Wednesday, December 31, 2008

SNS e "atendimento ao cliente"


JM fala muito de restaurantes e fast-foods, mas esquece-se de outro negócio: as companhias de seguros. Imagine-se que JM tem um seguro de automóvel contra todos os riscos (a maior parte das pessoas não, mas vamos imaginar que tem); vamos supor que o JM tem um acidente, vai à oficina e fez uma carrada de reparações no seu carro que pouco ou nada tem a ver com o acidente. Será que a companhia de seguros lhe vai aceitar pagar as reparações sem mais nem menos?

Ou imagine-se que o JM tem um seguro de saúde, apanha uma doença e pede para o seguro pagar um tratamento que nem sequer é apropriado para essa doença. Será que o seguro lho pagaria? Pelo que tenho ouvido de pessoas que tem seguros de saúde, provavelmente não.

É claro que no caso do SNS há um factor que confunde a questão - é que o Estado é simultaneamente a oficina (o prestador do serviço) e a seguradora (o pagador do serviço). No entanto, se tivessemos um cenário em que os hospitais fossem privados e o estado se limitasse a pagar os cuidados (suspeito que o liberalismo do JM seja mais radical que isso), o natural seria o estado não pagar cuidados inúteis (como antibióticos para "curar" gripes).

Tuesday, December 30, 2008

Re: Krugman e os ciclos


Isto lembrou-me um bocado uma conversa que tive há dias com um amigo meu (penso que em transito entre o trotskismo-morenismo e o autonomismo-operarismo) acerca da crise da indústria automóvel, em que concluímos que era um bocado contraditório nuns dias criticar-se a civilização do automóvel, e noutros defender o apoio do Estado aos fabricantes de automóveis em crise para salvar empregos.

Da mesma forma, reconheço que há aqui uma tensão latente entre a "esquerda económica" keynesiana, defensora do estimulo ao consumo como forma de animar economia, e a "esquerda cultural" anti-consumista (tal como, de certa forma, a "direita cultural").

No entanto, convém distinguir dois formas de anti-consumismo (que até podem coexistir na mesma pessoa) - uma que defende "consumir menos e poupar mais", e outra "consumir menos e trabalhar menos" (que poderemos associar às tais "direita" e "esquerda culturais"", respectivamente*) .

Agora, se aceitarmos a tese keynesiana que a redução do consumo deprime a economia (é um "se" grande, admito, mas para já vamos assumir que sim), estas duas formas de anti-consumismo terão diferentes consequências:

- o anti-consumismo "de direita" (trabalhar e poupar mais) originará os problemas clássicos das recessões económicas: teremos a economia em queda e gente à procura de trabalho sem o arranjar

- já o anti-consumismo "de esquerda" (trabalhar menos e gastar menos) talvez seja inofensivo: realmente a redução do consumo irá deprimir a economia; mas se essa redução do consumo for acompanhada por uma redução da oferta de trabalho (por exemplo, tirando anos sabáticos de vez em quando, ou passando a trabalhar em horário reduzido), em principio já não teremos o tal problema do desemprego, já que a redução da procura de trabalho é capaz de ser compensada pela redução da oferta de trabalho**

*isto não é uma regra rígida - tenho a ideia que os comunistas ortodoxos costumam estar mais próximos da mentalidade de trabalhar e poupar do que da de trabalhar menos e gastar menos (mas talvez os comunistas ortodoxos não contem como "esquerda cultural"); por outro lado, uma certa direita "aristocrática-camponesa" (praticamente extinta hoje em dia) às vezes também criticava a mentalidade "de classe média" de fartar-se de trabalhar para subir na vida (ver, por exemplo, The Menace of the Herd [pdf], de Erik von Kuehnelt-Leddihn)

**recordo que as expressões "oferta de trabalho" e "procura de trabalho" significam o contrário daquilo que parece: "oferta de trabalho" são os trabalhadores que se disponibilizam para trabalhar, e "procura de trabalho" são as empresas que procuram trabalhadores

«Ministra diz que lei anti-tabaco fez reduzir em 5 por cento os fumadores»


Mas o objectivo da lei não era proteger os não-fumadores do "fumo passivo"? Se o objectivo era esse (e não, digamos, proteger os fumadores deles próprios, como se faz às crianças), é irrelevante se o número de fumadores aumentou ou diminuiu.

As origens do Islamismo

A respeito deste post de Palmira Silva, recomendo este texto de Razib (um ateu norte-americano originário do Bangladesh), onde também aborda a questão da origem do islamismo.

Diga-se que já há muitos anos li que, tecnicamente, o islamismo poderia ser considerado uma seita cristã - as únicas diferenças seria recusar a Santissima Trindade e a divindade de Jesus, mas pelo menos a primeira também é recusada por algums seitas cristãs (ou pelo menos consideradas como tal).

Mas suspeito que nem os muçulmanos nem os anti-muçulmanos gostariam dessa ideia.

Krugman e os ciclos

"It’s true that the economy is currently shrinking. But that’s the result of a slump in private spending. It makes no sense to add to the problem by cutting public spending, too." NYT


Suponho que esta pretende ser uma tentativa de explicação: as pessoas de repente deixam de consumir e isso provoca a recessão.

Daí podermos falar de "Depressão". As pessoas entram em Depressão, deixam de consumir e os economistas no fundo são psiquiatras que tentam que o consumidor saia da sua Depressão e volte a consumir.

E eu que pensava (assim como o Galbraith) que era necessário sermos menos consumistas  e libertar as pessoas do hipnotismo provocado pela publicidade e marketing. Pois logo logo no primeiro momento de alguma vitória real do anti-consumismo e.... zás... é preciso pôr o pessoal outra vez...a consumir alegremente e nada deprimido.

