Monday, December 31, 2007

A "eficiência" da banca portuguesa (III)

Em comentário ali em baixo, Carlos G. Pinto escreve que a "a funcao economica dos bancos e' dar lucro".

Vamos ver isto por outro ângulo: qual é a função de um bancário? Claro que a questão pode ter várias resposta, conforme a perspectiva: para o bancário, em principio, a sua "função" é ganhar um ordenado; para o banco que o contrata, a "função" do bancário é desempenhar um certo conjunto de tarefas, etc.

Ou seja, quando eu digo que a "função económica dos bancos é pôr em contacto quem tem dinheiro para aplicar com quem quer pedir dinheiro emprestado" e quando o CGP diz que "a funcao economica dos bancos e' dar lucro" estamos ambos certos e errados: da perspectiva do banco, eu estou errado e o Carlos certo - a função do banco é ter lucro (tal como a do bancário, da sua perspectiva, é receber um ordenado); da perspectiva dos clientes, eu estou certo e o Carlos errado - a função é, ou aplicar as poupanças (da perspectiva de quem deposita), ou conceder empréstimos (da perspectiva de quem pede emprestado).

Assim, da perspectiva do serviço que prestam aos clientes, um banco é tão mais eficiente quanto menor for a diferença entre juros activos e passivos; e penso que também da economia no seu todo, já que uma maior diferença entre taxas activas e passivas significa maiores "custos de transacção" entre quem tem dinheiro para aplicar e quem precisa dele.

Sunday, December 30, 2007

Good dress sense - and poor pay - are in fashion

Um ensaio de 2005 sobre a importância das chamadas "soft skills" ("facilidade de comunicação", "motivação", etc.) no mundo profissional (no contexto do Reino Unido):

There is, though, something more sinister about this attenuation of the term "skill". When we look closely at so-called generic skills, they are not what any reasonable person would regard as skills: they are personal traits that can readily be moulded into the characteristics required by an employer. They are the skills that ensure a subservient workforce that does what it is told and that will work for low pay.

Sociedade infantilizada?

Ontem, no Expresso/Cartaz, vinha uma peça sobre o tema "A grande indústria está a infantilizar a sociedade. As crianças comportam-se como adultos, e os adultos querem divertir-se como crianças."

Talvez um pouco a contra-corrente, recordo o que escrevi aqui:
Estive a ler o "Tudo o que é mau faz bem", de Steven Johnson, aonde se argumenta que os jogos de computador/video, a televisão, etc. estão a contribuir para nos tornar mais inteligentes, em aparente contraste com os que falam da "estupidificação" e "infantilização" da cultura popular (p.ex., George Will, cuja uma passagem a respeito da "infantilização" é referida logo no principio do livro).

Mas será que as duas coisas, o aumento da inteligência e a "infantilização" não serão duas faces da mesma moeda? Afinal, em regra, as espécies animais mais inteligentes são aquelas que demoram mais tempo a atingir a maturidade (compare-se o Homem, que demora, no mínimo, uns 14 anos a se tornar adulto, com a mosca drosofila, que fica adulta em 8 dias). Assim, até faz todo sentido que o aumento da inteligência esteja associado a comportamentos considerados "infantis" (como haver gente na casa dos trinta "viciada" em jogos de computador).
E também este post de Chris Dillow sobre o fenómeno dos "adultos-garotos"(kidults):
Richard Herring's piece on kidulthood omits an important point - that the kidult on his skateboard and the "mature" adult in his suit and tie are equally stupid.

The folly and pathos of the kidult lies in the fact that he wants something - youth, hipness - that is both unattainable and of dubious value. Do you really want to be young again, with your naivete, gaucheness with girls, unformed tastes and insecurities?

But in this, the kidult is little different from the besuited 40-something professional. To be still chasing money, power and authority two decades after leaving university is pathetic, in the proper sense of the word. To have failed to see in 20 years that these are mere trinkets of frivolous utility suggests that one is incapable of learning anything about society or human nature.

In this sense, there's wisdom in kidults. At least they see that conventional professional success means nothing of substance.
[só uma nota a respeito do "gaucheness with girls" - se calhar até haverão "trintões" quase tão desajeitados com as mulheres como na adolescência, com a agravante de terem menos disponíveis]

Enquanto a direita anda entretida com o Lincoln...



A fábula da formiga, da cigarra e de mais uns bichos

Saturday, December 29, 2007

Sugestão de leitura

Genéricos (não, não estou a falar de medicamentos)

Mas também tem a ver com a questão da propriedade intelectual.

Se irem a este meu post das séries televisivas da geração de 73, hão de reparar que muitos dos vídeos foram retirados do youtube. P.ex, indo ao link do genérico dos "Soldados da Fortuna" agora diz "This video is no longer available due to a copyright claim by NBC Universal" (uma curiosidade - na página para que o youtube redirecciona há um item "Videos being watched right now"; não sei se foi puro acaso ou se é sinal de alguma coisa, mas o único vídeo relacionados com as presidenciais norte-americanas - e um dois dois únicos vídeos "sérios" - que apareceu nessa rubrica era do candidato do meu novo colega de blog Carlos Novais e do leitor Filipe Abrantes).

Independentemente da questão sobre a legitimidade da propriedade intelectual (ou da outra, já agora), não me parece nada inteligente para a NBC impedir a exibição do genérico da série (embora isso abra espaço para versões mais criativas): em primeiro lugar, penso que isso não lhe rouba mercado nenhum, já que não há nenhum mercado para ver - a pagar - genéricos de 2 minutos de series de televisão; em segundo, para o mercado que realmente interessa (DVDs com os episódios), haver imagens dos genéricos das séries a circular na net até deve ter um efeito positivo (quem os ver pensar "olha, há quanto tempo não via esta malta; será que há DVDs com os episódios?"); e, em terceiro, se as "cópias perfeitas" são retiradas do youtube, aquelas que têm uma alteraçãozinha qualquer (estilo um logotipo qualquer no canto do ecrã) permanecem, logo isso pouco afecta. Claro, também não sei se o tal genérico foi retirado a pedido da NBC, ou se foi o próprio YouTube a retira-los por medida preventiva (não me admirava nada que tenha sido o segundo caso).

[Antes que alguém comente : "«Os soldados da fortuna»? Isso não é uma série um bocado militarista/reaccionária/etc.?", chamo a atenção para o episódio 22 da 2ª série]

Friday, December 28, 2007

Another Death in Rawalpindi


"However imperfect Benazir and PPP might have been, at least they relied on the ballot box, and not on the Kalashnikov and the Qur'an. However corrupt the PPP might have been, at least they could be booted out in one election or other."

