Tuesday, October 30, 2007

Ainda os rankings(III)

A respeito dos bons resultados de um dado colégio privado nos tais rankings, ouvi dizer que uma professora de outro colégio terá dito que esse tal colégio tinha esses bons resultados porque só mandava os alunos a exame quando achava que eles tinham condições para ter "altas notas".

Bem, se isso for verdade, e se for prática geral no conjunto nas escolas privadas (ou, pelo menos, nas escolas privadas "de elite"), pode ser lido de duas maneiras: uns podem argumentar "afinal essas escolas não são tão boas a ensinar assim - a única razão porque têm essas notas nos exames é apenas porque só os «melhores» é que vão a exame"; outros podem argumentar "assim é que deve ser:altos padrões de exigência! Não é mandarem toda a gente a exame sem saberem nada!".

Mas, será que isso acontece mesmo assim? Pelos dados fornecidos pelo Jornal de Noticias (xls), houve 129.970 exames no ensino público e 17.860 no privado. Não sei onde encontrar o número de alunos que frequentaram o 12º ano no público e no privado em 2006/2007, mas aqui podemos encontrar o número de alunos que frequentavam o secundário o público e privado em 2005/2006: 280.398 no público e 64.060 no privado. Se esses números se repetissem em 2007, poderíamos concluir que no público houve um exame por cada 2,16 alunos e no privado um exame por cada 3,39 alunos - ou seja, no privado parecem ir, proporcionalmente, menos alunos a exame, o que confirmará a hipótese em análise (agora, se isso é bom ou mau, é, como já disse, uma questão a discutir).

Monday, October 29, 2007

Ainda os rankings(II)

A metodologia de trabalho do Externato As Descobertas, que ficou em primeiro no ranking do Diário de Noticias para as escolas do 9º ano:

Se entrar numa sala de Infantil ou de Primária, verá alunos trabalhando simultaneamente em áreas diferentes: um pequeno grupo trabalha em Matemática, outro em Actividades Plásticas, outro constrói "Legos" e outro ainda trabalha em Português. Verá ainda o professor circulando e apoiando estes vários grupos. A este método, de origem anglo-saxónica, chama-se Open Classroom.

Fácil é de ver, que com este método, é o aluno que faz o seu próprio horário e que os alunos aprendem a dosear ao longo do dia os seus tempos e trabalhos. Também assim o professor pode dar respostas individualizadas, ou seja, dar a cada aluno o que ele necessita. Esta é, quanto a nós, a verdadeira igualdade.

Eu gostaria de apresentar isso como prova das vantagens das "pedagogias não-directivas", mas não posso: o externato apresenta-se a si mesmo como "criado em 1973 para dar resposta a crianças que, bem dotadas, tinham insucesso escolar". Ou seja, o público alvo desse colégio parecem ser "crianças bem dotadas", o que pode ser a explicação para os seus bons resultados nos exames do 9º ano (tal como também não são surpreendentes os bons resultados obtidos no 12º ano por escolas ligadas a uma congregação religiosa que recruta sobretudo entre quadros superiores e afins).

Saturday, October 27, 2007

Ainda os rankings

O Diário de Noticias publicou ontem um ranking das escolas pelos exames do 9º ano (a única coisa que está on-line dessa matéria é um artigo sobre a escola que teve piores resultados).

No entanto, o lugar cimeiro desse ranking é ocupado por um colégio, privado, mas que, a avaliar pelo artigo sobre ele, parece funcionar de acordo com as tão criticadas "pedagogias centradas no aluno", ou, de acordo com uma certa tradição semântica, o "eduquês" (eu não me lembro do nome da escola, mas quem tiver em casa o DN de ontem pode ler o artigos e ver se eu não tenho razão).

Thursday, October 25, 2007

Wednesday, October 24, 2007

Escolas públicas e privadas

A respeito dos rankings das escolas, comenta-se que "o ensino privado funciona muito melhor que o público". Será?