Monday, December 29, 2008

Causas da crise financeira - diferentes perspectivas

Was Risk Misperceived, Misrepresented, or Misallocated?, por Mark Thoma:


We know that excessive risk taking was a factor in the financial crisis, but why people were willing to take on excessive risk?

There are several explanations for this. In one class of models, misperception of risk generates excessive demand for risky assets, housing and financial assets in particular. There are a variety of stories about why risk is misperceived, ratings agencies failed to do their jobs, risk assessment models turned out to be wrong, people believed that housing prices would continue to go up, and so on. The key is that in this class of models the misperception of risk gives people a false sense of security, and induces them to take on more risk than they can handle.

In another class of models, risk is misrepresented. Here, there is out and out fraud or other practices where, essentially, people know that the house is made of cards, but advertise it as being made of bricks anyway, and assure people that it is perfectly safe. Fraud could cause the victim to misperceive risk, so this is related to the first class of models, but I am trying to separate excessive risk taking brought about by intentional misrepresentation from excessive risk taking brought about by errors in judgment (or, perhaps more accurately in some cases, from negligence).

In a third class of models risk is misallocated, and there are two strands of risk misallocation models. In one, the mechanism that causes people to take excessive risk is knowledge that the government will step in and cover any potential catastrophic losses (risk is reallocated from the private to the public sector). This is the moral hazard problem, and the claim that government intervention led to excessive risk taking has been leveled pretty much wherever government has played a role in housing and financial markets, even when the role has not been very large.

In the second strand of risk misallocation models, the cause of excessive risk taking is market failure due to principal agent problems (e.g. when mortgage brokers are paid according to the number of loans that pass through their hands rather than according to the quality of the loans, and hence have no incentive to monitor risk). Market failures of this type can cause excessive risk taking because the person taking the risks does not face the full consequences of their decisions when the risky decisions turn out to be wrong. Why not take a big risk if you win on the upside, but you don't have to pay the full cost (or any of the costs) on the downside? However, unlike the first strand of risk misallocation models where there is too much government intervention, here the problem can arise when government fails to regulate markets properly, so the problem is often the result of too little government intervention rather than too much.

In a final class of models government is also blamed, but this time government is a bully that forces banks - through regulation or moral suasion - to make loans that are overly risky. The very thoroughly discredited models blaming the Community Reinvestment Act for the financial crisis fit into this class, and the models blaming the CRA are the most prominent member of this category. For that reason, I'll call these models "misguided" and set them aside.

So which was it, misperception, misrepresentation, or misallocation? In the following, Tyler Cowen focuses on the misallocation of risk due to government induced moral hazard. My own view is that misallocation of risk did play a role, but I think risk misallocation due to market failures, i.e. the failure of regulation, was more important in generating the crisis than moral hazard brought about by implicit or explicit government guarantees.


Bailout of Long-Term Capital: A Bad Precedent?, por Tyler Cowen:

The financial crisis is a result of many bad decisions, but one of them hasn’t received enough attention: the 1998 bailout of the Long-Term Capital Management hedge fund. If regulators had been less concerned with protecting the fund’s creditors, our current problems might not be quite so bad. ...

At the time, it may have seemed that regulators did the right thing. The bailout did not require upfront money from the government, and the world avoided an even bigger financial crisis. Today, however, that ad hoc intervention by the government no longer looks so wise. With the Long-Term Capital bailout as a precedent, creditors came to believe that their loans to unsound financial institutions would be made good by the Fed — as long as the collapse of those institutions would threaten the global credit system. Bolstered by this sense of security, bad loans mushroomed. ...

The Long-Term Capital episode ... was important precisely because the fund was not a major firm. At the time of its near demise, it was not even a major money center bank, but a hedge fund with about 200 employees. Such funds hadn’t previously been brought under regulatory protection this way. After the episode, financial markets knew that even relatively obscure institutions — through government intervention — might be able to pay back bad loans.

The major creditors of the fund included Bear Stearns, Merrill Lynch and Lehman Brothers, all of which went on to lend and invest recklessly and, to one degree or another, pay the consequences. But 1998 should have been the time to send a credible warning that bad loans to overleveraged institutions would mean losses, and that neither the Fed nor the Treasury would make these losses good.

What would have happened without a Fed-organized bailout of Long-Term Capital? ... Fed inaction might have had grave ... economic consequences,... and the economy would have probably plunged into recession. That sounds bad, but it might have been better to have experienced a milder version of a downturn in 1998 than the more severe version of 10 years later.

In 1998, there was no collapsed housing bubble, the government’s budget was in surplus rather than deficit, bank leverage was much lower, and derivatives markets were smaller and less far-reaching. A financial crisis related to Long-Term Capital, however painful, probably would have been easier to handle than the perfect storm of recent months.

The ad hoc aspect of the bailout created a precedent for what has come to be called “regulation by deal” — now the government’s modus operandi. Rather than publicizing definite standards and expectations for bailouts in advance, the Fed and the Treasury confront each particular crisis anew. ... So far, every deal — or lack thereof, in the case of Lehman Brothers — has been different.

While there are some advantages to leaving discretion in regulators’ hands, this hasn’t worked out very well. It has become increasingly apparent that the market doesn’t know what to expect and that many financial institutions are sitting on the sidelines, waiting to see what regulators will do next. Regulatory uncertainty is stifling the ability of financial markets to engineer at least a partial recovery. ...

Sugestão de leitura


Mais informação sobre o assunto no Dossier Volkswagen do Esquerda.Net.

Sunday, December 28, 2008

Violência nas escolas

O Diário de Noticias escreve:


Eu não sei a que dados eles se referem, mas, se é este relatório da Escola Segura [pdf] (que é a única coisa que consigo encontrar através do ME) o que lá diz é um bocado diferente (pág. 11):

(clicando, o quadro deve aumentar)

Os dados, efectivamente, são muito parecidos com os reportados pelo DN (1092 alunos e 332 professores e funcionários vítimas de agressão - os mesmos números que a imprensa divulgou). No entanto, em sitio nenhum lá diz que houve 1092 casos agressões (ou tentativas) resultantes de violência entre alunos, como diz o DN (só se esse dado está noutro relatório mais completo não disponível na net). Diz, efectivamente, algo muito parecido, mas não isso.