Thursday, December 27, 2007

A "eficiência" da banca portuguesa (II)

Costuma-se também dizer que a banca é um dos sectores em Portugal com maior produtividade (e que isso será um indicador da tal eficiência, dinamismo, etc.).

Bem, eu não faço ideia se a produtividade da banca é alta ou baixa, mas, mesmo que seja alta, isso não é necessariamente sinal de eficiência:

A produtivade da banca é calculada dividindo o "produto bancário" pelo número de trabalhadores; o "produto bancário" tem lá muitas coisas, mas essencialmente é composto pela diferença entre os juros que os bancos cobram ao devedores e os que pagam aos depositiantes e mais o que os bancos cobram pelos serviços que prestam (as chamadas "comissões").

Assim, vamos decompor a produtividade:

produtividade = (produto bancário)/(número de trabalhadores) =
= [(produto bancário)/(volume de negócios)]*[(volume de negócios)/(número de trabalhadores)]

Agora, como é que a produtividade se relaciona com a eficiência? Se uma alta produtividade for causada por um elevado rácio (volume de negócios)/(número de trabalhadores), é um sinal de eficiência, já que quer dizer que os bancos conseguem gerir elevados capitais recorrendo a pouco pessoal. Por outro lado, se o que tivermos for um elevado rácio (produto bancário)/(volume de negócios), então é um sinal de ineficiência, já que quer dizer que os custos de intermediação (as comissões, a diferença entre juros activos e passivos, etc.) têm um elevado peso em função do valor das operações financeiras.

Agora, como já disse, eu não faço a mínima ideia se a produtividade dos nossos bancos é alta ou baixa e, caso seja alta, também não faço ideia da sua situação face aos dois "sub-racios" que defini (talvez algum leitor do blogue se inspire com este post e decida mergulhar nas demonstrações de resultados e relatórios de actividade dos nossos bancos para ver se chega a alguma conclusão).

A "eficiência" da banca portuguesa

É frequente dizer-se que o sector banvário português é uma ilha de eficiência, de dinamismo, etc., comparado com o resto da economia nacional.

Mas, pelos vistos, segundo um estudo da Arthur D. Little (será o aqui apresentado?), os bancos portugueses são os segundos menos eficientes da Europa (ou será apenas da UE?).

BCP: público ou privado?

João Miranda a 27/12/2007:

Tiago Barbosa Ribeiro está convencido que Carlos Santos Ferreira e Armando Vara foram escolhidos pelo mercado. Mas isso só seria possível se existisse liberdade no sector bancário português. A verdade é que as escolhas dos accionistas foram condicionadas ao que o Estado lhes impôs. Para perceber isso é necessário ter em conta os seguintes dados:

1. Para se fazer negócios em grande escala em Portugal é necessário ter a benção do Estado. Grande parte dos accionistas do BCP têm outros negócios e estão condicionados por essa via.


(...)

4. Os accionistas não escolhem Carlos Santos Ferreira e Armando Vara pelas suas capacidades de gestão numa economia de mercado. Escolhem-nos (se os escolherem) pelas suas ligações políticas pelo simples facto que num mercado condicionado as ligações políticas são mais importantes que as qualidades de gestão.

É por isso uma ilusão pensar que foi o mercado que escolheu Carlos Santos Ferreira e Armando Vara. A escolha destes senhores resulta da eliminação das restantes opções e das suas qualidades políticas.

João Miranda a 12/04/2006:

Lembro ao António Dornelas que numa economia de mercado os salários dependem de 3 factores:

1. Da oferta e da procura de profissionais com um determinado perfil;

2. Da capacidade de um determinado profissional produzir valor para os accionistas;

3. Do gosto dos accionistas para perder dinheiro.

Ora, se os administradores do BCP ganham uma média de 3,5 milhões de euros por ano é porque:


- esse é o seu preço de mercado

- cada administrador consegue produzir um valor que é superior a 3,5 milhões de euros por ano.

Conclusão: quando os accionistas do BCP escolhem dois gestores do PS para dirigir o banco, isso não é o mercado a funcionar, já que o sector é bastante regulamentado e, de qualquer maneira, os accionistas privados do BCP têm outros negócios que dependem de uma boa relação com o Estado. Mas os salários dos administradores do BCP já eram a "economia de mercado".

Note-se que eu não estou a dizer que os altos ordenados dos administradores bancários tenham alguma coisa a ver com o grau de regulação a que o sector está sujeito (ou com os negócios que os accionistas têm com o Estado) - na verdade, pode-se tão facilmente imaginar mecanismos pelos quais a regulamentação possa fazer subir os ordenados dos administradores como outros pelos quais possa fazer descê-los. Mas é interessante que, para os liberais, um sector económico (neste caso, a banca) seja um mercado livre para umas coisas e não o seja para outras.

Wednesday, December 26, 2007

St. Nick in the Big City


St. Nicholas was a super-saint with an immense cult for most of the Christian past. There may be more icons surviving for Nicholas alone than for all the other saints of Christendom put together. So what happened to him? Where’s the fourth-century Anatolian bishop who presided over gift-giving to poor children? And how did we get the new icon of mass consumerism in his place?

Well, it’s a New York story.

In all innocence, the morphing began with the Dutch Christians of New Amsterdam, who remembered St. Nicholas from the old country and called him Sinte Klaas. They had kept alive an old memory — that a kindly old cleric brought little gifts to the poor in the weeks leading up to the Feast of the Nativity. While the gifts were important, they were never meant to overshadow the message of Jesus’s humble birth.

But today’s chubby Santa is not about giving to the poor. He has had his saintly garb stripped away. The filling out of the figure, the loss of the vestments, and his transformation into a beery fellow smoking a pipe combined to form a caricature of Dutch peasant culture. Eventually this Magic Santa (a suitable patron saint if there ever was one for the burgeoning capitalist machinery of the city) was of course popularized by the Manhattanite Clement Clarke Moore published in “A Visit From St. Nicholas,” in The Troy (New York) Sentinel on Dec. 23, 1823.

The newly created deity Santa soon attracted a school of iconographers: notable among them were Thomas Nast, whose 1863 image of a red-suited giant in Harper’s Weekly set the tone, and Haddon Sundblom, who drew up the archetypal image we know today on behalf of the Coca-Cola Company in the 1930s. This Santa was regularly accompanied by the flying reindeer: godlike in his majesty and presiding over the winter darkness like Odin the sky god returned.

The new Santa also acquired a host of Nordic elves to replace the small dark-skinned boy called Black Peter, who in Christian tradition so loved St. Nicholas that he traveled with him everywhere. But, some might say, wasn’t it better to lose this racially stereotyped relic?

