Thursday, January 31, 2008

Eleição nos EUA - nova previsão

Já não estou tão certo que, em 2009, "um homem nascido em Hope, Arkansas [vá] estar na Casa Branca".

Se, por um lado, parece quase certo que o candidato a primeiro-valete pelos Democratas será um homem de Hope, por outro parece certíssimo que não será o caso do candidato a presidente pelos Republicanos.

E suspeito que numa eleição Clinton x McCain (o tal cenário do "sal para a salmoura"), McCain ganhe.

Para começar, McCain tem uma reputação indevida de independência e moderação, pelo que não será muito afectado pelo impopularidade da Administração Bush e dos Republicanos.

Além disso, Hillary Clinton tem uma posição muito frágil acerca da guerra do Iraque - ela tem tido várias atitudes contraditórias, abrindo o flanco a acusações de flip-flop; e, com Hillary candidata, a questão que se discutirá provavelmente não será tanto "Os EUA devem permanecer no Iraque?" (questão onde os Democratas poderiam marcar pontos) mas mais "Como ganhar a guerra do Iraque?" (questão em que talvez os eleitores confiem mais nos Republicanos em geral, e no capitão McCain em particular).

Claro que talvez os "terceiros candidatos" possam ter alguma influência (ou talvez não):

À esquerda, pelos comentários neste artigo, parece haver uma atitude generalizada de "Votar Nader é entregar a eleição aos Republicanos!" (embora não seja tão linear - pdf - que Nader seja o responsável pela aparente derrota Democrata na Florida em 2000), o que poderá prejudicar uma candidatura da "esquerda alternativa"; mas, de qualquer forma, o resultado de um "terceiro candidato" provavelmente dependerá da posição que, durante a campnha, Hillary Clinton tenha a respeito do Iraque.

À direita, não me admirava que uma candidatura "isolacionista" consiga obter mais votos do que os "libertarians" e os ultra-conservadores costumam ter, aproveitando o "embalo" da campanha de Ron Paul nas primárias republicanas.

Venezuela: perseguição a sindicalista

O lider sindical venezuelano Orlando Chirino (de tendência trotskista-morenista-zamorista-...) foi despedido, sem motivos claros, da PDVSA (a empresa estatal do petróleo).

A corrente sindical de Chirino (a Corrente Classista Unitária Revolucionária Autónoma) tem há varios anos uma rivalidade com a Frente Bolivariana dos Trabalhadores (facção sindical alegadamente apadrinhada pelo Ministério do Trabalho venezuelano), tendo o sindicalista entrado em ruptura com o "chavismo" há alguns meses, a respeito da autonomia sindical, e apelado ao voto nulo no referendo constitucional (alegando que tanto o Sim como o Não representavam facções da classe dominante).

Alguns artigos sobre o assunto:

Trabajadores de todo el país se concentran en el Ateneo de Caracas, en solidaridad con Orlando Chirino

“Es cuestión de honor la lucha por el reintegro a PDVSA de Orlando Chirino” según dirigente petrolero José Bodas

“Con el despido de Chirino de PDVSA se pretende intimidar a dirigentes clasistas y trabajadores petroleros”, afirma Iván Freites, dirigente de C-CURA Petróleo

Corriente internacional Socialismo o Barbarie se solidariza con Orlando Chirino

Stalin Pérez Borges, Rubén Linares y otros dirigentes de Marea Socialista se solidarizan con Orlando Chirino (a Marea Socialista é a facção da C-CURA que continua a apoiar Chavéz e apelou ao Sim no referendo)

En torno al despido de PDVSA de Orlando Chirino

Ralph Nader na corrida à Casa Branca?

Ver aqui e aqui.

Não ganhará de certeza, mas provavelmente terá uma percentagem maior (nas eleições nacionais) do que as que Mike Gravel (o único democrata de jeito, agora que Kucinich e até Edwards desistiram) está a ter nas primárias.

Wednesday, January 30, 2008

Nuclear?

Para os que estão preocupados com o futuro energético e acham que as renováveis são muito caras, não será mais inteligente defender que Portugal compre energia eléctrica produzida em centrais nucleares no estrangeiro (coisa que já se faz há muito) do que defender a construção de uma central nuclear em Portugal? Afinal, têm-se à mesma o beneficio (electricidade) sem os riscos associados a um hipotético acidente (sim, o risco de acidente é muito baixo, mas os prejuízos prováveis em caso de acidente são muito elevados - uma espécie de Euromilhões ao contrário). Claro que assim, temos que pagar pela electricidade, mas o mesmo aconteceria se a central estivesse em Portugal (não é por a central ser "portuguesa" que iria dar electricidade à borla aos portugueses).

The Ghost of Rambo

Artigo de Jesse Walker na revista Reason (para quem não conhece, a Reason é uma espécie de Blasfémias em formato revista), sobre a série "Rambo" e a evolução das suas referências culturais e ideológicas ao longo do tempo (nomeadamente a aspectos que frequentemente são esquecidos, como o tom anti-belicista do primeiro filme, A Fúria do Herói).

Tuesday, January 29, 2008

Re. Ainda sobre bancos centrais, expansão monetária, etc.

Murray N. Rothbard aponta o caso como interessante, dado que o argumento usado envolvia considerar “ilegal e inconstitucional”o sistema de reservas parciais.

Reparar que existe um argumento básico sobre a questão do crédito concedido por criação monetária como fraudulento. Só é possível na medida em que um prestador de um serviço de depósitos deixou de estar obrigado a conservar a coisa depositada.

“Depósito” devia ser um depósito civil (existe aquela coisa do “labelling” com o qual as DECOs deste mundo costumam até estar atentas) e assim, uma moeda de ouro depositada deve corresponder a uma moeda de ouro guardada. Uma moeda de ouro emprestada ao Banco devia ser uma operação de crédito ao Banco. Dois nomes diferentes e contabilizadas de forma diferente.

Os Bancos desde muito cedo descobriram que podiam criar notas e depósitos de moedas de ouro inexistentes para conceder crédito (coisa rentável), assim, os depositantes não percebessem que a probabilidade de poder levantar o depósito diminuía, além de que formalmente –legalmente - o contrato estava quebrado.

O problema legal aqui é de índole de filosofia de direito. Quanto existe uma entidade com o Monopólio da Violência e Direito (Estado), esta tem a capacidade de tornar legal o que é ilegal. Até que ponto passa a ser legal? Na medida em que tem a capacidade de impor que a sociedade se comporte como sendo legal. Os juristas neste ponto encolhem o ombro.

Imaginemos que eu lanço um serviço de guarda de CDs dos Xutos e Pontapés. X pessoas depositam o seu CD comigo e eu passo um recibo de depósito. Depois começo a emprestar CDs a troco de dinheiro temporariamente. Isto é obviamente ilegal, (ver código civil).

Adicionalmente crio recibos de depósitos que vendo a terceiros, que estes utilizam como oferta para terceiros (em vez de oferecerem o CD físico) onde um número elevado nunca chega a pedir o CD físico, bastando-lhe saber que tem um recibo que dá direito a um CD.

Depois, o Estado “legaliza” a prática. È legal? Parece que sim. No limite, tudo é legal que seja declarado legal. O que costuma preocupar os juristas é se o processo de aprovação passou todos os requisitos formais anteriormente estabelecidos. A única hipótese de rejeição é conseguir encontrar um argumento formal, recorrendo a textos (Constituição, etc) que contradigam a interpretação actual. Mas claro está, mesmo nesse caso, se for esse caso, pode, ser revistos todas as cláusulas que provem contradição e fica tudo… legal.

Quanto a quem é prejudicado. Os depositantes só podem ser prejudicados. Num sistema de 100% de reservas, onde depósito significa depósito, todo o crédito concedido pelo banco obriga a que este tenha de convencer um depositante a conceder crédito ao banco, e vez de o conservar em depósito. Isso assegura que todo o investimento a crédito é possível porque existiu uma poupança prévia e que está voluntariamente disposta a esperar N por voltar a readquirir o depósito. Em tal sistema, os detentores de pequena poupança até podem guardar o dinheiro sem utilizar entidades bancárias porque este valorizará alguma coisa (deflação), dado que todo o crescimento económicos se traduzirá em descida de preços. Num sistema de inflação permanente (como o nosso), guardar dinheiro significa perder dinheiro. Por isso o "sistema" gosta de inflação, pelo menos alguma coisa para obrigar a colocá-lo no "sistema". Os Bancos agradecem. E quanto mais existe no sistema, mais conseguem estender a criação monetária até ao limite do multiplicador (um milagre que antes era apenas atribuido a Cristo).