Pegando no ranking da SIC (pdf), fui calcular a média ponderada das notas de exame das escolas públicas e privadas, isto é, para cada sector, peguei na nota média de cada escola, multipliquei pelo número de alunos que foram a exame nessa escola, somei os valores de todas as escolas e dividi pelo número total de alunos do conjunto das escolas. Resultados:

Nota média no ensino privado: 10,84
Nota média no ensino público: 10,01 (a título de curiosidade, a minha "alma mater" teve 9,73)

Ou seja, uma diferença inferior a um valor (é verdade que, ao não incluir todas as escolas, os dados da SIC podem ter distorcido o resultado, para um lado ou outro). Efectivamente o ensino privado tem melhores resultados que o público, mas serão significativos?

[Quem quiser ver as minhas contas, em MS Excel, pode ir aqui]

Tuesday, October 23, 2007

Alguêm me sabe dizer que bicho é este? (alterado)


Estes vermes verdes no meio dos mexilhões.

[Alterei o post porque arranjei uma fotografia melhor dos animais]

23 de Outubro de 1957

Há 50 anos atrás, Albert Camus fazia o seu discurso "Le sang des Hongrois", a propósito da revolução húngara do ano anterior:

Eu não sou daqueles que desejam ver o povo da Hungria pegar de novo em armas num levantamento que seria de certeza esmagado, debaixo dos olhos das nações do mundo, que não poupariam nem aplausos nem lágrimas piedosas, mas que regressariam às suas pantufas como espectadores de futebol numa tarde de Domingo após o final da Taça.

Já há demasiados mortos no campo, e não podemos ser generosos com sangue que não o nosso. O sangue da Hungria revelou-se demasiado precioso para a Europa e para a liberdade para que não sejamos avaros dele até à ultima gota.

Mas eu não sou daqueles que pensam que pode haver compromisso, mesmo que resignado, mesmo que provisório, com um regime de terror que tem tanto direito a dizer-se socialista como os carrascos da Inquisição tinham de dizer-se cristãos.

E neste aniversário da liberdade, eu espero com todo o meu coração que a resistência silenciosa do povo da Hungria irá prevalecer, irá tornar-se mais forte e, reforçada por todas as vozes que podemos erguer em seu apoio, obtendo da opinião internacional unânime o boicote aos seus opressores.

E se a opinião mundial for demasiada fraca ou egoísta para fazer justiça a um povo martirizado, e se as nossas vozes forem também demasiado fracas, eu espero que a resistência húngara se mantenha até que o Estado contra-revolucionário desabe por todo o Leste sob o peso das suas mentiras e contradições.

A Hungria conquistada e acorrentada fez mais pela liberdade e justiça que qualquer outro povo nestes 20 anos. Mas para que esta lição perdurar e persuadir aqueles no Ocidente que fecham os olhos e ouvidos foi necessário, e não podemos estar confortáveis com isso, para o povo da Hungria derramar muito sangue que já está secando nas nossas memórias.

Na solidão que se sente na Europa de hoje, temos apenas uma maneira se sermos verdadeiros para com a Hungria, que é nunca trair, entre nós e em todo o lado, o que os heróis húngaros fizeram e nunca perdoar, entre nós e em todo o lado, mesmo que indirectamente, aqueles que os mataram.

Será difícil para nós sermos merecedores de tais sacrifícios, mas podemos tentá-lo, numa Europa em fim unida, esquecendo as nossas querelas, corrigindo os nossos erros, aumentando a nossa criatividade e a nossa solidariedade. Temos fé que está em marcha no mundo, paralela às forças de opressão e morte que escurecem a nossa história, um força de convicção e vida, um imenso movimento de emancipação que é a cultura e que se faz ao mesmo tempo pela criação livre e pelo trabalho livre.

Aqueles operários e intelectuais húngaros, perante os quais nós estamos hoje com um lamento impotente, compreenderem isso e fizeram-nos a nós compreender isso. É por isso que, se o seu sofrimento é nosso, a sua esperança também é nossa. Apesar da sua miséria, dos seus grilhões, do seu exílio, deixaram-nos uma herança gloriosa que devemos merecer: liberdade, que eles não ganharam, mas que num único dia nos deram a nós.

Poder-se-á perguntar qual o interesse de postar um texto escrito há 50 anos, num contexto geopolítico completamente diferente do actual - se calhar nenhum, mas enfim...

Monday, October 22, 2007

Eleições polacas (II)

Parece que o Partido Trabalhista subiu de 0,8 para 1% - a forma pessimista de ver a coisa é que subiu apenas 2 décimas de ponto percentual; a forma optimista é que subiu 25%.

