Thursday, March 31, 2011

Déjà vu: Senador tenta convencer Senado que César não deve e não pode constitucionalmente fazer a guerra na Gália


Júlio César diz que é para pacificar e trazer a ordem e a civilização, e salvar as almas. Claro que naqueles tempo, os políticos de Roma iam eles próprios liderar as suas próprias iniciativas de guerra.

President Obama Libya Speech

Para os puritanos: e não se pode colocar nas portas das clínicas de aborto?

Recebido por email, maços de tabaco na Suiça.



O que as crianças fazem nas sociedades "primitivas"?

Um assunto que me desperta curiosidade é o que é que será que as crianças fazem nas sociedades de caçadores-recolectores (fazer uma busca no Google não serve, porque a mitologia romantica à volta dessas sociedades significa que haverá montes de artigos na Internet sobre o assunto sem nenhuma relação com a realidade).

Nas sociedades agrárias e no principio da industrialização trabalhavam; nas sociedades industriais avançadas e pós-industriais estudam e andam no ATL (e na música, e no surf, e na natação, e...). Mas nas sociedades recolectoras? A minha dúvida é que não me parece que uma criança de, digamos, 8 anos possa ter qualquer utilidade numa caçada (enquanto pode ter utilidade a ajudar tratar da horta).

Bombardeamentos precisos?

Flying half-blind in Libya- Al Jazeera.

Wednesday, March 30, 2011

Protesters rush Syrian leader's car after speech

http://edition.cnn.com/video/?/video/bestoftv/2011/03/30/exp.syria.protest.pres.speech.cnn


Acho óptimo. Só espero que o líder Sírio não siga o caminho lógico de ter de esmagar qualquer oposição o mais cedo possível se quiser manter o poder.

consequências humanitárias

Os regimes duros ou por exemplo as nações não-duras com casos de separatismos, aprenderam que não podem deixar o poder ir para a rua e pegar em armas, porque nesse ponto, a coligação de humanitários militaristas e os militaristas humanitários podem intervir para "proteger população civil" e na prática favorecer a oposição.

O que têm a fazer é mesmo esmagar com toda a força bruta os primeiros sinais de revolta.

Mandem estas as consequências para os humanitários, embora como sabemos, nunca perdem uma hora de sono com elas.

PS: Putin foi proteger os civis da Ossétia do Sul. Um qualquer país islâmico poderia proteger os civis na Chechénia, o Irão na Bahrein. Os nossos queridos geo-estrategas que serão com toda a certeza anti-anarquistas gostam de espalhar conceitos de anomia (no rules) total na ordem anárquica (no monopoly of force) internacional. Mas vistas as coisas, o que gostam mesmo é de guerras (feitas por outros claro, eles ficam a ver na CNN uns, os outros na Fox News).

Tuesday, March 29, 2011

essencial: uma boa estratégia de comunicação

"In October, 1990, a 15-year-old Kuwaiti girl, identified only as Nayirah, appeared in Washington before the House of Representatives' Human Rights Caucus. She testified that Iraqi soldiers who had invaded Kuwait on August 2nd tore hundreds of babies from hospital incubators and killed them.

Television flashed her testimony around the world. It electrified opposition to Iraq's president, Saddam Hussein, who was now portrayed by U.S. president George Bush not only as "the Butcher of Baghdad" but – so much for old friends – "a tyrant worse than Hitler."

Bush quoted Nayirah at every opportunity. Six times in one month he referred to "312 premature babies at Kuwait City's maternity hospital who died after Iraqi soldiers stole their incubators and left the infants on the floor,"(1) and of "babies pulled from incubators and scattered like firewood across the floor." How the War Party Sold the 1991 Bombing of Iraq to US (dec. 30 2002)"

as almas sensíveis with a guilhotine

"Obama Says Libya Massacre Would Stain World Conscience"

As mesmas almas sensíveis que nos juram a pés juntos que a guerra dita civil americana valeu a pena, que contou com 600 000 mortos, equivalente a cerca de 4 milhões com a população de hoje, e mais as vítimas constantes colaterais que têm de morrer para serem salvas nos desertos depois das com NAPALM nas selvas asiáticas, sentem um peso insuportável na consciência por todos o sofrimento e males deste mundo. Ámen.

adenda: falta acrescentar que estas mesmas almas sensíveis nos juram que o Presidente Democrata Truman fez bem em incinerar idosos, mulheres e crianças com 2 bombas atómicas para salvar vidas.

Invadam o Mundo, versão 2

Eu acho que os extraterrestres têm de invadir o planeta, que está sempre em guerra contra o seu próprio povo e tem armas de destruição maciça apontadas contra o seu próprio povo, e passa a vida a bombardear o seu próprio povo, e tratar de "ajudar"-nos a implementar uma democracia mundial e um governo mundial e acabar com todos os terroristas que se opuserem e assim trazer a paz e a ordem e a liberdade (e o aborto livre e gratuito). E têm de o fazer antes do próximo genocídio. Acho que o assunto já foi tratado no Conselho da Federação da Galáxia.


E o argumento Minority Report?

O-bomb-ama (e a direita militarista-humanitária): “I refused to wait for the images of slaughter.”


Portanto, agora, numa guerra civil, vai-se para lá ainda antes de o pessoal começar à batatada a sério, assim, suponho que a Espanha devia ter invadido Portugal durante a sua guerra civil, e os Portugueses a Espanha durante a sua, e claro os britânicos durante a guerra dita civil americana. Falta saber se as guerras civis em qualquer lado vão começar a ter cada um dos lados apoiado por estados externos a intervir humanitariamente.

Monday, March 28, 2011

Re: Bombas humanitárias

Luciano Amaral (via O Insurgente):

Mas esta não é uma guerra humanitária. É, tal como no Iraque, uma guerra para mudar o regime, com a diferença de que os ocidentais não o reconhecem, o que torna tudo muito perigoso. Uma guerra para mudar o regime obrigaria a um compromisso, como no Iraque, em permanecer até se criarem novas instituições. Mas existiria então o custo de enviar soldados e burocratas para o terreno. Em vez disso, temos uma guerra em que o heroísmo ocidental se mede até ao último rebelde líbio morto. Porque se não é para mudar o regime, a alternativa é a mera participação numa guerra civil e a destruição da Líbia enquanto país. Pode alguém dizer que se trata de ajudar o lado anti-governamental e deixá-lo, depois, reconstruir. Mas alguém sabe quem são realmente os rebeldes, para além daqueles beduínos de que os fotógrafos tanto gostam cavalgando o deserto nas suas carrinhas pick-up? E se os bombardeamentos à distância não funcionarem, o que fazem os ocidentais? Vão-se embora, com um país a arder às costas?
A ideia que uma guerra aérea não basta, que é preciso uma intervenção terrestre começa a ganhar terreno entre os saudosos de Bush (aqui ou nos EUA). No entanto, é preciso ter patente que, por enquanto, a opinião dos rebeldes é "só queremos apoio aéreo, não tropas no terreno" (provavelmente porque não querem os "burocratas" - i.e., governantes - que LA sugere que se mande junto com os militares); na minha opinião, não é certo que os rebeldes mantenham essa posição (não me admirava que, se a sua série de vitórias militares se interromper, viessem mudar de opinião e pedir tropas ocidentais), mas mandar tropas para o meio de uma guerra civil em que, pelo menos por enquanto, todas as partes rejeitam tropas estrangeiras parece-me a receita certa para um desastre, além de ser bastante questionável no plano dos principios (um pouco como ajudar uma velhinha a atravessar a rua quando ela apenas nos pediu as horas).

De qualquer forma, quer se concorde quer não, há algumas posições sobre a Líbia que me parecem logicamente correctas, estilo:

a) A Libia não está preparada para a democracia, não nos metamos nisso

b) A Libia está mais que preparada para a democracia, não precisam de nós para nada

c) A Libia está preparada para a democracia, só precisa de uma pequena ajuda (como uma ZEA)

Já a posição "A Libia não está preparada para a democracia, e por isso o Ocidente tem que ir para lá democratizá-los" (o que me parece ser, mais ou menos, a posição de LA, se estou a perceber bem) não me parece fazer grande sentido.

[Post publicado no Vias de Facto; podem comentar lá]

E...?

Lusa - Homem agrediu outro com navalha :

Um homem feriu hoje de madrugada com uma navalha um indivíduo em Fetais, em Loures, disse à agência Lusa fonte do comando da PSP.

A próxima notícia da Lusa (com direito a destaque no SAPO) será "Pit Bull fere mortalmente um caniche"?

Uma nova Comuna

Towards a new model commune,no Lenin's Tomb:


Watch live streaming video from icalondon at livestream.com

Violência e criação artistica

How waves of violence lead to better artistic production, por "agnostic".

Creio que Aldous Huxley (ou um dos seus personagens no Admirável Mundo Novo) já havia dito algo assim.

Construção informal - mais segura?

