Sunday, May 31, 2009

Sobre a abstenção - re-posted

Agora que está toda a gente indignada com Marinho Pinto por causa do não-voto, re-posto o que escrevei há uns anos:
Eu, achando que a democracia não se deve esgotar no voto, tenho votado sempre (...).

No entanto, discordo dessa conversa do "dever cívico" (a fazer lembrar o tempo em que quem não votava recebia a visita da PIDE) e do "quem se abstém, depois não pode dizer mal".

Vejamos: na Assembleia da República, sempre que se vota uma proposta, o Presidente da AR pergunta sempre: "Quem vota contra? Quem se abstém? Quem vota a favor?", e nunca ninguém levou a mal por algum deputado se abster nalguma votação (ou melhor, ninguém levou a mal a abstenção em si*). O que faz todo o sentido: se alguém achar que uma proposta tem pontos bons mas também maus, porque é que não há-de se abster? Ou se achar que a proposta é absolutamente irrelevante?

Ora, se ninguém acha "imoral" um deputado abster-se quando está a votar uma proposta que conhece em pormenor (afinal, o documento a ser votado está à vista, com todos os detalhes e alíneas), porque é que há de ser "imoral" um simples cidadão abster-se numa votação que consiste em passar um "cheque em branco" a uma pessoa (ou partido) para, basicamente, fazer o que lhe der na cabeça? Afinal, se é aceitável que alguém possa não ter opinião no primeiro caso (ou por não se decidir, ou por achar as alternativas irrelevante), porque não no segundo?

*P.ex., Daniel Campelo foi muito criticado pela sua abstenção na votação do OE, mas não pela abstenção em si, mas por ter trocado o seu voto por beneficios "paroquiais" (se ele, em vez da abstenção, tivesse votado "sim", de certeza que as críticas teriam sido iguais)

Friday, May 29, 2009

"Os Anjos de Charlie" - reflexões avulsas

[Falo da série, não do filme]

Actualmente, a RTP Memória está a passar "Os Anjos de Charlie", que, aos 7 anos, era uma das minhas séries não-infantis favoritas (a par com o Caminho das Estrelas). Revendo a série, ocorrem-me várias coisas:

- A grande revolução tecnológica que foi o telemóvel: em montes de episódios, o enredo teria que ser completamente diferente se já existissem telemóveis (exemplo: num episódio a "Jill" vai a casa de alguém que as outras suspeitam seja a "vilã" do episódio e telefonam para essa casa a tentar avisá-la, mas é a suspeita que atende e diz que ela ainda não chegou; se a série fosse feita hoje, ligariam-lhe para o telemóvel e o episódio perdia o suspense todo).

- Falando de tecnologia, a diferença que a televisão a cores também faz: eu lembrava-me bem da cena da bola de ténis explosiva metida na máquina automática de lançar bolas, mas a unica coisa que eu vi, a p/b, foi uma mão a meter uma bola ligeiramente diferente junta das outras; com a televisão a cores é diferente: vê-se claramente uma bola vermelha no meio de bolas verdes.

- Durante muitos anos, li criticas referindo-se aos "Anjos" como uma série "idiota"; eu pensava "que disparate"; no entanto, revendo-a com 35 anos em vez de 7 (e no contexto da televisão do século XXI em vez dos anos 70 do século passado) por vezes tem umas passagens um bocado, enfim... (exemplo: num episódio, um contabilista condenado por fraude contrata um mercenário para fazer um "trabalho" e depois mata-o; vamos pensar nisso: contabilista vs. mercenário/assassino, humm...)

- É interessante rever a estética da televisão dos anos 70, nomeadamente das séries policiais/acção; veja-se, sobretudo, o uso da música de fundo nos momentos de maior tensão (há uns anos atrás, num curso de formação profissional que frequentei, o formador mostrou um excerto de um filme qualquer e depois comentou "Isto é mesmo anos 70", ao que uma das formandas respondeu "Pois é, a musiquinha"). A própria imagem é reconhecivel, embora isso deva ter mais a ver com a tecnologia (eu gosto bastante dessa ambiência "anos 70", diga-se de passagem).

- Como trabalha a minha memória: eu lembrava-me de duas ou três cenas da série, e, ao revé-la, há muitas cenas que me relembro no momento em que as vejo (o explosivo na tampa da garrafa, o miudo deficiente que agarra na pistola e dispara, a filha do traficante de droga que suspeita que o pai tenha mais que vinho na adega, etc.). No entanto, não me lembro do enredo geral de quase nenhum episódio (nem me re-lembro ao vê-los). Será assim que funciona a memória humana a relembrar filmes vistos há 28 anos atrás (e numa idade em que as funções cognitivas ainda não estão plenamente desenvolvidas)?

- Acerca da discussão sobre se a série era machista ou feminista - actualmente, é fácil encontrar artigos na Net defendendo que era feminista, mas suponho que haja aí uma selecção enviesada: 30 anos depois, apenas os fãs da série perdem tempo a discutir isso.

- Finalmente, uma ideia um bocado macabra que me ocorreu: será que a RTP decidiu re-exibir a série a pensar que uma das actrizes talvez faleça nos próximos tempos? [adenda escrita a 26/06/2009: infelizmente, já não é "talvez"]

"A Europa de Leste está numa situação delicada, sobretudo os paises bálticos como a Roménia"

Thursday, May 28, 2009

A evolução do gato doméstico

The Evolution of House Cats, na Scientific American, sobre (adivinhem) as origens e evolução do gato doméstico

Um excerto:
[W]e could begin to revisit the old question of why cats and humans ever developed a special relationship. Cats in general are unlikely candidates for domestication. The ancestors of most domesticated animals lived in herds or packs with clear dominance hierarchies. (Humans unwittingly took advantage of this structure by supplanting the alpha individual, thus facilitating control of entire cohesive groups.) These herd animals were already accustomed to living cheek by jowl, so provided that food and shelter were plentiful, they adapted easily to confinement.

Cats, in contrast, are solitary hunters that defend their home ranges fiercely from other cats of the same sex (the pride-living lions are the exception to this rule). Moreover, whereas most domesticates feed on widely available plant foods, cats are obligate carnivores, meaning they have a limited ability to digest anything but meat—a far rarer menu item. In fact, they have lost the ability to taste sweet carbohydrates altogether. And as to utility to humans, let us just say cats do not take instruction well.

Wednesday, May 27, 2009

Implicações politicas da suposta hereditariedade da inteligência?

É interessante o "entusiasmo" (para dizer o mínimo) que costuma ser posto nas discussões sobre o efeito dos genes vs. ambiente sobre a inteligência. Porquê? Por duas razões:

Em primeiro lugar, porque é que esta discussão é muito mais intensa para inteligência do que para outros factores (estabilidade emocional, capacidade de diferir a satisfação, adaptabilidade, sociabilidade, etc) que são muito mais importantes para o sucesso individual do que a inteligência?

E, em segundo, porque é que esta discussão costuma ser apresentada como se tivesse grande implicações politicas? Num ambiente é que o grande debate politico é "Esquerda » Estado Social" e "Direita » mercado livre", não vejo em que é que a eventual hereditariedade da inteligência tenha qualquer implicação política.

No entanto, eu percebia a relevancia politica dessa questão noutros cenários:

Imagine-se que a esquerda caracterizava-se, não pela defesa do "Estado Social", mas pela defesa da anarquia, ou da autogestão, ou do "controle operário", ou do "poder popular de base", ou por algo do género (ou, numa versão mais soft, por partidos sem lider formal e com deputados rotativos). Aí, a tal questão da distribuição da inteligência poderia ter (e também poderia não ter...) relevancia: se admitirmos que há grandes diferenças inatas de inteligência entre as pessoas, o argumento a favor das decisões serem tomadas por todos (ou, pelo menos, por todos os envolvidos) e não por "experts" fica enfraquecido (se fica muito enfraquecido é outra questão; talvez escreva mais um post sobre isso, mas para já recomendo este post de Luis Aguiar-Conraria). E, realmente, aí percebia-se que a enfase fosse posta nas diferenças de inteligência e não noutra diferença qualquer.

