumpria-se a lei de A. Smith: Os interesses dos autarcas (de preservar ou conquistar o poder) conjugavam-se com os interesses dos munícipes através de realizações vantajosas para eles. O período de inaugurações não influencia, por si, a qualidade da obra

Acontece que, como se refere no "post" de L-AC “os aumentos da despesa servem para construir obras de forte visibilidade, como mercados municipais, estradas e rotundas. Simultaneamente, despesas em maquinaria e outros equipamentos diminuem "

Se os munícipes tivessem a real percepção que o dinheiro gasto em obras de fachada também era deles, formariam a sua opinião ao longo do mandato e, na altura da caça ao voto, votariam em conformidade com a apreciação que tinham feito durante o período todo.

Seguramente que muitos não apoiariam obras de rotundas e estatuárias que manifestamente não lhes interessam."

Há duas formas de despesismo - gastar muito e gastar mal. Se os municípios fossem financiados por impostos fixados localmente, haveria menos incentivo a "gastar muito" (já que mais despesas significariam mais impostos para os contribuintes), mas acho que não afectaria o incentivo para "gastar mal" (que parece-me ser o que se discute aqui): afinal, mesmo hoje em dia os autarcas não têm nenhuma razão para gastar dinheiro em coisas que os eleitores achem pouco úteis (os autarcas fazem rotundas, mercados, etc. porque os eleitores gostam disso), já que os eleitores já sabem que o dinheiro gasto em obras de fachada é dinheiro que deixa de ser gasto em coisas mais úteis.

E se, por outro lado, admitirmos que os eleitores não têm a real percepção de onde é necessário gastar dinheiro, o problema dos autarcas preferirem investir em obras de grande visibilidade em vez de em maquinaria e equipamento manter-se-ia exactamente na mesma - se houvesse pressão popular para reduzir os impostos, os autarcas prefeririam "pagar" essa redução com reduções na despesa invisível (como as máquinas e equipamentos) no que na despesa que ganha votos (como as rotundas).

Monday, July 23, 2007

Mugabe

Pensando bem, porque é que há tanta polémica acerca de Mugabe vir ou não à conferencia entre a União Europeia e a União Africana? Em que é que Mugabe é pior que grande parte dos outros governantes africanos?

Mugabe é um ditador que manda espancar opositores? Muitos outros o são, e alguns nem se dão ao trabalho de fingir que são "democratas".

Mugabe é um racista, que fomenta o ódio contra a minoria branca (e contra os matabele)? Violência inter-étnica (frequentemente com patrocínio governamental) é o que mais há por essa África.

Mugabe está a arrasar a economia do Zimbabwe? A maior parte dos países africanos são um desgraça pegada em termos de resultados económicos.

Mugabe é um corrupto? Imagino que os outros chefes de estado africanos que venham à conferência seja insuspeitos a esse respeito...

Afinal, qual é a grande diferença entre Mugabe e vários dos outros?

Ligações à Internet nos EUA vs. "resto do mundo"

The French Connections, artigo de Paul Krugman transcrito no Economist's View

Digital Robber Barons?, outro artigo de Paul Krugman (de 2002)

Subscritores (por mil habitantes) da Internet de banda larga, em Dezembro de 2006:

Denmark 31,9
Netherlands 31,8
Iceland 29,7
Korea 29,1
Switzerland 28,5
Norway 27,5
Finland 27,2
Sweden 26,0
Canada 23,8
Belgium 22,5
United Kingdom 21,6
Luxembourg 20,4
France 20,3
Japan 20,2
United States 19,6
Australia 19,2
Austria 17,3
Germany 17,1
Spain 15,3
Italy 14,8
New Zealand 14,0
Portugal 13,8
Ireland 12,5
Hungary 11,9
Czech Republic 10,6
Poland 6,9
Slovak Republic 5,7
Greece 4,6
Turkey 3,8
Mexico 3,5

Velocidade, em mbps, das ligações de banda larga, em 2007 (estes dados não são totalmente conjugáveis com os anteriores, devido a diferentes metodologias e altura a que se referem):

Japan 61,0
Korea 45,6
Finland 21,7
Sweden 18,2
France 17,6
Netherlands 8,8
Portugal 8,1
Canada 7,6
Norway 7,4
Austria 7,3
Belgium 6,2
Iceland 6,0
Germany 6,0
US 4,8
Denmark 4,6
Italy 4,2
Luxembourg 3,1
UK 2,6
Switzerland 2,3
Australia 1,7

Saturday, July 21, 2007

Ainda acerca de livros (II)

Os tais livros aqui referidos foram muito viajados. Em 1998 muitos foram levados de Lisboa (do terceiro andar de um prédio na Av. da Igreja sem elevador) para Portimão e os que sobraram (nomeadamente, claro, os de inspiração trotskista mas também alguns "conselhistas") foram de metro até à sede do então PSR na Rua da Palma, aonde encontraram acolhimento na respectiva biblioteca.

Mais tarde, em Portimão, no ano de 2004, foram levados (uns de carro, outros a pé) da casa dos meus pais para a minha casa.

E (mistérios do capitalismo moderno), fui eu que os carreguei, sem recurso aos proletários de nenhuma empresa de mudanças.

Thursday, July 19, 2007

Os empresários/gestores e a política (II)

Ainda a respeito da participação ou não de empresários/gestores na politica, ocorreu-me uma coisa: porque é que, tirando Berlusconi, os empresários que se metem na politica frequentemente o fazem com um programa nacionalista/proteccionista? Veja-se Ross Perot, James Goldsmith, Cem Uzan...

Ocorrem-me três explicações:

a) Os empresários tendem a ver o país como uma empresa (é exactamente por isso que eles se metem na politica: porque acham que "o país tem que ser gerido como uma empresa!") - como as empresas estão em competição umas com as outras e têm por objectivo venderem mais do que compram (em matérias-primas, serviços, mão-de-obra, etc.), um empresário tenderá a ver o país como estando em competição com os outros países e com o objectivo de ter o maior saldo positivo possível da balança comercial (Exportações, bom! Importações, mau!)

b) Os empresários que querem ser políticos não são bem vistos, nem pela esquerda (pelas razões óbvias), nem pela direita "instalada" (porque nos partidos da "direita instalada" já lá estão os políticos de carreira), logo o único nicho de mercado que sobra para os empresários-políticos é a direita "não-instalada" (que, normalmente, coincide com o nacionalismo)

c) Toda a gente, excluindo os economistas (bem, eu não sou grande entusiasta do "comércio livre", mas 99% dos economistas são-no), é a favor do proteccionismo (ou, pelo menos, contra o livre-cambismo unilateral) e os empresários não são excepção.

Há também a hipótese, claro, da minha observação que os empresários-politicos tendem para o proteccionismo estar errada.

Os empresários/gestores e a política

O "atlântico" Tiago Mendes pergunta-se porque "é que pessoas como Carrapatoso e outros gestores/empresários com algum traquejo político não se chegam mais à frente na política".

Há várias razões para os empresários/gestores não terem jeito para a politica (algumas são expostas aqui por Chris Dillow). No caso especifico dos gestores (os empresários são outra história), tenho uma teoria porque é que eles raramente dão bons políticos:

Numa hierarquia empresarial, um gestor precisa: a) de garantia de apoio seguro dos seus superiores (ninguém vai respeitar um gestor que se arrisque a ser desautorizado pelos seus superiores); e b) ser "duro" com os seus subordinados quando necessário - por melhor que se dê com eles, é nos momentos em que tem que se dar mal que as suas capacidades como gestor são mais postas à prova.

Por seu lado, um bom politico precisa de: a) um grupo de apoiantes quase incondicionais nas bases; e b) de vez em quando, de entrar em luta aberta com os seus "superiores" (no partido e/ou no Estado) - os políticos que vão subindo porque alguém "em cima" os puxa costumam ser umas nulidades (p.ex., Fernando Nogueira): é na luta para conquistar o poder a quem o detêm (seja numa concelhia de partido ou no governo da nação) que as capacidades de um politico são mais postas à prova.