Quem é beneficiado. O Banco que consegue negócio adicional com pouco esforço (esta prática foi tentada e abusada desde cedo pelo lucro oferecido por algo que era notoriamente uma fraude formal-legal, por isso durante séculos o negócio bancário era rodeado de secretismo e muito low profile). Também é beneficiado quem recebe o crédito e o gasta primeiro que os outros. Numa altura de expansão de crédito-monetário, beneficia muito quem consegue tirar partido das bolhas e sai deles a tempo, claro Por isso o sistema beneficia “Wall-Street”, até porque quando a coisa corre mal, o “sistema” providencia toda a criação de dinheiro necessária para salvar (quando é possível) os negócios (Bancos, empresas, etc) à custa da inflação que afecta toda a população. Ou seja, "o caso à esquerda contra os Bancos Centrais"...

Posteriormente vou debruçar-me sobre outros pontos específicos levantados pelo Miguel Madeira.

Quem é o Henrique Raposo para falar de alto?

Henrique Raposo pergunta "mas quem é a Greenpeace? Qual é a legitimidade da Greenpeace ou da Quercus para exigir isto ou aquilo?".

E quem é o Henrique Raposo para exigir isto ou aquilo (por exemplo, a liberalização das leis laborais)? Se HR responder "sou um cidadão português, e portanto titular de 1/10.000.000 da soberania", então exactamente o mesmo se aplica aos membros da Greenpeace (pelo menos os portugueses) ou da Quercus.

"E se os portugueses comessem toda a sardinha dos oceanos? So what?" - deixava de haver sardinhas para os netos dos actuais portugueses comerem. HR parece ignorar completamente o problema da "tragédia dos comuns" (i.e., a tendência dos bens que não são geridos por ninguém serem sobre-explorados) - há várias soluções para isso (regulação estatal, pressão moral, gestão comunitária, privatização, etc.), mas como HR parece recusar as propostas de regulamentação da pesca e mesmo (ou sobretudo?) as campanhas de "sensibilização", e, ao mesmo tempo, tenho um forte palpite que consideraria (indo para as propostas do lado oposto do espectro politico) a privatização do mar alto como coisa de guerreiros japoneses, cá gostaria de saber como HR lidaria com esse problema.

"Sabem por que razão não se termina uma estrada em Trás-os-montes? Porque alguém descobriu uma colónia de «ratos cabrera», aparentemente uma espécie ameaçada." - essa história não passa de um mito parecido com as histórias de que o Walt Disney está congelado.

Adenda: recomendo também este post no Rabbit's Blog


Longevidade (alterado)

A respeito da evolução da longevidade nos EUA (de 1972, a esperança de vida aos 60 anos passou de 77,7 para 78,9 entre a metade mais pobre, e de 79,6 para 85,4 entre a metade mais rica), Paulo Pinto Mascarenhas escreve: "apesar das desigualdades, o que eu vejo no quadro é que a longevidade aumentou entre os mais pobres e entre os mais ricos, ainda que em maior grau no último caso. (...) Duvido porém que um mesmo gráfico referente a qualquer país da Europa onde impere o Estado Social apresente o mesmo aumento. Mas admito poder estar enganado"

Efectivamente, o mesmo gráfico não faço ideia onde o arranjar. No entanto, em Portugal, a esperança de vida à nascença passou de 65 anos nos homens e 72 nas mulheres, em 1972, para 74 e 79 em 2001.

É verdade que não são valores directamente comparáveis (num caso, trata-se da esperança de vida aos 60 anos e no outro da esperança à nascença), mas o certo é que, nos EUA o aumento foi de 4,2 anos, enquanto em Portugal (conta como "país da Europa onde impere o Estado Social"?) foi de 8 anos* (claro, admito que é possível que o aumento em Portugal se tenha devido a uma diminuição da mortalidade antes dos 60 anos).

*Adenda: vendo melhor, o gráfico para os EUA refere-se apenas aos homens, logo eu devia ter escrito "mas o certo é que nos EUA o aumento foi de 4,2 anos, enquanto em Portugal (...) foi de 9 anos"

Monday, January 28, 2008

Quem diria? Vi um filme "pró-católico" e gostei

"O Último Combatente" (com o nosso Joaquim de Almeida), sobre o Batallon de San Patricio, um grupo de imigrantes católicos (sobretudo irlandeses) que desertaram do exército norte-americano (em parte por perseguição religiosa) e combateram ao lado do México contra os EUA no século XIX.

Pelos vistos, o meu anti-americanismo é mais forte que o meu anti-clericalismo (e, de qualquer forma, posso sempre considerar o filme como "pró-minoria religiosa discriminada", para não ofender as minhas tendências politicamente correctas).

Sunday, January 27, 2008

Cutileiro e a "Grande Guerra"

José Cutileiro no Expresso:

"Conheci um tenente-coronel reformado português que, na guerra de 14-18, comandara uma bateria de morteiros em França e me contou que, sempre que mandava disparar contra o inimigo, rezava para não matar ninguém. Tinha, como os «quakers», um coração de ouro, mas se muitos do seu lado tivessem feito o mesmo (e Deus os tivesse ouvido), o outro lado teria ganho a grande guerra"

Noutra perspectiva, se muitos do "outro lado" tivessem feito o mesmo (e algum entre sobre-natural os tivesse ouvido), "este lado" teria ganho a guerra mais depressa e com menos mortos (se calhar de ambos os lados).

Exploitation and freedom

Chris Dillow no Stumbling and Mumbling:

Russell Roberts argues that Wal-Mart can’t exploit workers because so many people apply for jobs there. Is this valid, or is it the sort of error that Norm deplores?

To see the problem, imagine a sort of Gulag Archipelago, in which some prison labour camps are more oppressive than others. Prisoners are free to apply to enter particular camps, but not free to leave the archipelago. There will then be thousands of applicants to enter the less onerous camp, and successful applicants will be happy to get there.

But it doesn’t follow that these are not exploited. And their freedom is horribly limited. It‘s a choice amongst oppressive exploiters;
...

Thursday, January 24, 2008

Tom Cruise e a Cientologia

[A respeito disto]

Is Cruise really so crazy? no blog.talkingphilosophy.com:

If you didn’t manage to see the leaked video of Tom Cruise talking about Scientology video before it was taken off YouTube, don’t worry: you know what to think about it already, don’t you? Scientology is barmy nonsense and Tom Cruise is its creepiest ambassador.

But hold on a moment. Just what is it that makes Scientology obvious nonsense and mainstream religions worthy of our respect, if not our devotion? If you watch the Cruise video (it is still here), you’ll struggle to find anything in it which doesn’t have its mirror image in Christianity.

(...)

Christianity seems less batty than Scientology mainly because we are used to it. To a Martian, the stories of Genesis and the blood sacrifice of a God born of a virgin would seem no more sensible than Scientology’s tales of an alien called Xenu who populated the earth 75 million years ago.

Tuesday, January 22, 2008

Salários, produtividade e "economia mainstream" (II)

A discussão no Fiel Inimigo está animada (por volta do 100º comentário, passou-se, de forma perfeitamente lógica e coerente, do problema do agente-principal para as mudanças de sexo).

"Os 5 do costume"

Henrique Raposo: "É mais fácil ver a Ana Gomes a dar um beijo em Bush do que ver um partido português novo a furar o bloqueio institucional que os 5 do costume construíram."

Há dez anos, HR poderia ter escrito "É mais fácil ver a Ana Gomes a dar um beijo em Suharto do que ver um partido português novo a furar o bloqueio institucional que os 4 do costume construíram."

