Monday, March 30, 2015

O caso do avião da Germanwings

Não me vou pronunciar sobre todas as considerações técnicas e médicas que têm sido feitas sobre o assunto.

Mas, a acreditar na versão dos factos que tem sido transmitida, a conclusão é que as medidas de segurança implantadas para impedir ataques terroristas tornaram-se contraproducentes - a partir do momento em que o "terrorismo" veio de quem estava no comando, as regras securitárias deram-lhe muitos mais margem para agir do que teria de outra maneira.

Pensem nisto.

[Post publicado no Vias de Facto; podem comentar lá]

Friday, March 27, 2015

Hipóteses para a banca grega

Free Lunch: An alternative for Greece, por Martin Sandbu (Financial Times):

How to stay in the euro without more loans (...)

 Rather than the end of the world, deposit flight is a problem that has solutions. Three different ones, in fact.

First, if banks are solvent, it should be straightforward for the central bank to refinance any amount of deposits in a bank run. That's its job and carrying it out is the best way to make deposits return. Guntram Wolff has explained well that in principle, the ECB (or rather the Greek central bank through emergency liquidity assistance) can refinance Greek deposits in their entirety.(...)

The second option, then, is to introduce capital controls: legal limits on how much money can be taken out of the Greek banking system. (This and the previous solution are obviously substitutes: the less can be taken out of the system, the less central bank liquidity is needed in a run. In extremis, if nobody can get any money out, no liquidity is needed.) (...)

This would make the third solution more attractive: putting most Greek banks into resolution, to emerge with incontrovertibly solvent restructured banks. Sigrún Davíðsdóttir and Thórólfur Matthíasson have written an Icelandic lesson in bank stabilisation for Greece that deserves wide circulation among European policy makers. (So does Willem Buiter's 2009 "good bank" restructuring proposal - although in theory, bail-in is now official EU policy, Buiter's is the clearest explanation of why it's a relatively easy thing to do.)
The restructuring would split affected Greek banks in two. Collateralised assets would be handed over to secured creditors (the central banks) to extinguish their claims, or transferred to the new "good" entities in agreement with them. The main bad asset to deal with is not banks' exposure to the Greek government (which is small), but non-performing private loans. Go back to the balance sheets: these loans amount to €212bn, about one-third of which the ECB assessed as non-performing in October, or about €70bn worth of loans. Suppose they lost half their value: that's a €35bn loss. Suppose things get worse and they lose their entire value, or equivalently that the NPL ratio doubles. That's a loss of €70bn. How would the Greek banking system fare under those extreme assumptions? Well, it has already set aside €39bn in reserves for losses and it has another €34bn in capital on top of that. You could write down huge losses even before talking about a Cyprus-style bail-in of depositors. 

You'd be left with new "good" banks with deposits backed by a smaller and rock-solid balance sheet and an asset management company working out the bad assets. Even if you needed to find another €10bn or so for recapitalising the new (much smaller) balance sheet, that would involve a smaller bail-in than Cypriot depositors suffered.

Tuesday, March 24, 2015

Singapura

A morte de Lee Kuan Yew, o antigo lider autoritário de Singapura, fez-me lembrar de um assunto que há algum tempo que ando para escrever - Singapura é frequentemente apontada como uma combinação de liberalismo económico e autoritarismo político, uma vezes por esquerdistas e (com diferentes juizos de valor) por "neoreacionários" para dizer que as duas coisas não são contraditórias, e outras vezes por liberais a admitir que há uma contradição a explicar (bem, há uns anos o João Miranda fez um post assim, mas agora não o encontro).

Mas será que um país em que grande parte da poupança é feita através de um programa de poupança coerciva, uma empresa estatal é um importante ator económico e em que 80% da população vive em casas propriedade do Estado é mesmo um exemplo assim tão extremo de liberalismo económico? E, já agora, é impressão minha ou entre os países mais "liberais" segunda a Heritage Fundation estão lá alguns que, quando se ouve falar de investimento estrangeiro oriundo desses países, é sempre, ou fundos soberanos, ou investidores com o mesmo apelido que o governante?