Actually, no, considering the real St. Nicholas first came into contact with Peter when he raided the slave market in his hometown and railed against the trade. The story tells us that when the slavers refused to take him seriously, he used the church’s funds to redeem Peter and gave the boy a job in the church.

And what of the throwing of the bags of gold down the chimney, where they landed in the stockings and little shoes that had been hung up to dry by the fireplace? Charming though it sounds, it reflected the deplorable custom, still prevalent in late Roman society when the Byzantine church was struggling to establish the supremacy of its values, of selling surplus daughters into bondage. This was a euphemism for sexual slavery — a trade that still blights our world.

As the tale goes, Nicholas had heard that a father in the town planned to sell his three daughters because his debts had been called in by pitiless creditors. As he did for Black Peter, Nicholas raided his church funds to secure the redemption of the girls. He dropped the gold down the chimney to save face for the impoverished father.

This tale was the origin of a whole subsequent series of efforts among the Christians who celebrated Nicholas to make some effort to redeem the lot of the poor — especially children, who always were, and still are, the world’s front-line victims. Such was the origin of Christmas almsgiving: gifts for the poor, not just gifts for our friends.

Tuesday, December 25, 2007

Viragem à direita neste blogue

Não, não sou eu que vou virar à direita (como escrevi aqui, "não se assustem [sobretudo o José Manuel Faria], não faço tenções de me tornar liberal").

Mas agora, além de um libertário de esquerda, a meio caminho entre o marxismo e anarquismo (eu), este blog vai passar a ter a colaboração de um "anarco-capitalista", o Carlos Novais do Wars4StatusQuo, da Causa Liberal e do Portugal4RonPaul. Ainda por cima, penso que é um simpatizante do que me parece ser a tendência mais à direita do "anarco-capitalismo", a facção do Mises Institute/LewRockwell.com (não sei se o CN concordará com a minha caracterização, quer da suas posições, quer das posições do grupo LRC).

[Hum, se o "vento sueste" virar à direita, passará a ser apenas "sul", ou "suão", não?]

Monday, December 24, 2007

Marroquinos no Algarve

Artigo de Fernando Gregório, no Esquerda.Net:

Nós que vivíamos no litoral algarvio antes dos anos 70, antes da invasão (essa sim, real) do caos urbanístico imposto por um crescimento desregulado e anárquico do sector turístico, lembramo-nos do fluxo migratório dos algarvios que procuravam uma vida melhor em...Marrocos.

Life after Peak Oil

Artigo via Economist's View:

If we had no fossil energy, then we would be forced to rely on an essentially unlimited amount of solar power, available at five times current energy costs. With energy five times as expensive ... we would take a substantial hit to incomes. Our living standard would decline by about 11 percent. But we would still be fantastically rich compared to the pre-industrial world. ... Our [dos EUA] income would still be above the current living standards in Canada, Sweden or England[*]. Oh, the suffering humanity! At current rates of economic growth we would gain back the income losses from having to convert to solar power in less than six years. ...

O artigo refere-se aos efeitos de um hipotético esgotamento dos combustíveis fósseis; no entanto, imagino que o mesmo se aplique a um abandono deliberado do uso de combustíveis fósseis

*o autor fala em "living stadards" do Canadá, Suécia e Inglaterra; imagino que ele se refira ao rendimento médio desses países (esses países têm um rendimento mais baixo que o dos EUA sobretudo porque trabalham menos dias e horas; se, com o esgotamento dos combustiveis fósseis, os EUA passassem a ter um rendimento comparável com o actual rendimento sueco, os norte-americanos continuariam a trabalhar mais do que trabalham os actuais suecos, logo não teriam verdadeiramente o mesmo "nível de vida".

Mudanças no blogue

Depois do Natal, é capaz de haver algumas mudanças neste blogue.

Para já, deixou-os com algumas citações para reflexão:

André Azevedo Alves: "O Miguel Madeira é o único bloquista que eu conheço que revela potencial para vir a ser um liberal (ainda que na variante anarco-capitalista...)"

João Rodrigues (em comentário no Spectrum): "uma provocação irresistível que pretendo desenvolver porque acho que tem elementos de verdade: sabem o que é um anarcocapitalista? um libertário de esquerda depois de ter estudado economia na Nova"

[estava convencido que iria encontrar algum post do Henrique Raposo a acusar os "libertários de direita" de serem parecidos com a esquerda, mas andei à procura e não achei - ou este serve?]

Não se assustem - não faço tenção de me tornar liberal (olhem para os posts sobre o salário mínimo) e muito menos anarco-capitalista. São apenas tópicos para reflexão dos leitores.

Salário mínimo (III)

O modelo que apresentei ali abaixo pode ser explicado de uma forma talvez melhor:

O salário mínimo faz com que, por um lado, alguns postos de trabalho sejam melhor pagos do que seriam sem salário mínimo, e, por outro, faz com que outros nem cheguem a ser criados (até aqui é parte consensual na teoria económica).

Mas, como os trabalhadores que continuaram com emprego agora ganham mais, é possível que façam menos trabalho extraordinário, que alguns deixem de ter dois empregos e passem a ter só um, que outros se reformem mais cedo (já que passam a ter mais poupanças com que complementar a reforma), que os filhos de outros comecem mais tarde a trabalhar nas férias, etc. Assim, há também alguns postos de trabalho que ficam vagos.

Agora, será que os postos de trabalho que o salário mínimo liberta são mais dos que destrói? Sinceramente, acho que não. Mas, se formos fazer uma análise unicamente teórica, sem recurso a empirismos (de que João Miranda parece não ser adepto), então não podemos dizer que "se o salário mínimo tem impacto nos salários, então gera desemprego".

Sunday, December 23, 2007

A ASAE

Não seria uma melhor ideia se, em vez de se fechar os estabelecimentos que não cumprem as normas de higiene estabelecidas, se pusesse à porta um aviso bem visível dizendo "ATENÇÃO - Este estabelecimento não cumpre as normas regulamentares de qualidade e higiene"?

Quem lá continuasse a ir, falo-ia por sua conta e risco.

Exceptuar-se-iam cantinas de empresas e escolas, restaurantes que tivessem a concessão de actividade em locais públicos (p.ex., num pavilhão municipal) e outros estabelecimentos que tivessem uma clientela mais ou menos "cativa" (que continuariam a ser obrigados a cumprir as normas regulamentares).

Nota: eu chamei a este post "A ASAE" apenas para não complicar muito - a ASAE limita-se a aplicar as normas feitas pelo governo (duvido que esses regulamentos tenham ido ao Parlamento...) ou pela "Europa".

Saturday, December 22, 2007

Salário mínimo (II)


Será forçosamente assim? Não. Vejo pelo menos duas situações teóricas em que o salário minimo pode fazer subir os salários sem gerar desemprego.