Pelo menos no Egipto:

*Understanding Cairo*, por Tyler Cowen (citando David Slims):

There is a misconception held by many Egyptian professionals, especially engineers, that informal housing is haphazardly constructed and liable to collapse.  However, such precarious housing is almost unknown in informal areas.  Since informal housing is overwhelmingly owner-built without use of formal contractors, it is in the owner’s own best interest to ensure that care is taken in construction.  In fact, one of the main features of informal housing construction is its high structural quality, reflecting the substantial financial resources and tremendous efforts that owners devote to these buildings.  It is worth noting that in the 1992 earthquake in Cairo, practically all building collapses and the resulting fatalities occurred not in informal areas, but either in dilapidated historic parts of the city or informal areas…where apartment blocks had been constructed by (sometimes) unscrupulous developers and contractors.

A novas tecnologias e o crescimento económico

Freaks, Geeks, and GDP (Slate):

In the 1970s, American businesses started pumping out amazing, life-changing computing technologies. We got graphing calculators, data-processing systems, modern finance, GPS, silicon chips, ATMs, cell phones, and a host of other innovations. Has the Internet, the most revolutionary communications technology advance since Gutenberg rolled out the printing press, done nothing for GDP growth? The answer, economists broadly agree, is: Sorry, but no—at least, not nearly as much as you would expect.

A quarter century ago, with new technologies starting to saturate American homes and businesses, economists looked around and expected to find computer-fueled growth everywhere. But signs of increased productivity or bolstered growth were few and far between. Sure, computers and the Web transformed thousands of businesses and hundreds of industries. But overall, things looked much the same. The GDP growth rate did not tick up significantly, nor did productivity. As economist Robert Solow put it in 1987: "You can see the computer age everywhere but in the productivity statistics."

An overlapping set of theories emerged to explain the phenomenon, often termed the "productivity paradox." Perhaps the new technologies advantaged some firms and industries and disadvantaged others, leaving little net gain. Perhaps computer systems were not yet easy enough to use to reduce the amount of effort workers need to exert to perform a given task. Economists also wondered whether it might just take some time—perhaps a lot of time—for the gains to show up. In the past, information technologies tended to need to incubate before they produced gains in economic growth. Consider the case of Gutenberg's printing press. Though the technology radically transformed how people recorded and transmitted news and information, economists have failed to find evidence it sped up per-capita income or GDP growth in the 15th and 16th centuries.

At one point, some economists thought that an Internet-driven golden age might have finally arrived in the late 1990s. Between 1995 and 1999, productivity growth rates actually exceeded those during the boom from 1913 to 1972—perhaps meaning the Web and computing had finally brought about a "New Economy." But that high-growth period faded quickly. And some studies found the gains during those years were not as impressive or widespread as initially thought. (...)

Gordon's work leads to another theory, one espoused by Cowen himself. Perhaps the Internet is just not as revolutionary as we think it is. Sure, people might derive endless pleasure from it—its tendency to improve people's quality of life is undeniable. And sure, it might have revolutionized how we find, buy, and sell goods and services. But that still does not necessarily mean it is as transformative of an economy as, say, railroads were.

That is in part because the Internet and computers tend to push costs toward zero, and have the capacity to reduce the need for labor. You are, of course, currently reading this article for free on a Web site supported not by subscriptions, but by advertising. You probably read a lot of news articles online, every day, and you probably pay nothing for them. Because of the decline in subscriptions, increased competition for advertising dollars, and other Web-driven dynamics, journalism profits and employment have dwindled in the past decade. (That Cowen writes a freely distributed blog and published his ideas in a $4 e-book rather than a $25 glossy airport hardcover should not go unnoted here.) Moreover, the Web- and computer-dependent technology sector itself does not employ that many people. And it does not look set to add workers: The Bureau of Labor Statistics estimates that employment in information technology, for instance, will be lower in 2018 than it was in 1998. (...)

But revenue is not always the end-all, be-all—even in economics. That brings us to a final explanation: Maybe it is not the growth that is deficient. Maybe it is the yardstick that is deficient. MIT professor Erik Brynjolfsson explains the idea using the example of the music industry. "Because you and I stopped buying CDs, the music industry has shrunk, according to revenues and GDP. But we're not listening to less music. There's more music consumed than before." The improved choice and variety and availability of music must be worth something to us—even if it is not easy to put into numbers. "On paper, the way GDP is calculated, the music industry is disappearing, but in reality it's not disappearing. It is disappearing in revenue. It is not disappearing in terms of what you should care about, which is music."

As more of our lives are lived online, he wonders whether this might become a bigger problem. "If everybody focuses on the part of the economy that produces dollars, they would be increasingly missing what people actually consume and enjoy. The disconnect becomes bigger and bigger."

But providing an alternative measure of what we produce or consume based on the value people derive from Wikipedia or Pandora proves an extraordinary challenge—indeed, no economist has ever really done it.

"todas as medidas necessárias para proteger as populações civis"

O conceito parece-me algo ridículo no contexto de uma guerra civil. Os rebeldes armados são "civis" a serem "protegidos"? Os civis apoiantes de Kadhafi são para proteger também? Os civis mortos pelo rebeldes são "collateral damage" e os civis mortos pelas forças pro-Kadhafi é "matar a sua própria população"?

Sunday, March 27, 2011

Interessante

Microsoft Shuts off HTTPS in Hotmail for Over a Dozen Countries (Electronic Frontier Foundation):

Microsoft appears to have turned off the always-use-HTTPS option in Hotmail for users in more than a dozen countries, including Bahrain, Morocco, Algeria, Syria, Sudan, Iran, Lebanon, Jordan, Congo, Myanmar, Nigeria, Kazakhstan, Uzbekistan, Turkmenistan, Tajikistan, and Kyrgyzstan. Hotmail users who have set their location to any of these countries receive the following error message when they attempt to turn on the always-use-HTTPS feature in order to read their mail securely:
Your Windows Live ID can't use HTTPS automatically because this feature is not available for your account type.
Microsoft debuted the always-use-HTTPS feature for Hotmail in December of 2010, in order to give users the option of always encrypting their webmail traffic and protecting their sensitive communications from malicious hackers using tools such as Firesheep, and hostile governments eavesdropping on journalists and activists. 
[Isto aconteceu durante pouco tempo - essa opção já está funcionar nesses paises; pelos vistos tratou-se de um bug]

Saturday, March 26, 2011

A "zona de exclusão aérea" sobre a Líbia e os tanques voadores

Tem-se comentado muito que os tanques do regime líbio destruídos pela NATO já não vão voar.

Formalmente, essa observação é infundada, mas é certeira politicamente.

É formalmente infundada, porque a Resolução 1973 da ONU autoriza, não apenas o estabelecimento de uma zona de exclusão aérea, mas a tomada de "todas as medidas necessárias para proteger as populações civis", o que incluirá destruir tanques em ofensiva; aliás, sobretudo desde a invenção da artilharia, qualquer operação militar representa grave risco para os civis na vizinhança, pelo que a resolução dá legitimidade para qualquer acto dirigido contra forças militares em acção.

Mas politicamente essa critica está correcta - o que foi vendido às opiniões públicas foi uma "zona de exclusão aérea"; o que as petições que andavam a circular falavam era de uma "zona de exclusão aérea"; o argumento frequentemente utilizado era "é preciso neutralizar a força aérea de Khaddafy para ser uma luta justa e equilibrada" - em momento algum se falou em fornecer uma força aérea aos revolucionários (que é o papel que os aviões ocidentais estão a desempenhar). Ou seja, independentemente das vantagens que esta intervenção possa ter (e eu admito que para os líbios o resultado seja positivo), começou com uma fraude politica.

[Post publicado no Vias de Facto; podem comentar lá]

Quem são os beneficiários do Orçamento de Estado?

O Carlos Novais propõe:

Criação de Câmara especial de aprovação do OE, com assento proporcional eleito por cidadãos que não tenham conflito de interesses directo como Receptores do OE como por exemplo funcionários públicos e similares, receptores de subsídios ou pensões públicas acima de um dado valor a fixar, ou em actividades ainda que privadas dependam em mais de 50% da sua facturação do OE ou recebam apoios do OE acima de um dado montante. Esta será uma peça acrescida no sistema de check-and-balances.
Independentemente da opinião que se tenha dessa proposta, isto levanta uma questão - quem são os beneficiários líquidos do Orçamento de Estado? Serão os funcionários públicos (e os accionistas e trabalhadores de empresas com negócios com o Estado)? Ou serão os utentes dos serviços públicos (ou, pelo menos, os utentes cuja proporção de consumo desses serviços seja maior que a sua proporção na contribuição para o Orçamento)?

Uma analogia - imagine-se que eu roubo a carteira a alguém, e com o dinheiro vou a uma loja de brinquedos comprar uma jogo de playstation para o meu sobrinho; quem é o beneficiário do meu roubo - o dono da loja ou o meu sobrinho?

Wednesday, March 23, 2011

Jon Stewart Stands ‘Corrected’ on Libya

Sugestão de leitura

Playing Politics, por "Sandmonkey", sobre a estratégia a seguir pelos democratas egipcios, nomeadamente face aos herdeiros do antigo regime e à Irmandade Muçulmana.