Outro caso: imagine-se que a direita caracterizava-se pela defesa, não do liberalismo económico, mas pela defesa de um regime aristocrático em que a elite governasse as massas ignaras (podemos ter duas versões para isto: a versão conservadora, em que a elite governa a populaça de forma paternal e protectora, ou a versão "Adolf Hitler", em que os "homens superiores" exterminam as "raças degenaradas" para conquistar espaço vital). Aí, de novo, discutir se há grandes diferenças inatas de inteligência poderia ser relevante para discutir se estes projectos politicos fariam sentido.

Mas não vivemos em nenhum destes cenários: nem a esquerda actual que abolir a hierarquia no local de trabalho ou implantar a democracia directa, nem a direita actual quer abolir a democracia. Logo, mantém-se a dúvida: porque é que será que esta questão é discutida como se tivesse grandes implicações políticas e sociais?

Ocorre-me uma teoria, mas não sei se estará certa (tenho as minhas dúvidas): talvez muitos direitistas-defendores-do-liberalismo-económico e muitos esquerdistas-defensores-do-Estado-Social sejam, bem lá no fundo do seu subconsciente, defensores, respectivamente, do feudalismo e da autogestão, mas que tenham aprendido a expressar opiniões politicas social aceitáveis?

A carta de condução de mota


Não sei como é hoje, mas no meu tempo penso que bastava uma pessoa ir à camara municipal, mostrar que sabia conduzir a mota e davam-lhe a carta (ou seria só para motorizadas?).

"Estado Social" e a suposta hereditariedade da inteligência

No "i", alguêm escreve:

Vamos substituir "inteligência"por "diabetes" (e resumir um pouco):
"A diabetes é genética, logo os tratamentos contra a diabetes, como injecções de insulina, não valem a pena e estão condenados"
Penso que isto é suficiente para perceber a falta de lógica do raciocínio.

Na verdade, se aceitássemos a teoria de que há umas pessoas que, devido à sua herança genética estão vocacionadas para o sucesso e outras para o fracasso, parece-me que isso constituiria um argumento fortíssimo a favor do "Estado Social". Afinal, se uns fracassam e outros triunfam mais em virtude de um jogo de sorte e azar ocorrido no momento da concepção do que propriamente em função do seu mérito pessoal, a ideia de que é justo tirar dos "ricos" para dar aos "pobres" parece-me reforçada (e não enfraquecida).

É verdade que isso favorece um Estado Social mais em versão social-cristã do que socialista/social-democrata (isto é, apresentado mais em termos de "solidariedade com os menos afortunados" do que como "combate à injustiça social") mas em termos de politicas concretas fará diferença?

[Sou capaz de ainda escrever algo mais sobre isto]

Tuesday, May 26, 2009

A vigilancia electrónica em acção

A national network of cameras and computers automatically logging car number plates will be in place within months, the BBC has learned.

Thousands of Automatic Number Plate Recognition cameras are already operating on Britain's roads.

Police forces across England, Wales and Scotland will soon be able to share the information on one central computer.

Officers say it is a useful tool in fighting crime, but critics say the network is secretive and unregulated.

(...)

John Catt found himself on the wrong side of the ANPR system. He regularly attends anti-war demonstrations outside a factory in Brighton, his home town.

It was at one of these protests that Sussex police put a "marker" on his car. That meant he was added to a "hotlist".

This is a system meant for criminals but John Catt has not been convicted of anything and on a trip to London, the pensioner found himself pulled over by an anti-terror unit.

"I was threatened under the Terrorist Act. I had to answer every question they put to me, and if there were any questions I would refuse to answer, I would be arrested. I thought to myself, what kind of world are we living in?"

Sussex police would not talk about the case.

The police say they do not know how many cameras there are in total, and they say that for operational reasons they will not say where the fixed cameras are positioned.

A que dias calham as greves?

É frequente dizer-se que as greves são "marcadas para segundas, sextas e vésperas de feriados". Será verdade ou um mito?

Em tempos, fiz um post sobre isso a respeito das greves gerais.

Agora, vou tentar fazer um estudo semelhante para o conjunto das greves.



Ao que consegui apurar, no sector da saúde houve, desde 2000, greves nestes dias (por qualquer razão, a tabela só aparece lá em baixo):
































































































































































2000-02-18Sexta
2000-05-09Terça
2000-06-05Segunda
2000-12-07V. Feriado
2001-01-29Segunda
2001-04-06Sexta
2001-06-06Quarta
2001-06-11Segunda
2001-06-12V. Feriado
2001-11-27Terça
2002-06-28Sexta
2002-07-19Sexta
2002-10-16Quarta
2002-11-14Quinta
2002-12-10Terça*
2003-11-21Sexta
2004-01-23Sexta
2005-06-29Quarta
2005-07-15Sexta
2005-10-12Quarta
2005-10-13Quinta
2005-10-20Quinta
2005-11-24Quinta
2006-05-19Sexta
2006-06-27Terça
2006-07-06Quinta
2006-11-09Quinta
2006-11-10Sexta
2007-05-30Quarta
2007-11-30Sexta
2008-03-14Sexta
2008-05-23Sexta
2008-09-30Terça
2008-10-01Quarta
2009-02-20Sexta
2009-04-02Quinta
2009-04-03Sexta



*O feriado muncipal de Portimão é a 11 de Dezembro; no entanto, não considerei 10 de Dezembro como "vespéra de feriado"; em compensação, considerei 12 de Junho como uma véspera de feriado.

Pode haver alguma greve a mais ou a menos nesta tabela: eu tentei distinguir as greves a sério daquelas que só são para algumas pessoas poderem ir a uma manifestação (incluindo só as primeiras); no entanto, algumas podem ter falhado.

Quais os resultados disto por dias de semana?

































Segunda3
Terça5
Quarta6
Quinta7
Sexta14
VF2




Bem, e o que é que concluo disto tudo? duas coisas contraditórias: efectivamente, há uma grande concentração de greves às sextas-feiras (quase 40% do total); por outro, não há uma concentração significativa de greves às sextas-e-segundas-feiras: as greves às sextas e segunda representam cerca de 45% do total das greves, ou seja, pouco mais do que os 40% que seria normal de qualquer maneira.




Sugestões de leitura

The Myth of Return to the Battlefield from Guantanamo no Huffington Post, sobre a conversa de que "grande parte dos libertados de Guantanamo regressaram ao terrorismo".

Anarchists, Social Democrats and Greens, por Larry Gambone, defendendo a tese que, numa situação não-revolucionária, os anarquistas devem dar apoio à esquerda reformista.

Ley Orgánica de Procesos Electorales aprobada en primera discusión genera críticas en sectores chavistas, sobre as divisões que a nova lei eleitoral venezuelana está a provocar entre os partidos pró-Chavez (os pequenos partidos dizem que reduz a proporcionalidade) .

Autoeuropa e a Comissão de Trabalhadores, por João Abel Freitas, sobre a proposta da CT da Autoeuropa para utilizar os camiões que transportam as peças para a fábrica (e regressam vazios à Alemanha) para transportar mercadorias na viagem de volta.

Seven basic plots and the narrative of the economy, uma comparação entre as teorias explicativas da crise económica e as estruturas narrativas das histórias e da literatura tradicional.