Primeiro caso:

João Miranda representa a procura de trabalho* como uma curva (na verdade uma recta) decrescente (em que quanto mais alto é o salário, menos trabalhadores as empresas querem ter) e a oferta como uma curva (recta) ascendente (em que quanto mais alto é o salário, maior é a oferta de trabalhadores - ou, pelo menos, de horas trabalhadas).

Ora, se face à procura de trabalho não há grandes dúvidas a esse respeito, já o mesmo não pode ser dito da oferta: na realidade, podemos ter uma curva decrescente, em que, quanto menor o salário, maior a oferta de trabalho, porque haverá mais trabalhadores dispostos a fazer horas extraordinárias, a arranjar segundos empregos, etc.

E, assumindo curvas de oferta diferentes para diferentes trabalhadores (para uns crescente para um dado nivel salarial, para outros crescente), podemos perfeitamente ter uma curva da oferta de trabalho "errática", umas vezes crescente, outras decrescentes:


Neste cenário hipotético, teríamos dois possíveis pontos de equilíbrio no mercado de trabalho - o A e o B (há outro ponto de intersecção entre a oferta e a procura, mas é praticamente impossível haver lá um equilíbrio - basta o salário ser ligeiramente maior que o ponto de intersecção para termos mais procura que oferta, fazendo o salário subir ainda mais, até ao ponto A; se o salário for ligeiramente menor, descerá até ao ponto B).

Ora, num caso destes, estabelecer um salário mínimo até pode, simplesmente, fazer o salário praticado "saltar" do equilíbrio B para o A, sem criar desemprego nenhum.

Também podemos ter outra variante, em que realmente o salário mínimo crie desemprego, mas em que um aumento do salário mínimo reduza o desemprego (isso acontecerá se a oferta de trabalho for decrescente e mais elástica do que a procura):

Claro que há aqui dois pontos - em primeiro lugar, duvido que casos destes sejam muito frequentes; e, em segundo, mesmo que o sejam, é praticamente impossível a um decisor politico identificar uma situação dessas para saber se deve ou não aumentar o salário mínimo; ou seja, mesmo que um aumento do salário mínimo consiga, por esta via, aumentar os salários sem aumentar o desemprego, será por pura sorte.

No entanto, penso que demonstrei que é possível (talvez não provável, mas possível) o salário mínimo ter impacto nos salários sem gerar desemprego (ou um aumento do salário mínimo aumentar os salários sem aumentar o desemprego).

Como escrevi atrás, há mais outra maneira do salário mínimo poder subir os salários sem subir o desemprego - pode ser que nestes dias faça um post sobre isso.

*tenha-se presente que a "procura de trabalho" corresponde à "oferta de emprego" e que a "oferta de trabalho" corresponde à "procura de emprego".

Friday, December 21, 2007

A propósito de independências

Enquanto se fala na independência do Kosovo...


WASHINGTON (AFP) — The Lakota Indians, who gave the world legendary warriors Sitting Bull and Crazy Horse, have withdrawn from treaties with the United States, leaders said Wednesday.

"We are no longer citizens of the United States of America and all those who live in the five-state area that encompasses our country are free to join us," long-time Indian rights activist Russell Means told a handful of reporters and a delegation from the Bolivian embassy, gathered in a church in a run-down neighborhood of Washington for a news conference.

A delegation of Lakota leaders delivered a message to the State Department on Monday, announcing they were unilaterally withdrawing from treaties they signed with the federal government of the United States, some of them more than 150 years old.

Mas há aqui um certo paradoxo em irem pedir reconhecimento à embaixada de um país (a Bolívia) que está também em perigo de desagregação...


Adenda: procurando algo mais sobre o caso, não é claro se os sioux lakota proclamaram a independência (através, nomeadamente, das autoridades tribais eleitas), ou se foi apenas um grupo de autoproclamados "lideres". que o fez.

O caso dos porcos que morreram à fome

Neste caso que já foi muito falado, o que alguém devia ter feito era, pura e simplesmente, ter entrado pela suinicultura adentro (não haveria ninguém para o impedir, pelos visto) e tirar de lá os animais (nem que fosse para os "eutanasiar" a seguir) antes que eles tivessem morrido de fome e sede (e isto aplica-se também a um caso que deu na televisão há uns meses sobre vacas abandonadas num pasto). Note-se que, quando falo em "alguém", não me estou a referir às "autoridades", à Direcção-Geral de Veterinária, ou coisa assim - estou a falar mesmo de uma pessoa qualquer (ou de um grupo de pessoas, já que isso não me parece tarefa para um só).

Salário minimo

Continuando a discussão que vai aqui, aqui, aqui, aqui, aqui ou aqui, alguns posts sobre o assunto:

Monopsony, de Duncan Black
Modern Labor Economics And The Minimum Wage, de David Altig (este post linka para uma porção de textos sobre o assunto)

Thursday, December 20, 2007

O que é "populismo" (II)

Partition within a partition

The Solution to the Kosovo Problem, por Ivan Eland (talvez fosse melhor chamar-lhe "a solution" do que "the solution"):

(...)

A greater problem may be the fact that many Serbs regard Kosovo as the cradle of their civilization. In the Middle Ages, Serbian civilization was centered in the province; Serbian religious and historical shrines remain there, including Gazimestan, the site of an important battle lost to the Turks.

History shows that nationalities often are less willing to trade off or substitute for land of such "intangible" value than they might be to trade economically or strategically valuable land. So the Serbs may feel compelled to fight over these sites. They have certainly been unwilling to acknowledge the independence of Kosovo, despite international pressure.

The Russians have hinted that in the partition of Kosovo from Serbia, Kosovo should also be partitioned, and the land with the Serbian shrines should be returned to Serbia. Predictably, the Albanian majority rejects this idea, because they want the biggest country possible. Less understandably, the U.S. and its European allies reject it too. They want to defend prior boundaries, contain Serbia, and play hardball with Serbia's Russian ally. This stance is unwise.

A more stable, long-term solution is to adjust the border so that Serbia can retain some – if not most – of these critical historical and religious sites. Although the new state of Kosovo would be slightly smaller, it would be more secure against its stronger Serb neighbor. (...)

Wednesday, December 19, 2007

Quizz das greves gerais - resposta

Em resposta à questão que pus ontem, o dia da semana para que é mais frequente serem convocadas greves gerais é terça-feira: desde o 25 de Abril, houve 2 greves gerais à terça (11 de Maio de 1982 e 10 de Dezembro de 2002), uma à quarta (30 de Maio de 2007), uma à segunda (28 de Março de 1988) e uma à sexta (12 de Fevereiro de 1982). Ao contrário da I República (em que uma greve começou a 16 de Junho de 1917), não têm ocorrido greves gerais ao domingo.