[O que eu suspeito é que o indíce da HF medirá sobretudo o grau de interferênca do Estado nas empresas privadas, e que um país em que o Estado controle grande parte da economia mas deixe a parte privada em paz pode facilmente ter uma classificação alta no ranking]

Monday, March 23, 2015

O paradoxo do "politicamente correto/incorreto"

Uma coisa que me ocorre sobre esse assunto é que, atualmente, "politicamente corretos" e os auto-proclamados "politicamente incorretos", num aspeto mais profundo, concordam com o mesmo pressuposto: tanto as pessoas que se queixam das "micro-agressões", da "cultura patriarcal", da "heteronormatividade", do "racismo sistémico" e/ou da "estrutura de poder branca" como as que se queixam da "tirania do politicamente correto" partilham da mesma ideia essencial - que a pressão social podem ser tão (ou pelo menos quase tão) opressivas como a lei.

Dito de outra maneira - quem se queixa das "micro-agressões" e quem se queixa de queixa das "micro-agressões" no fundo está-se a queixar da mesma coisa.

Ainda sobre isto - "A tirania do politicamente correto" e "O caso Brendan Eich (II)".

Sunday, March 22, 2015

Piercings = mutilação?

Piercings vaginais vão ser equiparados a mutilação genital feminina (revista Visão):

 O que dizer disto? Logo à partida é de assinalar que a notícia não começa com "a Câmara dos Comuns aprovou novas leis quanto à aplicação de piercings vaginais", nem sequer com "o governo britânico aprovou novas regras quanto à aplicação de piercings vaginais", mas sim com uma referência às "autoridades de Saúde" - ou seja, decisões que para todos os efeitos equivalem a leis estão a ser aprovadas, não pelo parlamento, nem sequer para um órgão como o governo que ao menos ainda tem legitimidade democrática clara, mas provavelmente por obscuros tecnocratas (é o que me parece pela expressão "autoridades de Saúde", que suspeito seja algo estilo a DGS em Portugal); se a democracia representativa já é criticável, ainda pior é esta tecnocracia só muito indiretamente democrática, em que decisões políticas são aprovadas como se fossem simples procedimentos técnicos.

Deixando a forma, vamos ao conteúdo - esta equiparação faz algum sentido? Acho que não - os piercings vaginais podem ser uma parvoíce, mas são uma decisão livre de que os coloca (mesmo os piercings vaginais possam ser perigosos para terceiros e não apenas para quem os usa,  mesmo aí continuamos a falar de decisões voluntárias); já o problema principal com a mutilação genital feminina é exatamente o ser praticada à força, ou no mínimo contra raparigas ou meninas ainda sem capacidade de auto-decisão

[Post publicado no Vias de Facto; podem comentar lá]

Thursday, March 19, 2015

A lista VIP

Confesso - à partida não vejo grande problema na "lista VIP", tal como é compreensível que titulares de altos cargos tenham direito a um segurança à porta (ou que haja mais policiamento nuns bairros do que noutros).

Mas, pelos vistos, quem criou e implementou a tal lista via um problema nela, já que até ao último momento tentaram negar que existisse.

E, já agora, dá-me a ideia (tirando talvez esta semi-execção) que só depois de se ter provado a existência da lista é que começaram a aparecer bloggers e comentadores a dizer que não há problema nenhum (até podem ter razão, mas dito nesta altura soa a "plano B").

Tuesday, March 17, 2015

Mais austeridade

Venezuela puts debt service before food imports as cash dries up: sources (Reuters):

Venezuela's government has told the country's food industry that it is limiting dollar disbursements for food imports so that it can pay down foreign debt amid low oil prices, according to two sources with direct knowledge of the situation.

Monday, March 16, 2015

Maiores empresas = maior desigualdade?

The bigger, the less fair (Free Exchange - The Economist), via Tyler Cowen:

The benefits of size are thus enjoyed only by the most senior workers at a firm, who can extract a bigger premium for their skills and experience. A cleaner at a single shop does the same sort of work as those at a large chain. But managing a multinational firm such as Walmart requires a different—and much rarer—set of skills than that required to run a corner store. Over time this pushes up the salaries of the top brass at Walmart compared with corner-shop managers.

The authors find that the relationship between the growth in the size of companies and the level of inequality holds across the rich world. They looked at data from 1981 to 2010 on wages and the size of largest firms for 15 countries in the OECD, a club mostly of rich countries. The relationship between rising levels of income inequality and the size of firms was strong.