Friday, December 26, 2008

O novo caso da escola do Porto


Thursday, December 25, 2008

Momento picuinhas

No DN de ontem, escreve-se:

«Sem Roseta e sem BE, o risco do PS perder Lisboa é elevado ao quadrado»

A intenção do autor, claramente, é dizer que, sem o apoio da esquerda, o risco do PS perder a Camara de Lisboa aumenta bastante.

Mas, na sua tentativa de fazer uma metáfora matemática, esqueceu-se de uma coisa: o risco do PS perder a CML é menor que 1 (se o risco fosse igual a 1, não seria um risco, seria uma certeza; e penso que nem seria possível o risco ser maior que 1). Ora, um valor menor que 1 elevado ao quadrado não aumenta, diminui (por exemplo 0,3 elevado ao quadrado é 0,09).

Tuesday, December 23, 2008

Protestos na Islandia



Note-se que eu não faço ideia se estes protestos têm algum impacto de massas ("à grega") ou se são apenas meia-duzia de gatos pingados (de qualquer forma, estamos a falar de um país com menos habitantes que o Algarve).

Sunday, December 21, 2008

Desenho inteligente?

Rick Warren, o pastor escolhido por Obama para fazer uma espécie de homilia (ou lá o que é) na sua tomada de posse:

Mais noticias da Grécia - ataque policial ao Politécnico de Atenas iminente?

On the Greek Riots › #32, 16:06: Athens Polytechnic occupation under imminent threat:

A few moments ago one of the pro-vice-chancellors of the Athens Polytechnic announced to the people inside the occupied building that the control of the building is no longer with the university senate and that it has been passed on to an attorney general instead. Anarchist radio 98 FM reports that the senate has ordered the university guards to leave their positions.

There is a general assembly happening right now at the Athens Polytechnic, with people deciding whether they should leave the building or not.

What the pro-vice-chancellor claimed to have happened is absurd and 100% illegal even by the state’s own laws. What we are all fearing is that a police operation inside the Polytechnic is imminent. This would be the first time in over a decade that such an operation takes place - and the first time ever that police enter university grounds with a mass operation without prior permission by the senate.

Saturday, December 20, 2008

Apriorismo e Ciclos

Entretanto fui apanhado em duas frentes de discussão nas caxas de comentários.


Aqui no Ruitavares.net:  Como tirar interesse a um debate
e no
Portugal Contemporâneo: Confusão mental

Mas depois voltarei aos pontos levantados pelo Miguel Madeira.

Entretanto para uma crítica (um célebre artigo de Bryan Caplan) e refutação da crítica deixo aqui referências:

The Mises Institute receives a constant stream of correspondence from around the world, and in this one item keeps coming up again and again. People often ask whether there have been any responses to Bryan Caplan's essay "Why I'm not an Austrian Economist" (thanks to Google, the version on his personal site is far more widely circulated than the one that appeared in the Southern Economic Journal).

The answer is yes. See

Navegando pela internet

Os passeios que se podem fazer:

- Começa-se pela Santa Aliança

- Passando por este post do Miguel Vale Almeida, chega-se a este artigo sobre as piratas Anne Bonney e Mary Read

- Depois, pode-se ir ao artigo da wikipedia sobre Anne Bonny e daí para o filme Anne of the Indies (acho que vi esse filme, para aí em 1984/85)

-Filme esse que é um filme "swashbuckler" (tradução aproximada - "capa e espada"); um elemento típico desses filmes é a figura da "dama em perigo", ou "damsel in distress" (estranha reviravolta - há uns sites atrás estávamos em mulheres que se dedicavam à pirataria...), expressão que provavelmente apareceu nas histórias de "cavaleiros andantes"

- nas histórias, por vezes os cavaleiros andantes por vezes tinham a ajuda de "homens selvagens da floresta", e daí podemos ir para o almas (plural: almasuud), um ser lendário (?) da Mongólia e da Ásia Central ex-soviética, parte homem, parte macaco (alguns autores especulam que possa ser uma população sobrevivente de Neanderthais)

- como se imagina, fazer uma pesquisa no Google sobre o "almas" pode ser complicado, mas, com um pequeno truque, pode-se chegar a alguns artigos interessantes, como este ou sobretudo este (embora seja conveniente ter cuidado com o que se lê na Net)

[claro que, caso haja alguém que faça efectivamente esta sequência de consultas, poderemos especular se não deveria arranjar formas melhores de ocupar os tempos livres]

Sugestão de leitura

On Fake Diseases

Opiniões sobre a Grécia

Salvem os ricos, por Rui Tavares
Grécia, «anarquistas» e outras coisas, por Rick Dangerous
Dia de acção internacional - Uma concentração de solidariedade com o movimento social grego e Esquerda radical? Hum…, por mescalero
Imagens dos tempos que correm, por Daniel Oliveira

Thursday, December 18, 2008

Gosto destas: "Where the Taliban Gets Their Money"

The subcontractors responsible for moving NATO supplies from Karachi to the forces in Afghanistan have reportedly paid millions of dollars in protection money, called the “Taliban Tax” by the Times, to keep militants from attacking them.

One company reported spending 25% of its security money to the Taliban, while another company is reportedly on such good terms with the militants that they send fighters to escort their convoys. It provides an interesting alternative explanation for the recent attacks on NATO vehicles around Peshawar, perhaps the depots fell behind on their protection fees. (AnWarBlog)

Wednesday, December 17, 2008

The Founding of the Federal Reserve

Murray N. Rothbard (o "pai" do austrian-libertarian-anarchism) fala sobre a história do complexo financeiro-industrial-político que deu origem ao Banco Central americano em 1913 - 16 anos depois dá-se a Grande Depressão após pela primeira vez ser possível a inflação crédito-monetária simultânea e generalizada por todo o sistema bancário ... devido ao Banco Central.