Claro, se estivêssemos a falar de greves apenas da administração pública (e não gerais), não me admirava nada que o estereótipo das sextas-feiras se confirmasse, mas dá muito mais trabalho ir verificar porque: a) são muitas mais; e b) é dificil distinguir as greves "a sério" das "greves" que são declaradas apenas para justificar a falta dos trabalhadores que vão a alguma manifestação.

Sites que me foram recomendados

Movimento Autogestionário
Núcleo de Pesquisa e Ação Cultural

Fascismos

O blogue da Atlantico publicita o livro de Jonah Goldberg "Liberal Fascism" (recorde-se que nos EUA "liberal" significa "social-liberal", e que aquilo a que nós chamamos "liberais" lá são "libertarians").

Jonah Goldberg também escreve outras coisas (no contexto da batalha interna dentro dos Republicanos):

A friend sends this quote of the day along:

Your debate with Beinart made me remember this great Evelyn Waugh quote. It'd be interesting to hear a Ron Paul acolyte respond to this point:

"It is in the nature of civilization that it must be in constant conflict with barbarism. Very few empires have been the result of a deliberate ambition. They have grown, inevitably, because it has been found necessary to expand in order to preserve what is already held. The French had to annex Algiers because it was the only way in which the Mediterranean could be made safe from pirates. Empire moves in a series of 'incidents,' and these 'incidents' mean that it is impossible for a country to live in isolation. Barbarism means constant provocation."

From "We Can Applaud Italy" (1935), in The Essays, Articles and Reviews of Evelyn Waugh.
Update: Just for the record, the above post does not, in fact, constitute an endorsement of Waugh's applause for Italy. I just thought the quote was interesting.

Sim, ele meteu lá o "update", mas é caricato que alguém que, num dia acusa os "liberais" de terem raizes fascistas, noutro dia ir citar um texto originalmente escrito a favor de uma politica de Mussolini.

Já agora, não sei se não será mais fácil encontrar laços entre o conservadorismo norte-americano e Francisco Franco (a começar por Brent Bozell, um dos fundadores da revista onde Goldberg escreve) do que entre o "liberalismo" e Mussolini.

Tuesday, December 18, 2007

Quizz

Para que dia da semana é mais normal, no nosso país, convocar-se uma greve geral (a questão é só para depois do 25 de Abril - as greves "duras" da I República ficam de fora)?

Darei a resposta ao fim do dia ou amanhã - até lá, quem quiser aventar hipóteses (na verdade, com o Google facilmente se chega à resposta correcta), sirva-se da caixa de comentários.

Monday, December 17, 2007

Violência doméstica, pulseiras electónicas e telemóveis

Parece que, em vez de colocar os acusados de violência doméstica com pulseira electrónica (para não se poderem aproximar das alegadas vítimas), vai-se passar a dar um telemóvel às vitimas para estas poderem facilmente chamar a policia se necessário (ver no Diário de Noticias de 17/12/2007 artigo - não on-line - sobre o assunto)

Não seria melhor ideia um spray de auto-defesa?

5 myths about torture

Sunday, December 16, 2007

Que aristocracia havia na Suiça (p.ex.)?

Segundo Henrique Raposo (suponho que a partir deste artigo, embora o link pareça não funcionar no seu post), os EUA são a primeira (e única) sociedade não-aristocrática do mundo.

Blackwater e os mercenários no Iraque

Passagem de artigo de José do Carmo na Atlantico:

Os mercenários actuais, profissionais bem pagos e bem geridos, suscitam escândalo e repugnância à “bempensância”.

Conviria porém ter presente que uma das razões pelas quais existem, é que não figuram nas listas de baixas militares e por isso os seus cadáveres não podem ser manipulados pelas agendas politicamente correctas.

(reparem que eu estou apenas a transcrever o artigo da Atlantico)

The IQ red herring

Post de Chris Dillow:

(...) why are many defenders of free markets so interested in IQ?

Leftists would reply that there's an ideological motivation at work - the belief that inequalities of income are legitimate if they can be shown to result from natural differences in IQ.

But I can't believe that this is the reason, because this is a howling error.

First, the correlation between IQ and earnings is low. This review (pdf) of the literature estimated that a on standard deviation difference in cognitive skills is associated with only a 10% difference in wages.

Such a small effect surely accords with common sense. You only have to look at you boss to see that the link between IQ and success is weak. Even if we ignore rent-seeking, height, beauty, luck and incentive-enhancing preferences (pdf), lots of things make for high earnings: hard work, creativity, interpersonal skills. And these have little relationship with IQ.

Dois comentários: ao contrário do que Chris Dillow escreve, não sei se "criatividade" não terá uma relação positiva o QI; por outro lado, tambem não me admirava se as "competências interpessoais" tivessem uma relação negativa com o QI, pelo que estes dois factores (se realmente se verificarem) talvez se anulem um ao outro.

Re: Autogestão escolar

João Miranda escreve no Diário de Noticias:

"Simplificando, os professores, os funcionários e os dirigentes de uma escola são agentes ao serviço do contribuinte."

Os professores, funcionários, etc. são agentes ao serviço dos alunos ou das respectivas familias, que não coincidem necessariamente com "o contribuinte". Exemplos:

Uma pessoa sem filhos que pague impostos - é um contribuinte, mas o sistema educativo não é suposto estar ao seu serviço (se se considerar que eu pago impostos - eu trabalho para uma instituição pública pelo que haverá quem ache que não - será esse o meu caso).

Aguém que tenha filhos a estudar mas não seja um contribuinte líquido (algúem que receba mais de subsidios do que pague em impostos) é um suposto benificiário do sistema educativo.

É verdade que este ponto não é muito relevante (até porque JM até diz que é "simplificando"), embora possa se tornar relevante noutro contexto - a gestão das universidades, onde por vezes se usa o argumento dos "contribuintes" para defgender uma maior governamentalização da gestão universitária e uma redução do poder dos estudantes.

Vamos agora ao que interessa:

"Mas quem actualmente manda na escola são os professores e os funcionários, que escolhem os conselhos executivos, e os burocratas do Ministério da Educação, que decidem o que é que os conselhos executivos podem fazer (...).

Um contribuinte que queira influenciar directamente uma escola, por exemplo, aquela que o seu filho frequenta, não tem meios para o fazer. Não consegue influenciar directamente a escola porque os funcionários e professores elegem os seus próprios chefes."

Os orgãos de gestão das escolas não são eleitos por professores e funcionários: são eleitos por professores, funcionários, pais e alunos. (no entanto, é verdade que aos professores e funcionários aplica-se a regra "um homem, um voto", enquanto que, no ensino secundário, para os alunos a regra é "uma turma, um voto" e para os pais "um ano, dois votos").