[Via Esquerda Republicana]

Tuesday, March 22, 2011

Encouraging Rebels Everywhere? - The Daily Dish | By Andrew Sullivan


Larison worries:

The intervention creates an incentive for provoking governments to commit large-scale atrocities by launching armed rebellions against them. This isn’t going to guarantee future interventions, but it may help create the conditions for future massacres. For many reasons, Western powers are not always going to be so quick to intervene, but the Libyan intervention creates the expectation that other governments will feel compelled to step in if the rebels’ situation is dire enough.

That is likely to encourage rebel movements that are militarily and politically weak and have little chance of succeeding on their own, but which are just strong enough to create a crisis that will lead to calls for another intervention. We can’t know how much political instability and violence the implied promise of future interventions may cause, but it is a horrible precedent to set.

Ron Paul On CNN's Anderson Cooper 260: Talks Libya

Monday, March 21, 2011

Intervencionismo, guerra e democracia

1. Se Estado X é emanação colectiva da população X.


2. Se Estado X intervém em Y e para todos os efeitos declara expressamente ou implicitamente guerra a Y (imaginemos o Iraque, onde nem sequer existiu Casus belli, ou agora na Líbia, ou por hipótese entre 2 estados democráticos).

3. Então Y pode atacar população X, porque população e o Estado X são um. O argumento "civil" em X dilui-se bastante, não?

Conclusão: demonstração de porque a defesa nacional deve ser para defesa nacional. Ainda mais premente em democracias do que em não-democracias, no tempo das monarquias executivas a regra era o combate entre soldados e a população civil até assistia em merendas, as guerras eram do monarca não da população e isso não era, em geral, posto em causa. E em democracia de voto universal?

Ainda sobre "intervenções estrangeiras"

Não tenho nada - muito pelo contrário - contra individuos irem combater ao lado de uma revolução num país estrangeiro com que simpatizam (como Byron na Grécia, Orwell em Espanha ou Guevara em Cuba).

Já tenho muitas dúvidas quando são Estados a fazer isso.

Poderá argumentar-se que tal é uma posição é um pouco irracional - afinal, se um individuo pode violar a soberania nacional de outro país, porque não um Estado? No fundo, pode-se dizer que um Estado não passa de milhares-ou-milhões-de-individuos-agindo-em-conjunto. Na verdade, creio que há algumas diferenças significativas (e talvez faça um post sobre isso) - uma das mais importates é a diferença que representam em termos de precedente -, mas reconheço que á capaz de ser uma opinião mais intituitiva que racional.

[Post publicado no Vias de Facto; podem comentar lá]

"Ingerência humanitária" - o exemplo ruandês

Um argumento recorrente nas polémicas sobre as "ingerências humanitárias" costuma ser "não acham que a comunidade internacional devia ter feito algo no Ruanda?".

Algo que é esquecido é que a "comunidade internacional" interveio no Ruanda - mal a situação começou a aquecer, a França mandou as suas tropas. E há fortes indicios que essa intervenção francesa contribuiu para o genocidio: no melhor dos casos, as forças francesas, ao interporem-se na "frente de batalha", atrasaram o avanço da "Frente Patriotíca do Ruanda", dando tempo às milicias pró-governamentais para completarem a "limpeza"; no pior, há alegações que militares franceses terão cooperado activamente com o massacre.

Ou seja, o genocodio ruandês não foi um simples caso de "africanos a matarem-se uns aos outros enquanto o mundo não ligou nada" - a intervenção "neo-colonial" fez provavelmente as coisas serem piores.

[Post publicado no Vias de Facto; podem comentar lá]

Thursday, March 17, 2011

INVADAM O MUNDO, Murray N. Rothbard

Este texto foi escrito em Setembro de 1994, o autor iria falecer no ano seguinte. Murray N. Rothbard (1926-1995) foi um académico da Escola Austríaca da economia, fundador do libertarianismo e herdeiro da chamada Old Right. Autor de milhares de artigos e 25 livros. Este ensaio faz parte de uma publicação para que contribuía regularmente nos últimos anos da sua vida, denominada de Rothbard-Rockwell Report (Triple R) que exibe Rothbard nas suas várias facetas: o jornalista, crítico cultural, observador político e organizador de um movimento. Esta publicação acabou por inspirar no seu estilo o site lewrockwell.com.

Traduzido por Carlos Novais, revisto por Elisabete Joaquim e Miguel Madeira.

INVADAM O MUNDO, Murray N. Rothbard

em The Irrepressible Rothbard, Essays of Murray N. Rothbard, Edited by Llewellyn H. Rockwell, Jr., Setembro de 1994 (http://www.lewrockwell.com/rothbard/ir/Ch34.html)

Quando o Comunismo e a União Soviética colapsaram há uns anos, parecia evidente que tinha de se pôr em curso uma reavaliação profunda da política externa americana. Durante todo o período da Guerra Fria, a política externa dos EUA reduziu-se simplesmente a uma cruzada bipartidária intervencionista contra a União Soviética, e as únicas diferenças eram precisamente sobre quão longe esse intervencionismo global devia ir.

Mas quando a União Soviética se desmoronou, uma nova reflexão parecia absolutamente necessária, pois o que poderia agora constituir a base da política americana? Mas, entre os intelectuais e elites, moldadores da opinião nos Estados Unidos e até mesmo no mundo, nenhuma reavaliação acabou por ocorrer. Com a excepção de Pat Buchanan e nós paleos[1], a política externa dos EUA prosseguiu como de costume, como se nunca se tivesse dado o colapso da Guerra Fria. E de que forma? Buchanan e os "neo-isolacionistas" pediram que a intervenção americana passasse a ser pautada estritamente pelo interesse nacional americano. Mas a Aliança progressista [n.t. no original: liberal] /neocon, agora mais do que nunca (agora que o comunismo soviético, sobre o qual os neocons eram mais duros, desapareceu), fingiu primeiro concordar e, em seguida, simplesmente e astuciosamente redefiniu o conceito de "interesse nacional" de forma a cobrir todo e qualquer mal, todo e qualquer drama debaixo do Sol. Está alguém com fome algures não importa quão longe das nossas fronteiras? Isso é do nosso interesse nacional. Está alguém ou algum grupo a matar algum outro grupo num qualquer ponto do planeta? É do nosso interesse nacional. Há algum Estado que não seja uma "democracia" tal como definida pelas nossas elites progressistas e neocons? Isso coloca um desafio ao nosso interesse nacional. Está alguém a incorrer em Pensamentos de Ódio [n.t. no original: Hate Thought] algures no globo? Isso tem que ser resolvido pelo nosso interesse nacional.

E assim qualquer problema ocorrido em qualquer parte passa a fazer parte do nosso interesse nacional, e passa a ser obrigação do bom velho Tio Sam, como a Única Superpotência Sobrevivente e pelo mundo indigitado para ser o Sr. Resolve-Tudo, dar uma solução a cada um desses problemas. Porque "nós não podemos ficar de braços cruzados" quando alguém algures passa dificuldades, quando alguém bate na cabeça de alguém, quando alguém é antidemocrático ou comete um Crime de Ódio [n.t. no original: Hate Crime].

Deve agora ser claro que neste momento não há virtualmente qualquer distinção na política externa entre os progressistas [n.t. no original: liberals] e os neocons, entre os Tony Lewis e os Bill Safire, entre a Commentary e o Washington Post. Onde quer que exista um problema, todos os analistas liberals-neocons e bombardeiros de sofá [n.t. no original: laptop bombardiers] torcem invariavelmente por uma intervenção dos EUA, pela guerra pura e simples, ou através da via favorita de passos graduais que são as "sanções". As Sanções, uma escalada de intervencionismo passo-a-passo, são uma política favorita dos pro-intervencionistas. Pedir o bombardeamento imediato ou invasão do país X assim que começa um qualquer problema pareceria excessivo e até mesmo um pouco doido para a maioria dos americanos que não tem o mesmo sentimento de profundo compromisso com a noção dos EUA como Solucionador Global de Problemas que têm os especialistas e as elites. As sanções podem saciar temporariamente a sede de beligerância. E assim temos as sanções: colocar à fome os vilões, cortar as redes de transporte, o comércio, confiscar os seus bens em termos de activos financeiros e, finalmente, quando isso não funcionar, bombardear, enviar tropas, etc. Estas são normalmente enviadas primeiro como força missionária puramente "humanitária", para salvaguardar a ajuda "humanista" das "forças de manutenção da paz" da ONU. Mas logo de início, alguns nativos locais desventurados, virando-se irracionalmente contra toda essa ajuda e altruísmo, começam a atirar sobre os seus muito amados ajudantes que ficam então sob fogo, e assim os EUA são obrigados a enfrentar a perspectiva de ter de enviar tropas, as quais recebem ordens para atirar a matar.

