Sunday, February 24, 2013

"Temos uma guerra à porta e é a Europa que tem de à resolver"

Segundo o general Garcia Leandro, "O Norte de África vai precisar de uma campanha do género do Afeganistão. Os islamitas já passaram à guerrilha no Mali e no Niger e começam a atacar a Argélia. A Líbia está em polvorosa, a Tunísia instável e Marrocos atrapalhado. Isto é uma guerra prolongada, aqui ao lado, e são os europeus que têm de a resolver e basicamente os do sul" (Expresso).

Recordando a consagrada tradição portuguesa de "resolver" as guerras civis do Norte de África...


Friday, February 22, 2013

Thursday, February 21, 2013

Lincoln, o libertador dos escravos?

O mau serviço de “Lincoln”, por Charlie Post (Esquerda.net; versão original):

 [É] precisamente a “relutância” de Lincoln para liderar uma revolução profunda no Sul durante a Guerra Civil – e o papel decisivo da fuga em massa de escravos das plantações – que falta ao retrato hagiográfico de Spielberg e Kushner.

Não basta apenas argumentar que “Lincoln não é sobre tudo o que aconteceu durante a Guerra Civil”. A decisão de Spielberg e Kushner de focar apenas as maquinações parlamentares que envolveram a Décima-Terceira Emenda, fez um magnífico filme, mas criou uma visão de emancipação que tem profundas falhas. Em primeiro lugar, Lincoln é apresentado como um defensor consistente da abolição descompensada, imediata e permanente da escravatura – uma posição que ele só viria a abraçar em meados de 1862. Antes da sua decisão de emitir a Proclamação da Emancipação, Lincoln promoveu, sem sucesso, vários esquemas para a emancipação gradual, com a compensação dos proprietários dos escravos (em particular daqueles nos estados “fronteiriços”) e o envio de colonização de afro-americanos à América Central, às Caraíbas ou a África.

Em segundo lugar, o filme exagera muito quanto ao impacto da Décima Terceira Emenda. Muita da pesquisa histórica dos últimos 20 anos tem revelado que nos finais de 1864, a escravatura como base de produção no Sul estava morta.

Embora alguns dirigentes políticos Confederados possam ter acreditado que a “instituição singular” podia ser restabelecida, os próprios antigos escravos – através da sua ligação ao exército da União como espiões, trabalhadores e soldados e a auto-organização de sindicatos, apreensão de plantações abandonadas e outros – tinham destruído a escravatura. (...) Simplificando, a Décima Terceira Emenda reconheceu legalmente a realidade da luta de classes no Sul.

Monday, February 18, 2013

Uma nova crise hondurenha?

 e , por "boz"

2013 looking a lot like 2009

Constitutional Death Spiral in Honduras, por Rosemary Joyce e Russell Sheptak

"Django" vs. "Lincoln"

Race and slavery: A look at 'Lincoln' and 'Django Unchained', por Manuel Garcia (Al-Jazeera):

American slaves and ex-slaves are portrayed by Spielberg as a bunch of nicely dressed Black soldiers, who are nothing but secondary characters in the background of a much bigger stage and plot, where Lincoln, William Seward, Thaddeus Stevens and other white men define their futures without much input from them. The absence of Douglass, a consummate abolitionist whose opinions were always heard and on occasion supported by Lincoln is a historical calamity that excludes probably the most significant African-American protagonist altogether from a history he helped to write.

In Tarantino's world, on the other hand, slavery and race are exhibited through the lens of violence, blood and death. Django is a slave with attitude and panache. While in Lincoln white men fight for and against slavery mostly in civilised manners and in sanitised quarters, here they are killed left, right and centre, and in true Tarantinesque style, their blood splatters everywhere. More importantly, much more importantly, this is the main difference between these two films. The protagonist of Tarantino's film is a black man, a slave.

Django Unchained has been criticised because of its violent content, especially considering the recent shootings that have taken place in the US. However, that should not take away credit from Tarantino who, in my opinion, chose an honest path when he decided to portray American slavery as it really was - a nasty, violent business.

Those who find Mandingo fighting or a slave being killed by dogs revolting should know that violent instances like these were by no means extreme or extraordinary events. Across the Americas and on a daily basis, African slaves and their descendants were subject to punishments like these, and to some that were probably even worse.