Friday, December 14, 2007

Re: Globalização e Estado garantia

Tiago Mendes (que, sinceramente, acho que devia abrir - ou re-abrir - um blog pessoal, mas ele lá sabe) escreve sobre a "Globalização e Estado garantia".


O seu argumento é de que, em principio, a globalização, nos paises desenvolvidos, origina "um aumento da sua riqueza média; um acréscimo das rendas auferidas pelos trabalhadores mais qualificados e donos do capital; uma subida do desemprego dos trabalhadores menos qualificados", o que justificariam um reforço do que chama o "Estado garantia".

No entanto, argumenta que tal não se aplica a Portugal, porque "(e)ntre o primeiro trimestre de 2005 e o segundo trimestre de 2007, o desemprego total aumentou 10.3%, verificando-se os aumentos, entre os que têm «o ensino básico ou menos», «o ensino secundário» e «o ensino superior», de, respectivamente, 4.2%, 15.1% e 63.3%. Noutros países europeus, a dinâmica é diferente", pelo que seria "ilegítimo, entre nós, defender um aumento do Estado Social apelando aos efeitos da globalização."

Há duas razões pela qual a "globalização" pode originar mais desigualdades sociais: há a razão exposta pelo Tiago Mendes - os paises mais desenvolvidos passariam a importar os produtos intensivos em trabalho pouco qualificada, logo o "preço" do trabalho pouco qualificado baixaria e as desigualdades aumentariam.

A outra razão é porque num mercado "global" o "prémio para os vencedores" é maior. Por exemplo, quanto mais global for o mercado de automóveis, maiores serão as vendas do maior fabricante de automóveis. No geral, quanto mais global for a economia, maiores serão os lucros das maiores empresas (ou das maiores empresas de cada ramo) e, provavelmente, os ordenados dos seus gestores de topo, quadros técnicos, etc. (o artigo de 1981 The Economics of Superstars - resumo aqui - aborda esse tema da concentração dos rendimentos em meia dúzia de profissionais nalguns ramos de actividade).

Esses dois efeitos têm resultados diferentes:

- o primeiro aumenta a desigualdade nos paíse ricos e diminui-a nos paises pobres; o segundo tende a aumentar a desigualdade em todo o sitio (como parece que está a suceder)

- o primeiro faz com que, nos países ricos, o pagamento do trabalho qualificado aumente e o do trabalho pouco qualificado diminua; o segundo efeito, tenderá, efectivamente, a aumentar os rendimentos de alguns trabalhadores qualificados mas o efeito principal será aumentar a desigualdade dentro dos trabalhadores qualificados (e, efectivamente, pelo menos nos EUA, não parece que, no geral, tenha havido um aumento significativo do rendimento dos trabalhadores qualificados - o crescimento das desigualdades deve-se, sobretudo, a enormes aumentos do rendimentos nos escalões mais altos do rendimento, estilo últimos percentis)

- na mesma linha do escrito acima, o primeiro efeito levará (nos paises ricos) a um aumento do emprego dos profissionais qualificados e a uma redução dos não-qualificados; pelo contrário, o segundo efeito até pode diminuir o empregos dos trabalhadores qualificados - se há fusões e aquisições entre empresas de várias empresas e países, a nova empresa até precisará de menos técnicos e gestores que as empresas originais (mas remunerando muito melhor os que ficarem).

Onde eu quero chegar com isto tudo - o aumento do desemprego entre os licenciados pode desmentir que esteja, entre nós, a ocorrer o primeiro efeito (ou seja, Portugal talvez seja mais parecido com os paises "pobres" do que com os "ricos"); no entanto, não desmente que possa estar a ocorrer o segundo efeito (a melhor maneira de tirarmos isso a limpo era ver se as desigualdades de rendimento em Portugal estão a diminuir ou a aumentar), logo, por si só, não invalida a tese que a globalização deve ser acompanhada por mais protecção social.

Kosovo, provincia sérvia viável?


Bem, e qual é a alternativa viável?

Manter a situação actual, que é quase como se fosse independente, mas com a diferença que o seguro do meu carro não é válido lá e que é mais dificil conseguir empréstimos de organismos internacionais?

Devolver o Kosovo à soberania sérvia? Iria ser bonito, a Sérvia a tentar voltar governar o território contra a vontade da maioria esmagadora da população (maioria essa com fácil acesso a armas) e dos orgão de governo local existentes.

A guerra da NATO contra a Jugoslávia, que deu origem a esta situação, foi um erro? Estou 110% convencido que sim - mas o que é que querem fazer agora? Viajar no tempo até 1997 para "desfazer" a guerra?

Thursday, December 13, 2007

Re: 3 biliões de pessoas vs. verdismo

"Isto é, para os asiáticos - que estão finalmente a crescer e a fazer sombra aos ocidentais -, a paranóia europeia com o ambiente é uma forma subtil de travar a ascensão asiática. Certos ou errados, é assim que eles pensam. E não há nada que os europeus possam fazer para alterar isso. Nada." (Henrique Raposo)

Vamos analisar essa questão no que diz respeito às emissões de CO2 (o assunto mais na berra em questões ambientais neste momento): parece que as emissões mundias são de 27.245.758 de toneladas por ano. Se fosse aprovado um esquema de redução das emissões globais para, digamos, 24.000.000, distribuidos entre os países pelo único sistema que me parece fazer sentido (i.e., proporcionalmente à população), a India (com 16,95% da população mundial) teria direito a emitir 4.068.000 toneladas de CO2 por ano. Como as emissões indianas actuais são de 1.342.962 toneladas, não vejo que objecções a India poderia ter a um sistema desses - na verdade, se esse direitos de emissão fossem transacionávéis, até seria um bom negócio para a India vender anualmente o direito a emitir 2.700.000 toneladas de CO2.

Há duas possiveis objecções ao meu argumento:

Por um lado, pode-se argumentar que a Europa e os EUA nunca aceitariam um sistema desses. Talvez não, mas o que Henrique Raposo dizia é que não há "nada" que a Europa possa fazer para convencer os asiáticos a adoptarem o "verdismo"; e o que eu digo é que até há algo que se poderia fazer para os convencer - se a Europa está disposta a isso é outra história.

Por outro pode-se argumentar que esse sistema não conveceria a China (que já polui mais ou menos em proporção à sua população). Possivelmente não, mas aí já não seriam "3 mil milhões de pessoas vs. o verdismo", mas apenas "mil e trezentos milhões de pessoas contra o verdismo", já um bocado longe de metade da população mundial (nota: em Portugal, "um bilião" = 1.000.000.000.000; não confundir com a palavra inglesa - sobretudo norte-americana - "billion", que significa 1.000.000.000).