Ou seja, o mundo da politica e dos organogramas empresariais é quase oposto - o segundo é um mundo aonde o poder se recebe "de cima"; o primeiro é um mundo aonde o poder se conquista, apelando aos "de baixo" (eleitores, militantes de base) contra os que (de momento) estão "por cima". Em suma, a politica é um mundo de heroísmo individual, pouco confortável para quem esteja habituado ao mundo das hierarquias organizacionais.

Há uns tempos, quando tinha uma coluna no DN, Vasco Pulido Valente escreveu, a respeito dos "técnicos independentes" na política (e dos ministros independentes não fazerem nada de jeito), algo como "para um médico ou mesmo um gestor, o poder é um dado (...) Só a guerra civil permanente que se vive dentro dos partidos políticos é que dá a preparação necessária para ser um bom ministro" (isto é de memória, mas a ideia era esta).

Um exemplo - porque é que aquele vendedor, ou gestor de clientes, ou lá o que é, da Goldmann-Sachs passa a vida a fazer-se a altos cargos no PSD e depois, nos congressos, nunca avança? Há quem diga que é por arrogância, por estar à espera que o vão buscar; provavelmente também será, mas não será, sobretudo, por reflexo do "modo de vida" nas organizações empresariais, aonde não fica bem dizer abertamente "Quero o lugar de fulano!" (tirando os casos de conflitos entre gestores de topo, estilo BCP)?

[Recordo que tudo o que escrevi acima se refere apenas aos gestores, não aos empresários]

Além disso, se formos ver bem, porque razão os gestores (e agora também os empresários) haveriam de dar bons políticos? Afinal, alguém ganhar um campeonato de surf não o torna necessariamente um bom apanhador de figos. No fundo, quais são as competências da actividade empresarial que são "transferíveis" para a politica? Vamos admitir que os empresários e gestores se caracterizam por saber identificar bons negócios e entrar neles antes dos outros; bem, e o que é que isso interessa para um politico? Ter ministros com jeito para os negócios pode interessar para um Estado que pratique uma politica industrial dirigista (para identificar os sectores a que o Ministério da Economia vai incentivar as empresas a investir), mas, tanto para o "Estado mínimo" dos liberais, como para o "Estado social" dos socialistas (moderados), não vejo grande utilidade em ter gestores/empresários "de sucesso" em cargos políticos de topo.

Wednesday, July 18, 2007

The Waiting Game

No Economist's View, um extracto de um artigo de Paul Krugman sobre, entre outras coisas, o tempo que os doentes nos EUA esperam para serem tratados:

The claim that the uninsured can get all the care they need in emergency rooms is just the beginning. Beyond that is the myth that Americans ... lucky enough to have insurance never face long waits...

Actually, the persistence of that myth puzzles me. ...Fred Thompson ... declared recently that “the poorest Americans are getting far better service” than Canadians or the British... [H]ow can they get away with pretending that insured Americans always get prompt care...?

A recent article in Business Week put it bluntly: “In reality,... the American people are already waiting as long or longer than patients living with universal health-care systems.”...

[T]he Commonwealth Fund found that America ranks near the bottom among advanced countries in terms of how hard it is to get medical attention on short notice... [and] is the worst place ... if you need care after hours or on a weekend.

We look better when it comes to seeing a specialist or receiving elective surgery. But Germany outperforms us even on those measures...

In Canada and Britain, delays are caused by doctors trying to devote limited medical resources to the most urgent cases. In the United States, they’re often caused by insurance companies trying to save money.

This can lead to ordeals like the one recently described by Mark Kleiman, a professor at U.C.L.A., who nearly died of cancer because his insurer kept delaying approval for a necessary biopsy. ... [T]here’s no question that some Americans who seemingly have good insurance nonetheless die because insurers are trying to hold down their “medical losses” — the industry term for actually having to pay for care.

On the other hand, it’s true that Americans get hip replacements faster than Canadians. But there’s a funny thing about that example, which is used constantly as an argument for the superiority of private health insurance over a government-run system: the large majority of hip replacements in the United States are paid for by, um, Medicare.

That’s right: the hip-replacement gap is actually a comparison of two government health insurance systems. American Medicare has shorter waits than Canadian Medicare (yes, that’s what they call their system) because it has more lavish funding — end of story. The alleged virtues of private insurance have nothing to do with it.

The bottom line is that the opponents of universal health care appear to have run out of honest arguments. All they have left are fantasies: horror fiction about health care in other countries, and fairy tales about health care here in America.

Os leitores poderão perguntar "E o que é que isso nos interessa?". Afinal, em Portugal não há ninguém a propor um sistema de saúde de estilo norte-americano - dá-me a impressão que, mesmo os liberais portugueses o que propõem é mais o menos o mesmo que a "esquerda" norte-americana (que lá também se chamam "liberais"...) propõe (o sistema single-payer). Mas, como a respeito do Sicko apareceram montes de artigos a elogiar o actual sistema norte-americano e a criticar os sistemas europeus e canadiano...

Saturday, July 14, 2007

Sobre a Revolução Francesa e o Terror

[porque hoje é 14 de Julho]

Há a mania de dizer que a Revolução Francesa o que fez foi substituir um regime repressivo por outro tão ou mais repressivo e apresentar o "Terror" como evidência.

Mas, será que o Terror foi tão repressivo como todo isso? Claro que responderão - "então não foi! 40.000 mortes em 10 meses!". Mas o meu ponto é que muitas dessas pessoas foram executadas por "crimes" (aliança com países inimigos, conspirar contra o governo, colaboração com um governo deposto considerado opressivo, etc.) que, à época, eram punidos com a pena de morte em qualquer pais da Europa. Ou seja, o regime que governou a França durante o Terror seria particularmente repressivo (pelos padrões da altura), ou será que a diferença era apenas quem em França havia muito mais gente a cometer "crimes políticos" do que no resto da Europa?

Já agora, os anglófilos que simpatizam com a Revolução Inglesa de 1688 e criticam a Francesa parecem esquecer-se que o governo "whig" inglês também foi bastante repressivo sobre os bastiões "jacobitas" da Escócia e a Irlanda.

Falando em termos mais gerais, usar o número de mortos ou de presos políticos como medida da "repressividade" de um regime pode ser enganador, devido ao que poderemos chamar "a curva de Laffer da repressão politica"- tal como taxas de impostos muito altas podem reduzir a receita total (porque as pessoas evitam fazer coisas que sejam sujeitas a imposto), um regime fortemente repressivo pode ter relativamente poucos presos políticos (porque as pessoas evitam actos que os possam levar à cadeia). Por exemplo, já li algures que em Portugal havia mais presos politicos em 1975 do que em 1973; mas, mesmo que isso seja verdade, podermos negar que havia mais liberdade politica, mesmo durante o PREC, do que no pré-25 de Abril?

The economics of cats

Texto no Marginal Revolution:

Many people have been clamoring for this topic over at the secret blog.

My views are simple: we have too few cats in the world, relative to dogs. Dogs, for reasons of temperament, can in essence precommit to being our slaves. (As long as they are not Irish Setters.) That makes us more willing to create or support an additional dog. The quantity of dogs is nearly Pareto optimal, although their emotional slavery to us raises ethical questions about the distribution of power in the relationship.

A cat cannot "promise," genetically or otherwise, that her kittens will become your (or anyone's) slaves, if only you don't neuter her. The kittens never come about, or they meet a cruel fate rather quickly.

If you must support the life of either a cat or a dog, choose the undervalued cat. This argument requires only that the cat gets some value out of being alive, and that value should carry some weight in our all-things-considered moral calculations.

More generally, you should go around helping the (undervalued) people who insult you, or the people who otherwise signal their independence from you. The craven are already being served quite a bit.