PS: Os argumentos rothbardianos são quase sempre passíveis de ser usados pela esquerda no que respeita à exposição de um certo conspiracionismo que dá origem a certas instituições estatistas no interesse do poder político e do poder económico à procura de protecções. De resto, eu acho que existem muitos bons argumentos à esquerda para pôr em causa o actual sistema monetário.
PS2: Em seguida vou começar a analisar os pontos levantados sobre a teoria austriaca dos ciclos económicos.

Ainda a teoria austriaca do ciclo económico (II)

Uma critica que me parece fazer sentido à teoria "austríaca" do ciclo económico é a de Gordon Tullock[pdf].

Não me refiro aquela parte do "The second nit has to do with Rothbard's apparent belief that businesspeople never learn. One would think that business people might be misled in the first couple of runs of the Rothbard cycle and not anticipate that the low interest rate will later be raised. That they would continue unable to figure this out, however, seems unlikely. Normally, Rothbard and the other Austrians argue that entrepreneurs are well informed and make correct judgments. At the very least, one would assume that a well-informed business person interested in important matters concerned with the business would read Mises and Rothbard and, hence, anticipate the government's action". Essa parte é também a essência da crítica de Bryan Caplan e já foi respondida por muita gente, do Carlos Novais ao Roderick T. Long (e o próprio Tullock considera isso apenas um "nit" - um detalhe).

Refiro-me à parte principal da critica: a de que a maior parte dos investimentos (sobretudo os que são afectados pela taxa de juro) são custos fixos. Imagine-se que um investidor, a contar com um juro de 3% decide construir uma fábrica e, com um aumento do juro para 5%, a fábrica deixa de ser viável. Isso são más noticias para o investidor, que ficou a perder dinheiro (ou deixou de ganhar, se ele tiver investido o seu próprio dinheiro na fábrica). No entanto, isso não é razão para a fábrica fechar - a despesa já foi feita, e não é por a fábrica deixar de funcionar que o industrial recupera o seu dinheiro. Ou seja, como escreve Tullock, o aumento dos juros deveria causar muitas falências e suicidios de empresários, mas não teria efeitos significatos sobre o PIB ou o desemprego.

Ainda a teoria austriaca dos ciclos económicos

Outro problema que vejo na teoria "austríaca" é que não é muito claro o que eles entendem por moeda.

Por um lado, é frequente ver os "austríacos" justificarem a suas teses apresentando o elevado crescimento, em países como os Estados Unidos (e imagino que também na UE), de variáveis como o M3 e o M4 (e pegam bastante no facto do FED ter deixado de divulgar os números do M3).

O que é que esses M's significam?

M1 - dinheiro na carteira + depósitos à ordem

M2 - M1 + depósitos a prazo

M3, M4, etc - M2 + umas aplicações financeiras esquisitas

Num sistema de padrão-ouro com reservas integrais, como os "austríacos" defendem, o M1 passaria a ter que corresponder a barras de ouro no cofre (estou assumindo que as reservas a 100% apenas se aplicariam aos depósitos à ordem), pelo que ficaria congelado (ou, mais exactamente, cresceria ao mesmo ritmo que as reservas de ouro crescem - para aí uns 2% ao ano). Mas, actualmente, o M2, o M3, etc., têm crescido a taxas muito diferentes (e frequentemente superiores) do M1 (se assim não fosse, nem se percebia qual o problema do FED ter deixado de divulgar o M3). Logo, "congelar" o crescimento do M1 não iria congelar o crescimento dos outros agregados monetários (afinal, se actualmente crescem mais depressa que o M1, porque não haveriam de continuar a crescer?).

Ora, como vimos no segundo parágrafo, os austriacos parecem considerar que os agregados monetários relevantes são o M3 ou o M4. Assim, como é que o restabeleceimento do padrão-ouro (que, directamente, apenas afecta o M1) irá resolver o problema dos ciclos económicos?

Teorias "austriaca" vs. keynesiana das recessões

Se bem percebo, a teoria "austriaca" sobre as recessões é mais ou menos assim:

Uma expansão monetária artificial (provocada pelos bancos centrais e/ou pelo mecanismo das reservas fraccionais) provoca, temporariamente, taxas de juro mais baixas do que deveriam ser. Assim, em função desses juros baixos, os empresários tendem a fazer investimentos em sectores/tecnologias cujo período de recuperação do capital é prolongado. Quando os juros sobem ao valor realmente consentâneo com a poupança real da economia, esses investimentos revelam-se inviáveis e a recessão é, basicamente, a liquidação desses investimentos mal-feitos num período de expansão artificial.

A teoria keynesiana será mais ou menos assim (note-se que eu estou a sintetizar o Keynes com os seus discípulos das décadas seguintes):

Por qualquer razão, os indivíduos e/ou empresas numa dada economia passam a querer ter mais dinheiro liquido do que têm; assim, procuram gastar menos (seja em consumo, seja em investimento) do que ganham. Mas como a despesa do Francisco é o rendimento do Manuel e vice-versa, isso origina uma quebra total dos rendimentos, com cada um a querer acumular dinheiro. Face à queda na procura, os vendedores vão, gradualmente (muito por tentativa-e-erro), baixando os preços. Ao fim de algum tempo, essa baixa dos preços vai fazer que o valor real da moeda detida pelos agentes suba, fazendo-os outra vez voltar a gastar dinheiro. Durante o tempo que demora até os preços descerem a um nível suficientemente baixo para reactivar a economia, temos uma recessão.