Wednesday, December 12, 2007

Empresas ocupadas

Alguns links sobre empresas ocupadas pelos trabalhadores:

Fábricas Ocupadas (Brasil)
Frente Revolucionaria de Trabalhadores de Empresas em Cogestion y Ocupadas (Venezuela)
Sanitarios Maracay, empresa venezuelana que esteve 9 meses ocupada e gerida pelos operários
MOVIMIENTO NACIONAL DE EMPRESAS RECUPERADAS (Argentina)
Movimiento Nacional de Fabricas Recuperadas (Argentina)
strike-bike.de, fábrica bicicletas alemã que esteve em autogestão
I.8 Does revolutionary Spain show that libertarian socialism can work in practice? (sobre a Espanha da Guerra Civil)

E alguns posts que escrevi (isto é, muitos formam cópias) sobre os assunto:

"Fábrica salva por um euro já factura quase um milhão"
Fábrica de bicicletas ocupada na Alemanha, (II) e (III)
Já agora, em Portugal...
As empresas ocupadas na Argentina

Eleição

Como de costume, O Insurgente está a "eleger" os "melhores blogs de esquerda e de direita" (dentro de um conjunto pré-escolhido por eles). Neste momento, está a decorrer a votação para "melhor blog de esquerda": os pré-nomeados foram o Kontratempos (31 votos até agora), a Destreza das Dúvidas (27), o Vento Sueste (15), a Causa Nossa (11) e o Bicho Carpinteiro (6).

Tuesday, December 11, 2007

O horário de trabalho na Venezuela

Na Venezuela, o sindicalista de esquerda Orlando Chirino reivindicou que o Governo e o Parlamento, entre outas coisas, reduzissem o horário de trabalho.

O meu raciocinio a esse respeito: se Chavez apresentou uma proposta constitucional que incluia a redução do horário de trabalho de 8 para 6 horas (ou coisa parecida), é porque achou que tal era possível e justo. Logo, se Chavez acha isso possivel e justo, e o horário de trabalho pode ser alterado por lei ordinária, faz todo o sentido que ele promova essa alteração; se não o fizer, quer dizer que a redução prevista na reforma constitucional era apenas um suborno aos eleitores.

Poder-se-á argumentar "mas os venezuelanos, ao votarem Não, não votaram também Não à redução do horário de trabalho? Isso não é desvirtuar o sentido da votação passada?" - penso que não: aquilo que os venezuelanos rejeitaram foi meter as 6 horas de trabalho na Contituição, não que o Parlamento e/ou o Governo possam fazer uma lei ordinária estabelecendo as 6 horas (a actual Constituição venezuelana - e penso que as anteriores - já dá ao Estado poder para regulamentar o horário de trabalho).


Praia da Rocha (II)


Isto, se em vez de ser uma fotografia, fosse uma pintura, até estava gira, não?

Praia da Rocha



Isto deve ser um borralho (ou será uma rola-do-mar?).


Isto imagino que seja uma gaivota a afogar-se.

Suspeito que isto seja um pilrito-de-bico-comprido.


Estão ali uns espécimes quaisquer nas ondas - deve ser algum tipo de pato migratório, ou coisa assim...

Monday, December 10, 2007

Musica Natalicia

No espirito da quadra, pus ali ao lado uma musica natalicia dos Garotos Podres.

Saturday, December 08, 2007

LABOUR SOLIDARITY - ONE MORE DAY - ANOTHER CALL FOR STRIKING RUSSIAN FORD WORKERS


Since last week the online labour solidarity site Labour Start has been calling for solidarity messages from the world community to pressure the bosses both corporate and government to accede to the demands of striking workers at a Ford plant outside of St. Petersburg for decent wages and working conditions (see previous story here at Molly's Blog). The Russian workers are now calling for further solidarity. Their strike fund is running low, and they need donations to keep on struggling. What follows is the appeal from Labour Start for their case. You can donate by credit card. If the embedded link for the campaign doesn't work please go to the Labour Start home site (http://www.labourstart.org ).

"As we told you last week, Russian workers at a Ford factory near St. Petersburg have embarked on an historic strike. Nearly all strikes in Russia last a day or so. Labour laws in that country make it very difficult for workers to strike for more than a day. But this one has gone on for several weeks as Ford refuses to engage in meaningful bargaining. Your thousands of messages of support have been a real boost to the workers---but now they need something more. The Ford workers have asked Labour Start to help raise money for the union's strike fund---which is rapidly running out.

Workers all over Russia who have very little money to give have been generously donating. We now need workers from all over the world to reach deep into their pockets. We have learned that it costs US $20 per day to keep a Ford worker in Russia out on strike. The union is trying to pay 700 workers this amount every day. The union needs to come up with $14,000 every single day. That's a lot of money anywhere, but especially in a country like Russia.

There's a saying in the trade union movement---something along the lines of we can win a strike if we can last one day longer than the boss. That's what we need to do here. we need to help Ford workers last one day longer than the company, to keep the strike going on long enough to compel Ford to come to the bargaining table. If we do that it will send shock waves through the Russian trade union movement. It will mean that this historic strike has led to an historic victory.

Here's what I am asking us all to do.

Let's raise at least $14,000---to keep the strike going that one extra day.

Let's each donate at least US $20---more if you can---to the Ford workers special fund we've set up.

Every $20 pays for one workers to be on strike for one more day.

We want the union to see exactly how much we have given in real time and to make the process as transparent as possible, which is why we're using Chipin.

Please encourage your union to make a more substantial donation as well, and please spread the word.

I know I can count on you. Thanks.

Eric Lee"

Molly Note:

Molly has sent her Peters' Pence this way. Why is this struggle important ? It is a catalyst for the union movement in Russia, and the union movement may be the only reliable force that can hold back the oligarchs and the government of Putin from their drive towards authoritarianism and (the old lefty word) revanchism, to recover their former imperial glory. It is important for the peace of the world that Russia's new ruling class be confronted with an independent and strong union movement. Given the state of politics in the Russian Republic today it may be the only possible break on their ambitions. Back in the country where my mother was born they, like they do in the former Yugoslavia, take their "identity politics" in a deadly serious manner, unlike the juvenile academic and bureaucratic game that it is here in North America. The thing about unionism is that it transcends whether you are Russian, Chechin, Ingush, Kazak, Balkir, Tatar or whatever. It builds solidarity and cooperation across tribal identities. The present Russian population is being trained in ethnic hatred by its government. What they need as "counter-training" is the solidarity experience of unionism. Transnational solidarity is important here not just for the Russians but also as part of our own struggle to redefine leftism as closer to its original internationalism and further from the tribalism that infects so much of the left today. So sign up and give your pennies goddammit.