Uma nota: a "cruel fate" dos gatinhos será consequência da menor procura por gatos, ou será uma questão de excesso de oferta? Afinal, as gatas podem ter quatro ninhadas por ano, e acho que as cadelas apenas duas.

[É curioso que nos comentários tenham aparecido muitas mais vozes pró-cão do que pró-gato]

Re: Pequeno esclarecimento


Estou-me a convencer que este questão de quem está mais perto dos fascistas - se os socialistas se os liberais (na verdade, se calhar os liberais e socialistas estão mais próximos uns dos outros do que qualquer deles dos fascistas...) deriva muito de uma questão de prespectiva.

Imagine-se que disponhamos as várias ideologias politicas por dois eixos - um eixo igualdade-hierarquia e um eixo individualismo-colectivismo (em rigor, um eixo individualismo-anti-individualismo, já que se pode ser contra o individualismo, não em nome do colectivo, mas duma entidade transcendente). Se o primeiro for representado da esquerda para a direita e o segundo de baixo para cima, poderemos ter um esquema assim:

















(poderá haver alguma discordancia quanto à posição exacta de cada ideologia, mas penso que no geral está aceitável)

Ora, alguem para quem a questão da igualdade-hierarquia é a fundamental e o individualismo-colectivismo é apenas um detalhe tenderá a ver as coisas como ali abaixo, e, claro, achará que o fascismo está muito mais perto do liberalismo de que dos socialismos.






Pelo contrario, alguém que considere a questão individualismo-colectivismo como a fundamental e não ligue muito à igualdade-hierarquia (p.ex., por considerar que todas as sociedades acabam por ser hierárquicas) irá achar que o fascismo está mais perto do socialismo do que do liberalismo:




Wednesday, July 11, 2007

Morangos e Ananases


Pois, a mim parece-me que, se passarmos a chamar ananás ao morango, tal não estaria errado - afinal, se se passasse a usar a palavra "ananás" para designar a planta/fruto correntemente designada por "morango", isso significaria que essa planta passava a ser, efectivamente, um ananás. Da mesma forma, se começássemos a chamar "gato", não apenas ao "gato" (felis sylvestris) mas a todos os felinos, ou "doninha", não apenas à "doninha" (mustela nivalis) mas também aos furões e visons, isso quer dizer os leopardos passariam a ser, efectivamente, "gatos" e os visons "doninhas". Não, não estou a inventar - em inglês, a palavra "cat" pode ser aplicada a leões e leopardos, e a palavra "weasel", que em Inglaterra só se aplica à mustela nivalis, nos EUA também se pode aplicar a visons ou furões. Ou seja, as palavras significam aquilo que se convenciona que significam; da mesma forma, se a palavra "casamento" for usada para incluir também as "parcerias bilaterais entre homossexuais com direitos e deveres equivalentes aos previstos no casamento clássico", essas parcerias passarão a ser casamentos.

Aliás, eu suspeito que, se as tais "parcerias" fossem legalizadas com outro nome que não "casamento", teriam o mesmo destino que o bolo-república (a que toda a gente chama "bolo-rei") e toda a gente as chamaria "casamentos" (até porque um nome que fosse inventado pelo legislador seria com certeza tão "burocrático" - estilo "parceria civil solidária" ou coisa assim - que seria quase impronunciável numa conversa regular; provavelmente, as únicas pessoas que o iriam usar seriam casais heterossexuais que, quando fossem anunciar aos amigos que se iam casar, na brincadeira iriam dizer "vamos assinar uma parceria civil solidária").

Tuesday, July 10, 2007

Publicidade ao local de trabalho

O Centro Hospitalar do Barlavento Algarvio (Portimão), o Hospital de Garcia de Orta (Almada) e a Maternidade Alfredo da Costa (Lisboa) já estão a fazer abortos por vontade da mulher até às dez semanas. E já o faziam "dias antes da regulamentação da lei", ou seja, antes de 21 de Junho, afirma Jorge Branco. Estas intervenções são legais desde o dia em que foi publicada a lei e geralmente dizem respeito a situações "em que a gravidez já estava próxima das dez semanas. Não me parece justo que não se fizessem só porque a portaria ia entrar em vigor no dia 15", diz. Foi uma forma de evitar que se realizassem "mais alguns abortos clandestinos".

A maior parte dos pedidos aceites deveu-se à aproximação da data-limite, mas o responsável entende que, agora, "o critério vai ser um pouco mais alargado"

The Most Sophisticated and Successful Criminal Organizations in History

No Economist's View:

Pirate ships as efficient, democratic, incentive compatible business enterprises:

The Pirates’ Code, by James Surowiecki, The New Yorker: ...While pirates were certainly cruel and violent criminals, pirate ships were hardly the floating tyrannies of popular imagination. As a fascinating new paper by Peter Leeson, an economist at George Mason University, and “The Republic of Pirates,” a new book by Colin Woodard, make clear, pirate ships limited the power of captains and guaranteed crew members a say in the ship’s affairs. The surprising thing is that, ... pirates were, in Leeson’s words, among “the most sophisticated and successful criminal organizations in history.”

Leeson is fascinated by pirates because they flourished outside ... the law. They could not count on ... authorities to insure that people would live up to promises or obey rules. Unlike the Mafia, pirates were not bound by ethnic or family ties; crews were ... remarkably diverse... Nor were they held together primarily by violence... [P]irate ships were governed by ... simple constitutions that, in greater or lesser detail, laid out the rights and duties of crewmen, rules for the handling of disputes, and incentive and insurance payments to insure that crewmen would act bravely in battle. ... The Pirates’ Code ... was not, in that sense, a myth, although in effect each ship had its own code.

But rules alone did not suffice. Pirates also needed to limit the risk that their leaders would put individual interests ahead of the interests of the ship... Some pirates had turned to buccaneering after fleeing naval and merchant vessels, where the captain was essentially a dictator... Royal Navy and merchant captains guaranteed themselves full rations while their men went hungry, beat crew members at their whim, and treated dissent as mutinous. So pirates were familiar with the perils of autocracy.

As a result, Leeson argues, pirate ships developed ... democracies. First, pirates ... divided and limited power. Captains had total authority during battle, when debate and disagreement were ... inefficient and dangerous. Outside of battle, the quartermaster ... was in charge—responsible for food rations, discipline, and the allocation of plunder. On most ships, the distribution of booty was set down in writing, and it was relatively equal; pirate captains often received only twice as many shares as crewmen. ... The most powerful check on captains and quartermasters was that ... the crew elected them and could depose them. And when questions arose about the rules..., interpretation was left not to the captain but to a jury of crewmen. ...

Interestingly, ... most corporations since the mid-nineteenth century have behaved more like the Royal Navy, with C.E.O.s who have close to unlimited power and employees who have no say in ... the organization...

This model of C.E.O. leadership is increasingly being questioned, with a greater emphasis being placed, at least rhetorically, on the need for executives to be more responsive to employees and on the value of dividing authority (although no one is seriously considering letting ordinary employees elect the boss). ... You can take this comparison only so far... But it may be only a matter of time before someone publishes “The Management Lessons of Captain Kidd.” I’d read it.

Monday, July 09, 2007

Links

Na "secção" dos blogs estrangeiros (os brasileiros não são bem estrangeiros...) meti vários links novos.

Talvez faça posts a apresentar alguns. Para já, há um que só há pouco tempo comecei a ler regularmente e achei um espectáculo (concorde ou não com o conteúdo): Stumbling and Mumbling, do economista britânico Chris Dillow, um ex-trotskista (facção Ted Grant/Rui Faustino) que agora é uma espécie de "social-liberal", com algumas simpatias autogestionárias.

Sunday, July 08, 2007

A abertura das grandes superfícies no domingo à tarde

Acerca da questão da abertura das grandes superfícies no domingo à tarde, em primeiro lugar, vou repetir o que ouvi uma empregada do Continente Portimão dizer a outra pessoa:"Agora querem abrir isto no domingo à tarde; isto já é uma prisão, uma pessoa não tem tempo para passear com a família. Espero que não consigam".