Diga-se que é possível concordar com o diagnóstico keynesiano sobre a causa das recessões sem concordar com a receita keynesiana para sair delas (deficit orçamental e/ou expansão monetária) - creio que era basicamente a posição de Milton Friedman nos anos 50/60, que achava que até ao governo saber que havia uma recessão, decidir que medidas tomar e pô-las em prática, já a recessão teria passado.

Agora, o meu ponto: ao que sei, os "austriacos" defendem que a teoria económica deve ser desenvolvida a partir do raciocinio lógico-dedutiva, e não por métodos empiricos. Mas, numa perspectiva estritamente lógica, a teoria keynesiana das recessões parece-me fazer tanto sentido como a "austriaca" (que falha lógica ela tem?). Até é possível que, no mundo real, as recessões surjam pelas razões "austriacas" e não pelas keynesianas, mas isso já é o tal método empírico.

Noticias da Grécia






Tuesday, December 16, 2008

"Dissident physics"

Access to Energy

Stephan Kinsella (LvMIBlog): I just discovered that the old issues of Access to Energy, the wonderful pro-nuclear, pro-science, pro-technology, pro-free enterprise newsletter formerly published by the late, great Dr. Petr Beckmann are online. Beckmann was a brilliant electrical engineering professor and libertarian who died of cancer in 1993 (see his poignant, "Goodbye, Dear Readers").

After his death, AtE was taken over by Dr. Art Robinson, who also, I believe, is a proponent of home-schooling. Beckmann wrote the intriguing book Einstein Plus Two (Amazon), and founded, with physicist Howard Hayden, the dissident physics journal Galilean Electrodynamicshere; further dissident physics links). Hayden later began to publish his own pro-energy newsletter, The Energy Advocate. (brochures and further Beckmann info

One of Beckmann's most important works--and one sorely in need of revision and republication today, in view of the continued strangling of nuclear power and the irrational push for "soft" energy--is his The Health Hazards of NOT Going Nuclear (Amazon). See also his pamphlets The Non-Problem of Nuclear Waste and Why "Soft" Technology Will Not Be America's Energy Salvation.

TV SuperB Patra - Grécia



[Versão em inglês aqui]

Sondagens

Este é a sondagem de Dezembro do Correio da Manhã/Aximage:


INTENÇÃO DE VOTO LEGISLATIVO

PS: 36,5% (Maio) / 35,2% (Junho) / 32,5% (Julho) / 33,1% (Agosto) / 35,7% (Setembro) / 38,0% (Outubro) / 38,6% (Novembro) / 37,9% Dezembro)

PSD: 29,0% (Maio) / 30,3% (Junho) / 32,0% (Julho) / 31,1% (Agosto) / 28,9% (Setembro) / 28,5% (Outubro) / 26,1% (Novembro) / 25,9% Dezembro)

(%)NOV 08DEZ 08
INSCRITOS100,0100,0
Abstenção 41,8 41,8
VOTANTES100,0100,0
PS 38,6 37,9
PSD 26,125,9
CDU 9,08,4
CDS 4,76,2
BE 9,19,5
OBN (*)5,05,0
Indecisos 7,57,1

(*) - Corresponde a outros(s), votos em branco e votos nulos

Não percebo é o critério usado para a ordem em que os partidos aparecem.

Sunday, December 14, 2008

Feudalismo, capitalismo e democracia

Talvez nem toda a gente tenha ouvido falar da ilha de Sark. Até há pouco tempo, era dos últimos redutos do feudalismo na Europa Ocidental: a ilha era governada por um "Senhor" hereditário (vassalo da Rainha de Inglaterra) e por um conselho de 39 proprietários rurais (correspondente aos 39 lotes em que a ilha foi inicialmente dividida nos tempos da rainha Isabel I.

Entretanto, dois milionários britânicos (os irmãos Barclay, proprietários, entre outros, do Daily Telegraph e da Spectator, e também de grande parte dos hotéis da ilha) compraram uma ilhota lá (que constitui um dos tais lotes em que a ilha está dividida) e, após alguns conflitos com o "Senhor", apresentaram queixa ao Tribunal Europeu dos Direitos do Homem sobre a não-democraticidade do regime. Assim (numa espécie de "revolução burguesa" feita via regulamento comunitário), Sark passou a ser uma democracia, com um parlamento eleito.

Dia 10 de Dezembro foram as eleições: os "conservadores", ligados ao antigo regime, tiveram uma vitória esmagadora, derrotando os candidatos "progressistas" (essencialmente quadros das empresas dos irmãos Barclay).

Demonstrando a sua fidelidade aos princípios democráticos porque lutaram, os irmãos Barclay reagiram à derrota eleitoral fechando os seus negócios na ilha, lançando cerca de 1/6 da população no desemprego.

Um post num blogue britânico sobre o assunto:The power of capital: elections on Sark.

Friday, December 12, 2008

Workers' Republic: Scenes From a Successful Factory Occupation



Via pilsenprole.

A história de quem venceu nos mercados


De bónus, oferece 10 conselhos a quem queira investir com segurança.

Inteligência e rendimento

Alguns textos do blog Half Sigma, onde o autor expõe as suas conclusões de que uma maior inteligência estará associada a um menor rendimento, se controlarmos para o nivel de educação (isto é, entre pessoas com as mesmas habilitações - sobretudo no nível de licenciatura - as mais inteligentes tenderão a ganhar menos).

O autor chegou a essa conclusão estudando os dados do General Social Survey, uma base de dados de consulta livre on-line com informação comparável a um censo em miniatura da população dos EUA.