Nas últimas semanas, para além de tropas humanitárias, tem havido uma escalada de opinião sobre "sanções" a serem aplicadas pelos EUA: contra a Coreia do Norte é claro, mas também contra o Japão (por não comprarem mais exportações americanas), contra o Haiti, contra os Sérvios da Bósnia (sempre referida como a “auto-denominada República Sérvia” – Isto em contraste com todos os outros governos que serão "denominados" por outros?). Jesse Jackson quer que os Estados Unidos invadam prontamente a Nigéria, e agora temos o Senador Kerry (D., Massachusetts) a pedir sanções contra nosso antigo inimigo,o Canadá, por não acolher os pescadores de Nova Inglaterra nas suas águas.

Mas OK, chegou o momento de sermos duros e consistentes. As sanções são apenas uma forma covarde de compromisso propostas por meias tintas. Temos de encarar de frente o facto de que não há um único país do mundo que possa ser comparado com os sublimes padrões morais e sociais que são a marca registada dos E.U.A.: até mesmo o Canadá merece uma repreensão. Não há um único país do mundo que, como os Estados Unidos, tresanda tanto a democracia e "direitos humanos" e esteja livre de criminalidade e assassinatos e de discurso de ódio e actos antidemocráticos. Muito poucos outros países são tão politicamente correctos como os Estados Unidos, ou têm a sagacidade para impor um programa massivo de estatismo em nome da "liberdade", "comércio livre", "multiculturalismo" e para "expandir a democracia".

E então, uma vez que nenhum outro país é capaz de estar à altura dos standards dos E.U. num mundo de Única Superpotência, todos eles devem ser severamente postos na ordem pelos EUA, e nesse sentido faço eu uma Proposta Modesta para a única política externa consistente e coerente: os Estados Unidos devem, muito em breve, Invadir o Mundo! Sanções são coisa menor. Nós devemos sim invadir todos os países do mundo, talvez suavizando-os previamente com um maravilhoso espectáculo high-tech de bombardeamentos com mísseis, cortesia da CNN.

Mas como seremos nós vistos aos Olhos da Opinião Pública Mundial se invadirmos o mundo? Não se preocupem; podemos sempre obter a cobertura das nossas marionetas mantidos na ONU, NATO ou qualquer outra coisa. Boutros Boutros-Ghali, que já renegou o seu acordo para cumprir apenas um mandato como secretário-geral da ONU, é perfeito para o trabalho; nunca existiu um oficial da ONU com mais apetência pela cadeira Mas e quanto ao Conselho de Segurança? Tudo OK, porque podemos sempre comprar a abstenção da China ou de quem quer que seja por alguns bilhões. Não há problema.

E assim o mundo inteiro vai viver sob as bandeiras dos E.U. e ONU, felizes, protegidos, livres de criminalidade e pobreza e ódio. O que poderia ser mais inspirador?

Alguns isolacionistas, limitados e mesquinhos, egoístas, indiferentes e provavelmente anti-semitas, irão no entanto queixar-se. Eles gostam de evocar várias "lições," por exemplo, a Somália. Vão provavelmente dizer: sim, com toda certeza que conseguimos ir lá e "ganhar" com facilidade, mas como vamos sair? Para implementar a democracia, acabar com o genocídio, pobreza, ódio, etc., nós os Estados Unidos, temos de construir a infra-estrutura do país, criar e treinar um exército e uma polícia (preferencialmente nos EUA).Temos de doutrinar o infortunado país sobre liberdade e eleições livres, criar os seus dois partidos políticos Respeitáveis e começar um amplo programa de auxílio de biliões de dólares para fazer com que todos sejam saudáveis, sábios e com bem estar, fornecer um programa educacional (repleto de enormes sacos de alimentos atirados de avião e de modo a que a CNN possa ajudar – mesmo que alguns dos "ajudados" sejam mortos pelos sacos), proibir fumar e a junk food e alimentá-los a todos com tofu e mangas cultivadas por métodos orgânicos.

E o que dizer do Partido Regressar? O que fazer com a nossa experiência universal de que quando o exercito americano sai, todo o auxílio, infra-estrutura, etc., vai pelo cano abaixo? A solução é simples, embora ela tenha sido muito ignorada porque alguns teimosos e egoístas míopes fascistas iriam fazer um enorme alarido. A solução: Nunca Sair! Para Sempre. Desta forma não precisamos de nos preocupar sobre como preparar os nativos para a transição. Devemos permanecer e alegremente Governar o Mundo. Permanentemente para o bem de todos. Um Paraíso na Terra. Podemos chamá-la, a "política do significado" [n.t. no original “politics of meaning”].

Mas como vamos obter a mão-de-obra necessária para fazer o trabalho de ocupação? Não se preocupem com isso. Em primeiro lugar, poderemos ter um exército de 20 milhões de homens e mulheres, devidamente gayzado e feminizado e Politicamente Corrigido, marchando com pacotes de alimentos, medicamentos e hipodérmicos numa mão e armas e preservativos na outra. Nós temos muitas opções de recursos humanos, poderemos reactivar o serviço militar obrigatório, restaurar o Corpo de Paz, e/ou podemos criar um enorme programa de serviço nacional do tipo Buckley-Clinton, onde as crianças terão a oportunidade de "dar de volta à sociedade" com dois anos interessantes de saudável amadurecimento, para a criação de infra-estruturas no Zaire ou Haiti ou Coreia do Norte. Com este programa, as crianças poderiam mesmo "dar de volta" ao Planeta. O quê? O senhor aí está a objectar que alguns dos nossos filhos podem contrair doenças ou levar um tiro ao longo do caminho? Bem, ainda assim estará tudo OK, porque, como se diz hoje em dia, cada fracasso é uma "experiência de aprendizagem".

E naturalmente, os E.U.A. apenas vão fornecer a espinha dorsal das forças permanentes dos Ocupantes do Mundo. O resto dos slots será preenchido por tropas de cada um dos outros países do mundo, liderado pela ONU, NATO, etc., fornecendo experiências igualmente saudáveis e alegres para outros ocupantes: Ucranianos, Zairianos, Vietnamitas, etc. Ver tropas vietnamitas, por exemplo, a ocupar a Holanda, proporcionaria lições de democracia global instrutivas em multiculturalismo e amor mútuo entre todos os povos. Claro que os mais tacanhos e de vistas curtas terão que ser tratados com severidade, mas estou confiante que programas maciços de educação, cursos de orientação, professores, livros e panfletos, etc., irão mudar o clima comum de ódio étnico para um de amor e compreensão. Para além dos professores, atitudes detestáveis e antidemocráticas serão erradicadas por uma legião de psiquiatras, psico-terapeutas, etc.

Como vai tudo isto ser financiado? Cada nação irá, naturalmente, contribuir com o seu "quinhão" adequado e justo de despesas, mas dado que os E.U.A. são a Única Superpotência do mundo, temos de encarar o facto de que os Estados Unidos terão de pagar a parte maior – talvez uns 80 ou 90 por cento – do programa.

E claro que há sempre umas quantas mentes simples, velhos do Restelo, egoístas dogmáticos, que se vão afastar desta proposta e afirmar que é demasiado "caro". Há sempre aqueles que conhecem o preço de tudo e o valor de nada. Mas novamente: não há que nos preocuparmos. Haverá um esforço educativo transversal maciço, de todas as partes do espectro político, da esquerda Clintoniana ou Jacksonian para as dezenas de auto-proclamados institutos de "mercado livre", que, devidamente financiados pelo governo e pelas elites corporativas, vão inundar-nos de argumentos de como o programa "se pagará por si próprio”, que está na melhor tradição do Mercado Livre e Democracia; que essas despesas não são realmente dispendiosas porque constituem "investimento em capital humano" e, portanto, pouparão dinheiro no longo prazo aos contribuintes, etc. E ao eliminarmos todas as ténias intestinais no mundo reduziremos custos médicos e acabaremos a pagar menos dinheiro no futuro. Eventualmente.

Qualquer resíduo de queixa, qualquer uma que sobreviva a este esforço educativo – e vamos enfrentá-lo, existem sempre algumas maçãs podres em todos os cestos - será enviado para "centros de reciclagem educacionais," onde as suas objecções vão ser colocadas a marinar e, após alguns anos saudáveis nestes campos a podar e lendo obras seleccionadas de pensadores de esquerda, liberal, neocon e de libertários pragmáticos, eu tenho a certeza que irão emergir felizes e ajustados à Admirável Nova Democracia Global do amanhã.

Acabei assim de apresentar acima as implicações que seriam consistentes com a nossa persistente política de intervencionismo, descrevendo o sistema para o qual este país está a tender.

A questão é: o que podemos nós fazer para evitar esta tendência? Como podemos Fazê-la Desaparecer? Como podemos nós prevenir "1984"? Infelizmente, o Partido Republicano, embora significativamente melhor que os democratas na política interna, tem sido, se alguma coisa, pior e mais intervencionista nos assuntos externos. Notar a reacção republicana com Slick Willie[2]: acusaram-no de trapalhice, evasão, contínuas mudanças de linha (tudo verdade), mas excepto no Haiti, na verdade não se opõem a uma intervenção per se. Claro que, seria bom ter uma política externa clara e consistente, mas clara em que direcção? Um Inimigo claro não é exactamente uma bênção.