Um dos argumentos pela abertura das grandes superfícies no domingo à tarde (não haverá maneira mais simples de eu dizer isto?) é de que vai criar postos de trabalho (não é o argumento mais usado, mas é o argumento que eu me apetece abordar). Talvez crie, mas o comentário da tal empregada demonstra que há pessoas que desejam ter, não apenas um posto-de-trabalho, mas um posto-de-trabalho-com-a-tarde-de-domingo-livre. Ora, mesmo que a abertura no domingo à tarde crie postos-de-trabalho, uma coisa é inegável: vai destruir centenas ou milhares de postos-de-trabalho-com-a-tarde-de-domingo-livre (já que vão deixar de ter essa tarde sempre livre).

Mesmo a criação de postos de trabalho não me parece algo tão liquido assim: se as pessoas vão ao Continente fazer compras no domingo à tarde gastam dinheiro aí; a menos que isso se traduza numa redução da poupança (pouco provável, a meu ver), isso quer dizer que vão deixar de gastar dinheiro noutro sitio e/ou dia. Uma hipótese era que, simplesmente, gastassem ao domingo o dinheiro que gastariam, também no Continente, à segunda-feira; se assim fosse, o resultado seria que as grandes superfícies manteriam a mesma receita, mas com despesas operacionais aumentadas. Ora, goste-se ou não do Belmiro de Azevedo ou do Soares dos Santos, eles não são parvos, e se querem abrir as lojas no domingo à tarde, é porque chegaram à conclusão que grande parte do dinheiro que iria ser gasto nessa tarde é dinheiro que, de outro modo, seria gasto no pequeno e médio comércio.

Assim, se o público passa a gastar mais dinheiro no Continente e menos no pequeno comércio, não se pode dizer que se irão criar postos de trabalho - irão-se criar postos de trabalho num sector e perder-se noutro, com um resultado liquido incerto. Até é bastante provável que o saldo final seja negativo: não tenho nenhuma estatística, mas suspeito que o rácio [volume de negócios]/[trabalhadores] seja mais elevado nas grandes superfícies que nas pequenas e médias (ou seja, num dia de trabalho, passará uma maior facturação por um empregado do Continente do que por um da Alisuper). Ora, se assim for, isso quer dizer que 100.000 euros que deixem de ser gastos em pequenas e médias superfícies para passarem a ser gastos em grandes representarão mais perda de postos de trabalho nas primeiras do que criação nas segundas.

Não que isto implique forçosamente ser contra a abertura no domingo à tarde: em primeiro lugar, é possível que, ao contrário da referida empregada, haverá outros que até prefiram trabalhar do domingo à tarde e folgarem num dia útil (se estivesse nessa situação, eu acho que até preferiria - mas eu não tenho mulher nem filhos); e talvez se possa arranjar um sistema em que, em troca da abertura no domingo à tarde, os trabalhadores passem a ter mais dias de folga (a disponibilidade de tempo para "passear com a família" depende de dois factores: quantidade de folgas; e coincidência dessas folgas com o horário "normal" dos familiares - assim, uma redução no segundo factor talvez possa ser compensada por um aumento do primeiro).

Friday, July 06, 2007

"Superioridade moral"

É frequente acusar-se a esquerda de se achar "moralmente superior". Ora, quem diz isso (pelo menos, se fôr de direita) está a cair no mesmo "pecado": quando se diz isso, está-se a implicar que a direita não se acha "moralmente superior" (afinal, se tanto a esquerda como a direita se achassem moralmente superiores não faria sentido fazer essa acusação à esquerda). Ora, dizer (mesmo por outras palavras) que "a esquerda acha-se moralmente superior e a direita não" acaba por ser uma forma de dizer que... a direita é moralmente superior.

Na verdade, penso que é a coisa mais natural que quem professe uma dada ideologia tenda a achar que quem siga essa ideologia é "superior" a quem não a siga. Afinal, se eu sigo a ideologia X é porque acho que essa ideologia é a melhor. Logo, se há pessoas que não seguem a ideologia que é a "melhor" é porque, ou não compreendem que essa ideologia é "a melhor" (e, nesse caso, é porque são ignorantes ou pouco inteligentes), ou então estão ao serviço de alguma agenda obscura e maléfica.

Houve alguém que disse (ou escreveu?) que não havia nenhum radical que fosse simultaneamente "inteligente, honesto e sensato" - na verdade, implícita ou explicitamente, acho que qualquer corrente politica acha isso dos seguidores de outras correntes politicas (afinal, se eles fossem inteligentes, honestos e sensatos, como poderiam defender ideias erradas?).

Folhetim - "Conspiração no ISCEF" - 3ª e última parte

Face aos pedidos de muitas famílias, a conclusão de "Conspiração no ISCEF"

Cenas do capitulos anteriores:

1ª parte
2ª parte

Terceira e última parte:

CONSPIRAÇÃO NO ISCEF

Por MIGUEL MADEIRA

Hora e meia depois um guarda passava junto à sua cela quando se ouviu um tiro. Olhou para o guarda e viu-o estendido no chão, com a massa encefálica escorrendo pelo mesmo. Enquanto isso outro policia, com a pistola fumegante, corria para a porta e abriu-a. Agarrou em Ernestino e levou-o para a saída, aonde mais dois policias, equipados com G-3, mantinham os restantes de costas para a parede.

- Vem connosco - disse-lhe, em voz alta, um deles - Estás livre.

- Não te armes em esperto - disse-lhe outro, em voz baixa, enquanto lhe apontava discretamente um pequeno revolver.

Meteram-se num carro, com a matricula coberta, e saíram dali a alta velocidade.

-Quem são vocês? - perguntou Ernestino - O que querem?

-Cala-te - ordenaram-lhe, enquanto a viatura deixava o perímetro urbano, deslocando-se em direcção a Oeiras\Cascais. Finalmente, estacionaram junto a uma moradia, tendo arrastado Ernestino para o seu interior. Este logo reconheceu o proprietário, Eduardo Neves, seu professor nas aulas teóricas.

- Seja bem-vindo, meu caro aluno. Nunca o tinha visto mas já conhecia o nome das pautas e isso... Venha comigo que vou-lhe apresentar umas pessoas - dirigiram-se à sala, aonde se encontravam quatro indivíduos sentados - Estes são os Presidentes dos Conselhos Directivo, Cientifico e Pedagógico e o Chefe dos Serviços Administrativos.

- O que querem de mim?

- Você, talvez melhor do que ninguém, sabe a resposta. Pelo menos é o que parece por este papelinho - e começou a ler o guardanapo que Ernestino tinha entregue a Aparício - " Quem matou o Ácaro foi o E. Neves, com a cumplicidade dos dirigentes do Instituto. Eles os 2 e mais outros 2 professores tinham participado numa conferencia, que deveria ser sobre um assunto em que o Neves fosse especialista. O Neves teve a colaboração de dois professores do Instituto nos suas pesquisas, e o Ácaro não foi um deles - há 2 anos que só dava aulas e fazia um paper . De certeza os outros dois professores foram os colaboradores do Neves e o Ácaro foi a conferencia apresentar ideias diferentes. Se ele publicar essas ideias no paper poderia prejudicar as hipóteses do Neves ganhar o Nobel. Com a cumplicidade do empregado que vigiava a área do gabinete - Bonifácio Mota, contratado há pouco tempo, de certeza mesmo de propósito - alguém se introduziu num dos armários e matou-o depois de eu sair e antes de tu entrares. Manda ao CD e à SIC cartas a dizer isto e diz ao CD para dizer que a culpa foi do empregado e dum cúmplice e que senão informas a imprensa e diz à SIC que dentro de poucos dias o CD do ISCEF vai dizer que a culpa foi do empregado e dum cúmplice e se assim for é a prova de que o conteúdo da carta é verdadeiro"

- Como apanharam isso?