This effect is particularly noticeable in America and Britain, where firms have grown rapidly in recent decades. In America, for instance, the number of workers employed by the country’s 100 biggest firms rose by 53% between 1986 and 2010; in Britain the equivalent figure is 43.5%. On the other hand, in places where the size of firms has not changed much, such as Sweden, or where it has shrunk, such as Denmark, wage inequality has grown much less. Part of what is perceived as a global trend towards greater disparity in wages may actually be the result of the biggest firms employing a greater share of workers.
Wage Inequality and Firm Growth [pdf], por Holger Mueller, Elena Simintzi e Paige Ouimet (o estudo que serve de base ao artigo acima):
We examine how within-firm skill premia–wage differentials associated with jobs involving different skill requirements–vary both across firms and over time. Our firm-level results mirror patterns found in aggregate wage trends, except that we find them with regard to increases in firm size. In particular, we find that wage differentials between high- and either medium- or low-skill jobs increase with firm size, while those between medium- and low-skill jobs are either invariant to firm size or, if anything, slightly decreasing. We find the same pattern within firms over time, suggesting that rising wage inequality–even nuanced patterns, such as divergent trends in upper- and lower-tail inequality–may be related to firm growth. We explore two possible channels: i) wages associated with “routine” job tasks are relatively lower in larger firms due to a higher degree of automation in these firms, and ii) larger firms pay relatively lower entry-level managerial wages in return for providing better career opportunities. Lastly, we document a strong and positive relation between within-country variation in firm growth and rising wage inequality for a broad set of developed countries. In fact, our results suggest that part of what may be perceived as a global trend toward more wage inequality may be driven by an increase in employment by the largest firms in the economy.
E recordo o que escrevi em A empresa como uma economia de direção central: "sendo o capitalismo uma combinação de ilhas de economia planificada (as empresas) num mar de economia de mercado, muitos dos chamados "males do capitalismo" talvez derivem mais da parte planificada do que da parte mercantil."

Sunday, March 15, 2015

Chamem a aviação

A respeito das destruições no museu de Mossul e das cidades históricas de Nimrud e Hatra, o Expresso pergunta "Porque não intervieram os aviões americanos ou as tropas terrestres curdas ou iraquianas?".

Excelente ideia - os aviões americanos deveriam ter lançado um ataque aéreo contra as forças do Estado Islâmico que estavam a destrui o museus e as cidades arqueológicas. What could possibly go wrong?

[Post publicado no Vias de Facto; podem comentar lá]

Tuesday, March 10, 2015

Monday, March 09, 2015

Keynesianismo e Estatismo - revisitado

Em tempos publiquei o post "Keynesianismo e Estatismo", onde escrevia que "na discussão politico-económica do dia-a-dia, os defensores do keynesianismo tendem a ser também os defensores do intervencionismo estatal(...) Isto é, normalmente quem defende menos impostos, privatizações, desregulamentação, etc. são também os que se opõem às politicas keynesianas de gestão do ciclo económico, e vice-versa.".

Entretanto ocorre-me se o ordoliberalismo (uma doutrina económica divulgada sobretudo na Alemanha, onde me parece muito próxima das posições dos democratas-cristãos) não será um possível exceção: pelo (pouco, confesso) que percebo dos ordoliberais parece-me que eles combinam posições micro-económicas não muito diferentes das que se podem encontrar no "Samuelson", defendendo a intervenção do Estado para corrigir "falhas de mercado" (no caso dos ordoliberais, com uma ênfase especial na legislação de defesa da concorrência), com posições macro-económicas à direita de Chicago, defendendo entusiasticamente os orçamentos equilibrados e a moeda forte; assim, será que os ordoliberais poderão ser considerados como um exemplo de estatistas anti-keynesianos?

Já agora, a respeito da minha referência ao Crédito Social como um exemplo de defensores simultaneamente de uma politica monetária expansionista e do Estado pequeno, creio que no mundo atual outros exemplos dessa combinação de politicas que normalmente não vêm combinadas poderão ser os economistas/bloggers Scott Sumner e Nick Rowe.