Enquanto isso, as coisas estão longe de estarem perdidas. Há uma vaga de base anti-guerra como de paleo-popular neste país, o que é reconfortante. Há todo o tipo de manifestações: conselhos de cidadãos conservadores, movimentos de milícia, xerifes que se recusam a fazer cumprir a lei Brady, pivots de programas de rádio de direita, falta de entusiasmo para enviar tropas americanas para serem mortos na Somália ou Haiti, um movimento de Buchananites, e cada vez mais bom senso sobre esta questão pelo colunista Robert Novak. Entretanto, o mínimo que a Triple R pode fazer é acelerar o Clima de Ódio na América e esperar pelo melhor.


[1]n.t.: o termo paleo tinha por esta altura surgido para mencionar os paleo-libertarians e os paleo-conservatives, como contraposição aos left-libertarians (atribuído por exemplo ao Cato Institute e Partido Libertarian, ambos fundados por Murray N. Rothbard e dos quais acabou por se afastar) e neo-conservadores. As diferenças ideológicas passam pelo conservadorismo social (com alguma predominância de autores católicos e também do Sul dos EUA) e estrito localismo dos primeiros, e uma certa visão de direitos assegurada e gerida centralmente pelo governo federal dos segundos, os primeiro também estritos não-intervencionistas em política externa (Patrick J. Buchanan iria publicar o seu “A Republic, not an Empire) o que os faziam e fazem inimigos naturais do neo-conservadorismo (que acusam de conter bases progressistas revolucionárias no seu programa de levar a democracia ao mundo, espécie de messianismo anti-natura presente na direita de hoje), que nesta altura, dominavam já o espectro mainstream da política americana em ambos os partidos.

[2]n.t. apelido satírico para referir Bill Clinton (estamos em 1994).

Sobre a zona de exclusão aérea sobre a Líbia

Se fizesse parte de algum órgão que tivesse que decidir sobre a zona de exclusão aérea, provavelmente iria abster-me - sinceramente, não faço ideia se isso é boa ou má ideia (o meu palpite é que vai ser bom para os líbios, mas pode ter o efeito colateral de incentivar uma espiral de intervencionismo na região).

[post publicado também no Vias de Facto; podem comentar lá]

Tuesday, March 15, 2011

Líbia - Khaddafy conseguirá reconquistar o Leste?

Why Libya's Qaddafi is unlikely to push much further east (Christian Science Monitor):

On Libya's eastern front, taking towns may be easy for Col. Muammar Qaddafi – but holding them is something else again.

After days of being pounded by rocket fire and bombing runs from forces loyal to Qaddafi, Libya's rebel army piled into their pickup trucks yesterday afternoon and cut a ragged retreat from the oil town of Brega to Ajdabiya, 40 miles to the east. They left mounds of ammunition and supplies behind them as they fled, Qaddafi’s fighters surging behind.

That was all according to plan, says Mohammed el-Majbouli.

“We drew [Qaddafi's forces] forward, and then we maneuvered behind them and trapped them,” says Mr. Majbouli, a former member of Qaddafi’s special forces who is now organizing rebel fighters.

He says a reserve force of rebels with military training had been hidden in homes in the eastern third of the sprawling petrochemical complex at Brega. After the Qaddafi men passed at about 8 p.m. last night, the rebels came out, retaking the town as well as about 20 prisoners from Qaddafi’s forces.

Majbouli's claim of victory, which is also made by senior officers who have defected to the rebel cause, could not be independently confirmed. But if he is right, it would be the fourth time Brega has changed hands in less than two weeks, emphasizing the strange, shimmering nature of the conflict being fought in Libya’s coastal desert.

While it remains easy for Qaddafi to rain mortars and rockets on rebel checkpoints, he doesn’t appear to have more than a few thousand men, at most, committed to his eastward advance. Without indiscriminate fire on the cities of Ajdabiya or Benghazi – just the sort of act that might galvanize the international community into action, which Qaddafi is likely keen to avoid – it’s hard to see his forces advancing quickly much farther east.

Qaddafi threatens citizens via leaflet drop, text messages

In the Ajdabiya school turned rebel command center where Majbouli was speaking, a handful of Libyan men in combat fatigues were being held in a small room. A guard described them as pro-Qaddafi fighters.
The rebels refused to allow foreign reporters to move west from Ajdabiya today, saying they were worried that reporters would give their positions away to Tripoli. One said that Brega was “100 percent in our hands, but still dangerous.” Qaddafi’s military spokesman in Tripoli, meanwhile, claims the government holds Brega.
Ajdabiya is where the desert fighting, which has so far taken place along one main highway, would rapidly change. A network of decent roads runs east from there, and the city would be a major prize for Qaddafi.
But for now, Qaddafi appears to be using softer methods on the eastern population centers.

At least two air strikes hit the town today – one near a gas station, one in the middle of a deserted traffic circle on the western outskirts of town – but did little damage. The real campaign was psychological. A plane dropped propaganda leaflets on the city, which promised to soon “cleanse” Ajdabiya of the “criminals” running it, and urging citizens to turn on the rebellion.

“If they come, we know we’ll have to fight to the death,” says Salim Abdel Ali, an Ajdabiya native who fought on Qaddafi’s orders in Chad in 1988, and whose eldest son is now fighting with the rebels. “If they come here they’ll destroy our families, rape our wives. If my son has to die defending freedom, I can accept that.”
Residents of both Ajdabiya and Benghazi say they’ve been receiving text messages from Tripoli promising vicious reprisals for supporters of the rebellion.

Rebel generals met today to coordinate plans

Meanwhile, there are nascent signs of greater organization for the rebel forces. A conclave of generals who defected from Qaddafi’s army to the rebellion met in Ajdabiya today, planning the city’s defense and future options.

Among them were Gen. Daud el-Sobhi from Adjabiya and Gen. Suleiman Mahmoud from the far eastern city of Tobruk, who was one of the first senior officers to defect from Qaddafi. Gen. Mahmoud is said to have 3,000 troops under his command.

A spokesman for the transitional government in Benghazi says they’re organizing military units to harass and cut from behind Qaddafi’s supply lines if he tries to make a move further east.

The rebels' plans now depend on how many troops Qaddafi – who has to worry about protecting himself in Tripoli and bringing the unruly western towns of Misrata and Zawiyah to heel – can commit to fighting in the east.

Handi Hasnawi, a fighter just back from Brega this afternoon and who participated in the battle with Qaddafi’s forces last night, estimated they had about 25 civilian cars' worth of soldiers.
 Por outro lado, se Khaddafy está com dificuldades em avançar para Leste, também os rebeldes estão com dificuldades em avançar (ou mesmo manter as posições) a Oeste.

Monday, March 14, 2011

Contra o "pi"?

"π" Is Wrong [pdf], por Bob Palais

On Pi Day, is 'pi' under attack? (CNN)

A ideia geral - há uma carrada de formulas matemáticas com a expressão "2π" (se calhar quase todas as fórmulas em que aparece o π, aparece sob a forma 2π). Assim, se deixássemos de usar o π e criássemos outro número do género, mas equivalente ao perímetro da  circunferência a dividir pelo raio (π = perímetro/diâmetro), ou seja, o dobro do π, as fórmulas ficariam muito mais simples e até mais lógicas.

The Anonymous manifesto

Hacker Group Anonymous Will Engage In Civil Disobedience Until Bernanke Steps Down

The Anonymous manifesto:

  • We are a decentralized non-violent resistance movement, which seeks to restore the rule of law and fight back against the organized criminal class.
  • One-tenth of one percent of the population has consolidated wealth in unprecedented fashion and launched an all-out economic war against 99.9% of the population.
  • We are not affiliated with either wing of the two-party oligarchy. We seek an end to the corrupted two-party system by ending the campaign finance and lobbying racket.
  • Above all, we aim to break up the global banking cartel centered at the Federal Reserve, International Monetary Fund, Bank of International Settlement and World Bank.
  • We demand that the primary dealers within the Federal Reserve banking system be broken up and held accountable for rigging markets and destroying the global economy, effective immediately.
  • As a first sign of good faith we demand Ben Bernanke step down as Federal Reserve chairman.
  • Until our demands are met and a rule of law is restored, we will engage in a relentless campaign of non-violent, peaceful, civil disobedience.
  • In our next communication we will announce Operation Empire State Rebellion.

Glorious Chairman Ben – our free advice to you: change your e-mail password stat…

Sunday, March 13, 2011

Entretanto, a economia britânica ainda não está completamente destruída

Ao contrário do que alguém previu há 4 meses...

Sobre a redução das pensões

[E também sobre a redução remuneratória dos trabalhadores do sector público]

Independentemente da opinião que tenhamos sobre essas reduções, o maior obstáculo à sua compreensão pelo público (e, em particular, pelos afectados) são mesmo aquelas tabelazinhas que os jornais divulgam, dizendo "quem ganha 2.500, tem uma redução de 6%; quem ganha 2.600, tem uma redução de 6,38%; 2.700, uma de 6,74%..."; lendo isso, não só os leitores ficam sem perceber como se chega a esses valores, como muitos ficam mesmo a julgar que há mesmo alguma tabela oficial (eventualmente incluída nalguma lei e publicada no Diário da República) determinando a redução para cada rendimento especifico. E depois, quando as pessoas, depois de terem o seu rendimento reduzido, vão perguntar aos serviços responsáveis como a sua redução foi calculada, e lhes respondem "tiramos 3.5% de 2000 euros e 16% do resto", ficam todas escandalizadas dizendo "16%? Mas não é isso que diz a lei!".