- Bem, nós colaboramos frequentemente com as autoridades: fornecemos-lhe informações sobre alunos considerados "subversivos" e elas em troca fazem-nos alguns favores. A tua conversa com Aparício foi completamente filmada. Como a policia viu que lhe tinhas passado algo, ele foi imediatamente, digamos, retido e revistado. Após se descobrir que tinhas descoberto tudo, tínhamos que te neutralizar. A Policia concordou em simular a tua fuga - e aproveitou para se desembaraçar dum activista do Sindicato dos Guardas Prisionais - dando a entender que tinhas corrompido alguns agentes, que nunca serão identificados.

- Mas como podia eu, um simples estudante, subornar três guardas?

- Mentiste-lhes, dizendo que tinhas dinheiro. Foi por terem descoberto que era mentira que te mataram, depois.

Então o Presidente do Conselho Directivo interviu:

- Compreenda, não é nada pessoal contra si. Mas para melhorar a imagem do Instituto não basta mudar o nome, também é conveniente ter alguns Nobeis no corpo docente. Foi por isso que tivemos que executar o Ácaro, e arranjar um "bode expiatório", que, infelizmente (para si) foi você...

UMA SEMANA DEPOIS...

- Queria aquele gajo ganhar o Nobel - comentou, sentado no 27, um estudante para outro a propósito de mais uma vez o Doutor Neves ter sido preterido, desta vez a favor dum economista checheno residente nos EUA. Então, olhando para o jornal que trazia a noticia, o seu colega disse:

- Há aqui uma noticia do Ernestino.

- Pois é. Deixa ver: "Ernestino Teixeira, o aluno do ISCEF que assassinou o seu professor Robalvito Ácaro, protagonizou uma espectacular fuga da prisão e terá, nesse mesmo dia assassinado o seu colega Aparício Cunha - cuja cabeça , recorde-se, foi encontrada nessa mesma noite, por uma prostituta, no Cais do Sodré, vindo o seu corpo a ser descoberto, dias depois, a boiar no Tejo - foi encontrado morto nos arredores de Caneças. O seu cadáver, baleado, indicia estar em decomposição há vários dias. Supõe-se que a sua morte seja da responsabilidade dos policias que o ajudaram a fugir da prisão, ao constatarem que este não dispunha da soma que lhes haveria prometido".

FIM

P.S.: Os eventos descritos neste texto são pura ficção. Qualquer semelhança com factos ou pessoas, vivas ou mortas, reais é pura coincidência.

12 anos após a escrita desta história, numa coisa ela foi manifestamente irrealista nos seus pressupostos - o ISEG não se voltou a chamar ISCEF, como se previa na altura.

A caixa de comentários, claro, está à disposição de quem queira fazer critica literária.

Thursday, July 05, 2007

Folhetim - "Conspiração no ISCEF" - 2ª parte

Aqui vem a 2ª parte de "Conspiração no ISCEF", uma história (no género suspense/policial) que publiquei há 12 anos na revista da Associação de Estudantes do ISEG (já tive reclamações de leitores que nunca mais saia a continuação).

Para quem ainda não leu a primeira parte, é melhor ler antes e só depois a continuação.

A segunda parte:

CONSPIRAÇÃO NO ISCEF

Por MIGUEL MADEIRA


Já na esquadra da PSP, Ernestino era interrogado pelos agentes:

- Se não contares a verdade é pior! - gritava-lhe um deles, enquanto o agredia com um cabo de mangueira.

- Mas eu não fiz nada! - respondia - Há aqui uma confusão!

- Não, foi o meu periquito! - respondeu-lhe com desdém o policia.

- Então, já despacharam isto? - pergunta o comandante do posto, que havia acabado de entrar na cela.

- Não. O gajo é teimoso.

- Mas o que é que tu ganhas com isso? - perguntou o chefe a Ernestino - Se confessares, o juiz de certeza que te dá a pena mínima, estás à vontade para expor os teus atenuantes... Enquanto se te continuas a armar em carapau-de-corrida, olha que 'tás lixado...

-Mas estou a falar verdade! Eu nem lhe toquei!

O comandante abandonou a sala, enquanto os seus subordinados continuavam o "interrogatório".

Uma hora depois, os policias levaram-no à cela:

- Descansa aí, que vais falar com o gajo do Ministério Publico daqui a pouco

- E pára de te atirar ás grades que já 'tás todo ensanguentado - acrescentou outro policia - O homem ainda fica a pensar que te batemos.

Ernestino, com o corpo dolorido, deitou-se, enquanto esperava pela audiência. Pouco depois adormeceu.

- Vá, levanta-te! - acordaram-no secamente.

Após se ter levantado, arrastaram-no até a um gabinete, aonde se encontrava um senhor vestido à civil.

- É então este? - perguntou aos policias.

- Sim, senhor delegado - Ernestino percebeu tratar-se do delegado do MP- Tentou muitas vezes matar-se, atirando-se contra as grades da cela.

- Sim, entendo. Realmente está com um ar bastante lastimável. Bem, Sr. Ernestino Teixeira, o que tem para nos dizer?

-Sou inocente, Sr. Juiz...

- Delegado - corrigiu este.

- Bem, como eu dizia, Sr.delegado, sou inocente. Eu apenas fui discutir uma nota com o professor Ácaro, sai do gabinete dele, o meu colega Aparício entrou, e logo depois saiu dizendo que tinha encontrado o professor morto.

- E tinha, de facto...- interrompe o delegado - Ou pretende dizer que ele não se limitou a encontrá-lo morto?

- Não, não me interprete mal, não estou a dizer que tenha sido ele. Só estou a dizer que não fui eu.

- Mas, se não foi você, só pode ter sido o seu colega, não? Ou entrou mais alguém no gabinete, entretanto?

- Não, há uma rapariga, a Januária, que pode dizer-vos quem entrou naquele gabinete. Fomos só nos os dois.

- Sim, já temos o seu depoimento. Ela confirma o que você disse, mas é mais explicita no tempo em que Aparício esteve no gabinete. Mal chegou a um segundo, tempo incapaz para chegar à secretária e matar o professor.

- Mas quantas vezes tenho que dizer que não digo que tenha sido ele?! Só sei que eu não fui!

- Tenha "tento na língua", Sr. Teixeira. Bem, tendo a atenção a suas declarações, as dos seus colegas e do funcionário do ISCEF Bonifácio Mota, considero existirem indícios suficientes para o manter em prisão preventiva, sem caução. - após pronunciar estas palavras, o magistrado começou a arrumar os seus papeis, enquanto os policias levavam Ernestino de volta aos seus "aposentos".

De novo na sua cela, meditava sobre o que realmente se teria passado: por um lado só havia outro suspeito plausível, o Aparício; por outro, ele mal tinha entrado quando chamou a atenção para o cadáver do professor. No entanto... De repente, uma ideia germinou no seu cérebro: e se o Aparício só tivesse morto o professor depois de ter saído a perguntar "Ernestino, o que é..."; realmente ele, podia ter entrado no gabinete, ter, com um spray, submetido o professor a um gás anestesiante, saído, gritado, e, durante a agitação inicial, voltado a entrar e suprimido definitivamente o docente... Todavia, Ernestino não se conseguia recordar se Aparício tinha voltado a entrar no gabinete antes dele próprio ter voltado lá dentro.

Na manha seguinte, acordou e decidiu passar à acção. Tinha pensado muito durante a noite e já sabia o que fazer. Chamou o carcereiro:

- Posso fazer um telefonema?

- Pode. Tem direito a uma chamada diária.

Saiu da cela e deslocou-se ao PBX. Ligou para Aparício e aguardou. Em breve a voz deste surgia no outro lado da linha:

-Está?

-É o Ernestino. É o Aparício quem fala, não é?

- Sim. O que é que queres?

- Preciso que venhas aqui à prisão.

- Não basta meteres-te em sarilhos, queres também meter os outros?

- Não é isso. Descobri a VERDADE!

- Entraste para uma seita?