Monday, May 25, 2009

Gotta love George Carlin II - We Like War

Gotta love George Carlin: Earth is NOT endangered - WE ARE

Feb. '03: Janeane Garofalo Destroys Fox's Brian Kilmeade

É bonito de se ver a conhecida anti-war liberal (esquerda americana) versus (republicano bushista no seu pior e só por acaso Jewish-American) Brian Kilmeade.

É bonito ser a esquerda a tentar ser ponderada e evocar a importância do direito internacional. Este duelo mostra bem o pior do apoio turculento ao "regime-changing" ideologicamente cego à revolução democrática disfarçado de casus bellis assentes em mentiras e enganos do princípio ao fim. Quanto mais o tempo passa mas este assunto me irrita. Devia ser ao contrário mas não é.


Diferenças culturais?

Por várias coisas que tenho lido na Net (p.ex., este post de Krugman), dá-me a ideia que nos EUA a clivagem "cultural" entre direita e esquerda a respeito do urbanismo é a "esquerda" a gostar de cidades com construção em altura e a "direita" a gostar de bairros de moradias unifamiliares.

O curioso é que na Europa (ou pelos menos em Portugal) é em larga medida o contrário - é mais frequente ver a esquerda a defender edificios de "baixa volumetria" e a direita grandes arranha-céus (ou será que não é tanto uma diferença entre esquerda e direita mais mais entre PCP, BE, MPT e PPM de um lado e PS, PSD e CDS-PP do outro?).

Na Casa Branca?

No 31 da Armada (naqueles titulos por baixo dos posts) pergunta-se "a Coreia do Norte fez testes nucleares. Onde está o bush quando precisamos dele?". Talvez... na Casa Branca?

Re: Coisas Engraçadas

Em resposta a Francisco Proença de Carvalho, lembro que quem decide estudar tem direito a 12 anos de educação pagos à borla e mais 3 pagos com desconto (além disso, os seus pais receberão abono de familia por ele durante uns 21 anos).

Se calhar, ainda irá para uma profissão com uma Ordem profissional, em que o Estado lhe garante protecção contra a concorrência dos não-licenciados nesse ramo. Ou talvez vá trabalhar para a banca, um sector que (nos seus actuais moldes de guncionamente) está dependente da garantia implicita que os Estado dá aos depósitos (esse "implicito" tem-se tornado "explicito" ultimamente).

Pelo contrário, imagine-se alguém que fez só o sexto ano do ciclo, depois foi trabalhar e agora está nas "novas oportunidades" - representa muito menos despesa para o Estado (tanto em educação como em abonos de familia) e provavelmente começou a pagar impostos mais cedo.

Saturday, May 23, 2009

Sugestões de leitura

Obama's Betrayals e "Prolonged Detention", por Sheldon Richman, sobre as reviravoltas de Obama acerca de Gunatanamo, "tribunais" militares, etc.

Private Law and Order: Somali Pirate Edition, por Peter Leeson, sobre as "leis" seguidas pelos piratas somalis.

Thursday, May 21, 2009

Piada Económica via e-mail

Recebida há uns dias:

Numa pequena vila e estância de veraneio na costa sul da França chove e nada de especial acontece.

A crise sente-se.

Toda a gente deve a toda a gente, carregada de dívidas.

Subitamente, um rico turista russo entra no foyer do pequeno hotel local.
Pede um quarto e coloca uma nota de 100 € sobre o balcão, pede uma chave de
quarto e sobe ao 3º andar para inspeccionar o quarto que lhe indicaram, na
condição de desistir se lhe não agradar.

O dono do hotel pega na nota de 100€ e corre ao fornecedor de carne a quem
deve 100€, o talhante pega no dinheiro e corre ao fornecedor de leitões a
pagar 100€ que devia há algum tempo, este por sua vez corre ao criador de
gado que lhe vendera a carne e este por sua vez corre a entregar os 100€ a
uma prostituta que lhe cedera serviços a crédito.

Esta recebe os 100€ e corre ao hotel a quem devia 100€ pela utilização
casual de quartos à hora para atender clientes. Neste momento o russo rico
desce à recepção e informa o dono do hotel que o quarto proposto não lhe
agrada, pretende desistir e pede a devolução dos 100€. Recebe
o dinheiro e sai.

Não houve neste movimento de dinheiro qualquer lucro ou valor acrescido.

Contudo, todos liquidaram as suas dívidas e estes elementos da pequena vila
costeira encaram agora com optimismo o futuro.
Como analisar economicamente esta história? Poderemos considerar que a aldeia tinha um problema de falta de liquidez que foi resolvido com a injecção temporária de capital por parte do russo rico (qual banco central)?

Ou será que os problemas já poderiam ter sido antes resolvidos se o hoteleiro, o talhante, os criadores de animais e a prostituta tivessem criado uma associação que visse os créditos e débitos de cada um e anulasse as dívidas cruzadas?

Outra forma de ver a coisa (será a dos anti-keynesianos?) é de que só por milagre isto não deu uma grande barraca: afinal, tendo na mão o que poderia ser considerado um "empréstimo" de curtíssimo prazo, o hoteleiro pôs-se a pagar dívidas. E se, quando o russo pediu o dinheiro de volta, ele ainda não regressado ao cofre do hoteleiro? Seria uma situação em que um aumento temporário da massa monetária teria levado os agentes a tomarem decisões insustentáveis a longo prazo, abrindo caminho para uma crise futura ainda maior?

Anti-americanismo ou anti-bushismo?

Lembram-se de, há uns 4 anos, os comentadores de esquerda dizerem "Nós não somos anti-americanos, até admiramos muita coisa nos EUA. Somos é contra e o Bush e o seu grupo de Republicanos ultra-conservadores" e os de direita responderem "Isso é conversa de chacha. Vocês são anti-americanos e odeiam tudo o que os EUA representam. O Bush é apenas um pretexto; fosse outro o presidente e vocês haveriam de arranjar outros motivos para dizer mal dos EUA"? Não estou a dizer que tenha existido alguma conversa usando estas palavras, mas com este sentido encontram-se montes de discussões em artigos de opinião e em blogs.

Bem, agora o tom dominante à direita (p.ex., aqui) é "Vejam só - o Obama em muitas coisas continua a seguir as políticas do Bush mas, agora, mal se fala disso".

Ou seja, se isso for verdade até prova que não havia realmente anti-americanismo à esquerda, mas sim anti-bushismo.

Reivindicações

Porque é que, numa negociação laboral, as propostas apresentadas pelos trabalhadores são chamadas "reivindicações" e as apresentadas pelos patrões são chamadas... "propostas"?

Wednesday, May 20, 2009

Grande Jesse Ventura

A mostrar a melhor forma de patriotismo: question your government

Jesse Ventura After the Show on Fox & Friends: "I'm Ashamed of Our Country"

Tuesday, May 19, 2009

O que há de errado com este cartoon?

O que há de errado com este cartoon (publicado em muitos sítios ao longo dos anos, como aqui)? O erro principal é que a legenda deveria ser "Something's just not right - our air is clean, our water is pure, we all get plenty of exercise, everything we eat is organic and free range, and yet almost none of our children lives past five".



[gráfico roubado daqui]

As sociedades "primitivas" tinham mortalidades infantis altissimas, mas, para quem sobrevivia, a sua esperança de vida não era substancialmente diferente da esperança de vida, digamos, de um europeu do século XIX (o que produzia as tais "esperança de vida média de 30 anos"). Ao que consta, só em meados do século XX, com os progressos na medicina, houve um prolongamento real da esperança de vida para quem sobrevivesse à infância (em vez de morrerem por volta dos 60 e tal, passarem a morrer aos 80 e tal).