Sunday, March 08, 2015

A marcha que Martin Luther King organizou em Selma seria legal hoje em dia?

Provavelmente não (via Tyler Cowen).

Starting in the 1970s, however, the federal courts began rolling back this idea. A series of rulings erected what is known as the public forum doctrine, which lets a city, state or the federal government decide whether public property can be used for 1st Amendment activities. It also means that if courts do not designate a place a “traditional public forum,” government may forbid its use as a site of protest altogether.

Uma Grécia a falar alemão?

A mini-Greece is about to go off in Europe's heartlands, and markets don't even know it

Os romanos como analistas do caráter nacional

Neste post de Rita Carreira, a autora recorda que os romanos terem dito que os lusitanos eram "um povo que nem se governa nem deixa governar" é por vezes apresentado por algumas pessoas como a prova que somos um caso perdido.

Isso lembra-me de outra citação romana:

Quando não estão lutando, passam muito do seu tempo na caça, e ainda mais na ociosidade, entregando-se ao sono e às festas, com os mais bravos e aguerridos não fazendo nada, e entregando a gestão da casa e das terras às mulheres, aos mais velhos e aos elementos mais fracos da família. Eles próprios vivem dominados pela preguiça; por uma estranha tendência natural não gostam da paz, mas celebram o ócio.
Tácito, Germania

Wednesday, March 04, 2015

Redefinindo o conceito de "Rendimento Básico Incondicional"

Um "Rendimento Básico Incondicional" é um subsidio supostamente pago por igual a toda a gente - ricos ou pobres, empregados ou desempregados, que procurem emprego ou que  passem o dia o jogar LinCity no computador.

Uma clássica objeção (ou sequência de objeções) que pode ser feita ao RBI é esta apresentada por Francisco Louçã:

Nesse plano, o rico e o pobre deveriam receber o mesmo rendimento incondicional, porque são iguais.

Este princípio parece-me dificilmente aceitável, pouco prático na condução da política, susceptível das maiores revoltas e enigmático no seu propósito. É certo que os defensores do RBI atenuam esta crítica dizendo: pois é, o rico recebe o mesmo que o pobre, mas o rico vai ter de pagar mais impostos e o pobre não. (...) Mas então se se dá e tira ao rico, para quê a manigância?
Para responder a essa objeção, pode ser útil analisar um sistema de RBI de uma forma algo diferente da forma como é normalmente apresentado - em vez de o vermos como um subsidio pago igualitariamente a todos (já que na verdade uns vão receber e outros pagar), poderemos fazer uma análise um pouco mais complexa e definirmos um sistema de RBI como um sistema em que o imposto sobre o rendimento líquido de transferência (isto é, o que se paga de imposto sobre o rendimento menos o que se recebe em dinheiro de apoios sociais) tem as seguintes propriedades:
  • o valor do imposto é negativo para o rendimento zero (ou seja, quem não tem rendimentos é um beneficiário líquido)
  • a taxa marginal de imposto é sempre nula ou positiva (ou seja, um aumento do rendimento nunca origina um aumento de subsidio a receber ou uma redução do imposto a pagar: quanto maior o rendimento, menor o subsidio ou maior o imposto - ou, quando muito ficará na mesma)
  • a taxa marginal de imposto pago pelos beneficiários líquidos é igual ou inferior à taxa marginal de imposto paga pelos contribuintes líquidos (ou seja, quando um beneficiário liquido recebe mais um euro de rendimento a redução no valor do subsidio é menor - ou, no máximo, igual - ao aumento de imposto que um contribuinte líquido sofre quando recebe mais um euro de rendimento)
Se pegarem num sistema que conjugue um subsidio igualitário universal com um imposto progressivo (ou proporcional) sobre o rendimento, e calcularem o "imposto menos subsidio" como se fosse um programa único, verão que o imposto liquido do subsídio está de acordo com estes três pressupostos. Desta forma, penso que qualquer combinação de impostos e transferências que tenha estas três propriedades pode ser considerado na prático como um sistema "tipo RBI", mesmo que não o seja formalmente.