- Não. Descobri a verdade acerca do assassínio.

- Está bem. Eu vou ai.

Após desligar o telefone, Ernestino pôs-se a pensar sobre se o detidos teriam direito a papel e esferográfica. No entanto acho melhor não perguntar e servir-se de um guardanapo que lhe havia sido entregue à refeição e de um pedaço de carvão que encontrou no corredor para escrever a mensagem que iria entregar a Aparício. Finalmente, a meio da tarde, este chegou.

- Preciso de falar contigo. Nos dois somos as únicas testemunhas imediatas dos acontecimentos e tenho 99% de certeza que sei o que se passou.

- Claro que sabes. Foste tu que o mataste.

- Não. Estás enganado. Toda a gente julga que fui eu, mas não fui. E sei quem foi!

- Então quem foi?

- Toma - entregou-lhe o guardanapo - Aqui está escrito quem foi o responsável e também algumas instruções para ti. - Aparício ia ler a mensagem mas Ernestino interrompeu-o :- Aqui não. Lê em casa.

Aparício retirou-se e Ernestino ficou a pensar que tudo iria correr bem: o responsável pela sua prisão de certeza que cairia na armadilha!

(continua)

P.S.: Os eventos descritos neste texto são pura ficção. Qualquer semelhança com factos ou pessoas, vivas ou mortas, reais é pura coincidência.

Wednesday, July 04, 2007

4 de Julho (2)

Continuando a minha postação de textos dos primeiros anos dos EUA, outro dos "Anti-Federalist Papers" - A DANGEROUS PLAN OF BENEFIT ONLY TO THE "ARISTOCRATICK COMBINATION", que veio a ser considerado como o "Anti-Federalist Paper nº 1" (houve alguém que recolheu 85 dos Anti-Federalist Papers e os ordenou e numerou de forma a fazerem um paralelo com os 85 Federalist Papers).


From The Boston Gazette and Country Journal, November 26, 1787.

I am pleased to see a spirit of inquiry burst the band of constraint upon the subject of the NEW PLAN for consolidating the governments of the United States, as recommended by the late Convention. If it is suitable to the GENIUS and HABITS of the citizens of these states, it will bear the strictest scrutiny. The PEOPLE are the grand inquest who have a RIGHT to judge of its merits. The hideous daemon of Aristocracy has hitherto had so much influence as to bar the channels of investigation, preclude the people from inquiry and extinguish every spark of liberal information of its qualities. At length the luminary of intelligence begins to beam its effulgent rays upon this important production; the deceptive mists cast before the eyes of the people by the delusive machinations of its INTERESTED advocates begins to dissipate, as darkness flies before the burning taper; and I dare venture to predict, that in spite of those mercenary dectaimers, the plan will have a candid and complete examination. Those furious zealots who are for cramming it down the throats of the people, without allowing them either time or opportunity to scan or weigh it in the balance of their understandings, bear the same marks in their features as those who have been long wishing to erect an aristocracy in THIS COMMONWEALTH [of Massachusetts]. Their menacing cry is for a RIGID government, it matters little to them of what kind, provided it answers THAT description. As the plan now offered comes something near their wishes, and is the most consonant to their views of any they can hope for, they come boldly forward and DEMAND its adoption. They brand with infamy every man who is not as determined and zealous in its favor as themselves. They cry aloud the whole must be swallowed or none at all, thinking thereby to preclude any amendment; they are afraid of having it abated of its present RIGID aspect. They have strived to overawe or seduce printers to stifle and obstruct a free discussion, and have endeavored to hasten it to a decision before the people can duty reflect upon its properties. In order to deceive them, they incessantly declare that none can discover any defect in the system but bankrupts who wish no government, and officers of the present government who fear to lose a part of their power. These zealous partisans may injure their own cause, and endanger the public tranquility by impeding a proper inquiry; the people may suspect the WHOLE to be a dangerous plan, from such COVERED and DESIGNING schemes to enforce it upon them. Compulsive or treacherous measures to establish any government whatever, will always excite jealousy among a free people: better remain single and alone, than blindly adopt whatever a few individuals shall demand, be they ever so wise. I had rather be a free citizen of the small republic of Massachusetts, than an oppressed subject of the great American empire. Let all act understandingly or not at all. If we can confederate upon terms that wilt secure to us our liberties, it is an object highly desirable, because of its additional security to the whole. If the proposed plan proves such an one, I hope it will be adopted, but if it will endanger our liberties as it stands, let it be amended; in order to which it must and ought to be open to inspection and free inquiry. The inundation of abuse that has been thrown out upon the heads of those who have had any doubts of its universal good qualities, have been so redundant, that it may not be improper to scan the characters of its most strenuous advocates. It will first be allowed that many undesigning citizens may wish its adoption from the best motives, but these are modest and silent, when compared to the greater number, who endeavor to suppress all attempts for investigation. These violent partisans are for having the people gulp down the gilded pill blindfolded, whole, and without any qualification whatever. These consist generally, of the NOBLE order of C[incinnatu]s, holders of public securities, men of great wealth and expectations of public office, B[an]k[er]s and L[aw]y[er]s: these with their train of dependents form the Aristocratick combination. The Lawyers in particular, keep up an incessant declamation for its adoption; like greedy gudgeons they long to satiate their voracious stomachs with the golden bait. The numerous tribunals to be erected by the new plan of consolidated empire, will find employment for ten times their present numbers; these are the LOAVES AND FISHES for which they hunger. They will probably find it suited to THEIR HABITS, if not to the HABITS OF THE PEOPLE. There may be reasons for having but few of them in the State Convention, lest THEIR '0@' INTEREST should be too strongly considered. The time draws near for the choice of Delegates. I hope my fellow-citizens will look well to the characters of their preference, and remember the Old Patriots of 75; they have never led them astray, nor need they fear to try them on this momentous occasion.

A FEDERALIST

4 de Julho

Sendo hoje o aniversário do inicio da chamada "Revolução Americana" (há quem diga que não foi bem uma revolução, e há quem diga que foi quase tão ou até ainda mais radical que a francesa em certos aspectos...), vou postar alguma coisa sobre o assunto. Ou melhor, não sobre a "Revolução Americana", mas sobre o debate "constitucional" que se seguiu à independência (com a publicação dos Federalist e dos Anti-Federalist Papers).

Um artigo de 5 de Outubro de 1787 por "Centinel" (supostamente Samuel Bryan):


To the Freemen of Pennsylvania.

Friends, Countrymen and Fellow Citizens,

Permit one of yourselves to put you in mind of certain liberties and privileges secured to you by the constitution of this commonwealth, and to beg your serious attention to his uninterested opinion upon the plan of federal government submitted to your consideration, before you surrender these great and valuable privileges up forever. Your present frame of government, secures to you a right to hold yourselves, houses, papers and possessions free from search and seizure, and therefore warrants granted without oaths or affirmations first made, affording sufficient foundation for them, whereby any officer or messenger may be commanded or required to search your houses or seize your persons or property, not particularly described in such warrant, shall not be granted. Your constitution further provides "that in controversies respecting property, and in suits between man and man, the parties have a right to trial by jury, which ought to be held sacred." It also provides and declares. "that the people have a right of FREEDOM OF SPEECH, and of WRITING and PUBLISHING their sentiments, therefore THE FREEDOM OF THE PRESS OUGHT NOT TO BE RESTRAINED. " The constitution of Pennsylvania is yet in existence, as yet you have the right to freedom of speech, and of publishing your sentiments. How long those rights will appertain to you, you yourselves are called upon to say, whether your houses shall continue to be your castles; whether your papers, your persons and your property, are to be held sacred and free from general warrants, you are now to determine. Whether the trial by jury is to continue as your birth-right, the freemen of Pennsylvania, nay, of all America, are now called upon to declare.

Without presuming upon my own judgement, I cannot think it an unwarrantable presumption to offer my private opinion, and call upon others for their's, and if I use my pen with the boldness of a freeman, it is because I know that the liberty of the press yet remains unviolated, and juries yet are judges.