Na verdade, alguns estudos indicam que a esperança de vida (pelo menos depois da infância, mas talvez mesmo desde a nascença) era maior nas sociedades de caçadores-recolectores do que nas sociedades agrárias ou mesmo no principio da era industrial, sobretudo por uma razão: as aldeias das sociedades agricolas e ainda mais as cidades industriais tinham muito mais gente do que os clãs dispersos de caçadores-recolectores, logo as doenças espalhavam-se muito mais depressa.

Há um capitulo do livro "10 Perguntas às quais a Ciência Não Sabe Responder (Ainda)", de Michael Hanlon, dedicado exactamente a essa questão.

Também alguns links sobre o assunto (do geneticista Razib Khan):


Lions and antelope


[É verdade que a especialidade de Razib Khan é genética, não história ou antropologia, o que talvez reduza a relevância do que ele escreve sobre o assunto]

Mas isto levanta uma questão complexa se quisermos entrar no terreno da comparação entre sociedades: em principio o bem-estar de uma sociedade deve ser medido pelo bem-estar dos indivíduos que a compõem. Mas, se quiserermos analisar o bem-estar de uma sociedade em que muita gente morre na tenra idade, como deveremos fazer: contar o bem-estar dos que estão vivos neste momento? contar também com o bem-estar (ou a ausência dele) dos que já morreram mas poderiam ainda estar vivos?

A NATO e a UE

Acerca disso, Diogo Belford Henriques escreve "Rangel atribui a paz na Europa à União Europeia. Pese a bondade da declaração Schuman, até parece que não houve uma guerra fria. Foi mesmo em Bruxelas que se decidiu - após consultas aos estados-membros, num elaborado processo de co-decisão com o Parlamento - derrubar o muro de Berlim."

Deduzo que o derrube do muro de Berlim foi tomado numa reunião do comando da NATO (aliás, a NATO não impediu a criação do muro de Berlim, e, se o tivesse impedido, isso teria provavelmente acabado com a paz na Europa).

E, de qualquer forma, o que é que a questão do muro de Berlim tem a ver com a paz na Europa? Afinal, já havia paz antes da queda do muro (houve algumas guerras - Grécia, Hungria - mas também houve depois - Jugoslávia, Caucáso). DBH fala na "guerra fria", mas "guerra fria" era uma figura de estilo: a "guerra fria" não foi nenhuma guerra (pelo menos na Europa).

Monday, May 18, 2009

Patentes genéticas (mais ou menos)

"Many readers have probably heard that the ACLU has sued Myriad Genetics for its patent on genetic testing on BRCA1/2 (these genes account overall for a small fraction of breast cancer cases, but for many of the strongly inherited cases).

Many companies hold gene patents, so why sue Myriad? The answer is simple: in the battle of public opinion, there's no way Myriad can come out of this looking good. A bit of recent history: the BRCA1 gene was famously mapped by a group led by Mary-Claire King, currently at the University of Washington. That group, however, narrowed down the location of the gene only to a relatively large region, and the gene itself was finally isolated months later and patented by Myriad (BRCA2 came later). Myriad did the obvious--they designed a test for a series of mutations in the genes and began to market it. However, the series of mutations they test is not the whole story--other mutations, untested by Myriad, can cause the disease as well. Other labs would be happy to market tests for these mutations, except, of course, that Myriad refuses to license its patent, preferring instead to hold onto their monopoly on the gene. The result: families that would like to be tested for rare mutations in BRCA1 but an environment in which it is illegal for any company to sell them such a test. It's not for nothing that Myriad is considered among the most hated diagnostics companies."

Friday, May 15, 2009

Porque é que (quase) ninguém leva a sério o Parlamento Europeu?

O argumento clássico é "porque o PE não tem poderes nenhuns". Mas isso é falso: afinal, 85% (parece) da nossa legislação vem da UE e o PE muitas vezes tem um papel decisivo na aprovação ou não dessas leis.


Mas, assim, qual a verdadeira razão do desinteresse pelo Parlamento Europeu? Eu tenho uma teoria - as pessoas não respeitam o PE porque... também não respeitam os parlamentos nacionais! Grande parte das pessoas também se está a lixar para os deputados da A.R. O que motiva o eleitorado para votar nas eleições nacionais não é verdadeiramente a escolha dos deputados - é a escolha do primeiro-ministro (ainda mais porque - tirando talvez a França - todos os membros da UE são regimes parlamentares).

Ora, como nas eleições para o PE não se está a eleger um governo (mesma a regra de a "familia europeia" mais votada ficar com a presidência da Comissão é uma coisa muito vaga), os eleitores habituados a votar "para o primeiro-ministro" não vêm grande interesse nelas.

Isto é apenas uma teoria, claro.

We Copyright Communists

"The Copyright Nazis believe the creator’s right to a profit trumps the right of people to enter the market freely and use their own property as they see fit.

We Copyright Communists believe everyone has the right to do what he wants with his own property, and that nobody is entitled to a profit from the state." Copyright Communism? Kevin Carson

A democracia bolivariana em acção

Thursday, May 14, 2009

Kevin Carson sobre a Propriedade Intelectual


Uma observação: acho que o comentário final de Carson é uma clara violação da propriedade intelectual - não passa de um plágio ao Carlos Novais.

Wednesday, May 13, 2009

Efeitos da imigração sobre o PIB

Alguns estudos sobre o efeito da imigração sobre o rendimento de um país - um dos estudos indica que a imigração faz aumentar o rendimento per capita; outro que apenas aumenta o rendimento total, mas não o per capita. De qualquer forma, dá-me a ideia que ambos os estudos apontam para que a imigração aumente o rendimento dos habitantes do país de destino (no primeiro, parece que isso é óbvio; no segundo, não é tão óbvio, mas, se a imigração não afecta o per capita, e se o rendimento dos imigrantes for inferior à média, é de supor que o rendimento dos naturais aumente).

First,this one (pdf) estimates, from a sample of 63 countries, that immigration actually raises GDP per head; a 10% rise in the stock of migrants raises it by 2.2%. This controls, as far as possible for the reverse causality - the tendency for rich countries to attract migrants - and for the correlation between openness to migrants and openness to trade.

There are two possible mechanisms generating this. One is simply that an increased supply of labour reduces inflationary pressures, and so allows real interest rates to stay lower for longer, which encourages economic activity*. The other is that migrant workers might be complements for native ones. If Polish builders cause more houses to get built, British plumbers and electricians can get more work done and earn more. If Latvians cause more fruit to be picked, British market stall holders can sell more. Or if you can see a doctor quicker because of migrant GPs, you can get back to work sooner.

This finding is entirely consistent with the notion that some unskilled native workers lose out from immigration. What it means, though, is that migration is a potential Pareto improvement, in the sense that winners from it can in theory compensate the losers with everyone becoming better off. This provides a justification for the Left’s response to fears about migration - that the way to protect unskilled native workers is not to restrict migration, but to have better redistributive mechanisms.

Our second paper (pdf), however, is slightly more pessimistic. It estimates, from 14 OECD countries, that immigration simply increases raw GDP; native per capita GDP is unaffected by migrants.

(...)

Keynesianismo e intervenção do Estado

A teoria económica de Keynes gira à volta da ideia de que a intervenção do Estado é necessária para fazer a economia sair das crises (ou, pelo menos, para não demorar anos a sair dela), e toda a gente (críticos ou defensores) a vê dessa forma. Inclusivamente, até há quem diga (como Chris Dillow) que o keynesianismo, com a sua ideia de que é possível salvar o sistema de propriedade capitalista dos meios de produção recorrendo à intervenção macro-económica do Estado foi das piores coisas que aconteceu à esquerda, já que levou a grande parte desta a abandonar a oposição à divisão de classes entre patrões e trabalhadores e à autoridade dos primeiros sobre os segundo, concentrando-se apenas na defesa do intervencionismo estatal. Ou seja, Keynes terá sido responsável por enfraquecer os aspectos "bons" (o igualitarismo e o anti-capitalismo) e fortalecer os "maus" (o estatismo) da esquerda.