Afinal os Republicanos nos EUA não são sempre "though on crime"

The Historical Origins of Africa’s Underdevelopment


African historians have documented the detrimental effects that the slave trades had on the institutions and structures of African societies. (...)

In a recent paper, I explore empirically whether these detrimental effects of the slave trades can explain part of Africa's current underdevelopment.
1 I do this by first constructing estimates of the number of slaves taken from each country in Africa between 1400 and 1900. The estimates are constructed by combining data of the number of slaves shipped from each African port or region with data from historical documents reporting the ethnic identities of slaves taken from Africa.

If the slave trades are partly responsible for Africa's current underdevelopment, then looking across countries within Africa, one should observe that the parts of Africa that are the poorest today are also the areas from which the largest number of slaves were taken in the past. My research shows that this is indeed the case. (...)

An alternative explanation for the relationship is that the parts of Africa from which the largest number of slaves were taken were initially the most underdeveloped. Today, because these characteristics persist, these parts of Africa continue to be underdeveloped and poor. My research examines this alternative hypothesis by testing whether it was in fact the initially least developed parts of Africa that engaged most heavily in the slave trades. I find that the data and the historical evidence suggest that, if anything, it was the parts of Africa that were initially the most developed, not least developed, that supplied the largest number of slaves. (...)

Superstars and "talent"

Top bosses and film stars get multi-million pound salaries because talent is scarce. Everyone knows this. Which is a shame, because it's bull, as this fantastic paper by Marko Tervio explains.

Start from the premise that talent is initially unknown, and can only be revealed by working with expensive equipment. So, for example, we can only find out if a manager is any good if he's in charge of a big venture, or if an actor has box office appeal if he's in a mega-costly film. It is, therefore, very expensive to learn who's got talent and who hasn't.

What's more, people with talent cannot offer to share this cost with employers, either because of lack of cash or risk aversion: people don't pay for the chance to become bosses or film stars.

In these conditions, what's scarce isn't talent, but revealed talent. There might be loads of people with the ability to be film stars or bosses, but only a handful get the chance to show what they can do. Marg Helgenberger gets big money not (just) because she's a better, more popular or more beautiful actress than others, but because she's a proven quantity.

(...)

Ending de Arms Race

Texto de Chris Dillow:

(...)

a number of arms race-type behaviours cause us to work and spend more than we'd like, just to keep up with others; this is a red queen effect. For example:

1. If one person works long hours in order to signal his commitment to his firm, in the hope of winning promotion,
others hoping for promotion work long hours too, thus diluting the signal of commitment. The result is that everyone works longer than they'd otherwise like, for little purpose.

2. If others buy big 4X4s, we do too (pdf), to avoid being killed when one of them hits us.

3. Some goods - smart suits, bling, flash cars, expensively enhanced girlfriends - are status symbols. If our comparators buy them, we have to too.

These mechanisms can lead individually rational people to work harder and spend more than they'd like. The upshot is a society which is rich in aggregate, but unhappy.

What's the solution? Here, Maddy leaps to quickly to the need for state intervention. An alternative is a campaign of persuasion, to change people's perceived costs and benefits. We could point out that becoming boss or partner is no mark of excellence, but merely of the ability to jump through hoops like a trained dog. Being boss doesn't make you much happier, but merely exchanges one set of hassles for another. The good opinion of other people just doesn't matter. And there are satisfying alternatives to the scrabble to get ahead: quiet contemplation or the pursuit of excellence (or mere competence) in music or the arts. Those of us who have downshifted are generally happier out of the rat race. And then the media could counter the pretence that mere trinkets and baubles of frivolous utility are the secret of happiness.

(...)

Friday, December 07, 2007

Mais uns textos sobre a Venezuela

El derrotado fue el gobierno. Triunfaron el pueblo, los trabajadores y el proceso revolucionario, texto do "Movimiento por la Construcción de un Partido de los Trabajadores"

E, numa posição de "sinal contrário" ao texto anterior, A Revolução Venezuelana e o papel dos "esquerdistas", de Rui Faustino

Leitura recomendada

Thursday, December 06, 2007

"Vingança d’Ouro"

No Observatório do Algarve:

O vereador Manuel Ramos (CDU), que em 2006 denunciou um esquema de alegada corrupção na Câmara de Silves, foi processado pela construtora Viga d’Ouro, que se diz prejudicada com a denúncia. O Ministério Público já o constituiu arguido. Ironia suprema: quanto à alegada corrupção, ninguém é arguido, pois nada se sabe das investigações da PJ.

Como se faz aquilo do "Ler mais" no Blogger?

A explicação no Blogger parece dada por um professor adepto em extremo das pedagogias não-directivas ["No entanto, o link "Leia mais" está presente no modelo, dessa forma ele aparecerá independentemente de a postagem estar truncada ou não. (A modificação deste recurso funcionará como um exercício para o leitor.)"- negrito meu].

O método que eu uso - por exemplo, aqui - é este (depois de, no CSS, ter feito apenas as alterações que, na explicação, estão entre "CSS condicional" e "Links Leia mais" - isto é, alterei apenas o "style", mas não o "BlogItemBody"):


No entanto, penso que deve haver um método melhor, até porque este implica publicar o post antes e depois alterá-lo (para pôr o URL do post no sitio onde, no exemplo está "http://ventosueste.blogspot.com/2007/10/isto-apenas-uma-experiencia.html").

Note-se que o este método funciona como o Weblog - clicar no "Ver tudo" o que faz é abrir o URL dopost em questão, que aí se vê todo; pelo que vejo, na maioria dos blogs do Blogger o sistema é expandir o post, mas continuando a ver-se os outros posts.

Tentativa de cronologia do debate à esquerda

Matamos os hérois, tudo bem. Mas, e os líderes, deixamo-os a andar por aí? (Zero de Conduta)
> Chavez não é a minha via (Peão)
>> A democracia, tipologia de uma história? (Zero de Conduta)
>>> Idealizar a democracia? Vamos a isso (Peão)
>>>> Os acessores do Ministério (Zero de Conduta)

O público, o privado e o comum (Zero de Conduta)
>Bens comuns (Ladrões de Bicicletas)
>> O outro movimento operário (Spectrum)
>>> O outro debate politico (Zero de Conduta)
>>>> Debate? (Peão)
>>>>> Será o debate exequível? (Peão)
>> O post mais longo na história do ZdC, na esperança de noticias sobre uma greve geral que vai de Pequim ao Vale do Ave (Zero de Conduta)

As threads não são tão estanques como as representei aqui.