High IQ may cause LOWER income
High IQ does not result in higher income, part II
Higher intelligence causes lower income (for people with bachelor's degrees), part III


Algumas notas:

  • Embora os titulos falem em "Q.I.", o que está realmente a ser medido são os resultados num teste de vocabulário (o WORDSUM) feito nas entrevistas do GSS (imagino que seja algo com perguntas do género "Ouro está para prata como mar está para...").
  • Em termos absolutos, continua a haver uma associação positiva entre o rendimento e "inteligência" (medida pelo WORDSUM), já que as pessoas com maiores resultados no WORDSUM têm, por regra, mais habilitações.

Diga-se que o Half Sigma pode ser considerado um blogue de extrema-direita, e o autor começou por fazer essas pesquisas com a intenção de provar a tese contrária (de que a elite económico-social era composta pelos individuos "geneticamente" mais inteligentes), mas, face aos dados, mudou de opinião, o que demonstra uma honestidade intelectual maior que a minha (eu, quando vou à procura de estatisticas para provar alguma tese minha, das duas uma: se as estatisticas comprovam a minha opinião, faço um post sobre o assunto e apresento as tais estatisticas; se não comprovam, simplesmente não faço nada).

Thursday, December 11, 2008

Momento poético

The world's great age begins anew,
The golden years return,
The earth doth like a snake renew
Her wintry weeds outworn:
Heaven smiles, and faiths and empires gleam
Like wrecks of a dissolving dream.
A brighter Hellas rears its mountains
From waves serener far;
A new Peneus rolls his fountains
Against the morning star;
Where fairer Tempes bloom, there sleep
Young Cyclads on a sunnier deep.
A loftier Argo claims the main,
Fraught with a later prize;
Another Orpheus sings again,
And loves, and weeps, and dies;
A new Ulysses leaves once more
Calypso for his native shore.
O write no more the tale of Troy,
If earth Death's scroll must be--
Nor mix with Laian rage the joy
Which dawns upon the free,
Although a subtler Sphinx renew
Riddles of death Thebes never knew.
Another Athens shall arise,
And to remoter time
Bequeath, like sunset to the skies,
The splendour of its prime;
And leave, if naught so bright may live,
All earth can take or Heaven give.
Saturn and Love their long repose
Shall burst, more bright and good
Than all who fell, than One who rose,
Than many unsubdued:
Not gold, not blood, their altar dowers,
But votive tears and symbol flowers.
O cease! must hate and death return?
Cease! must men kill and die?
Cease! drain not its dregs the urn
Of bitter prophecy!
The world is weary of the past--
O might it die or rest at last!
Hellas (extracto), por Percy Shelley

E ainda há quem diga que o marxismo está morto, que o Congresso Karl Marx foi uma sessão espírita, etc.

Wednesday, December 10, 2008

Madrassas e castigos corporais


Não se percebe é porque o conservador Times está tão incomodado com isso - afinal, fazendo lá uma pesquisa sobre "corporal punishment", grande parte dos artigos até parecem ser a favor.

Ocupação de fábrica nos EUA (III)

Um blog aparentemente bom para seguir o caso da ocupação de um fábrica em Chicago (que parece já ter tido resultados) é este: PilsenProle.

Tuesday, December 09, 2008

Animais não-humanos e "justiça distributiva"

Estudo: Cães também sentem ciúmes e percebem injustiça

Os cães podem sentir uma forma simples de ciúmes e respondem com irritação a um tratamento injusto, segundo um estudo publicado nesta segunda-feira nos Estados Unidos.

Assim, um cão pode recusar-se a dar a pata se constatar que outro cão é recompensado por tê-lo feito e ele não o é, mas não chegará ao ponto de ficar irritado se a recompensa recebida não for equivalente, segundo este estudo austríaco publicado pela Academia Americana das Ciências (PNAS).

O estudo, "The absence of reward induces inequity aversion in dogs", está aqui (como é usual nestas coisas, apenas o "abstract" está aberto ao público).

Ocupação de fábrica nos EUA (II)

Mais algumas noticias sobre o assunto:

Ocupação de fábrica nos EUA

Trabalhadores despedidos continuam ocupando fábrica em Chicago:

Washington, 9 dez (EFE).- Mais de 200 trabalhadores de uma fábrica de portas e janelas em Chicago continuam hoje uma invasão de suas instalações, em um protesto por demissões abruptas que se transformou em símbolo da crise econômica em todo o país.

(...)

A invasão, que começou no fim de semana, "transformou-se em um símbolo nacional dos trabalhadores golpeados pela crise econômica", afirmou o canal WLSTV7 da televisão local.

Ontem, o governador de Illinois, Rod Blagojevich, ordenou que todas as agências do Estado suspendessem suas transações com o Bank of America até que se chegue a uma solução que proteja as remunerações e outros benefícios dos empregados.

Os invasores, organizados no sindicato United Electrical, Radio and Machine Workers, se revezam para manter a fábrica ocupada e afirmaram que não permitirão que a empresa ou seu credor, Bank of America, retirem equipes do local até que paguem as férias e a compensação pelas dispensas que devem.

Este tipo de tática sindical quase não se via nos Estados Unidos desde a Grande Depressão dos anos 1930 e alguns dirigentes assinalaram que ela pode tornar-se mais comum se a economia continuar se deteriorando.

A empresa respondeu que, em 16 de outubro, apresentou um plano para encerrar ordenadamente suas operações, processo que se completaria com fim da manufatura, em janeiro de 2009.

O Bank of America rejeitou esse plano em 18 de outubro, e também uma versão revisada em 29 de outubro. No dia 26 de novembro, finalmente, o banco rejeitou a solicitação da empresa de fundos para o pagamento de férias.

Este banco recebeu US$ 25 bilhões do Governo federal em outubro, como parte do plano de salvamento das instituições financeiras (...).

Sunday, December 07, 2008

Mas afinal, o quen é que a direita queria do Sá Carneiro?