Mas será que a teoria keynesiana implica mesmo a defesa da intervenção estatal? Contra o que penso fosse a opinião do próprio Keynes, vou tentar argumentar que... NÃO.

E isto por duas ordens de razões.

O que defende o keynesianismo? Basicamente que, em caso de uma recessão económica, deve-se aumentar a quantidade de moeda em circulação; caso tal não resulte (nos casos em que se está na "armadilha da liquidez"), o Estado deve ter um deficit orçamental.

Ora, a partir do momento em que existe um banco central e uma moeda com curso forçado por lei, de certa forma é tão intervencionismo o banco fixar a quantidade de moeda (à Friedman) como variá-la.

E a respeito dos deficits, imagine-se dois casos: um Estado que cobra impostos equivalentes a 20% do PIB e cujas despesas oscilam entre 15% (durante as expansões) e 25% (durante as crises) do PIB; e um Estado com uma politica orçamental rigorosa, cujas despesas e receitas (seja qual for a conjuntura) são sempre de 43% do PIB. O primeiro faz uma politica keynesiana, o segundo não; mas o segundo é muito mais intervencionista que o primeiro.

Aliás, o keynesianismo até pode ser usado como argumento para baixar os impostos - com mais dinheiro nos bolsos, os contribuintes gastam mais e animam a economia; creio que as reduções de impostos do Bush foram um bocado "vendidas" nessa base (o argumento keynesiano para baixar os impostos não deve ser confundido com o argumento supply-sider - de que, com menos impostos, as empresas têm maior incentivo para investir e assim animam a economia; no entanto, por vezes, os dois argumentos misturam-se um bocado).

Numa versão extrema, até poderiamos imaginar um sintese entre keynesianismo e liberalismo, que defendesse a regra "durante as crises, baixar os impostos; durante as expansões, reduzir a despesa".

É verdade que os keynesianos costumam defender que um deficit criado por aumento da despesa é "melhor" do que um por redução dos impostos, mas reconhecem que a redução de impostos também aumenta a "procura agregada".

Esta é a primeira ordem de razões.

A segunda é que é possivel pôr em prática uma "politica" keynesiana por meios puramente privados (por isso é que eu pus "politica" dentro de aspas).

Vamos à questão da reduzida massa monetária. Esse problema pode ser resolvido(?) pelo sistema de um grupo de pessoas se associar, imprimirem uns papelinhos a dizer "Vale 10 euros" (ou inventarem uma designação própria) e comprometerem-se a aceitá-los como pagamento.

Ou então nem precisam de ter uma moeda fisica: podem simplesmente criar um sistema contabilistico, em que começam todos com um saldo de zero euros, e quando eu compro alguma coisa ao Fernando no valor de 100 euros, passo a ter um saldo de -100 euros e ele um saldo de +100, sem nenhum dinheiro fisico mudar de mãos. Se, p.ex., as regras do sistema permitirem aos membros chegarem a um saldo negativo de 500 euros, isso equivale na prática a um aumento da quantidade de moeda em circulação no valor de 500 euros por sócio (bem, não totalmente, já que essa moeda só serve para pagamentos entre os sócios).

O que eu estou a descrever não é nenhuma invenção - mais não é que um LETS, um sistema usado em muitos sítios.

A esse respeito (LETS, "moedas locais", etc.), o economista liberal (penso que versão Chicago, não Viena ou Auburn) Tyler Cowen escreveu há uns tempos:

I am more positively inclined than is Tim. First, local currencies blossom when the nominal money supply is too low and wages and prices are sticky downwards. A boost in the real money supply is needed and the private sector will do it -- albeit at high transactions costs -- even if the government will not. That's why so many of these local currencies blossomed in the 1930s but then disappeared. They did good but then they were stamped out or ceased to be necessary.

E, na actualidade, creio que essas moedas locais têm aparecido exactamente em épocas de depressão económica. A que é talvez a mais famosa de todas - o "hour" da cidade norte-americana de Ithaca - apareceu durante aquela recessão do principio dos anos 90 (a que fez o Bush pai perder as eleições). Também o WIR suiço (uma espécie de banco cooperativo cujo funcionamento faz lembrar vagamento o LETS) apareceu numa crise económica, a dos anos 30.

Bem, já temos uma maneira de aumentar a moeda em circulação sem intervenção do Estado. Mas, e quando já estamos na tal "armadilha da liquidez", em que um aumento da moeda em circulação apenas origina um aumento da moeda que os agentes entesouram?

Aí, penso que também há uma solução (que já foi posta em prática nalguns sitios): é as "notas" emitidas pela associação/cooperativa/o-que-lhe-queiramos-chamar serem impressas dizendo "esta nota só é válida até dia 31/05/2010". A partir dessa data, os membros da associação já não aceitariam essas notas como pagamento, e elas teriam que ser trocadas por notas novas, com desconto. Assim, quem as recebesse teria um incentivo para as gastar (no fundo, algo parecido com o modelo aqui proposto). Creio que os "créditos" argentinos funcionavam assim, embora não consiga encontrar nenhuma referencia.

Assim, se vivêssemos numa sociedade sem uma moeda oficial, talvez fosse possivel aos keynesianos organizarem-se em cooperativas de crédito mútuo (ou seja, bancos centrais descentralizados, passe o paradoxo) e os "austríacos" usarem as notas de bancos com reservas de ouro a 100%, e com o tempo talvez se visse qual seria o sistema que funcionaria melhor.

No entanto, a partir do momento em que há uma moeda com curso legal, suspeito que isso não funcionasse - as moedas alternativas (sejam elas expansionistas ou anti-inflacionistas) poderão minimizar os efeitos das politicas do banco central, mas estas serão sempre decisivas, devido à vantagem competitiva (legal) que a moeda "oficial" tem.

Tuesday, May 12, 2009

Por ano, convém dizer

O Correio da Manhã noticia, na capa, "Bela Vista custa 1 milhão em subsídio" (referindo-se às despesas com o RSI). O titulo não dá, claro, nenhuma informação útil (1 milhão de euros por dia? 1 milhão de euros desde que foi criado o RSI?); lendo a noticia, percebe-se que é por ano* (se era um truque para me fazer comprar o jornal, falhou - eu li-o no expositor do Continente).

No entanto, ouvi pessoas a comentar "Um milhão de euros POR MÊS! É para isto que vão os nossos descontos".

* lá diz "São 275 as famílias que recebem "uma média de 300 a 350 euros por mês" (...). Fazendo as contas a doze meses, as famílias apoiadas pelo Estado recebem cerca de 1,155 milhões de euros por ano do Ministério da Solidariedade Social". A virgula levantou-me alguma dúvida (seria "um virgula cento e cinquenta e cinco milhões" ou "mil, cento e cinquenta e cinco milhões"?), mas fazendo as contas (350x275x12) confirma-se que é uma vírgula decimal, não um separador de milhares.

Saturday, May 09, 2009

A sublevação na Bela Vista e as condições económicas

Face às declarações do ex-bispo de Setúbal, atribuindo os tumultos na Bela Vista em parte às más condições económicas e sociais, há quem comente "o que é que tem uma coisa a ver com a outra"?

Na verdade, só quem for um analfabeto económico não vê a ligação (se quem escreveu "o bispo não percebe nada de economia, nem de sociologia" estiver a falar a sério, então precisa de espelhos em casa).

