Thursday, December 15, 2005

A Democracia Participativa na América

O comentário do João Galamba acerca da "tradicao participativa significativa" nos EUA fez-me lembrar de um texto:

(2) Public offices to be elective, to the greatest extent. It is not only members of the deliberative assemblies who should be elected. Judges, high-level functionaries, officers of the militia, supervisors of education, managers of public works, should also be elected. This may be a bit of a shock to countries with an ultra-reactionary Napoleonic tradition. But certain specifically (...) democracies, the United States, Switzerland, Canada, or Australia for example, have conserved the elective character of a certain number of public functions. Thus, in the United States the sheriff is elected by his fellow citizens.

Isto não a tem a ver exactamente a ver com a questão da democracia participativa (em rigor, é mais uma generalização da democracia representativa), mas anda lá perto. Quem será o autor dessa passagem tão filo-anglo-saxónica e tão "anti-Napoleonica"? Tocqueville? Não, é mesmo Ernest Mandel (o texto é "Marxist Theory of the State"), um dos principal mentores da corrente trotskista representada em Portugal por Louçã e pela APSR (a USFI). E a direita ainda nos acusa de "anti-americanismo primário"...

Já agora, os conservadores pró-americanos (que venham cá parar por intermédio do que parece ser o meu principal patrocinador) que se dêm ao trabalho de ler o texto de Mandel até são capazes de gostar de um certo ponto, se o encontrarem...

6 comments:

Joao Galamba said...

Miguel,

Na mouche! Mas diz-me uma coisa. Nao achas que se cedemos ao comunitarismo que a democracia participativa necessariamente implica (nao pode ser a escala nacional, acho que mesmo o Rousseau defendia a limitacao da sua sua vontade geral) vamos ter de engolir uns sapitos que irao inevitavelmente ocorrer em comunidades mais conservadoras? Se calhar e esse o preco que temos de pagar para termos participatory self-rule...

André Azevedo Alves said...

"principal patrocinbador". Gostei dessa. :-)

Poderá um libertário de esquerda ter patrocinadores? :-)

Miguel Madeira said...

João Galamba:

Isso é, mais ou menos, o problema que eu tinha no post sobre os crucifixos (não sei se o João o leu): eu sou contra os crucifixos; e sou a favor dos regulamentos das escolas serem feitos em "plenário". E se um plenário decidir ter crucifos nas salas?

Joao Galamba said...

Pois...e' a vida. Acho que um Estado deve ter algumas leis validas para todos (nao se pode excluir ninguem pela raca, orientacao sexual,...os limites e sua interpretacao dependem do bom senso de cada um)mas descentralizar o maximo possivel (sem por em causa a propria natureza do regime).

Em relacao as escolas, acho que nao faz muito sentido manter o centralismo burocratico, mas isto nao me torna defensor da privatizacao das escolas (ja tinha escrito algo semelhante no Metablog)

Um abraco
Joao

Miguel Madeira said...

Para falar a verdade, acho que esse "centralismo burocratico" de que se fala até é muito exagerado: as escolas devem ser o ramo da administração pública que, na prática, é mais descentralizado.

Há muito tempo que não sou professor e à ainda mais tempo que não sou aluno, mas a minha experiencia é que cada escola e até cada professor são bastante autónomos.

Anonymous said...

o problema é que a forma de descentralização podia ser melhor, na medida em que podia ter uma participação mais activa dos pais com os professores e alunos. caso contrario , e é o que acontece, há insucesso escolar.
a questão é que os pais pensam numa escola como uma "fabrica de doutores" ou um armazem de crianças, depois culpam os professores ao invés de participarem e não pode ser assim.

isto cria um ambiente autoritario e frio na escola, vêem a escola como algo desagradavel e obviamente que isso embrutece as pessoas. o adquirir conhecimentos e cultura não se torna um prazer pessoal, algo que pertence ao individuo, mas antes uma mera necessidade. criando-se pessoas "competentes" frustradas.

já vi uma experiencia na frança em que os pais participavam e os resultados foram bons, aproximou os pais dos filhos e os filhos da escola. as crianças saíam de lá com maior auto-estima, confiança e com sentido de solidariedade. não formaram apenas potenciais burocratas ou tecnicos, mas pessoas por inteiro.