Mas porque é que os jornais, em vez de virem com essas "tabelas", com vinte ou trinta linhas, simplesmente não escrevem "entre 2000 e 4165 euros: uma redução de 3,5% sobre 2.000 euros, e de 16% sobre a parte excedente"? Terão medo que os leitores não saibam fazer contas?

[Posso estar errado, mas tenho a ideia que, no caso do corte dos vencimentos dos funcionários públicos, a comunicação social não fez nenhuma referencia ao mecanismo de cálculo dos cortes salariais - mecanismo esse que foi divulgado logo no principio de Outubro - até vinte e tal de Janeiro, quando começaram as reclamações sobre os 16%]

Friday, March 11, 2011

Godzilla vs. a realidade

Godzilla vs. Real Life, por Jesse Walker:

[I]t's actually worth taking a moment to think about Godzilla right now, because what happened last night illustrates an important but terribly underappreciated point: the striking difference between the ways people respond to disasters in the movies and in real life.

Here's a panicky crowd stampeding away from the monster in a Godzilla flick:



Here's real people reacting to a real disaster:



Human beings tend to be far more calm and resourceful in an emergency than the movies -- and far too much of the news media -- will ordinarily admit. Unfortunately, officials often make decisions with Godzilla's footprint on their mind, withholding important information from the public for fear of "spreading panic."

O derradeiro romance de esquerda?


uns dias atrás estava com dificuldade em arranjar uma expressão literária para a esquerda da" terceira geração". Bem, já achei, e ainda por cima um livro que tenho na minha estante (ao contrários de outros que citei, como Os Miseráveis, A Mãe ou As Vinhas da Ira, que nunca li na minha vida).

Está lá tudo - economia assente em cooperativas, pouca divisão do trabalho, ambientalismo, industrialização limitada, permissividade sexual, recurso às drogas "para expandir a mente", anti-militarismo, um modelo familiar alternativo reduzindo a autoridade parental, educação "centrada no aluno" e feita através de jogos, etc.

Com o bónus de ter sido escrito na Califórnia e no principio dos anos 60, por um autor que viria a ser um ídolo da contra-cultura.

Ainda por cima, o livro tem longos passagens a expor teorias, seja com alguns personagens a explicar os princípios por que se rege Pala (a ilha em questão), seja com o personagem principal a ler um livro sobre o assunto. Ou seja, penso que nesse aspecto será similar a Atlas Shrugged (outro que nunca li), que supostamente seria "o derradeiro romance de direita".

Agora, será que cumpre os critérios exigidos ("justify the welfare state and argue the limitations of the invisible hand.")?

Acerca da mão invisível - realmente a ordem social vigente em Pala não surgiu espontaneamente; foi criada pelo antigo Rajá e pelo seu conselheiro escocês (embora o livro me dê a ideia que eles não usaram o seu poder politico para impor as reformas, mas sim o seu prestigio social para convencer as pessoas a adoptar voluntariamente as suas ideias - usando a terminologia que usei aqui, Pala é uma ordem "construída", mas acho que não é "coerciva"); mas, por outro lado, o contraponto apresentado (um país vizinho governado por uma ditadura militar, em que o Estado faz grandes negócios com as empresas de armamento e com as companhias petrolíferas) também não é um exemplo de "mão invisível" a funcionar; o livro apresenta os grandes capitalistas de forma negativa, mas o grande pecado deles é exactamente tentarem influenciar governos para obter contratos favoráveis. Ou seja, o anti-capitalismo d'A Ilha não é tanto virado contra a "mão invisivel" do mercado, mas sim contra as relações entre os Estados e os grupos económicos.

Acerca do Estado Social - parece-me quase completamente ausente; sim, o ensino parece ser público e gratuito e há umas estufas (que me parecem estatais) onde se fazem experiências de agronomia, mas no geral o Estado, seja como patrão, seja como cobrador de impostos / distribuidor de subsídios parece ter pouco peso; é lá dito que o sistema da ilha não permite a alguém tornar-se muito rico ou muito pobre, mas isso parece ser feito através das cooperativas, não da segurança social ou de impostos progressivos (conceitos que não são referidos sequer no livro); ainda por cima a moeda de Pala parece ser garantida por ouro.

A questão final é se Aldous Huxley pode ser considerado "esquerda". A ideia que eu tenho é que se trata de alguém que parte de uma base liberal clássica para chegar a uma mistura de socialismo libertário e de conservadorismo (ou seja, uma postura algo difícil de classificar na dicotomia tradicional).

[P.S. o "derradeiro" foi inspirado pelo João Vasco]

Wednesday, March 09, 2011

A "zona de exclusão aérea" sobre a Líbia II

The U.S. Should Not Make War on Libya, por George Kenney (Huffington Post).

o militarismo humanista e os humanistas militaristas

...que bombardearam a Servia 71 dias e noites de alta altitude, e estão sempre prontos a dar uso de misseis high-tech para o bem da humanidade, ponderam um intervencionismo acto-de-guerra na Líbia por causa do uso de aviação. Vamos ver se se a Líbia não se parte em desordem e se isso não encoraja mais do que devia um caos adicional no resto do Médio-Oriente (and beyond).

O melhor romance de esquerda?

O economista liberal (libertarian, em americanês) Tyler Cowen escreve sobre romances de esquerda e de direita:

Isaac L. writes to me:

I am hoping you and your readers can help settle an issue. I am a left-leaning voter.  A conservative friend and I recently discussed Atlas Shrugged, which he said was the ultimate right-wing novel. He challenged me to point him towards a left-wing novel that does for that side of politics what Rand does for the right. I think the book needs to do two things: justify the welfare state and argue the limitations of the invisible hand. While I can think of lots of non-fiction texts, I am drawing blank on fictional offerings.

Do you or your readers have any suggestions? Any assistance would be greatly appreciated.

What jumps to mind is Steinbeck's Grapes of Wrath, but if you read the request carefully it does not qualify.  Here is a list of thirty famous left-wing novels, heavy on the mid- to late nineteenth century.  There is Bronte, Dickens, Hugo, Sinclair, Zola, Gorky, Jack London, and Edward Bellamy.  None of these books is as analytically or philosophically comprehensive as the novels of Ayn Rand.
Nos comentários, vários leitores observaram que Atlas Shrugged não é o melhor exemplo de um romance de direita - tem lá a defesa do capitalismo liberal, muito muito pouco (ou nada) de "Deus, Pátria e Família" e que Dostoevsky, Chesterton, T. S. Eliot, Tolkien  ou Solzhenitsyn seriam melhores exemplos que Ayn Rand.

Mas, voltando à questão, qual poderá ser o "melhor romance de esquerda", ou o "grande romance de esquerda", ou o "fundamental romance de esquerda", ou o "definitivo romance de esquerda" (não é muito fácil em português expressar o conceito de "ultimate")?

Em primeiro lugar, eu tenho uma teoria (exposta num rascunho que está algures enterrado nos arquivos do blogger - entretanto publicado em agosto de 2011) que o pensamento da esquerda pode ser catalogado em 3 gerações - a primeira vai de 1789 a 1848 (mas prolongando-se talvez até 1914) e tem como bandeiras a república, o sufrágio universal, o anti-clericalismo, etc. (em Portugal, é capaz de ter sido hegemónica até 1926, tirando claro, a questão do sufrágio universal); a segunda surge por volta de 1848, torna-se dominante a partir de 1917 até começar a enfraquecer a partir de 1968 e sobretudo de 1989 - a sua bandeira é a defesa da classe operária contra os capitalistas; a terceira geração começa a afirmar-se em 1968 - é a esquerda das "causas fracturantes".

Como é que essas esquerdas se manifestam na literatura?

A primeira esquerda é sobretudo representada pela "ala esquerda" do romantismo (Stendhal, Victor Hugo, etc.) - o seu grande romance será sem dúvida "Os Miseráveis".

A segunda esquerda expressa-se literariamente no naturalismo e no "realismo socialista"/"neo-realismo" - grandes romances dessa área: "Germinal", "As Vinhas da Ira", "A Mãe", "Esteiros", "Levantado do Chão" (para cada país é fácil arranjar um exemplo)... Tyler Cowen rejeita "As Vinhas da Ira", com argumentos que vou discutir mais à frente.

Confesso que tenho dificuldade em arranjar uma expressão literária para a terceira esquerda - é verdade que há uma vasta literatura em volta de temas como a critica ao racismo, à família patriarcal, à moral sexual dominante ou em volta do tema geral do "individuo incompreendido em ruptura com as convenções sociais"; mas essa literatura é largamente anterior ao aparecimento do que eu chamo "terceira esquerda" (e alguma, na época, até era considerada pela "esquerda oficial" como "pequeno-burguesa" ou até "reaccionária") - Oscar Wilde ou Kafka poderiam ser bons exemplos, se tivessem nascido umas décadas mais tarde.