Sim, o "5º" (não me refiro, e penso que HR também não, ao Grupo de Estudos Ambientais do PCP) não era exactamente novo (resultou de uma espécie de fusão entre partidos já existentes, incluindo dois que já tinham estado no parlamento num passado distante), mas não era "do costume".

E também é discutível se o PCP ou o BE terão construido algum bloqueio institucional - p.ex., na questão da nova lei dos partidos, o PCP, com a coragem que teve em desafiar a lei, tem sido talvez o maior aliado dos pequenos partidos.

Sunday, January 20, 2008

Salários, produtividade e "economia mainstream"

Eu, nos comentários a este post do Fiel Inimigo:"O que eu escrevi foi "pelo menos de acordo com a teoria económica mainstream, os salários dependem da produtividade marginal"; em nenhum momento disse que concordava com essa teoria económica."

Em primeiro lugar, exprimi-me mal: não deveria ter escrito "teoria económica mainstream", mas sim algo como "visão tradicional da teoria económica". Qual é a diferença? É que falar em "economia mainstream" dá a impressão que temos de um lado os economistas "mainstream", a dizerem que os salários (e as remunerações dos outros factores produtivos, já agora) dependem da produtividade marginal, e do outro lado, economistas "alternativos" a dizerem que os salários são determinados por outros factores. O que eu queria dizer não era isso: penso que praticamente todos os economistas são da opinião de que os salários são influenciados por vários factores (entre eles a produtividade marginal), mas que a forma mais usual de abordar a questão é (era?) adoptar um modelo simplificado em que os salários são determinados pela produtividade marginal.

Agora, porque é que os salários não são determinados pela produtividade marginal (ou apenas pela produtividade marginal)?

a) Para começar, noto que há alguma economia de escala na economia - é por isso que há empresas (e gestores, e discussões sobre os seus salários) e não apenas trabalhadores independentes (alguns leitores podem argumentar que há empresas por causa dos custos de transacção; outros podem argumentar que é a regulamentação estatal que dificulta mais a vida dos independentes em comparação com as empresas; mas penso que tudo isso pode ser considerado como formas particulares de economias de escala). Ora, com economias de escala, penso que é impossível as remunerações serem iguais à produtividade marginal (em principio, a soma das produtividades marginais seria maior que o produto total).

b) Muitas vezes, o mercado de trabalho não funciona em "concorrência perfeita" (muitos vendedores idênticos e muitos compradores idênticos) - p.ex., podemos ter uma situação em que um trabalhador que é diferente de todos os outros trabalhador está a negociar com uma empresa que é diferente de todas as outras empresas; nesse caso, o que temos é um monopólio bilateral (ou talvez o termo mais correcto seja "concorrência monopolistica bilateral"). Aí, o valor estabelecido dependerá de muitos factores, como relações de poder, capacidade (objectiva e subjectiva) para recusar um acordo desfavorável, conseguir fazer bluff se necessário, saber mais sobre as intenções do outros do que ele sobre os nossos (a famosa regra "nas entrevistas para emprego, o primeiro a falar em dinheiro perde"), etc. É por isso que se escrevem e há mercado para livros e artigos estilo "Como negociar o seu salário".

c) A tese de que os salários correspondem à produtividade marginal baseia-se num modelo que tem como pressuposto que os factores de produção são perfeitamente divisíveis; claro que na realidade não podemos contratar 1.035,423 trabalhadores (só 1.035 ou 1.036). Em categorias profissionais com muitos empregados (como no exemplo), isso não afecta muito; em categorias com poucos (como nos orgãos de gestão), afecta bastante - numa empresa com 5 gestores, qual é exactamente a produtividade marginal de um gestor: é a diferença entre a produção da empresa se tivesse 6 gestores e a produção tendo 5 gestores, ou é a diferença entre a produção com 5 gestores e a produção se tivesse só 4? É possível que o salário dos gestores se situe entre essas duas "produtividades marginais", mas até podem ser dois valores muito diferentes.

d) Excluindo as empresas geridas por um dono que controla toda a gestão, muitas vezes decisões sobre salários, contratações, etc. são decididas por gestores não-proprietários, ou pelo menos seguindo conselhos destes; ora estes gestores não-proprietários podem ter agendas que não sejam exactamente coincidentes com a maximização do lucro da empresa (e a tese dos salários=produtividade marginal parte do pressuposto que as empresas maximizam o lucro); por exemplo, os gestores podem usar a sua influência/poder para conseguirem para si salários mais altos (outro exemplo: um gestor pode dar importância à sua sensação de poder pessoal e portanto, estar disposto a pagar mais a um empregado que até seja ligeiramente menos produtivo mas mais "respeitador" que outro)

Alguns textos sobre o assunto:

What determines wages?, Knowledge, power & the firm e McMurphy versus Becker, de Chris Dillow

"Marginal Productivity Theory and the Mainstream" no Economist's View (com referências a mais uma carrada de textos)

Ainda sobre bancos centrais, expansão monetária, etc.

Entre os opositores dos bancos centrais e defensores do padrão-ouro (nomeadamente os mais "populistas"), por vezes surge a tese de que, emprestando os bancos "dinheiro fraudulento", ou "dinheiro criado do ar", os devedores não têm a obrigação de pagar as suas dívidas (não faço ideia se o Carlos Novais ou o George Reisman subscrevem essa posição).

Por exemplo, em 1967, numa cidade do Minnesota, Jerome Daly recusou-se a pagar a sua hipoteca com base nesse argumento, tendo tido o apoio de um tribunal local (e o de Murray Rothbard - pdf). Recentemente, também vi essa tese num blogue pró-padrão-ouro, argumentando que a crise dos empréstimos para habitação em dívida nos EUA devia ser resolvida cancelando as dívidas (não me lembro onde vi isso, mas acho que foi no FSK Guide to Reality, um blogue que até a mim me parece um bocado lunático).

Isso, dados os pressupostos de partida, faz sentido? Á primeira vista, acho que não.

Note-se que, se estivermos a falar de proudhonianos, que defendem um sistema em que qualquer pessoa (ou grupo de pessoas) pode criar uma espécie de "banco central" e começar a conceder empréstimos em dinheiro "alternativo" feito na impressora, essa posição faz sentido: os prouhdonianos acham que intervenção do Estado no mercado monetário faz os juros serem mais altos do que seriam em concorrência pura, logo tem lógica que defendem o não-pagamento dos empréstimos, ou, pelo menos, dos juros (afinal, eles consideram que os devedores estão a ser explorados pelo sistema, que faz com que os juros sejam artificialmente altos).

Mas os defensores do padrão-ouro com reservas integrais acusam os bancos centrais de promover a expansão monetária, o que em principio significa juros mais baixos do que seriam de outra maneira. Ora, se se acha que os juros são artificialmente baixos, parece-me difícil que se possa deduzir daí um direito a não pagar as dívidas aos bancos (afinal, os devedores também serão beneficiários do sistema...).

Consigo imaginar algumas formas de justificar essa posição, mas não me parecem muito sólidas:

a) Podemos considerar que quem beneficia com os juros baixos não são os devedores (o argumento que fiz ali atrás): se os emprestimos forem para comprar bens com uma oferta pouco elástica (será o caso da habitação? talvez, sobretudo em certas localizações onde não há espaço para se construir muito mais), o resultado de juros baixos é subir o preço dos bens em questão. Aí, até se pode dizer que, de certa forma, os bancos obrigam os clientes a se endividarem: ao concederem crédito barato ao Fernando (e a mais uma carrada de clientes), fazem com que os preços da habitação (por exemplo) subam, obrigando a Catarina a ter também que se endividar para comprar uma casa que, de outra forma, poderia ter pago com o seu dinheiro (ou, pelo menos, poderia ter-se endividado menos). Assim, como se pode argumentar que a expansão do crédito "obrigou" os devedores a pagaram mais pelas suas casas (e a endividarem-se mais), talvez seja logicamente coerente uma recusa de pagamento das dívidas.

b) Podemos também considerar que os clientes dos bancos são vitimas de fraude, já que contraem empréstimos na fase da expansão (com juros baixos) e depois, quando os juros regressam ao seu valor "natural" têm que pagar muito mais. Mas os clientes já sabem que os juros podem subir e baixar (e até têm a opção de contratarem um empréstimo com taxa fixa), logo não se pode falar em fraude.

c) Podemos considerar, não tanto que os devedores não têm a obrigação de pagar as dívidas, mas sim que os bancos não têm direito às hipotecas que executam. Ou seja, como os bancos actuais vivem de emprestar "dinheiro fraudulento", podem ser considerados organizações criminosas e o seu património considerado como "sem proprietário legitimo". Assim, quando um banco toma posse de uma casa por não pagamento da dívida, pode-se considerar que a casa em questão passa a ser "sem proprietário" e aberta a "homesteading". E, quem melhor para reclamar o "homesteading" do que quem já está na "posse útil" da casa, isto é, quem lá vive? Logo, à partida, isso implicaria que os bancos não pudessem desalojar devedores em incumprimento.

