Monday, December 26, 2005

Terrorismo, Esquerda e Direita (III)

Claro, poder-se-á argumentar: "Isso não interessa nada, esses assassínios de reis, principes, presidentes, etc. que sempre houve. O que estamos a falar com «terrorismo» são os atentados indiscriminados contras civis, à maneira do 11 de Setembro e do 11 de Março".

Mas, se for assim, a direita até terá mais responsabilidades no terrorismo que a esquerda: o terrorismo de esquerda, como o dos anarquistas do século XIX ou de grupos como as Brigadas Vermelhas, as FP-25 ou o Baader-Meinhoff, por regra, era dirigido contra alvos específicos: políticos, empresários, policias, militares, etc. Pelo contrário, nos anos 70, foi o terrorismo de direita que se especializou em pôr bombas no meio da multidão (p.ex. os atentados da "Ordem Nova" em Itália, como na estação de Bolonha).

E, pelos objectivos, faz sentido: o objectivo do terrorismo de extrema-esquerda é a "propaganda do acto", mostrar que os capitalistas, "politicos burgueses", etc. não passam de "tigres de papel", e, assim, preparar o caminho para a "revolução socialista". Desta forma, é natural que prefiram um terrorismo de "decapitação", visando sobretudo o topo do poder politico e económico (em principio, quanto mais importante for a vítima, mais vitorioso o terrorista de esquerda se sente).

Por seu lado, o objectivo do terrorismo de extrema-direita é criar um clima de insegurança que abra caminho a um "duce" ou um "fuhrer", um "salvador da pátria". Logo, faz sentido que se "especializem" em atentados indiscriminados.

3 comments:

sabine said...

"terrorismo de esquerda, como o dos anarquistas do século XIX ou de grupos como as Brigadas Vermelhas, as FP-25 ou o Baader-Meinhoff, por regra, era dirigido contra alvos específicos: políticos, empresários, policias, militares, etc. Pelo contrário, nos anos 70, foi o terrorismo de direita que se especializou em pôr bombas no meio da multidão (p.ex. os atentados da "Ordem Nova" em Itália, como na estação de Bolonha)". Não estará a simplificar demasiado a sua abordagem (ou seja, a fazer o mesmo que Henrique Raposo)?

Miguel Madeira said...
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Miguel Madeira said...

Talvez. Realmente, grupos palestinianos de esquerda (como a FDLP ou a FPLP) têm uma tradição de actos contra cívis israelitas (embora não tão violentos como os do Hamas). No entanto, creio que em casos em que o terrorismo é unicamente ideológico, sem conflitos nacionais à mistura (como é o caso palestiniano), a extrema-direita tem mais o hábito de recorrer a "matanças indiscriminadas" do que a extrema-esquerda.

Mas há um problema com este meu raciocinio: é que quase todo o terrorismo que há hoje em dia tem conflitos etnicos ou nacionais à mistura. Logo, se calhar, actualmente, pouco interessa eu estar a filosofar sobre o "terrorismo unicamente ideológico".