P.ex., imagine-se alguém a decidir se participa ou não num motim contra a policia e a pesar os prós e os contras (esse "pesar" não é necessariamente uma deliberação consciente); do lado dos prós, teremos o prazer emocional de descarregar a raiva contra a policia, e também ganhar algum estatuto no bairro como "duro", "corajoso", "leal aos seus amigos", etc.; do lado dos contras, temos poder levar um tiro, ser preso, etc.

Ora, quanto menores forem as perspectivas de vida de uma pessoa, menor é o custo de ser preso ou de levar um tiro; se uma pessoa que tenha um bom emprego for presa, fica com a vida estragada: perde o seu emprego, irá passar uns anos numa prisão muito menos confortável que a casa onde vivia, e, quando sair dificilmente arranjará um emprego com as condições que tinha antes (provavelmente terá que recomeçar a carreira do inicio); já uma pessoa que ganhe a vida em empregos ocasionais e com poucas perspectivas, passar ou não uns tempos na cadeia pouca diferença fará para a sua vida futura. No fundo, podemos dizer que o custo de oportunidade de ser preso (ou mesmo de morrer, já agora) é maior para alguém de classe média do que para um habitante de um bairro social.

Portanto, vamos regressar ao tal individuo a pensar se se junta ou não ao motim; como vimos, quanto melhor a sua situação económica, maior são os custos que atirar cocktails molotov à policia poderá ter para ele. Logo, quanto mais pobre eu for, maior a probabilidade de me envolver em distúrbios.

Poderá argumentar-se "a maioria dos pobres não se envolve em distúrbios". Irrelevante - a pobreza o que faz é aumentar os incentivos para actos criminosos; nem toda a gente irá reagir a esses incentivos mas, "na margem", haverá sempre alguém que, sendo pobre, irá cometer crimes que não cometeria se fosse rico ou de classe média (e não me refiro apenas a crimes contra a propriedade, como roubos; o raciocínio que apresentei acima - um pobre tem menos a perder em ser preso - aplica-se a todo o tipo de crimes).

Outra critica que poderá ser feita ao meu raciocínio é que ignora questões como os valores morais; mas não - temos que pensar em termos de ceteris paribus (isto é, "tudo o mais ser igual"). Se os pobres, à partida, têm menos a perder em cometer crimes, cometerão mais crimes, mesmo que tenham os mesmos valores morais que a classe média (se os custo de ser preso é menor para os pobres, e se o "custo" psicológico/moral de cometer um crime for igual para os pobres e para a classe média, isso que dizer que o custo total de cometer um crime continua a ser menor para os pobres). A moral só podia ser um travão a que os pobres cometessem mais crimes se os pobres tivessem valores morais mais rígidos do que o resto da população (para contrabalançar o efeito "menos a perder").

O mesmo pode ser dito acerca da dureza de penas - se as penas fossem mais pesadas, em principio o custo de cometer crimes seria maior em termos absolutos; mas, mesmo que o custo fosse maior para toda a gente, para os pobres continuaria a ser menor do que para a classe média. De novo, a dureza penal apenas poderia anular o efeito "pobreza » crime" se as penas fossem mais pesadas para os pobres (bem, realmente se calhar até são...).

Ainda voltando à questão da moral, há outro factor que quero frisar - normalmente nós interiorizamos as nossas normas morais por imitação. Ou seja, o efeito da moral até acaba por ampliar os efeitos das diferentes condições económicas:

Imagine-se um bairro rico e um bairro pobre; à partida, os habitantes dos dois bairros tem exactamente os mesmos preconceitos morais contra o crime; no entanto, mesmo assim, haverá sempre um bocadinho mais de crime no bairro pobre do que no rico (pelo mecanismo que já expliquei); mas, se há mais crime no bairro pobre do que no bairro rico, as crianças que crescerem no primeiro irão crescer com um bocadinho de menos aversão ao crime do que as do segundo (já que vêm mais gente a cometer crimes); e, com o tempo, o crime no bairro pobre vai aumentando ainda mais, já que aí temos dois efeitos conjugados: o efeito de os pobres terem menos a perder com o crime, e o efeito de viverem numa cultura progressivamente mais tolerante face ao crime (isto até dava para fazer um sistemazinho de equações, sendo as condições económicas as variáveis exógenas, e o crime e a moralidade as variáveis endógenas).

Já agora, aproveito para fazer outra vez esta citação de Chris Dillow: "neoclassical economics (...) tells us (...) that poverty causes crime."

E, também, para relembrar a minha tese que é possível usar a economia neo-clássica para defender posições de esquerda (este post que estão a ler pretende ser um exemplo disso).

Friday, May 08, 2009

Crianças com identidade ocultada

Em casos complicados envolvendo crianças, é frequente estas aparecerem nos jornais em fotografias com a cara desfocada; isto acontece sobretudo com crianças vitimas de abusos sexuais (mas não só: a "Esmeralda"/"Ana Filipa" também aparecia com a cara desfocada).

Faz todo o sentido; o que não faz sentido é que normalmente elas são fotografadas ao lado da familia toda e só elas têm a cara desfocada. Ou seja, qualquer pessoa que as conheça (mesmo só de vista) fica à mesma a saber quem é a criança.

Thursday, May 07, 2009

Noticias do Nepal


Entretanto, os EUA continuam a manter os maoístas nepaleses na lista de organizações terroristas, apesar de terem assinado um acordo de paz e serem actualmente o partido mais votado do país.

Wednesday, May 06, 2009

Bloco Central

Portanto, parece que já é ponto assente, não?

Desculpem lá a presunção, mas este discurso é muito ... CN

(e felizmente para melhor)

Negócios:

Paulo Rangel diz que Estado está

"num caminho de declínio"

"O Estado é a criação humana que imita Deus. É omnipresente, é omnisciente e nunca ninguém o vê"

"Acho que o Estado está num estado final, não sei prever é quando. Está claramente num caminho de declínio. A União Europeia é uma solução para um Mundo que tem algumas parecenças com a Idade Média",

"tem de competir com um conjunto de organizações", a nível local, supranacional, desportivo, religioso ou confessional, para concluir que: "o Mundo é mais competitivo". "

Via outra fonte diz qualquer coisa como ""...uma Europa medieval, com tribunais mas sem Estado, mais civil e menos política".

Tuesday, May 05, 2009

Católicos

Carlo Stagnaro entrevista "the well-known Catholic author Vittorio Messori, who is as keen an observer of reality as he is disenchanted by it. Messori is motivated by a deep Christian realism, which emanates from virtually every line of his last book, Gli occhi di Maria (Mary’s Eyes), written in co-operation with Rino Cammilleri and published in Italy by Rizzoli. He also authored Jesus Hypotheses and the famous Crossing the Threshold of Hope, with Pope John Paul II."


In this scenario, where do you see the globalization process?

Since I do not believe in utopia, or in a universal "let’s all just love each other," I believe it is necessary to respect history’s rhythms and scope. Today, history moves towards economic globalization. We must avoid confusing globalization with pacifist ecumenicism. Economic unification does not mean the elimination of conflicts, nor does it mean that different populations will be ready to shake hands and ask each other forgiveness for their errors. As a well-known Italian aphorist, Ennio Flaiano, said, "If peoples knew each other better, they would hate each other more."

Carl Schmitt said the state is born from the secularization of theological concepts, and therefore it is a competing entity, an enemy of religions. What do you think about that?

I agree. See, I understand many of the reasons of the modern anarchists, and I recognize myself in many of the positions of the FORCES organization and the libertarian magazine Enclave. But, I repeat, I believe in original sin, thus I do not underestimate Hobbes’ warning: homo homini lupus (that is, man is the wolf of men). I respect law enforcement officers, because I know I need them; however, do not ask me to love them! I think that the monster state is the Beast of the Apocalypse. In a perspective of faith, the state emerging from the end of the ancien régime horrifies me. In this key, my nightmare is One World Government.