No entanto, no caso de casas alugadas, por essa lógica, quem teria direito à propriedade de casas cuja hipoteca fosse executada seria, não o devedor, mas o inquilino (afinal, ele é que está homestedeando* a casa); e, no caso de casas compradas para revenda e desocupadas, os habitantes do bairro da lata mais próximo poderiam ocupá-las e e proclamarem-se proprietários (e aí, pode entrar também em acção o "argumento a)" - se a expansão monetária faz subir o preço das casas, talvez seja responsável por algumas pessoas não conseguirem comprar casa própria, e estas terão ainda mais razão para reivindicar parte do património dos bancos)

d) Há também o argumento de que, num sistema em que a moeda é criada sobre a forma de crédito (como acontece no papel-moeda e não acontece no padrão-ouro com reservas integrais), haverá sempre menos moeda em circulação do que dívidas a ser pagas aos bancos (já que os bancos criam 1.000 euros de moeda mas depois cobram dívidas de 1.050 euros), logo as dívidas tenderão a crescer continuamente até os bancos controlarem toda a economia. Mas, de qualquer forma, esse argumento (além de que me aprece estar factualmente errado) é diferente do argumento "austríaco" típico (que é a de que os bancos centrais causam expansão da moeda, enquanto aqui o argumento é que causam escassez permanente de moeda em relação às dividas), pelo que não o vou aprofundar.

De novo, recordo que estes argumentos que estou a desenvolver não se baseiam nos meus pressupostos, mas sim nos pressupostos dos partidários do padrão-ouro

Não sei se o CN (que, recordo, não faço ideia do que pensa acerca da obrigação de pagar dívidas à banca) terá alguma coisa a dizer acerca destas possíveis linhas de argumentação que sugeri.

*não haverá um verbo melhor para isso?

Saturday, January 19, 2008

Bobby Fischer



















Um "dissidente" americano, o contraponto aos desportistas, artistas, etc. da Europa de Leste que, após alguma actuação no Ocidente, pronunciaram as palavras "quero asilo político"?

Apenas um homem que se "passou"?

"Sulfato de hidrógenio"

Expresso:

"Um frasco ainda com resíduos de sulfato de hidrogénio - um composto de enxofre - deitado fora por empregadas da limpeza do laboratório..."

"Este composto utilizada nas chamadas bombinhas de mau cheiro, no Carnaval, foi o responsável pela evacuação de de nove edifícios..."

"«Mesmo com o frasco vazio, o cheiro continua a ser intenso, mas o composto químico não é tóxico e não representa perigo para a saúde», explica a investigadora"

Será que os nossos jornalistas não tiverem química no 8º e no 9º ano e não sabem que "sulfato de hidrógenio" mais não seria que uma forma peculiar de dizer "ácido sulfúrico", que não é de forma alguma um "composto não tóxico e que não representa perigo para a saúde"(e que duvido que se use nas bonbinhas de mau cheiro)?

Possíveis explicações:

Houve mesmo um fuga de ácido sulfúrico, mas as autoridades competentes preferiram designá-lo como "sulfato de hidrogénio" para parecer mais inofensivo.

Ou (hipótese mais provável), o que foi lançado à rua foi sulfito de hidrogénio/ácido sulfuroso ou sulfureto de hidrogénio/ácido sulfídrico (aposto neste, até porque é gasoso), que, de boca para boca (salvo seja), passou a "sulfato".

Mas, agora, uma coisinha em defesa de Churchill

Um dos pontos em que mesmo os churchillomaniacos costumam criticá-lo é por "ter cedido a Estaline" em Ialta.

Mas será que houve mesmo uma "cedência"? Afinal, o que foi basicamente acordado em Ialta não foi mais do que o principio de "cada um fica com a zona que conseguiu ocupar militarmente", o que sempre foi o default nestes casos. Ou seja, se não tivesse havido acordo em Ialta sobre as zonas de influência na futura Europa e tivesse ficado tudo numa base de "depois logo se vê", o resultado não teria sido muito diferente (bem, talvez a guerra civil grega tivesse começado mais cedo, os franceses também tivesse tido a sua e, em 1989, o muro de Viena tivesse caido, precipitando o fim da República Democrática da Áustria).

Churchill e os charutos

No Expresso, Miguel Sousa Tavares escreve:

"Terceiro, porque, tendo [a Churchill] sempre sido indiferente a imagerm que transmitia, permitia-se fazer fazer e dizer qualquer coisa que lhe apetecesse, onde e quando lhe apetecia"

(...)

"o poderoso Churchil se banhava nú durante horas ao mesmo tempo que tomava um pequeno almoço de ovos estrelados, bacon e costeletas de carneiro, acendia o primeiro charuto do dia e ditava ordens, discursos ou artigos para os jornais"

O que eu li em tempos (mas não tenho nenhuma fonte à mão) é que Churchill foi proibido de fumar pelos médicos, mas que andava sempre com um charuto no bolso, só para por na boca "para a fotografia" quando era entrevistado.

Se isso for verdade, a tese de que Churchill era "um politico que fazia o que lhe apetecia sem ligar à imagem" evapora-se como um cubo de gelo numa tarde de Agosto.

Sugestões de leitura para quem não tenha nada mais útil para fazer no momento

Heaven, hell and incentives de Chris Dillow: neste post (e nos comentários) discute-se os efeitos da crença, quer no Céu, quer no Infernos, como incentivo para a prática religiosa (dentro dos pressupostos da teoria económica clássica). A meio dos comentários, há uma interessante reflexão sobre se a desutilidade de ir para o Inferno é infinita ou se - apesar de ser um castigo eterno - essa desutilidade pode ser finita, dependendo da taxa de desconto das utilidades futuras.

Sexcrime! de Roderick T. Long: a partir da questão sobre se a relação entre o Super-Homem e a Lois Lane pode ser considerada "bestialidade", a conversa evolui para vários temas, nomeadamente qual a classificação biológica do Super-Homem, e dos Kryptonianos em geral (as hipóteses vão desde, num extremo, quem ache que nem se trata de um animal - já que é uma espécie extra-terrestre sem qualquer parentesco com o nosso "Reino Animal" - até, noutro extremo, os que consideram tratar-se da mesma espécie que os humanos terrestres - com base na fertilidade das relações Super-Homem/mulheres terrestres).

Friday, January 18, 2008

Thursday, January 17, 2008

O caso à esquerda contra a imigração livre

(e pelo apoio a Ron Paul...)

Pelo radical Keith Preston do
AttacktheSystem.Com

In Defense of Ron Paul, Part Four: The Immigration Conundrum

"I'm in favor of private property, not just for individuals as the Lockeans are, but also for families (as illustrated by the law of inheritance), communities ("the commons"), property rooted in ancestral traditions (for instance, the recognition of the prerogative of indigenous peoples' to their sacred burial grounds), the property of tribes and ethnic groups (their historical homelands), and of nations (their generations long established domain). However, I'm also in favor of alternative business models like cooperatives and works councils. (...) Is an anarcho-leftist commune going to accept all comers, irrespective of beliefs, behavior or economic output? Republicans? Religious fundamentalists? Meat-eaters? Skinheads? And is enforcement of rules pertaining to immigration visas or border crossing inherently any more authoritarian than the enforcement of laws against trespassing or the restriction of entry to private facilities such as school campuses, shopping centers or office buildings? Both involve forcible expulsion of those uninvited persons who refuse to exit on their own initiative and not necessarily anything more."

