Saturday, January 09, 2010

A adopção de crianças por casais homossexuais

Confesso que sou um bocado agnóstico nesta questão (já agora, diga-se que não tenho a certeza que um referendo ao conjuntos dos militantes do Bloco de Esquerda sobre isso desse um "sim") - a minha inclinação seria mais para um sistema em que os casais homossexuais pudessem adoptar (ou, pelo menos, que cada um dos membros de um casal homossexual pudesse adoptar), mas que, em igualdade de circunstâncias, um casal heterossexual tivesse prioridade (tal como, na prática, os casais acabam por ter prioridade sobre os solteiros).

Em primeiro lugar, porque é que acho que esta questão deve ser separada da questão do casamento? Porque o casamento é uma relação voluntária, entre pessoas que decidem casar-se; a adopção (pelo menos da parte do adoptado) é uma relação involuntária. Assim, enquanto o casamento homossexual é um assunto que eu aceito sem sequer pensar nisso (tal como defendo a legalização da heroína independentemente de que efeitos possa ter sobre quem a consome), acha que a adopção por casais homossexuais é um assunto que deve ser pensado e os prós e contras ponderados.

Quanto a eventualmente ser inconstitucional essa discriminação entre diferentes casamento, como é alegado tanto à esquerda como à direita, é uma questão que para mim não me interessa nada (é triste quando as propostas politicas deixam de ser defendidas de acordo com os seus méritos intrínsecos e abstractos, para passarem a ser discutidas com base se são constitucionais ou não; se vivêssemos no Irão iríamos defender a teocracia islâmica, por ser constitucional?).

Agora, porque é que eu acho que os casais heterossexuais devem ter prioridade na adopção? Acharei eu que um casal heterossexual é melhor a educar os filhos do que um casal homossexual? Não, não acho. Mas é verdade que eu também acho que, em larga medida, não são os pais que educam os filhos, são os filhos que se educam a si mesmos, embora condicionados pelo meio exterior.

As razões porque acho melhor uma criança ser adoptada por um casal heterossexual:

- Não é raro, quando têm aquelas crises de adolescência que quase todos os adolescentes têm, que os filhos adoptados tenham uma fase de rejeição dos pais adoptivos, (nalguns casos passando a tratá-los por "Sr. Fernando" e "D. Felisberta" e coisas do género); no caso dos filhos adoptivos de casais homossexuais, se essa fase de rejeição ocorrer, suspeito que pode ser mais grave: o jovem, alêm de se auto-convencer (provavelmente sem razão) de que seria muito mais feliz se não tivesse sido adoptado ou se tivesse sido adoptado por outras pessoas, se calhar vai-se também auto-convencer (provavelmente sem razão) de que seria muito mais feliz se tivesse sido adoptado por um casal heterossexual.

- Posso estar completamente enganado, mas tenho a ideia de que muitas raparigas adolescentes falam com as mães sobre assuntos íntimos (já os rapazes praticamente não têm esse tipo de conversas com os pais). Se eu estiver correcto, não será complicado para uma adolescente ter dois "pais"? (as leitoras do blogue acham que isto faz algum sentido, ou acham que estou a delirar?)

- Finalmente, duvido que já haja estudos suficientes sobre os efeitos comparados de ser adoptado por um casal homossexual vs. por um casal heterossexual para se poder dizer que uma hipótese é melhor, pior ou igual que a outra; e, na dúvida, quando se trata de decisões que afectam terceiros (neste caso, o adoptado) é melhor errar pelo lado da prudência (por outro lado, é verdade que isso poder dar origem a um ciclo vicioso - poucas crianças adoptadas por casais homossexuais » amostra demasiado pequena para se tirar conclusões » na duvida, prioridade aos hetero » poucas crianças adoptadas por casais homossexuais).

Só consigo imaginar uma situação em que, para uma criança, seja melhor ser adoptada (mantendo tudo o resto igual) por uma casal homossexual do que por um heterossexual - se ele, ao chegar a uma certa idade, descobrir que é também homossexual, sentir-se-á muito mais à vontade para contar aos pais do que se tivesse pais heterossexuais (mas mesmo isso não é certo - em certos casos, um homossexual filho adoptivo de homossexuais pode se sentir mais constrangido em revelar-se em público, com medo que as outras pessoas digam que foram os pais adoptivos que o "converteram").

2 comments:

União Bestial said...

http://monarquialusitana.blogspot.com/2010/01/uniao-bestial.html

mescalero said...

Não estou de acordo, acho que estes argumentos contra são demasiado vagos para se poderem opor ao princípio que deve prevalecer numa adopção: são os afectos que podem fazer uma família, independentemente de como ela é constituída.
Se uma criança tiver condições materiais e for acarinhada o resto começa a tornar-se muito pequenino e irrelevante.