Blasfemos, atlânticos e insurgentes andam entretidos com o Sá Carneiro. Mas não é sobre isso que vou escrever. Vou antes concentrar-me no que Rui Ramos escreveu há uns tempos:

Aqueles que nele se revêem deveriam talvez comemorar outro Novembro, o de 1977, quando Sá Carneiro, ao abandonar a presidência do PSD, iniciou a ruptura com o pacto de transição instituído em Novembro de 1975. Uma ruptura que a morte de Sá Carneiro, a 4 de Dezembro de 1980, impediu fosse totalmente consumada.
Onde é que Rui Ramos pretende chegar com isto? Se se refere ao fim do Conselho da Revolução e constrangimentos afins, tal foi realizado em 1982 (e creio que, de qualquer maneira, tal extinção a prazo já estaria prevista no Pacto MFA-Partidos). Logo imagino que a ruptura a que Rui Ramos se refere tenha a ver com os artigos da Constituição que falavam nas "nacionalizações irreversíveis", da "reforma agrária", da marcha para uma "sociedade sem classes", etc.

Em primeiro lugar, acho que interessante que os liberais, por um lado tão defensores da "democracia limitada", sejam tão críticos da carga ideológica que a Constituição portuguesa tinha (tem?). Afinal, eles também são a favor de uma "Constituição ideológica" (que, por exemplo, garanta a protecção da propriedade privada) - o único problema deles parece-me ser com o conteúdo concreto da "carga ideológica" da Constituição, não com a ideia abstracta de uma Constituição ter "carga ideológica".

Mas não é esse o ponto que me interessa elucidar, mas outro - é que a tal carga ideológica manteve-se em 1982 porque o PS recusou alterá-lo, não havendo portanto os 2/3 necessários para tal. Em que medida a sobrevivência física de Sá Carneiro alteraria isso?

Só vejo um cenário (posso estar errado, mas parece-me o único cenário relativamente lógico) que pudesse explicar o raciocínio de Rui Ramos e dos seus admiradores: em primeiro lugar, eles estão assumindo que, se Sá Carneiro não tivesse morrido, Soares Carneiro teria sido eleito Presidente da República (parece-me um non sequitur, mas é um non sequitur tão usual numa certa área política que vou deixar isso de lado). Depois, com "uma maioria, um governo, um presidente", a AD iria romper a ordem constitucional (tecnicamente, estaríamos em presença de um golpe de estado, variante "auto-golpe") e submeter uma nova constituição a referendo, em vez de ter que obter uma maioria qualificada na A.R. (ou seja, excluir o PS do processo de revisão constitucional).

Assim (se o "sim" ganhasse o referendo) teríamos uma nova Constituição, feita à revelia dos partidos da oposição, que, entre outras coisas, provavelmente conteria uma nova lei eleitoral redutora da proporcionalidade (aquele "atenuem a pulverização partidária" não deixa dúvidas), permitindo à AD manter-se no poder mesmo com a maioria do povo português votando à esquerda, como era usual na altura (porquê? porque, devido às menores diferenças ideológicas, ao peso da história e à maior diferença entre o peso relativo entre os partidos, é muito mais fácil o PSD e o CDS entenderem-se do que o PS e o PCP; logo, um sistema de proporcionalidade reduzida, favorecendo artificialmente o partido/coligação mais votado/a iria favorecer a direita).

Não faço ideia se era isto que Sá Carneiro ou Rui Ramos tinham em mente, mas, se era, parece-me que não seria descabido chamar a isso "golpismo", "demodura" ou (para usar um termo muito popular pelas bandas do atlântico) "democracia iliberal" (é verdade que o regime de 1980, sujeito à tutela de uma junta-militar-com-outro-nome também não era plenamente democrático).

Não que isso desse razão às inscrições de parede de que ainda me lembro - "Queres o fascismo? Então vota AD!"; ainda há uma grande diferença entre isso e "fascismo"(a melhor analogia talvez fosse com a França gaullista dos anos 60).

Sobre a Tailãndia (e não só)

Thailand’s revolting middle-classes, num dos blogs do Finantial Times:

Remember all those theories about how the emergence of an urban middle-classes is a force for democratisation, because the bourgeoise will demand political rights? Well, in Thailand the precise opposite is happening. The urban middle-classes are rising up and demanding that democracy be rescinded.

Do not be fooled by the fact that the group occupying the airport call themselves thePeople’s Alliance for Democracy“. Their intent is clearly anti-democratic. They have just brought down an elected government. Their broader demands are for Thailand’s directly-elected parliament to be replaced by a legislative body that is 70% appointed. Sondhi Limthongkul, a Thai tycoon (Thaicoon?), who is the group’s de facto leader says bluntly that - “Representative democracy is not suitable for Thailand.”

The middle-class backers of the PAD hate the fact that under universal suffrage, the votes of the rural poor in the north of Thailand are usually decisive (...).

The implications for China are fascinating. There too the urban middle-class seem to be emerging as a conservative force, suspicious of democracy and the peasant power that it might unleash.

Saturday, December 06, 2008

A crise politica no Canadá

Este texto do Molly'sBlog (um blogue anarquista canadiano) já é velhinho (isto é, é de terça-feira passada), mas diz algumas coisas sobre o assunto.

O PoliBlog e a "categoria - Canadá" do Fruits & Votes também têm muita informação sobre o assunto.

Friday, December 05, 2008

A "democracia burguesa" em crise?


Claro que comparar a situação tailandesa (que parece estar a viver um golpe militar por procuração) com a do Canadá (em que o primeiro-ministro, à beira de sofrer uma moção de censura, pediu à Governadora - a representante da Rainha - para começar mais cedo as "férias" do parlamento, ou coisa ssim, algo perfeitamente legal, ainda que de legitimidade discutível) talvez seja como comparar um tigre com um gato, mas...