Wednesday, January 16, 2008

Sobre a expansão monetária


Admito que essa ideia até pode fazer algum sentido - mesmo há uns dias, conversando com alguém, chegámos à conclusão que baixas taxas de juros no crédito à habitação se calhar beneficiam mais quem vende casas do que quem compra casas (se a oferta de habitação for pouco elástica, o efeito de taxas de juros baixas é essencialmente preços altos e não tanto mensalidades baixas).

No entanto, tenha dúvidas que o argumento empírico de Reisman seja válido, pelo menos no que diz respeito aos anos 90.

Temos aqui o crescimento da massa monetária nos EUA nas últimas décadas (clicar nos gráficos para mais informação):











































Se tomarmos como referência o M2 ou o M3, efectivamente, desde meados dos anos 90 que tem havido uma expansão monetária (e mais rápida que nos anos anteriores); pelo contrario,se nos guiarmos pelo M1, parece-me que não tem havida nenhum crescimento por aí além, tendo até havido, a principio, uma retracção.

Basicamente, o M1 são as notas e moedas em circulação mais os depósitos à ordem; o M2 é o M1 mais os depósitos a prazo; o M3 é o M2 mais uns produtos financeiros menos vulgares.

Ora, o que é controlado directamente pelo banco central é o M1: é o banco central que decide quantas notas e moedas há em circulação; e, fixando as reservas que os bancos devem deter, acaba também por controlar a criação de moeda pelos bancos.

Por exemplo, se o banco central puser 1000 euros em notas em circulação e determinar que os bancos comerciais têm que manter reservas de 5% (ou seja, que podem emprestar 95% dos seus depósitos), teremos um M1 de 20.000 euros (assumindo que as pessoas e empresas mantêm todo o seu dinheiro no banco; se mantivessem 90% do dinheiro no banco e andassem com o resto na carteira ou atrás das enciclopédias da sala, teríamos um M1 de 6.897 euros: 690 euros em circulação mais depósitos à ordem de 6.207 euros - dos quais os bancos manteriam 310 euros em reservas, concedendo empréstimos no valor de 5.897 euros).

Portanto, se é o M1 que o banco central (mais ou menos) controla, e é no M1 que se evidencia o fenómeno tão criticado pela "Escola Económica Austríaca" da concessão de crédito não suportado por poupanças (é no M1 que entra em acção, tanto o papel-moeda, como as reservas bancárias fraccionais) , parece-me que é o M1 que deve ser usado como medida da "expansividade" ou não dos bancos centrais.

E, como se vê, usando o M1 como critério não parece ter havido nenhuma expansão monetária relevante por parte do banco central norte-americano de meados dos anos 90 para a frente.

(amanhã ou depois devo postar mais alguma coisa sobre bancos centrais)

Luxemburg and Liebknecht: fallen heroes

Sindicalistas e emprego para a vida

João Miguel Tavares escreve:"Vara é a prova de que mesmo dentro de um administrador milionário bate um coração de sindicalista, desejoso acima de tudo de manter um emprego para a vida."

Se os sindicalistas desejassem, acima de tudo, manter um emprego para a vida, provavelmente não se tornariam sindicalistas (situação que, nas empresas privadas, frequentemente leva ao despedimento na primeira oportunidade).

Tuesday, January 15, 2008

Como as invasões bárbaras criaram a Europa

João César das Neves, argumentando que "a Igreja criou a Europa", desmente (com razão) o mito que a Idade Média foi a Idade das Trevas:

"Os avanços conseguidos na chamada Idade das Trevas são impressionantes, todos dirigidos a melhorar a vida concreta (op. cit. c. II): ferraduras, arado, óculos, aquacultura, afolhamento trienal, chaminé, relógio, carrinho de mão, etc. A notação musical, arquitectura gótica, tintas a óleo, soneto, universidade, além das bases da ciência, a separação Igreja-Estado e a liberdade dos escravos (c. III) são também criações medievais."

E até dá uma boa razão para a persistente ideia do "atraso" medieval:

"As razões desse engano são muito curiosas. Como explica Stark, todas as ditaduras exploram o povo para criar obras grandiosas à magnificência dos tiranos. Foi assim Roma e os reinos orientais. Destroçado o despotismo com a queda do império, a Cristandade gerou um surto de criatividade prática, pois as populações não temiam a pilhagem dos ditadores. Assim as realizações da Idade Média resultaram em melhorias da vida das aldeias, não em monumentos que os renascentistas poderiam admirar. Por isso esses intelectuais posteriores, nos seus gabinetes, desprezaram uma época sem mausoléus, enquanto louvavam as tiranias de que só conheciam a arquitectura e erudição."

Mas, nessa passagem, involuntariamente, deita por terra a sua tese que a Igreja foi a causa do progresso medieval - "Destroçado o despotismo com a queda do império, a Cristandade gerou um surto de criatividade prática, pois as populações não temiam a pilhagem dos ditadores"; ou seja, na mesma passagem em que JCN diz que "a Cristandade gerou um surto de criatividade prática", diz que foi "a queda do império" que criou as condições para esse progresso, pelo que podemos concluir que, afinal, foi esse o factor decisivo, e não "a Cristandade".

Um bom tira-teimas seria comparar o progresso na Europa medieval com o ocorrido, no mesmo período, no Império Bizantino (isto é, a parte da "Cristandade" onde uma espécie de Império Romano continuou a existir); se concluirmos que a Europa progrediu muito mais que Bizancio, a tese das "raízes cristãs" será refutada, em detrimento da tese "a queda do império libertou a Europa".

Convém também lembrar que muitos dos países mais avançados da Europa (como os nórdicos) só se converteram relativamente tarde ao cristianismo (note-se que não estou a dizer que o seu avanço resulta dessa conversão relativamente tardia; provavelmente a conversão tardia e o avanço desses países é que são ambas consequências de um poder real fraco).

Outros posts sobre o assunto:
Os "bárbaros" salvaram a Europa
Já que estou falando de "romanos" e "bárbaros"

Publicidade

Decidi por uns anúncios ali em baixo. Diga-se que, ao contrário, p.ex., de Daniel Oliveira, eu tenho mesmo preconceitos filosóficos contra a publicidade; mas, por outro lado, se alguém me decidisse contratar para escrever num jornal ou para aparecer na televisão, acho eu não iria recusar, embora o dinheiro viesse também, indirectamente, da publicidade - assim, porque haverei de recusar receber dinheiro directamente da publicidade?

Claro que isto não passa de uma racionalização para me justificar perante mim mesmo (e ainda por cima, com as visitas que este blogue tem, o que vou receber em troca da minha alma mortal deve ser para aí um euro por mês).

O caso à esquerda contra os Bancos Centrais e a inflação monetária

... pelo insuspeito George Reisman:

Credit Expansion, Economic Inequality, and Stagnant Wages

"(...) The truth is that credit expansion is responsible not only for the boom-bust cycle but also for another major negative phenomenon for which public opinion mistakenly blames capitalism: namely, sharply increased economic inequality, in which the wealthier strata of the population appear to increase their wealth dramatically relative to the rest of the population and for no good reason.

It is not accidental that the two leading periods of credit expansion in history — the 1920s and the period since the mid-1990s — have been characterized by a major increase in economic inequality. Both in the 1920s and in the more recent period, a major cause of the increased economic inequality is that the new and additional funds created in credit expansion show up very soon in the financial markets, where they drive up the prices of securities, above all, common stocks. (...)"

Outro exemplo de desigualdade induzida: é o sistema financeiro e as grandes empresas "consumidoras" de crédito, dois grupos "perto" da criação de moeda que tem lugar com a concessão/expansão do crédito, que primeiro utilizam essas novas quantidades de dinheiro na economia, ou seja, com grande parte do seu poder aquisitivo intacto porque os preços ainda não reflectiram a existência de moeda adicional. Prejudicados? Aqueles que estarão em último lugar na cadeia de utilização dessas novas quantidades de moeda, sendo um exemplo, o sector primário (agricultura, etc).