In the Danish West Indies, for example, runaway slaves suffered a wide variety of punishments that went from being tortured with red-hot iron pincers to the loss of limbs and ears. For those who attempted to poison their masters, the penalty was to be broken down on a wheel.

In Brazil, the US and other parts of the New World, owners castigated disobedient slaves by dragging the
claws of a cat across their backs. In Cuba, there were cases where slaves were thrown in the middle of swarms of excited deadly wasps. This list of horrors could go on forever.  (...)

The choice between an idealised world where whites magnanimously free their slaves, and a violent one full of torture, blood and deaths where a slave takes revenge on the white men is yours.

Friday, February 15, 2013

Governo incentiva o empreendedorismo e a inovação

O Secretário de Estado da Saúde sobre as smartshops - "O problema é que, só em 2012, em 32 semanas, inventaram-se 26 novas drogas. É mais do que uma por semana. Sabemos que, do ponto de vista da descrição química – e esta é que a grande questão da definição do âmbito da proibição em termos legais – é que basta alterar um radical para ser uma droga nova e, portanto, sabemos que vamos ter de andar sempre atentos, seguir o fenómeno e continuar a proibir estas drogas".

Ou seja, o resultado prático dessas proibições é incentivar à invenção de novas substâncias, que não estejam cobertas pelas proibições existentes e assim possam ser livremente comercializadas durante algum tempo. Desta forma, em vez de haver à venda substâncias estáveis e conhecidas, que possam ser facilmente acompanhadas de uma lista de possiveis efeitos secundários e contra-indicações, o que há é produtos acabados de inventar e que ninguém sabe bem quais os seus efeitos.

[Post publicado no Vias de Facto; podem comentar lá se quiserem]

Monday, February 11, 2013

Os proibicionistas (II)

A 4 de janeiro, o parlamento aprovou, quase por unanimidade, uma resolução incentivando o governo a tomar medidas contra as chamadas "drogas legais" (ao que parece, as abstenções foram, não por discordância, mas por acharem que o que a resolução propunha já estava a ser feito).

Um dos aspectos mais relevantes dessa resolução é o ponto preconizando legislação que permita ao membro do governa com tutela sobre a pasta proibir, provisoriamente, substancias que não sejam proibidas por lei. A meu ver, isso é não só uma limitação da liberdade individual, mas também uma redução da democracia, ao transformar a proibição de determinadas substancias em algo que passará a ser feito por despacho, sem sequer ir à Assembleia da República, supostamente o orgão responsável por fazer leis (e cuja legitimidade democrática é, apesar de tudo, mais directa do que a dos ministros)

A esse respeito, relembro o que escrevi aqui.

Note-se que, na discussão da resolução, João Semedo, do BE, levantou a questão de um dia ter que se discutir a "se a atual política das drogas, de despenalização do consumo e de criminalização da sua comercialização, não atingiu, hoje, os limites nas sociedades como aquela em que vivemos", e, do outro lado, os deputados do CDS Adolfo Mesquita Nunes e Michael Seufert apresentaram uma declaração de voto levantando dúvidas sobre as politicas de proibição. Mas o certo é que votaram todos a favor (diga-se que esse voto a favor me parece mais aceitável nos deputados do CDS do que nos do BE; afinal, os primeiros, para começar nem sequer sei qual é exactamente a opinião deles sobre o estatuto legal dos vários tipos de drogas, e de qualquer maneira eles estão lá a representar eleitores que votaram no CDS e nas ideias normalmente associadas a esse partido, não neles individualmente; já os segundos representam um partido tradicionalmente oposto às politicas proibicionistas, logo penso que, no mínimo, uma abstenção ou mesmo um voto contra seria a posição mais correcta).

Provavelmente a caixa dos comentários vai ser inundada de leitores a falarem dos perigos das drogas atualmente legais, das idas aos hospitais, dos comas, etc. Mas, na minha opinião, a questão não deve ser "a substancia X é perigosa para a saúde?", mas sim as questões "Temos o direito de proibir alguém de prejudicar a sua saúde consumindo X, se for essa a sua intenção?" e/ou "Proibir o consumo de X é a melhor maneira de limitar os danos que esse consumo pode causar?" (a primeira questão pode ser importante do ponto de vista cientifico, e sobretudo do ponto de vista de quem está a pensar se vai consumir ou não X, mas não acho que deva ser essa a questão importante do ponto de vista dos decisores políticos).

[Post publicado no Vias de Facto; podem comentar lá]