The late convention have submitted to your consideration a plan of a new federal government -- The subject is highly interesting to your future welfare_Whether it be calculated to promote the great ends of civil society, viz. the happiness and prosperity of the community; it behoves you well to consider, uninfluenced by the authority of names. Instead of that frenzy of enthusiasm, that has actuated the citizens of Philadelphia, in their approbation of the proposed plan, before it was possible that it could be the result of a rational investigation into its principles; it ought to be dispassionately and deliberately examined, and its own intrinsic merit the only criterion of your patronage. If ever free and unbiased discussion was proper or necessary, it is on such an occasion._All the blessings of liberty and the dearest privileges of freemen, are now at stake and dependent on your present conduct. Those who are competent to the task of developing the principles of government, ought to be encouraged to come forward, and thereby the better enable the people to make a proper judgment; for the science of government is so abstruse, that few are able to judge for themselves: without such assistance the people are too apt to yield an implicit assent to the opinions of those characters, whose abilities are held in the highest esteem, and to those in whose integrity and patriotism they can confide: not considering that the love of domination is generally in proportion to talents, abilities, and superior acquirements; and that the men of the greatest purity of intention may be made instruments of despotism in the hands of the artful and designing. If it were not for the stability and attachment which time and habit gives to forms of government it would be in the power of the enlightened and aspiring few, if they should combine, at any time to destroy the best establishments, and even make the people the instruments of their own subjugation.

The late revolution having effaced in a great measure all former habits, and the present institutions are so recent, that there exists not that great reluctance to innovation, so remarkable in old communities, and which accords with reason, for the most comprehensive mind cannot foresee the full operation of material changes-on civil polity; it is the genius of the common law to resist innovation.

The wealthy and ambitious, who in every community think they have a right to lord it over their fellow creatures, have availed themselves, very successfully, of this favorable disposition; for the people thus unsettled in their sentiments, have been prepared to accede to any extreme of government; all the distresses and difficulties they experience, proceeding from various causes, have been ascribed to the impotency of the present confederation, and thence they have been led to expect full relief from the adoption of the proposed system of government, and in the other event, immediately ruin and annihilation as a nation. These characters flatter themselves that they have lulled all distrust and jealousy of their new plan, by gaining the concurrence of the two men in whom America has the highest confidence, and now triumphantly exult in the completion of their long meditated schemes of power and aggrandisement. I would be very far from insinuating that the two illustrious personages alluded to, have not the welfare of their country at heart, but that the unsuspecting goodness and zeal of the one, has been imposed on, in a subject of which he must be necessarily inexperienced, from his other arduous engagements; and that the weakness and indecision attendant on old age, has been practiced on in the other.

I am fearful that the principles of government inculcated in Mr. Adams's treatise, and enforced in the numerous essays and paragraphs in the newspapers, have misled some well designing members of the late Convention._But it will appear in the sequel, that the construction of the proposed plan of government is infinitely more extravagant.

I have been anxiously expecting that some enlightened patriot would, ere this, have taken up the pen to expose the futility, and counteract the baneful tendency of such principles. Mr. Adams's sine qua non of a good government is three balancing powers, whose repelling qualities are to produce an equilibrium of interests, and thereby promote the happiness of the whole community. He asserts that the administrators of every government, will ever be actuated by views of private interest and ambition, to the prejudice of the public good; that therefore the only effectual method to secure the rights of the people and promote their welfare, is to create an opposition of interests between the members of two distinct bodies, in the exercise of the powers of government, and balanced by those of a third. This hypothesis supposes human wisdom competent to the task of instituting three co-equal orders in government, and a corresponding weight in the community to enable them respectively to exercise their several parts, and whose views and interests should be so distinct as to prevent a coalition of any two of them for the destruction of the third. Mr. Adams, although he has traced the constitution of every form of government that ever existed, as far as history affords materials, has not been able to adduce a single instance of such a government; he indeed says that the British constitution is such in theory, but this is rather a confirmation that his principles are chimerical and not to be reduced to practice. If such an organization of power were practicable, how long would it continue? not a day_for there is so great a disparity in the talents, wisdom and industry of mankind, that the scale would presently preponderate to one or the other body, and with every accession of power the means of further increase would be greatly extended. The state of society in England is much more favorable to such a scheme of government than that of America. There they have a powerful hereditary nobility, and real distinctions of rank and interests; but even there, for want of that perfect equallity of power and distinction of interests, in the three orders of government, they exist but in name; the only operative and efficient check, upon the conduct of administration, is the sense of the people at large.

Suppose a government could be formed and supported on such principles, would it answer the great purposes of civil society; if the administrators of every government are actuated by views of private interest and ambition, how is the welfare and happiness of the community to be the result of such jarring adverse interests?

Therefore, as different orders in government will not produce the good of the whole, we must recur to other principles. I believe it will be found that the form of government, which holds those entrusted with power, in the greatest responsibility to their constituents, the best calculated for freemen. A republican, or free government, can only exist where the body of the people are virtuous, and where property is pretty equally divided; in such a government the people are the sovereign and their sense or opinion is the criterion of every public measure; for when this ceases to be the case, the nature of the government is changed, and an aristocracy, monarchy or despotism will rise on its ruin. The highest responsibility is to be attained, in a simple structure of government, for the great body of the people never steadily attend to the operations of government, and for want of due information are liable to be imposed on_If you complicate the plan by various orders, the people will be perplexed and divided in their sentiments about the source of abuses or misconduct, some will impute it to the senate, others to the house of representatives, and so on, that the interposition of the people may be rendered imperfect or perhaps wholly abortive. But if, imitating the constitution of Pennsylvania, you vest all the legislative power in one body of men (separating the executive and judicial) elected for a short period, and necessarily excluded by rotation from permanency, and guarded from precipitancy and surprise by delays imposed on its proceedings, you will create the most perfect responsibility for then, whenever the people feel a grievance they cannot mistake the authors, and will apply the remedy with certainty and effect, discarding them at the next election. This tie of responsibility will obviate all the dangers apprehended from a single legislature, and will the best secure the rights of the people.

Having premised this much, I shall now proceed to the examination of the proposed plan of government, and I trust, shall make it appear to the meanest capacity, that it has none of the essential requisites of a free government; that it is neither founded on those balancing restraining powers, recommended by Mr. Adams and attempted in the British constitution, or possessed of that responsibility to its constituents, which, in my opinion, is the only effectual security for the liberties and happiness of the people; but on the contrary, that it is a most daring attempt to establish a despotic aristocracy among freemen, that the world has ever witnessed.

I shall previously consider the extent of the powers intended to be vested in Congress, before I examine the construction of the general government.

It will not be controverted that the legislative is the highest delegated power in government, and that all others are subordinate to it. The celebrated Montesquieu establishes it as a maxim, that legislation necessarily follows the power of taxation. By sect. 8, of the first article of the proposed plan of government, "the Congress are to have power to lay and collect taxes, duties, imposts and excises, to pay the debts and provide for the common defence and general welfare of the United States, but all duties, imposts and excises, shall be uniform throughout the United States." Now what can be more comprehensive than these words; not content by other sections of this plan, to grant all the great executive powers of a confederation, and a STANDING ARMY IN TIME OF PEACE, that grand engine of oppression, and moreover the absolute control over the commerce of the United States and all external objects of revenue, such as unlimited imposts upon imports, etc._they are to be vested with every species of internal taxation;_whatever taxes, duties and excises that they may deem requisite for the general welfare, may be imposed on the citizens of these states, levied by the officers of Congress, distributed through every district in America; and the collection would be enforced by the standing army, however grievous or improper they may be. The Congress may construe every purpose for which the state legislatures now lay taxes, to be for the general welfare, and thereby seize upon every object of revenue.