Sunday, January 13, 2008

Mais um teste sobre as eleições norte-americanas

Via Goodnight Moon, achei o Electoral Compass USA, mais um dos tais testes que parecem inúteis para os não-norte-americanos mas sempre são um entretenha gira.

Os meus resultados:

Your position in comparison with the candidates.

You have responded to 36 propositions. Based on the responses you provided, you are the closest to Barack Obama and you are the furthest away from Fred Thompson

Barack Obama
You are 9% economic left
You are 3% more progressive
You have a substantive agreement of 76%
John Edwards
You are 5% economic left
You are 14% more progressive
You have a substantive agreement of 75%
Hillary Clinton
You are as economic right as economic left
You are 19% more progressive
You have a substantive agreement of 73%
Bill Richardson
You are 3% economic left
You are 20% more progressive
You have a substantive agreement of 76%
Ron Paul
You are 53% economic left
You are 35% more progressive
You have a substantive agreement of 56%
Rudy Giuliani
You are 58% economic left
You are 54% more progressive
You have a substantive agreement of 39%
John McCain
You are 50% economic left
You are 68% more progressive
You have a substantive agreement of 38%
Mitt Romney
You are 59% economic left
You are 68% more progressive
You have a substantive agreement of 31%
Mike Huckabee
You are 55% economic left
You are 74% more progressive
You have a substantive agreement of 33%
Fred Thompson
You are 58% economic left
You are 83% more progressive
You have a substantive agreement of 28%

Comentários:

Os autores do teste esqueceram-se do Kucinich e do Gravel?

Parece que em questões económicas, eu estou, no eixo esquerda-direita, na mesma posição que Hillary Clinton (será que ela também defende a autogestão, ou haverá algum problema no teste?).

Nos primeiros candidatos (excluindo os que foram excluidos, passe a redundância), a ordem acaba por ser a mesma que neste outro teste (inclusive no único candidato republicano com "nota positiva").

É curioso que, pelo menos nos 7 primeiros lugares, a minha hierarquia de semelhanças seja igual à do Goodnight Moon.

Não é muito claro como a hierarquia de semelhanças é calculada - p.ex., eu terei mais "substantive agreement" com Richardson do que com Clinton, ou com Huckabee do que com Romney, mas no geral, o teste considera-me mais próximo de Clinton do que de Richardson, ou de Romney do que de Huckabee. Imagino que a proximidade com os candidatos seja calculada em função do gráfico bi-dimensional esquerda/direita e progressista/tradicional, e não de cada resposta individual.

Saturday, January 12, 2008

Sugestão de leitura

Scratching By: How Government Creates Poverty as We Know It de Charles Johnson.

Embora esteja a sugerir a leitura deste artigo, não quer dizer que concorde com ele (de qualquer forma, este foi escrito a pensar nos Estados Unidos) - no essencial discordo da sua tese central, de que é a intervenção estatal (nomeadamente a regulamentação) que cria a pobreza, sobretudo por tornar mais difícil aos pobres lançarem-se em "negóciozinhos", estilo fazer bolos em casa para vender.

Eu duvido que isso seja "a causa" da pobreza (nem que seja porque não é raro os bairros pobres terem uma tradição de economia paralela, passando por cima dessa regulamentação); no entanto, às vezes será um factor agravante.

Ainda as primárias no New Hampshire

Did Hillary Really Win New Hampshire?, na Counterpunch:

In New Hampshire, 81 per cent of the voting was done in towns and cities that had purchased optical scan machines from the Diebold Election Systems (now called Premiere Election Solutions), a division of Diebold Corp., a company founded by and still linked to wealthy right-wing investors. In those towns, all voting was done on the devices, called Accuvote machines, which read paper ballots completed by voters who use pens or pencils to fill in little ovals next to the candidate of their choice. The ballots are then fed into, read, and tallied by the machines. The other 19 per cent of voting was done in towns that had opted not to use the machine, and to use hand-counted paper ballots instead.

The machine tally was Clinton 39.6 per cent, Obama 36.3 per cent - fairly close to the final outcome. But the hand-counted ballot count broke significantly differently: Clinton 34.9 per cent, Obama 38.6 per cent.

Friday, January 11, 2008

A cabidela que jantei hoje

Wednesday, January 09, 2008

Re: Incentivos

A respeito do estudo recentemente divulgado que demonstra que Portugal é um dos países em que é maior a diferença entre os ordenados dos trabalhadores "normais" e o dos burocratas empresariais de topo, João Miranda escreve:"Para alem de ser um incentivo ao estudo e ao trabalho...".

Em primeiro lugar, não sei se será um incentivo ao trabalho - como a probabilidade de um não-gestor ser promovido a gestor (e, sobretudo, gestor de topo) é relativamente baixa (devido à própria escassez de cargos de gestão vagos), trabalhar muito a pensar "se trabalhar bastante, posso ir para o Conselho de Administração na próxima remodelação" não é uma atitude muito racional para a maioria dos trabalhadores; além disso, como as qualidades necessárias para ser um bom caixa de supermercado podem não ser as mesmas que para ser um bom gestor de supermercado, também é de esperar que o critério de uma empresa de supermercados para nomear um gestor não seja "quem é o melhor caixa", logo, um alto ordenado para o gestor não será um grande incentivo a ser um bom caixa.

Além do efeito sobre os incentivos, uma grande diferença salarial entre os gestores e os outros empregados pode ter outro efeito psicológico, com consequências claramente negativas: pode gerar nos outros trabalhadores um atitude de "ele que resolva o problema, que é para isso que ganha aquele dinheiro todo" (nomeadamente perante situações não previstas); e, nomeadamente, quando os gestores tomam alguma decisão sem sentido, menor será a tendência dos outros trabalhadores para lhes tentarem explicar que a decisão está errada; ora, quanto mais elevado o nível hierárquico de alguém, menos informação esse alguém tem, logo maior a probabilidade de tomar decisões erradas, pelo que, quanto mais uma organização estiver dependente dos gestores de topo, pior será o seu desempenho. Assim, se efectivamente os altos ordenados dos gestores levarem os outros trabalhadores a terem a tal atitude de "eles que se desenrasquem", terão um efeito negativo sobre o desempenho da organização.

China's Pollution Revolution

Eleições nos EUA - Previsão

Em 2009, um homem nascido em Hope, Arkansas vai estar na Casa Branca.

Tuesday, January 08, 2008

Barack Obama e os racismos americano e europeu

Há quem diga que, enquanto nos EUA, um negro tem fortes probabilidades de ser eleito presidente, na Europa os imigrantes continuam a ter pouco poder politico.

Talvez, mas vamos tentar fazer umas contas, e comparar os negros norte-americanos com os magrebinos em França, p.ex.

Nos EUA, os negros são 12% da população; em França, segundo um estudo de 2004[pdf], a população de origem magrebina seria de 3 milhões de pessoas, o que dá cerca de 5%.

Ou seja, mesmo que o grau de racismo em França e nos EUA fosse igual, a hipótese de um negro ser eleito presidente dos EUA seria mais de o dobro de um magrebino ser eleito presidente francês.

Para agravar a questão, realce-se que os negros estão há muito mais tempo nos EUA que os magrebinos em França (como os minorias étnicas tendem a subir no "sistema" aos poucos, o tempo há que se está no pais é relevante.

Poder-se-à argumentar "porquê contar só os magrebinos? Porque não todos os imigrantes - ou, pelos menos, os não-europeus - em França?"; poderíamos, mas aí teríamos que contar também o conjunto das "minorias" nos EUA (como os hispânicos).

Será verdade?


A WHISTLEBLOWER has made a series of extraordinary claims about how corrupt government officials allowed Pakistan and other states to steal nuclear weapons secrets.

Sibel Edmonds, a 37-year-old former Turkish language translator for the FBI, listened into hundreds of sensitive intercepted conversations while based at the agency’s Washington field office.

She approached The Sunday Times last month after reading about an Al-Qaeda terrorist who had revealed his role in training some of the 9/11 hijackers while he was in Turkey.

Edmonds described how foreign intelligence agents had enlisted the support of US officials to acquire a network of moles in sensitive military and nuclear institutions.