Venezuela - os "14 da Sidor"

Na Venezuela, 14 trabalhadores da siderurgia Sidor (ou mais exactamente, de uma empresa sub-contratada) correm o risco de serem condenados a 10 anos de prisão, por terem organizado um protesto contra as más condições de trabalho (parece que as acusações têm a ver com terem parado máquinas que, alegadamente, não tinham condições de segurança).

Alguns artigos sobre o assunto:



A criminalização das lutas laborais parece que é frequente na Venezuela de Chavez: Más de 80 trabajadores enfrentan juicios por protestar

Uma passagem do artigo de "Molly":
The following is about yet another case of the so-called socialist government of Venezuela versus the workers of that country. To say the least this comes as no surprise to Molly, as she is very doubtful of the "good intentions" of a new ruling class such as the 'Boli Bourgeoise' (as they are called in Venezuela) whatever their ideological pronouncements. Self interest tends to weigh very heavy in the scale. The situation described below will undoubtedly reoccur time after time in the future, barring the end of the Peronist Chavez regime. The word "Peronist" is important in the previous sentence. Without going off the ideological deep end in describing the present regime in Venezuela as "fascist" it is very important to note that this regime stands in a long line of dirigiste populist movements in Latin America, of which the Peronist regime in Argentina was the original model, regimes that use the rhetoric of "popular power" to actually undermine any real attempt at such.

Arrendamento e endividamento das familias

Frequentemente diz-se/escreve-se que a culpa do endividamento das familias portugueses é de não existir um mercado de habitação para arrendamento. Assim, quem quer casa tem que pedir um empréstimo para comprar uma em vez de a arrendar.

Isso até é capaz de ser verdade, mas, e daí?

A menos que o mal do endividamento seja um mal de ordem moral ("é feio ter dívidas!"), qual é exactamente o problema de ter dívidas derivadas da compra de habitação que não se verifique também no caso do arrendamento?

Vamos lá ver:

- Temos que pagar a prestação do empréstimo todos os meses; também teriamos que pagar a renda todos os meses. É verdade que, em principio, a renda seria mais baixa que a prestação do empréstimo (à partida, dá-me a ideia que o valor renda de um arrendamento deverá ser equivalente à prestação de um empréstimo cujo prazo de amortização fosse infinito). Mas, por outro lado, a renda temos que a pagar a vida toda, enquanto o empréstimo só temos que o pagar durante 30 anos.

- Se tivermos uma grande queda no nosse rendimento (despedimento, divórcio, etc.) podemos perder a casa por não conseguirmos pagar a prestação; no caso do arrendamento, também podemos ser postos na rua se não pagarmos a renda

- No caso da compra com empréstimo, estamos sujeitos a grandes flutuações nos nossos encargos mensais em função da variação das taxas de juro; mas creio que esse perigo ainda é maior no arrendamento: há uma carrada de factores que podem alterar o valor de mercado da "nossa" casa, logo a renda que o nosso senhorio nos cobra (e, no empréstimo, há sempre a opção de contrair um empréstimo a taxa fixa)

- Se comprarmos a casa, corremos sempre o risco de um "comité revolucionário" a confiscar em nome da abolição da propriedade privada do solo e dos imóveis (ou coisa parecida). Mas não sei se esse risco é estatisticamente significativo.

"Contra-revolução colorida"?

Motim em curso numa base militar da Geórgia, no Sol:

Está em curso um motim numa base militar localizada a cerca de 30 quilómetros da capital georgiana. A informação é confirmada pelo próprio ministro da Defesa de Tbilisi.

David Sikharulidze adiantou que centenas de militares do regimento de cavalaria estão a ignorar ordens de superiores hierárquicos e, entre os amotinados, há civis que nada têm que ver com o batalhão.

Saldos - polua com 84% de desconto!

Os valores mínimos das multas por infracções ambientais serão reduzidos até 84 por cento, caso a Assembleia da República dê o sim a uma proposta de lei do Governo neste sentido. Aprovada na semana passada, em Conselho de Ministros, a proposta pretende alterar uma lei que o próprio Governo PS levara ao Parlamento em 2006. Apenas sete dos 24 limites hoje fixados para as coimas ambientais mantêm-se na versão que o Executivo agora quer.

Crianças a andar a pé sozinhas?

Há uns seis meses escrevi este post.

Agora, via FreeRangeKids, leio sobre um caso que ocorreu nos EUA:
You may recall that a couple weeks ago a mom in small town Mississippi, Lori LeVar Pierce, let her 10-year-old walk a third of a mile to his soccer practice by himself. Or she would have let him, that is, except he got picked up by the police a few blocks in.

The cop drove him the rest of the way, to ensure he wasn’t abducted and murdered. Then the cop waited for Lori to show up (that’s how responsible she is! She was meeting her son there 15 minutes later!) so he could tell her what a dangerous, crazy, maybe even criminal thing she had done, and how the police had received “hundreds” of calls to 911 about a boy dangerously on his own on that sunny afternoon.

I sure hope these people never watch “Lassie.” They’d die of fright.

Sunday, May 03, 2009

Continuando com a escolaridade obrigatória

Ainda a respeito do que escrevi aqui, eis o mapa de que falava (clique para aumenta):


A mesma informação sob a forma de tabela:

País Anos de escolaridade obrigatória % de jovens sem o secundário
Eslovénia 9 4,3%
Polóna 12 5,0%
Eslováquia 10 7,2%
Finlândia 9 7,9%
Suécia 9 8,6%
Lituânia 9 8,7%
Austria 9 10,6%
Hungria 13 10,9%
Irlanda 10 11,5%
Paises Baixos 13 12,0%
Bélgica 12 12,3%
Dinamarca 9 12,4%
Chipre 10 12,6%
França 10 12,7%
Alemanha *
13 12,7%
Estónia 9 14,3%
Grécia 9 14,7%
Luxemburgo 11 15,1%
Letónia 11 16,0%
Bulgária 9 16,6%
Inglaterra & Gales 11 17,0%
Roménia 10 19,2%
Itália 9 19,3%
Espanha 10 31,1%
Portugal 9 36,3%
Malta 11 37,6%
Chéquia 9 n.d

*nos comentários, Rita Maria escreve que os dados para a Alemanha não estão correctos (e a wikipedia também diz que é só até aos 16 anos).

Ainda a teoria austriaca do ciclo económico (III)

I’ve long promised a post on Austrian Business Cycle Theory, and here it is. For those who would rather get straight to the conclusion, it’s one I share in broad terms with most of the mainstream economists who’ve looked at the theory, from Tyler Cowen, Bryan Caplan and Gordon Tullock at the libertarian/Chicago end of the spectrum to Keynesians like Paul Krugman and Brad DeLong.

To sum up, although the Austrian School was at the forefront of business cycle theory in the 1920s, it hasn’t developed in any positive way since then. The central idea of the credit cycle is an important one, particularly as it applies to the business cycle in the presence of a largely unregulated financial system. But the Austrians balked at the interventionist implications of their own position, and failed to engage seriously with Keynesian ideas.

The result (like orthodox Marxism) is a research program that was active and progressive a century or so ago but has now become an ossified dogma. Like all such dogmatic orthodoxies, it provides believers with the illusion of a complete explanation but cease to respond in a progressive way to empirical violations of its predictions or to theoretical objections. To the extent that anything positive remains, it is likely to be developed by non-Austrians such as the post-Keynesian followers of Hyman Minsky.

(...)