Se passássemos da literatura para o cinema (o que talvez fizesse sentido falando de um movimento das últimas décadas do século XX) , talvez "A Primeira Noite" (realizado na altura certa - 1966 - e com a banda sonora certa) fosse um bom filme representante do espírito da "terceira esquerda" (está lá o essencial - a critica à "moral burguesa", o filho de boas famílias que entra em choque com o seu meio, o desinteresse pelo ter "uma carreira", etc.; e ainda por cima a Miss Robinson estuda em Berkley) - note-se que eu não faço a menor ideia de quais as opiniões politicas dos autores (ou sequer se têm algumas).

Mas creio que há um problema de base na forma como Cowen e Isaac L. põem a questão - "the book needs to do two things: justify the welfare state and argue the limitations of the invisible hand".

Em primeiro lugar, o herói colectivo dos romances de esquerda (e aqui falo sobretudo da esquerda de segunda geração) não costuma ser o "Estado Social" - o tema costuma girar muito à volta de trabalhadores a tentarem organizar um sindicato, ou de camponeses a tentarem ocupar os latifúndios; quando o Estado aparece nesses romances, não é sob a forma de inspectores do trabalho ou de assistentes sociais a protegerem os trabalhadores da exploração e da miséria, é sob a forma de policias (ou eventualmente de militares) a reprimirem os "trabalhadores em luta". A mensagem desses romances costuma mais ser "junta-te aos teus camaradas em luta - divididos somos fracos mas unidos somos fortes", não "vota nos Democratas/Socialistas/Social-Democratas para teres um aumento no abono de família".

Em segundo lugar, é pouco provável que um romance de esquerda se dedique muito a mostrar os limites da "mão invisível"; é mais provável que se dedique a mostrar que a neutralidade do "Estado burguês" é uma fraude; assim, nos romances de Esquerda o alvo não é "o Estado que não faz nada", mas sim "o Estado que não faz nada pelos pobres, mas que anda sempre com os ricos ao colo quando eles precisam" (os Esteiros de Soeiro Pereira Gomes anda em parte à volta disso - quando há as cheias, o Estado não manda um rebocador para salvar uns barcos que se iam afundar, mas dá apoios aos grandes proprietários rurais que perderam as colheitas).

E agora regressamos a Cowen não achar As Vinhas da Ira como "o grande romance de esquerda". Lendo a discussão, parece ser porque a destruição das colheitas enquanto os desempregados passavam fome era feita, não por iniciativa dos proprietários, mas por politica do governo, para os preços não baixarem. Mas, mesmo não sendo o resultado do "mercado livre", isso continuava a ser o resultado de uma politica favorável aos interesses das empresas agro-industriais (no fundo o Estado estava a obrigá-las a funcionar como um cartel, o que seria mau negócio para cada empresa individual, mas bom para o conjunto das empresas). Ou seja, embora não se enquadre nas regras definidas por Cowen e Isaac L. ("argue the limitations of the invisible hand"), enquadra-se nas convenções habituais do "romance social" (o Estado ao lado dos ricos contra os pobres).

No fundo, o problema aqui é o mesmo que os leva a considerar Atlas Shrugged como "o grande romance de direita" - a partir do momento em que Cowen e o seu correspondente simplesmente equipararam "direita" ao liberalismo clássico,o salto seguinte foi definir "esquerda" como sendo simplesmente o oposto do liberalismo clássico (os liberais clássicos são contra o Estado Social e a favor do mercado livre? então um romance de esquerda deve ter como temas principais a defesa do Estado Social e a critica ao mercado livre!).

Tuesday, March 08, 2011

The anti-sate, anti-war, pro-market news site



Other Countries Where LRC Is Best Read


1. South Korea
2. Costa Rica
3. Peru
4. Portugal
5. New Zealand
6. Canada
7. Thailand
8. Switzerland
9. Australia
10. Netherlands

Cenas das zonas rebeldes na Líbia

Free of Qaddafi, a City Tries to Build a New Order (New York Times):

BAYDA, Libya — The signs in Bayda still read the Great Socialist People’s Libyan Arab State of the Masses. It was never much of a state, nor did the people have much say. Now two weeks after its liberation, residents of this highland town have the task of making it so, a challenge that may prove pivotal to the course of Libya’s revolt. (...)

Far from the front, in mood and reality, Bayda, an eastern city that was one of the first to embrace the anti-Qaddafi revolution, has now also embraced the work of what might follow: building a state on a landscape riven by divisions of tribe, piety and class in a country whose leader spent four decades in power dismantling anything that might contest his rule.

The new police chief has less than a third of his officers and worries that vigilantes might not surrender their weapons. He has no prison. Hundreds have volunteered for work, but on Sunday, many sat under a tent watching the news channel Al Jazeera. With revolutionary fervor, and a resurgence of pride in running their own lives, residents have set up a slew of committees to impose order, distribute charity and run schools, but even its own members admit they have more enthusiasm than experience. (...)

For decades, Bayda was run by the pretenses of Colonel Qaddafi’s Green Book, his supposed blueprint for a revolutionary state. There were Popular Committees that carried out the orders of the Popular Conference, but as Tawfiq Bughrara, a cleric here put it, “The head of it didn’t have the power to pick up a glass and set it back down.”

In reality, power was exercised by the security forces — internal security, external security and military intelligence — along with a more traditional police agency known as the security directorate. The loathed and feared head of internal security was Ali Saad al-Majaab, who residents say sought protection from his tribe soon after the uprising began.

Then there was Colonel Qaddafi’s second wife, Safiya Farqash, who was born in Bayda and whose family, from the city’s largest tribe, Birasa, acted as mediators between the city and the colonel himself. Her uncle, Jarah, long ran Bayda’s sole army battalion.

“No one in charge did anything without their permission,” Mr. Bughrara said.

At the height of Egypt’s uprising, Cairo exploded in fervor as popular committees sprung up to police neighborhoods and volunteers picked up trash and painted fences. It was largely symbolic, since the Egyptian military and bureaucracy remained intact. There was never that much bureaucracy in Bayda, where residents had to travel 750 miles to the capital, Tripoli, for something as simple as a housing loan or a business permit.

Days after authority collapsed, residents set up a local council. They said they avoided terms like popular and revolutionary because they smacked of Colonel Qaddafi’s statements. Of its six members, one is from a group called the Youth of February 17, the date people have given the uprising here. Two others are Muslim clerics, one a professor of agriculture and another a businessman. It is led by Mustafa Abdel-Jalil, a former justice minister from Bayda acclaimed as a transitional leader who is now in Benghazi.

Answering to it are impromptu committees for everything from security to education, though schools remain closed here. Underneath a tent in Bayda’s downtown, organizers added more names to a list of 750 volunteers, who identified themselves as everything from students to a tank gunner. Detachments have tried to collect trash every morning. Others have organized aid from Egyptian relief convoys crossing the border.

Even the volunteers, though, seemed overwhelmed at the task of running a city. Most of them on this day sipped tea, chatted and watched a television set up at the tent.

“We’re in a transition and in that, there’s going to be chaos,” said Mr. Bughrara’s brother, Ahmed, an engineer. “But what we had before was organized chaos.”

As he spoke, another volunteer interrupted.

“We’re still waiting for Tripoli to be liberated,” he shouted.

In the aftermath of the American invasion of Iraq in 2003, there was anger at the occupation tinged with shame that destinies in the hands of a dictator were now determined by an invader. The experiences in Egypt, Tunisia and Libya have unleashed a far different energy, indigenous narratives written with the pride of people running their own lives.
[Via Libyan Revolution Central]

A "zona de exclusão aérea" sobre a Líbia

Libya ‘no fly zone’: considerations for the left, por David Osler:

YES, we are looking at plans for a ‘no fly zone’ over Libya, David Cameron told Ed Miliband in the House of Commons this afternoon. Oh well, at least he didn’t mince his words.

That doesn’t mean that this is going to happen. Other reports suggest that US defense secretary Robert Gates has gone cold on the idea.

But even the prospect of such a move will be enough to open up another argument on the British left, in a scaled down version of the debate witnessed in the run up to the invasion of Iraq that was reaching a crescendo eight years ago this month.

Gaddafi is a dictator who is killing his own people, one argument will run. A no fly zone will hinder his ability to do so, and so should therefore be supported.

No, the other side will counter. This is simply imperialist intervention, and has to be opposed. A subsection will go that one step further, and loudly declaim verbal support for Tripoli against London and Washington.
Ever since Marx rightly insisted that a nation that oppresses another can never itself be free, opposition to imperialism has been default position for all thoughtful socialists, of course. There was even a time when it was easy enough to define what such a stance entailed. Unconditional support for colonial independence - in all places and in all circumstances - was a no brainer.