Among the hours of covert tape recordings, she says she heard evidence that one well-known senior official in the US State Department was being paid by Turkish agents in Washington who were selling the information on to black market buyers, including Pakistan.

The name of the official – who has held a series of top government posts – is known to The Sunday Times. He strongly denies the claims.

Ver também:

Emprego na Europa e nos EUA

Another jobs picture Europe vs. US (updated) de Paul Krugman:

This chart shows the employment-population ratio for the United States (blue) and the EU-15 — the 15 earlier, rich members of the European Union (red). It’s annual data 1993 to 2006, so it doesn’t get the recent decline. The numbers, from the OECD, aren’t quite comparable with the BLS version of the ratio, because they’re based on population aged 15-64, not all adults.

What the chart shows is that European countries have lower employment compared with population than the US; that’s a mixture of higher unemployment, lower female participation, and earlier retirement. But since 2000 the US employment record has been weak, while Europe has done much better at creating jobs. As a result, the gap has narrowed substantially.

This gets at a theme I’ve written about in the past, and will surely return to: a lot of the American image of Europe as a moribund economy is, like, so 1990s. They’re doing better now — and we’re doing worse.

INSERT DESCRIPTION
US versus European employment-population ratios

Update: A correspondent asks about how this looks if we just look at prime-working-age adults. Good question. Here’s the employment-population ratio for people aged 25-54, for the United States (blue), the EU-15 (red), and, just for good measure, France (green). Like I said, tales of moribund Europe are a bit out of date.

INSERT DESCRIPTION

Sunday, January 06, 2008

Moção Por Salas de Fumo nos Aeroportos

http://www.petitiononline.com/SalaFumo/petition.html

"Os signatários desta moção sublinham à autoridade que tutela a gestão dos aeroportos portugueses - a qual, em última análise, emana dessa Assembleia - a justeza da instalação nesses equipamentos públicos, em especial nas proximidades dos locais de embarque e desembarque de passageiros, de espaços destinados ao consumo de tabaco. Estes deverão ter ventilação, higiene e conforto condignos à integridade e dignidade dos clientes e dos funcionários que decidam frequentá-los."

Saturday, January 05, 2008

Ensino Religioso em Espanha

Vasco Pulido Valente escreve que o "Governo socialista de José Luis Zapatero resolveu suprimir o ensino religioso, facilitar o divórcio e permitir o casamento de homossexuais" (texto no Portugal4RonPaul).

Zapataro suprimiu mesmo o ensino religioso? A ideia (muito vaga) que eu tenho era de que o que ele fez foi passar as aulas de "religião católica" de obrigatórias a opcionais e que teria acabado com subsídios às escolas católicas.

De qualquer forma, o Colégio Diocesano Sacrado Corazon de Jesus, em Huelva, continua a ter a página na Internet activa, pelo que deduzo que não tenha sido suprimido (não fui experimentar aos sites destas escolas todas).

Emigração nórdica e impostos

Barack Obama

Obama parece ter o apoio de Henrique Raposo, Pedro Marques Lopes, Daniel Oliveira, Carlos G. Pinto e mais uma carrada de gente.

Não haverá ninguém enganado neste melting pot?

Friday, January 04, 2008

Ainda o Lisboa-Dakar: Revelações em primeira mão!

Afinal Manuel da Luz tem razão quando diz que a verdadeira causa do cancelamento não foi a ameaça terrorista - o Vento Sueste apurou que a verdadeira razão foram informações que os organizadores receberam indicando que um milionário excêntrico se preparava para inundar o deserto durante a prova.

Um "erro"?

O Presidente da Camara de Portimão, Manuel da Luz afirmou que o cancelamento do "Rally Lisboa*-Dakar" é "um erro", porque irá prejuducar bastante o Algarve, e Portimão em particular.

Até deve ser verdade que o cancelamento vai prejudicar Portimão e o Algarve, mas em que medida é que isso significa que o cancelamento seja um "erro"? Uma decisão não é certa ou errada por ser boa ou má para o Algarve, é certa ou errada por os seus pressupostos estarem certos ou errados.

E Manuel da Luz até diz que os motivos para cancelar a prova devem ter sido outros que não os apresentados oficialmente; ora, se ele diz que os motivos devem ter sido outros (provavelmente desconhecidos), como é que ele pode dizer que a organização cometeu ou deixou de cometer um erro, se ele próprio está a dizer (implicitamente) que não conhece as verdadeiras razões da decisão?

* consta que, tirando os portugueses, toda a gente lhe chama, simplesmente, "Rally Dakar" (e essa é a designação adoptada nos artigos da wikipedia sobre o evento, tirando alguns que ainda dizem Paris-Dakar )

Fascismos (II)

Há tempos falei sobre o livro do conservador norte-americano Jonah Goldberg sobre o que ele chama "Liberal Fascism" ("liberal" no sentido americano).

Um artigo sobre esse livro (ou melhor, sobre a discussão à volta do livro), no Crooked Timber (via Brad DeLong):

(...)

What explicit definition of ‘fascism’ is Goldberg operating with, if any? To judge from reviews, the author’s own comments, his ‘results’, he must be applying the term to any sort of ‘statist’ or ‘collectivist’ political rhetoric, policy proposal, or legislative act, especially such of these as entangle the state in coercive action on behalf of ‘communitarian’ values or ‘identity’ politics: values that subordinate the individual to the whole. The trouble is: pretty much the only sort of conservative who is not going to come out fascist, under this umbrella, is (maybe) the likes of F. Hayek, when penning essays with titles like “Why I Am Not A Conservative”. Otherwise, the whole tradition of conservative thought, from Burke to Kirk and beyond, is ‘fascist’. Hillary says it takes a village, but Burke would never have settled for small-time socialism. He thundered about “the great primeval contract of eternal society.” No doubt ‘it takes a village’ is pretty weak, qua anti-fascist vaccine. But switching to the belief that you would do best to unquestioningly submit yourself to some sort of primordial, vaguely mystical, hierarchical social order is not going to inoculate you either.

In Oshinsky’s review we read: “To [Goldberg’s] mind, it is liberalism, not conservatism, that embraces what he claims is the fascist ideal of perfecting society through a powerful state run by omniscient leaders.” But the obvious examples of believers in the possibility of guidance by omniscient beings are theocrats (admixers of church into state in substantial proportion.) Goldberg is trying to target liberal technocrats and hubristic social engineers. But he can hardly get religion out of the target zone. In general, belief in hierarchy, hence the need to establish and maintain a socially superior class of natural leaders is eminently conservative – from Burke to Kirk and beyond, once again. Furthermore, ‘omniscient’, badly as it serves Goldberg’s purpose, is only there because the word you really want would be even more embarrassing to his case. Fascists believe in Great Leaders. Heroic leaders. It is quite obvious, from Carlyle to Gerson and beyond, that hero-worship is not inimical to conservatism. Of course, conservatives have their rugged individualist sides. They aren’t pure statists or collectivists or slavish self-subordinators. But, then again, neither are liberals. This is all pretty obvious.

(...)

You want to restrict ‘potential fascist’ to cases where there are not only shared values, in a weak ‘we are all fascists now’ sense, but some evidence that – due to those shared values – the person might turn into a sort of fascist, in a more full-blooded (blood and soil) sense. At the very least, you want to be on the lookout for people looking at actually existing fascism and thinking it’s sort of fascinating or attractive. Maybe they express sympathy with, or peddle apologetics on behalf of, actually existing fascism. Jeet Heer (whose anthology, Arguing Comics, is really good!) has been doing some digging through the archives:


Since its founding in 1955, National Review has been a haven for writers who are, if not fascists tout court, certainly fascist fellow travellers.