The judicial power by 1st sect. of article 3 "shall extend to all cases, in law and equity, arising under this constitution, the laws of the United States, and treaties made or which shall be made under their authority; to all cases affecting ambassadors, other public ministers and consuls; to all cases of admirality and maritime jurisdiction, to controversies to which the United States shall be a party, to controversies between two or more states, between a state and citizens of another state, between citizens of different states, between citizens of the same state claiming lands under grants of different states, and between a state, or the citizens thereof, and foreign states, citizens or subjects."

The judicial power to be vested in one Supreme Court, and in such Inferior Courts as the Congress may from time to time ordain and establish.

The objects of jurisdiction recited above, are so numerous, and the shades of distinction between civil causes are oftentimes so slight, that it is more than probable that the state judicatories would be wholly superceded; for in contests about jurisdiction, the federal court, as the most powerful, would ever prevail. Every person acquainted with The history of the courts in England, knows by what ingenious sophisms they have, at different periods, extended the sphere of Their jurisdiction over objects out of the line of their institution, and contrary to their very nature; courts of a criminal jurisdiction obtaining cognizance in civil causes.

To put the omnipotency of Congress over the state government and judicatories out of all doubt, the 6th article ordains that "this constitution and the laws of the United States which shall be made in pursuance thereof, and all treaties made, or which shall be made under the authority of the United States, shall be thesupreme law of the land, and the judges in every state shall be bound thereby, any thing in the constitution or laws of any state to the contrary notwithstanding."

By these sections the all-prevailing power of taxation, and such extensive legislative and judicial powers are vested in the general government, as must in their operation, necessarily absorb the state legislatures and judicatories; and that such was in the contemplation of the framers of it, will appear from the provision made for such event, in another part of it; (but that, fearful of alarming the people by so great an innovation, they have suffered the forms of the separate governments to remain, as a blind.) By sect. 4th of the 1st article, "the times, places and manner of holding elections for senators and representatives, shall be prescribed in each state by the legislature thereof; but the Congress may at any time, by law, make or alter such regulations, except as to the place of chusing senators." The plain construction of which is, that when the state legislatures drop out of sight, from the necessary operation this government, then Congress are to provide for the election and appointment of representatives and senators.

If the foregoing be a just comment_if the United States are to be melted down into one empire, it becomes you to consider, whether such a government, however constructed, would be eligible in so extended a territory; and whether it would be practicable, consistent with freedom? It is the opinion of the greatest writers, that a very extensive country cannot be governed on democratical principles, on any other plan, than a confederation of a number of small republics, possessing all the powers of internal government, but united in the management of their foreign and general concerns.

It would not be difficult to prove, that any thing short of despotism, could not bind so great a country under one government; and that whatever plan you might, at the first setting out, establish, it would issue in a despotism.

If one general government could be instituted and maintained on principles of freedom, it would not be so competent to attend to the various local concerns and wants, of every particular district, as well as the peculiar governments, who are nearer the scene, and possessed of superior means of information, besides, if the business of the whole union is to be managed by one government, there would not be time. Do we not already see, that the inhabitants in a number of larger states, who are remote from the seat of government, are loudly complaining of the inconveniencies and disadvantages they are subjected to on this account, and that, to enjoy the comforts of local government, they are separating into smaller divisions.

Having taken a review of the powers, I shall now examine the construction of the proposed general government.

Art. 1. Sect. 1. "All legislative powers herein granted shall be vested in a Congress of the United States, which shall consist of a senate and house of representatives." By another section? the president (the principal executive officer) has a conditional control over their proceedings.

Sect. 2. "The house of representatives shall be composed of members chosen every second year, by the people of the several states. The number of representatives shall not exceed one for every 30,000 inhabitants."

The senate, the other constituent branch of the legislature, is formed by the legislature of each state appointing two senators, for the term of six years.

The executive power by Art. 2, Sect. 1. is to be vested in a president of the United States of America, elected for four years: Sect. 2. gives him "power, by and with the consent of the senate to make treaties, provided two thirds of the senators present concur; and he shall nominate, and by and with the advice and consent of the senate, shall appoint ambassadors, other public ministers and consuls, judges of the Supreme Court, and all other officers of the United States, whose appointments are not herein otherwise provided for, and which shall be established by law," etc. And by another section he has the absolute power of granting reprieves and pardons for treason and all other high crimes and misdemeanors, except in case of impeachment.

The foregoing are the outlines of the plan.

Thus we see, the house of representatives, are on the part of the people to balance the senate, who I suppose will be composed of the better sort, the well born, etc. The number of the representatives (being only one for every 30,000 inhabitants) appears to be too few, either to communicate the requisite information, of the wants, local circumstances and sentiments of so extensive an empire, or to prevent corruption and undue influence, in the exercise of such great powers; the term for which they are to be chosen, too long to preserve a due dependence and accountability to their constituents; and the mode and places of their election not sufficiently ascertained, for as Congress have the control over both, they may govern the choice, by ordering the representatives of a whole state, to be elected in one place, and that too may be the most inconvenient.

The senate, the great efficient body in this plan of government, is constituted on the most unequal principles. The smallest state in the union has equal weight with the great states of Virginia Massachusetts, or Pennsylvania_The Senate, besides its legislative functions, has a very considerable share in the Executive; none of the principal appointments to office can be made without its advice and consent. The term and mode of its appointment, will lead to permanency; the members are chosen for six years, the mode is under the control of Congress, and as there is no exclusion by rotation, they may be continued for life, which, from their extensive means of influence, would follow of course. The President, who would be a mere pageant of state, unless he coincides with the views of the Senate, would either become the head of the aristocratic junto in that body, or its minion, besides, their influence being the most predominant, could the best secure his re-election to office. And from his power of granting pardons, he might skreen from punishment the most treasonable attempts on liberties of the people, when instigated by the Senate.

From this investigation into the organization of this government, it appears that it is devoid of all responsibility or accountability to the great body of the people, and that so far from being a regular balanced government, it would be in practice a permanent ARISTOCRACY.

The framers of it, actuated by the true spirit of such a govermment, which ever abominates and suppresses all free enquiry and discussion, have made no provision for the liberty of the press that grand palladium of freedom, and scourge of tyrants, but observed a total silence on that head. It is the opinion of some great writers, that if the liberty of the press, by an institution of religion, or otherwise, could be rendered sacred, even in Turkey, that despotism would fly before it. And it is worthy of remark, that there is no declaration of personal rights, premised in most free constitutions; and that trial by jury in civil cases is taken away; for what other construction can be put on the following, viz. Article m. Sect. 2d. "In all cases affecting ambassadors, other public ministers and consuls, and those in which a State shall be party, the Supreme Court shall have original jurisdiction. In all the other cases above mentioned, the Supreme Court shall have appellate jurisdiction, both as to law and fact?" It would be a novelty in jurisprudence, as well as evidently improper to allow an appeal from the verdict of a jury, on the matter of fact; therefore, it implies and allows of a dismission of the jury in civil cases, and especially when it is considered, that jury trial in criminal cases is expresly stipulated for, but not in civil cases.

But our situation is represented to be so critically dreadful that, however reprehensible and exceptionable the proposed plan of government may be, there is no alternative, between the adoption of it and absolute ruin._My fellow citizens, things are not at that crisis, it is the argument of tyrants; the present distracted state of Europe secures us from injury on that quarter, and as to domestic dissensions, we have not so much to fear from them, as to precipitate us into this form of government, without it is a safe and a proper one. For remember, of all possible evils that of despotism is the worst and the most to be dreaded.

Besides, it cannot be supposed, that the first essay on so difficult a subject, is so well digested, as it ought to be,_if toe proposed plan, after a mature deliberation, should meet the approbation of the respective States, the matter will end, but if it should be found to be fraught with dangers and inconveniencies, a future general Convention being in possession of the objections, will be the better enabled to plan a suitable government.

Who's here so base, that would a bondsman be?
If any, speak; for him have I offended.
Who's here so vile, that will not love his country?
If any, speak; for him have I offended.
[Julius Caesar, Act 3, Scene 2 ]