Where national liberation movements utilised violence, or were led by elements of unpleasantly Stalinist or rightist authoritarian hue, that made no essential difference. Moral responsibility for their actions accrued to the account of the colonialists, who had no right to remain in dominance, our political predecessors correctly maintained.

But with the almost complete collapse of the classic 1880-1945 model, confusion set in. For instance, the demand that the US and British pull their forces of occupation out of Iraq and Afghanistan is broadly uncontroversial among Marxists.

Yet only a minority are sufficiently consistent to back calls for Russian withdrawal from Chechnya or Chinese withdrawal from Tibet. To this way of thinking, even to call Beijing on its blatant imperialism is itself to play into the hands of some abstract and disembodied ‘imperialism’.

The lines become even more blurred when discussing countries that have enjoyed independence for some decades, and are now under the control of undemocratic regimes that repress their internal populations and sometimes aspire to regional dominance.

Many of these rulers pursue policies that secure them the enmity of the US. Milosevic and Mugabe are classic examples from the recent past, and Mugabe, Ahmadinejad and – right at this moment – Gaddafi represent cases in point today.

In such situations, there are considerations other than international relations. For the left, these include the status of workers, students, peasants and the poor in these countries. Where governments deny them the opportunity to organise themselves into political parties, trade unions and social movements, and withhold from them the right to freedom of speech, freedom of religion, freedom of assembly and gender and racial equality, we should not hesitate to support their ouster. (...)

’m not an absolutist on these things. Yes, there are times when it is right for one country or group of countries to use force to prevent or stem horrors in another country. There can be few ethical objections to Vietnam’s 1978 invasion of Cambodia, and with hindsight, external intervention would have been the best course in Rwanda in 1994.


If a no fly zone over Libya were strictly a short-term expedient, operated by non-aligned countries, on the basis that it would be lifted the day Gaddafi falls, there would be an arguable case for it.

But after Iraq and Afghanistan, the US and the UK are too compromised in Arab eyes credibly to undertake police actions in the Middle East. They should not do so.

Monday, March 07, 2011

Kaddafy tentando render-se?

Reuters - Al Jazeera says rebels reject Gaddafi talks offer:

Al Jazeera television said Libyan rebels on Monday rejected an offer by Muammar Gaddafi to hold a meeting of parliament to work out a deal under which he would step down.

Al Jazeera said sources from the rebel interim council told its correspondent in Benghazi that the offer was rejected because it would have amounted to an "honorable" exit for Gaddafi and would offend his victims.
Al Jazeera said Gaddafi wanted guarantees of personal safety for him and his family and a pledge that they not be put on trial. It said that Gaddafi had sent former prime minister Jadallah Azzouz Talhi to meet the rebels and offer to hold a meeting of the General People's Congress to work out the details of such a deal.

The offer aimed at having Gaddafi hand over power to a committee formed by the General People's Congress, the television said.
Diga-se que Kaddafy abandonar o poder levantaria uma importante questão conceptual - é que formalmente ele já abandonou o poder há décadas (aliás, ainda não percebi a que propósito o Kaddafy vem às cimeiras e afins, já que supostamente ele não desempenha nenhum cargo na Líbia); ou seja, parece-me que qualquer oferta de "abandono do poder" que Kadaffy faça tem implícito o reconhecimento que, afinal, ele continuou a exercer o poder (se não fosse assim, como é que o iria abandonar?).

Esperemos que sim

Pacheco Pereira - "vai ser difícil evitar que a rua entre em cena, como na Grécia, E não vem da CGTP, nem do PCP, de cujas manifestações políticas vamos ter saudades."

Escassez de combustivel?

A resposta óbvia, lógica e natural - incentivar o transporte rodoviário.

A paixão pela educação

Degrees and Dollars, por Paul Krugman:

It is a truth universally acknowledged that education is the key to economic success. Everyone knows that the jobs of the future will require ever higher levels of skill. That’s why, in an appearance Friday with former Florida Gov. Jeb Bush, President Obama declared that “If we want more good news on the jobs front then we’ve got to make more investments in education.”

But what everyone knows is wrong. (...)

Why is this happening? The belief that education is becoming ever more important rests on the plausible-sounding notion that advances in technology increase job opportunities for those who work with information — loosely speaking, that computers help those who work with their minds, while hurting those who work with their hands.

Some years ago, however, the economists David Autor, Frank Levy and Richard Murnane argued that this was the wrong way to think about it. Computers, they pointed out, excel at routine tasks, “cognitive and manual tasks that can be accomplished by following explicit rules.” Therefore, any routine task — a category that includes many white-collar, nonmanual jobs — is in the firing line. Conversely, jobs that can’t be carried out by following explicit rules — a category that includes many kinds of manual labor, from truck drivers to janitors — will tend to grow even in the face of technological progress.
Mais sobre o assunto - Autor! Autor! e Falling Demand for Brains?, também de Krugman, The Skill Content of Recent Technological Change: An empirical exploration [PDF], por David Autor, Frank Levy e David Murnane (o paper que Krugman refere nos seus textos), What to do about wage polarization? por Tyler Cowen, e, já agora, Ainda acerca da "sociedade do conhecimento", por mim:

Então porquê tanta insistência nas "qualificações"? Penso que é porque os gurus que falam na televisão e nos jornais, por regra, estão ao serviço de um projecto politico (seja ele qual for), e a conversa "é preciso profissionais qualificados para mexer nas novas tecnologias" é mais passivel de utilização "politica" do que a conversa "uma pessoa com a quarta classe domina um computador em três tempos":

- à esquerda, serve para defender um maior investimento estatal na educação e na formação profissional (e, devido à relação entre a pobreza e o insucesso escolar, um maior investimento em politicas sociais em geral)



- à direita, serve para justificar as desigualdades socias crescentes, com o argumento de que, como o trabalho qualificado é mais necessário, é natural que a diferença salarial aumente


Já a posição "uma pessoa com a quarta classe mexe num computador" dificilmente vejo como possa servir de base a um discurso politico (só se for usado na defensiva, para refutar o discurso adversário).

THE JUDGE GRILLS RUMSFELD! "Did Saddam Get WMDs From You?"



Sunday, March 06, 2011

Israel e a Libía

Segundo um site israelita (tradução aqui) uma "empresa de segurança" israelita poderá estar a fornecer mercenários a Kaddafy, com o beneplácito do governo de Telaviv; a referida "empresa de segurança" já desmentiu as noticias (tradução aqui).

Confesso que à partida tal hipotética colaboração me parece completamente ilógica.

Saturday, March 05, 2011

Sinaleiro voluntário

Friday, March 04, 2011

Mais Cold War Revisionism

Only Don't Call Me Comrade, Mark Mazower | Feb 23, 2011
Stalin: The Dictator. The Revolutionary. The Homebody? The USSR’s Cold War ambitions have been greatly exaggerated. Worldwide Marxist revolution played second fiddle to control of the Continent.

Anterior: A Soviet Foreign Policy: A Revisionist Perspective by Murray N. Rothbard

Rumsfelds and the knowns unknowns.

Vantagem de um realista cínico: podemos contar pelo menos com a ponderação objectiva das possibilidades em vez da visão "nobel lie" do "vamos ser recebidos com flores" neocon

Donald Rumsfeld's secret memo warned George W. Bush about Iraq

Titled "Iraq: an illustrative list of potential problems to be considered and addressed" (but described on his website as his "parade of horribles"), the memo was sent to Mr Bush as a "checklist" to make sure they were included in deliberations about Saddam Hussein and Iraq's suspected weapons of mass destruction.

Number 13 on the list reads: "The US could fail to find WMD on the ground in Iraq and be unpersuasive to the world." However, the 15th item appeared to contradict the warning: "There could be higher than expected US and coalition deaths from Iraq's use of weapons of mass destruction against coalition forces in Iraq Kuwait and/or Israel."

Item No 17 is somewhat prescient, given what happened after President Bush's "mission accomplished" speech on May 1, 2003, declaring the combat phase of the war to be over.

"The US could fail to manage post-Saddam Hussein Iraq successfully, with the result that it could fracture into two or three pieces, to the detriment of the Middle East and the benefit of Iran," Mr Rumsfeld wrote.

He also warned: "Rather than having the post-Saddam effort require two to four years, it could take eight to ten years, thereby absorbing US leadership, military and financial resources."

Thursday, March 03, 2011

cambada de puritanos

La ley procura proteger la salud de los trabajadores y de los menores. También la hemos hecho con la intención de acosar al fumador, de que cada vez le resulte más difícil su hábito. No en vano, el tabaquismo es uno de los problemas más serios que tenemos. (via oinsurgente)

... mas dizia o Lou Reed no filme "fumo branco" (ou será o azul?) que o tabaco lhe fazia bem porque o impedia de beber uma garrafa de whisky.


O que me leva ao meu habitual comentário sobre o assunto: creio que se há aqui uns (bons) anos atrás um dono de restaurante pusesse um deputado fumador na rua, dizendo que ali não aceitava fumadores, seria imediatamente acusado de discriminação e etc e tal; hoje em dia, o dono de forma compulsória tem de discriminar fumadores.

Wellcome to the Brave New World.