According to the theory, the business cycle unfolds in the following way. The money supply expands either because of an inflow of gold, printing of fiat money or financial innovations that increase the ratio of the effective money supply to the monetary base. The result is lower interest rates. Low interest rates tend to stimulate borrowing from the banking system. This in turn leads to an unsustainable boom during which the artificially stimulated borrowing seeks out diminishing investment opportunities. This boom results in widespread malinvestments, causing capital resources to be misallocated into areas that would not attract investment if price signals were not distorted. A correction or credit crunch occurs when credit creation cannot be sustained. Markets finally clear, causing resources to be reallocated back towards more efficient uses.

At the time it was put forward, the Mises-Hayek business cycle theory was actually a pretty big theoretical advance. The main competitors were the orthodox defenders of Says Law, who denied that a business cycle was possible (unemployment being attributed to unions or government-imposed minumum wages), and the Marxists who offered a model of catastrophic crisis driven by the declining rate of profit.

Both Marxism and classical economics were characterized by the assumption that money is neutral, a ‘veil’ over real transactions. On the classical theory, if the quantity of money suddenly doubled, with no change in the real productive capacity of the economy, prices and wages would rise rapidly. Once the price level had doubled the previous equilibrium would be restored. Says Law (every offer to supply a good service implies a demand to buy some other good or service) which is obviously true in a barter economy, was assumed to hold also for a money economy, and therefore to ensure that equilibrium involved full employment

The Austrians were the first to offer a good reason for the non-neutrality of money. Expansion of the money supply will lower (short-term) interest rates and therefore make investments more attractive.

There’s an obvious implication about the (sub)optimality of market outcomes here, though more obvious to a generation of economists for whom arguments about rational expectations are second nature than it was 100 years ago. If investors correctly anticipate that a decline in interest rates will be temporary, they won’t evaluate long-term investments on the basis of current rates. So, the Austrian story requires either a failure of rational expectations, or a capital market failure that means that individuals rationally choose to make ‘bad’ investments on the assumption that someone else will bear the cost. And if either of these conditions apply, there’s no reason to think that market outcomes will be optimal in general.

A closely related point is that, unless Say’s Law is violated, the Austrian model implies that consumption should be negatively correlated with investment over the business cycle, whereas in fact the opposite is true. To the extent that booms are driven by mistaken beliefs that investments have become more profitable, they are typically characterized by high, not low, consumption.

Finally, the Austrian theory didn’t say much about labour markets, but for most people, unemployment is what makes the business cycle such a problem. It was left to Keynes to produce a theory of how the non-neutrality of money could produce sustained unemployment.

The credit cycle idea can easily be combined with a Keynesian account of under-employment equilibrium, and even more easily with the Keynesian idea of ‘animal spirits’. This was done most prominently by Minsky, and the animsal spirits idea has recently revived by Akerlof and Shiller. I suspect that the macroeconomic model that emerges from the current crisis will have a recognisably Austrian flavour..

Unfortunately, having put taken the first steps in the direction of a serious theory of the business cycle, Hayek and Mises spent the rest of their lives running hard in the opposite direction. As Laidler observes, they took a nihilistic ‘liquidationist’ view in the Great Depression, a position that is not entailed by the theory, but reflects an a priori commitment to laissez-faire. The result was that Hayek lost support even from initial sympathisers like Dennis Robertson. And this mistake has hardened into dogma in the hands of their successors.

The modern Austrian school has tried to argue that the business cycle they describe is caused in some way by government policy, though the choice of policy varies from Austrian to Austrian - some blame paper money and want a gold standard, others blame central banks, some want a strict prohibition on fractional reserve banking while others favour a laissez-faire policy of free banking, where anyone who wants can print money and others still (Hayek for example) a system of competing currencies.

(...)

To sum up, the version of the Austrian Business Cycle Theory originally developed by Hayek and Mises gives strong reasons to think that an unregulated financial system will be prone to booms and busts and that this will be true for a wide range of monetary systems, particularly including gold standard systems. But that is only part of what is needed for a complete account of the business cycle, and the theory can only be made coherent with a broadly Keynesian model of equilibrium unemployment. Trying to tie Austrian Business Cycle Theory to Austrian prejudices against government intervention has been a recipe for intellectual and policy disaster and theoretical stagnation.

Alguns pontos:

- A critica (que não transcrevi) que o autor faz a Rothbard não me parece muito correcta (creio que Rothbard responsabilizava pelos ciclos, não apenas os bancos centrais, como as reservas fracionária)

- Eu tenho uma teoria (muito particular...) de que é possivel defender o keynesianismo sem defender a intervenção estatal (Keynes morria outra vez se ouvisse alguém dizer isso). Ei-de explicá-la algum dia (uma pista: tem a ver com a concorrência entre moedas à la Hayek, misturada com um bocadinho de Proudhon). O que deduzo daí é que, mesmo com os seus preconceitos anti-estatistas, os "austríacos" poderiam ter aceite o keynesianismo (isto é, o tipo muito peculiar de keynesianismo que eu vou apresentar um dia destes).

Partido dos Piratas (Suécia)

Passei pelo site, onde é que posso votar neles?

PS: uma objecção que tenho é "We also want a complete ban on DRM technologies" dado que o uso de tecnologia para tornar mais difícil a cópia (e assim não assente no aparato legal-judicial) e uso parece-me perfeitamente legítimo e aceitável... ter em conta no entanto que mesmo o "Itunes" passou a vender música sem essa restrição.

"Reform of copyright law

The official aim of the copyright system has always been to find a balance in order to promote culture being created and spread. Today that balance has been completely lost, to a point where the copyright laws severely restrict the very thing they are supposed to promote. The Pirate Party wants to restore the balance in the copyright legislation.

All non-commercial copying and use should be completely free. File sharing and p2p networking should be encouraged rather than criminalized. Culture and knowledge are good things, that increase in value the more they are shared. The Internet could become the greatest public library ever created.

The monopoly for the copyright holder to exploit an aesthetic work commercially should be limited to five years after publication. Today's copyright terms are simply absurd. Nobody needs to make money seventy years after he is dead. No film studio or record company bases its investment decisions on the off-chance that the product would be of interest to anyone a hundred years in the future. The commercial life of cultural works is staggeringly short in today's world. If you haven't made your money back in the first one or two years, you never will. A five years copyright term for commercial use is more than enough. Non-commercial use should be free from day one.

We also want a complete ban on DRM technologies, and on contract clauses that aim to restrict the consumers' legal rights in this area. There is no point in restoring balance and reason to the legislation, if at the same time we continue to allow the big media companies to both write and enforce their own arbitrary laws.

An abolished patent system

Pharmaceutical patents kill people in third world countries every day. They hamper possibly life saving research by forcing scientists to lock up their findings pending patent application, instead of sharing them with the rest of the scientific community. The latest example of this is the bird flu virus, where not even the threat of a global pandemic can make research institutions forgo their chance to make a killing on patents.

The Pirate Party has a constructive and reasoned proposal for an alternative to pharmaceutical patents. It would not only solve these problems, but also give more money to pharmaceutical research, while still cutting public spending on medicines in half. This is something we would like to discuss on a European level.

Patents in other areas range from the morally repulsive (like patents on living organisms) through the seriously harmful (patents on software and business methods) to the merely pointless (patents in the mature manufacturing industries).

Europe has all to gain and nothing to lose by abolishing patents outright. If we lead, the rest of the world will eventually follow.

Respect for the right to privacy

Following the 9/11 event in the US, Europe has allowed itself to be swept along in a panic reaction to try to end all evil by increasing the level of surveillance and control over the entire population. We Europeans should know better. It is not twenty years since the fall of the Berlin Wall, and there are plenty of other horrific examples of surveillance-gone-wrong in Europe's modern history."