Let’s put it this way: if Woodrow Wilson and Hillary Clinton are fascists then what word do we have for those who admired Francisco Franco? When the Spanish tyrant died in 1975, National Review published two effusive obituaries. F.R. Buckley (brother to National Review founder William F. Buckley) hailed Franco as “a Spaniard out of the heroic annals of the nation, a giant. He will be truly mourned by Spain because with all his heart and might and soul, he loved his country, and in the vast context of Spanish history, did well by it.” James Burnham simply argued that “Francisco Franco was our century’s most successful ruler.” (Both quotes are from the November 21, 1975 issue). Aside from F.R. Buckley and Burnham, many of the early National Reviewers were ardent admirers of Franco’s Spain, which they saw as an authentically Catholic nation free from the vices supposedly gripping the United States and the northern European countries. National Review stalwarts like Frederick Wilhelmsen, Arnold Lunn, and L. Brent Bozell, Jr. made pilgrimages to Spain, finding spiritual nourishment in the dictatorship’s seemingly steadfast Catholicism.

The really twisted side National Review’s philo-fascism came through in 1961 when Israel captured Adolph Eichmann, a leading Nazi, and tried him for crimes against humanity. National Review did everything they could editorially to offer extenuating arguments against the prosecution of Eichmann, arguing that he was being subjected to a “show trial”, that this was post facto justice, that pursuing Nazi crimes would weaken the Western alliance and further the cause of communism. As the magazine editorialized on April 22, 1961, the trial of Eichmann was a “lurid extravaganza” leading to “bitterness, distrust, the refusal to forgive, the advancement of Communist aims, [and] the cultivation of pacifism.” (The editors didn’t consider that a mere 16 years after the death camps were liberated, a “refusal to forgive” the architects of genocide might be understandable).

Pena de morte e equivalência

Ali em baixo, Filipe Abrantes escreve:

Há dias li nos arquivos do blogue um post contra a pena de morte. Citava umas linhas de Camus onde se dizia que na pena de morte não há proporcionalidade.

http://ventosueste.blogspot.com/2005/12/acerca-da-pena-de-morte.html

É dito que para haver equivalência o assassino teria de ter avisado a vítima e fazê-la esperar com angústia pela morte. Implicaria que nunca houvesse situações de justiça, dando "vantagem" aos criminosos. Se assim fosse nunca poderia haver punição de um assassinato visto serem irrepetíveis as condições (iguais) em que este aconteceu. A não ser claro que se ache que pode haver justiça sem equivalência... (eu penso que Camus entende que deve haver equivalência)

"Equivalência" não significa "identidade" - é dificil aplicar a um assassino uma punição idêntica ao crime que ele infligiu*, mas talvez seja possivel aplicar uma punição equivalente, que imponha ao assassino um incómodo equivalente ao de ser assassinado (note-se que eu próprio não me inclino muito para a teoria da equivalência - citei Camus mais porque o argumento da equivalência, ou do "olho por olho, dente por dente", costuma ser evocado pelos defensores da pena de morte).

*na "vendetta" privada talvez possamos considerar que, nos casos de homicidio, há identidade entre o crime e a punição.

Thursday, January 03, 2008

Desculpas pela escravatura

No estado norte-americano de Nova Jérsia fala-se em pedir desculpa pela escravatura. Um dos argumentos contra a ideia é de que "os actuais residentes de Nova Jérsia, mesmo os que podem encontrar na sua linhagem escravos ou proprietários de escravos, não têm qualquer culpa ou responsabilidade colectiva em acontecimentos injustos em que não tiveram qualquer participação". É um bom argumento; mas será que quem faz esse argumento também acha que os actuais residentes dos EUA não têm qualquer razão para se orgulhar de acontecimentos meritórios (ou que eles considerem meritórios) em que os EUA tenham estado envolvidos?

É que, muitas vezes, aqueles que dizem "não temos culpa nenhuma das coisas más que os nossos antepassados fizeram" são os mesmo que dizem "devemos ter orgulho nas coisas boas que os nossos antepassados fizeram".

Já agora, um post que Chris Dillow escreveu há uns tempos sobre essa matéria (no contexto britânico):

Should Britain apologize for its role in the slave trade? There's something about this that puzzles me.

Put it this way. Crudely speaking, there are two conceptions of society.


1. We're just a collection of atomized individuals. Though associated with libertarianism, this is also the Rawlsian view.

2. Society is an organism with a history. It's a "
partnership not only between those who are living, but between those who are living, those who are dead, and those who are to be born." The quote is Edmund Burke's, but this position seems also that of Gordon Brown, who speaks of a "golden thread" running through history.

Now, you'd expect adherents of position 1 to think it absurd to apologize for slavery, as
Longrider does. But supporters of position 2 would be more likely to apologize, because they regard slave traders as a part of British society and tradition.

However, when we look at who's apologizing and who isn't, we see no such correlation. I'd guess that Ken Livingstone would favour the atomized conception over the organic one, but he's
apologized. But Simon Jenkins, who I'd expect to have more sympathy with the Burkean view, rejects the apology.

This isn't, I suspect, a mere quirk of these two men. I suspect Rawlsian liberals are more likely to want to apologize than Burkean conservatives.


Sadly, I suspect there might be an easy explanation for this. Livingstone (and other "liberals") wants to curry favour with ethnic minorities. Tories don't want to draw attention to the fact that their inherited wealth is dirty money.


Crude self-interest beats intellectual consistency.

Como ganhar dinheiro acreditando nos jornais de referência


Hoje (03/01/2008), os futuros do petróleo para Dezembro de 2001 estão a US$88,25, logo o nosso investidor teria tido uma valorização total de 28%, e um rendimento anualizado de aproximadamente 16% (o que, à partida, não é mau de todo).

Se ele deveria manter o investimento ou vender já, penso que seria melhor vender agora: mesmo que o preço do petróleo fosse de US$100 em 2010, isso representaria um rendimento de apenas 6% ao ano, que provavelmente não compensaria o risco.

Objecções que se podem fazer ao meu raciocinio:

O petróleo tem subido, mas podia não ter (ou ter subido, mas menos) - os tais 16% de rendimento anual serão suficientes para compensar os riscos corridos?

Isto são valores em dólares - para um investidor europeu (que use euros como moeda) o lucro seria menor (já que o petróleo em euros tem subido menos do que em dólares; ou, o que é a mesma coisa, o d´lar tem desvalorizado face ao euro).

Wednesday, January 02, 2008

Nomes de escolas

Mesmo que fosse verdade o boato de que o governo teria dado ordens para retirar os nomes de santos às escolas, haverá alguma escola com nome de santo em Portugal? Provavelmente até haverá, mas não sei de nenhuma (Padre António Vieira acho que não conta).

Já que toda a gente se mete nas eleições dos EUA...

Os meus preferidos (dentro dos partidos do sistema):

Re: Secessão e consentimento

A respeito deste post de Carlos Novais, uma questão: e se, no momento fundador de uma comunidade politica, os membros fundadores decidirem, unanimamente, não haver direito de secessão?

A resposta poderia ser que um contrato desses não seria válido, pelas mesmas razões porque o individuo não se pode vender como escravo; no entanto, convêm lembrar que as comunidades politicamente organizadas (para simplificar, vamos chamá-las de "Estados") não exercem verdadeiramente a sua soberania sobre individuos, mas sobre territórios (e os individuos "apanham" com a soberania de um Estado por estarem no seu território).

Portanto, um acordo em que todos os habitantes de Portugal (ou de Portimão) se submetessem, a titulo definitivo e irrevogável, à autoridade da "República Portuguesa" (ou do "Municipio de Portimão") não seria válido; mas, e um acordo em que todos as pessoas que possuissem terrenos (ou outros imóveis) em Portugal submetessem, a titulo definitivo e irrevogável, as suas propriedades à autoridade do "Estado" (passando o Estado a deter a autoridade suprema sobre o conjunto de terrenos, casas e afins que constituem "Portugal")?

Afinal, se um proprietário pode alienar definitivamente a sua propriedade*, dando-a ou vendendo-a (e não apenas emprestando-a ou alugando-a), tambem poderá alienar definitivamente a soberania sobre a propriedade, não?

Poder-se-á argumentar que é pouco provável que a unanimidade, quer dos habitantes, quer dos proprietários, pudesse ser atingida, mas vamos supor que era.

*Estou assumindo, claro, que o proprietário pode alienar a propriedade (deixando de lado, p.ex., sociedades em que grande parte das terras são propriedade inalianável de familias ou clãs)