Sobre Bailouts

Thursday, December 04, 2008

Depression Era Poetry: Peter Schiff Analogies



Via Takimag

Diferenças culturais

"But Prohibition was not completely erased, and to this day there are still places in the United States where you can't get a drop to drink. Take Thornton's home state of Alabama.(...) Alabama's pockets of "dryness" were of concern to German car manufacturer Mercedes-Benz, when it set up a factory in the state in the 1990s.

"I worked for the governor's office at the time, and around 40 executives came over from Germany," Thornton said. "The governor's office thought they would be concerned about the labor force, the cost of electricity, transportation. "Their major concern was about beer," he said.

"Somali Pirates Thrive After U.S. Helped Oust Their Islamic Foe"

Dec. 4 (Bloomberg) -- IIn 2006, militant supporters of the Islamic Courts Union, an alliance of Sharia tribunals, won control of Somalia and imposed religious law. “Under the Courts, there was literally no piracy,” says Hans Tino Hansen, chief executive of Risk Intelligence, a maritime security consultant in Denmark. Then the U.S. helped drive out the Muslim rulers to prevent the East African country from becoming a terrorist haven, leaving behind a lawless chaos in which piracy has flourished. “It’s a bad mistake to look at Somali events through the prism of international politics,” says Richard Cornwell, an Institute for Security Studies researcher in Pretoria. “The U.S. turned an internal Somali conflict into part of the global war on terror.

Wednesday, December 03, 2008

Sinais: "First Parliament Raid in 366 Years "

"Dec. 3 (Bloomberg) -- Until last week, no one in the U.K. had dared search Parliament since 1642, when such an act led to the beheading of King Charles I.

Then on Nov. 27, police investigating government leaks arrested opposition lawmaker Damian Green, 52, raided his parliamentary offices and seized his computers.

“It’s without precedent,” said David Butler, a fellow at Nuffield College, Oxford University. “They were bloody fools to do it.” (..)

Green’s arrest highlights tension rooted in Britain’s unwritten constitution, which has evolved for a thousand years. Although Parliament is a palace owned by the crown, the monarch has been barred from the House of Commons since the 1642 incident. Today she addressed lawmakers of both chambers from her throne in the upper House of Lords.

Civil War Spark

The episode almost four centuries ago began when Charles I entered the chamber with soldiers to search for five lawmakers who resisted his claim of a divine right to rule. Speaker of the House William Lenthall refused the king’s demand to identify the lawmakers so they could be arrested.

In the ensuing civil war, Parliament’s supporters defeated the king’s. A plaque in Westminster Hall in Parliament marks the spot where Charles was tried before his 1649 execution. To this day, lawmakers pledge loyalty to the Queen while upholding their right to challenge the government."

Entretanto, na India


Não faço ideia se a decisão dos religiosos muçulmanos de rejeitar os terroristas, argumentando que os seus actos violaram os principios islâmicos, é teologicamente correcta (afinal, Maomet não foi exactamente um pacifista). Mas, de qualquer maneira, é bom sinal que eles tenham essa opinião.

Sobre o centralismo lisboeta

Este post de Rodrigo Moita de Deus e a discussão a que deu origem fez-me lembrar de um facto distante.

Até à criação da Telecom Portugal (mais tarde Portugal Telecom), os serviços telefónicos em Lisboa e Porto eram da responsabilidade dos TLP - Telefones de Lisboa e Porto. No resto do país, eram da responsabilidade da "Direcção-Geral de Telecomunicações" dos CTT. Sabem qual a cidade onde a DGT tinha mais funcionários? Em Lisboa, onde não tinha actividade (mas como ficava lá a sede...).

Beneficios fiscais para os velocípedes

O João Branco do 5 dias lançou uma petição para que os beneficios fiscais para os carros eléctricos se apliquem também às bicicletas (a pedal ou com pequenos motores eléctricos). E, realmente, querem melhor energia renovável que uma bicicleta a pedal?
A petição pode ser assinada aqui.

Tuesday, December 02, 2008

Publicação do "Anarchist FAQ"

Mais exactamente, do 1º volume da edição em papel do "Anarchist FAQ".

Combate ao pessimismo

Esperemos que o Sócrates não imite a maneira letã.

Monday, December 01, 2008

"Mudança ou continuidade"

Nuno Gouveia no atlântico sobre a administração Obama:

A nomeação de Hillary Clinton poderá suscitar algumas dúvidas, nomeadamente na articulação que fará com Obama na implementação da agenda do Presidente. Mas importa referir que, em termos de política externa, está à direita no Partido Democrata.

[A] manutenção de Robert Gates à frente do Pentágono (...) é um sinal que nada de substancial mudará nos próximos anos no Iraque e Afeganistão. Ou seja, haverá uma progressiva retirada do Iraque, mas sem comprometer os sucessos alcançados pela "surge" de David Petraeus; e o Afeganistão será a nova prioridade militar dos Estados Unidos, a exemplo do que já tinha vindo a acontecer nos últimos tempos. Sendo objectivo e pragmático, Obama compromete-se a terminar o que Bush iniciou. Para quem desejava mudanças radicais nos Estados Unidos, elas não virão do DOD ou do Departamento de Estado.

Efeitos da hierarquia sobre a cooperação

Hierarchy, altruism and gender por Chris Dillow.

Imposto sobre a gasolina


O artigo é feito a pensar na realidade norte-americana, mas penso que grande parte dos seus argumentos a favor de altos impostos sobre a gasolina (ou sobre os combustiveis em geral) são de aplicação geral.

Mas há uma passagem que discordo totalmente: a de que esse imposto pesa mais sobre os ricos, já que estes consumirão mais gasolina. Em termos absolutos, acredito que seja; mas, em termos relativos, o imposto sobre a gasolina provavelmente pesa muito mais no orçamento de uma familia de classe média-baixa do que no de uma rica (suspeito que alguém que ganhe 1000 contos por mês não gasta 10 vezes mais gasolina do que quem ganhe só 100 contos).