Para percebermos melhor vamos comparar o RBI com duas possíveis alternativas - um sistema estilo Rendimento Social de Inserção, e um sistema estilo "subsidio aos baixos salários" (como Earned Income Tax Credit norte-americano)

O RSI compartilha as duas primeiras propriedades com o RBI, mas distingue-se pelas taxas marginais altíssimas a que os seus beneficiários estão sujeitos: na versão mais pura o RSI funciona pelo sistema de dar a toda a gente que ganhe menos que um dado valor o que falta para atingir esse valor; desta forma, qualquer aumento de rendimentos do beneficiário será compensado por uma redução de igual valor, o que corresponde a uma taxa marginal de imposto de 100% - na verdade, no RSI realmente em vigor os rendimentos do trabalho são contabilizados por 80% do seu valor, o que significa que a taxa marginal acaba por ser também de 80% e não de 100%, mas continua a ser um valor bastante elevado. Se quisermos (e é em parte uma das ambições deste post) estabelecer uma taxonomia rigorosa das várias formas de subsidiação social, eu definiria um sistema "tipo RSI" como um sistema em que os beneficiários líquidos estão sujeitos a uma taxa marginal mais alta que os contribuintes líquidos com menores rendimentos, ou que uma pessoa que esteja no ponto de transição entre beneficiário e contribuinte.

Em principio, acho que qualquer sistema que combine um imposto progressivo ou proporcional sobre o rendimento com um subsidio atribuído apenas aos mais pobres irá ter as propriedades acima descritas.

Já um sistema tipo "subsidio salarial" distingue-se por:
  • o valor no imposto é nulo para o rendimento zero (ou seja, quem não tenha rendimentos nenhuns não recebe nada)
  • a taxa marginal de imposto começa por ser negativa para os rendimentos mais baixos (ou seja, para quem ganhe menos que determinado rendimento, o subsidio é tanto maior quanto mais se ganha, e só acima desse valor é que o subsidio começa a diminuir)
Assim, qual é a vantagem de um sistema "tipo RBI" sobre um sistema "tipo RSI" (no fundo acho que acaba por ser isso que Louçã pergunta quando pergunta "para quê a maningância?")?

A grande vantagem é que, como os beneficiários de um sistema "tipo RBI" estão sujeitos a a uma taxa marginal de imposto muito menor que os beneficiários de um sistema "tipo RSI" o desincentivo ao trabalho e o perigo dos beneficiários ficarem presos na tal "armadilha da pobreza" também é muito menor (e, sendo menor o desincentivo implícito ao trabalho  haverá também menos tendência para querer combater esse desincentivo através de mecanismos como "planos de inserção" ou pondo os beneficiários sob tutela dos burocratas da segurança social).

Também (no fundo pelas mesmas razões) utilizar um mecanismo "tipo RBI" para apoiar os trabalhadores com baixos salários (e não apenas os "excluídos") parece-me mais viável do que um mecanismo "tipo RSI" - num mecanismo "tipo RSI" alargar a cobertura de forma a cobrir parte substancial dos trabalhadores mal pagos iria, temos que reconhecer, levar muitos deles a abandonar a força de trabalho (ou então sujeitá-los aos tais programas de "acompanhamento" e vigilância para impedir isso); já um mecanismo "tipo RBI" pode ser facilmente calibrado para tornar os trabalhadores mal pagos beneficiários líquidos sem desincentivo significativos ao trabalho (é só combinar um subsídio formal relativamente alto com taxas de imposto baixas ou nulas para esses trabalhadores).

Quanto ao sistema "tipo subsidio salarial" tem o problema oposto ao RSI: incentiva demasiado ao trabalho; como o subsidio só é pago a quem tenha trabalho e, para os trabalhadores piores remunerados, até é maior quanto mais se trabalhe, isso leva a que um empregador que pague baixos salários tenha provavelmente mais facilidade em arranjar empregados do que se não houvesse subsídio nenhum - ou seja, um subsidio aos baixos salários facilmente se transforma, na prática, de um subsidio aos trabalhadores que recebem baixos salários em um subsidio aos patrões que pagam baixos salários.

Ainda sobre este tema dos vários tipos de sistemas de subsidiação redistributiva, o meu post de 2013, O RBI pode fazer baixar os salários?

[É possível que, nos próximos dias, escreva mais qualquer coisas, aqui e/ou no Vias, sobre as reservas de Louçã ao RBI]