Já a substituição dos conservadores pelos liberais na chefia do governo não sei se será tão boa noticia como parece - em termos de contágio além-fronteiras, o liberalismo económico costuma ser mais "perigoso" do que o conservadorismo social.

Saturday, October 20, 2007

Eleições polacas

O meu "endorsement" (que, com certeza, há de valer milhares de votos):



O Partido Trabalhista Polaco é o "braço politico" da central sindical "Agosto 80", criada em 1993 por uma cisão do "Solidariedade 80" (que, por sua vez, resultou de uma cisão do Solidariedade, após o fim da ditadura). Mais detalhes aqui. Nas últimas eleições teve 0,8% dos votos.

Friday, October 19, 2007

Coincidência? Ou algo digno da Twilight Zone?

No preciso momento em que acabei este post, recebem spam dizendo:

Instantly Turn Your Computer Into A TV!

Are You Paying Outrageous Prices for Cable and Satellite Services?

Instantly Access 3000 Stations on your PC or
Laptop FREE!

TV for PC:

[apaguei o link]

Watch Programs in English, Spanish, German, Arabic, French, Italian, Russian, Dutch and more!

Browse World Stations by Region or Country.

TV for PC:

[apaguei o link]

Ainda a propósito de televisão

Agora, um momento intimista, chamemos-lhe assim - as séries de televisão que eu via na minha infância e adolescência (mais ou menos por ordem cronológica inversa, e com muitas lacunas - de memória e de vídeos).

Ou então, poderemos ver este post como um tratado sociológico sobre as influências televisivas da geração de 73.

Atenção, que o browser pode bloquear se virem muitos vídeos de seguida (e acho que só se vê com o flash instalado).



































































Este video acima parece que foi retirado, mas ainda podem vê-lo aqui

























Algumas observações:

- O símbolo dos Jogos Olímpicos de Moscovo ficou mesmo ao pé de um símbolo do capitalismo americano - podermos concluir daqui uma identidade essencial entre os capitalistas do Ocidente e os (extintos) burocratas de Leste? Ou será um simples acaso cronológico?

- Pelo menos 3 das séries apresentadas deram origem, anos mais tarde, a filmes (bem, num caso, a série era já uma sequela de uma série dos anos 60 - talvez tenha sido essa que deu origem aos filmes): os que vi, achei melhor a série que o filme (num caso, achei o filme uma perfeita porcaria)

- Uma das séries apresentadas, quem era mesmo fã era a Duquesa - a bisavó do Cinza e da Blackie e n-avó e (n+1)-avó da Marta e da Chiquita, respectivamente (entretanto, a Chiquita foi rebaptizada Tareca e a Marta foi passear há 2 meses e ainda não voltou); no entanto a Duquesa só prestava atenção às cenas de imagem real e ia caçar moscas quando passava para as cenas de desenhos animados

- Qual é a utilidade deste post? Provavelmente nenhuma (além de eu me ter divertido a fazé-lo).

Thursday, October 18, 2007

The leadership illusion


This highlights one of the paradoxes of our political culture: that as the real world has become increasingly sceptical in recent years about the power of leadership, political parties have become more obsessed with it.

Outside of politics, we've learnt since the around the mid-80s that decentralized decision-making often works best - this is the lesson of the collapse of the Soviet Union; that individuals lack the knowledge or cognitive power to control big organizations; that there's wisdom in crowds rather than in centralized organizations; that self-managed structures are more flexible than top-down ones; and that network governance deals better than hierarchy with complexity.

(...)

But when we look at political parties, we see the opposite development - an increasing obsession with leadership and centralism; just look how party conferences have declined from policy-making bodies to mere rallies.

Wednesday, October 17, 2007

Isto é apenas uma experiencia

Este texto é suposto ler-se na janela principal do blog.

Este aqui não.



Sunday, October 14, 2007

A TV pública (II)

Já que a questão está na berra, chamo a atenção para o que escrevi há 8 meses:

[C]omo, durante muito tempo, achei que deveria funcionar a televisão pública.

[A] televisão pública não deveria ser "do Estado", mas "do povo", e deveria ser usada para difundir programas feitos (ou escolhidos) pelos cidadãos. Com 2 canais, a emitir 24 horas durante 365 dias por ano, cada um dos 10 milhões de portugueses teria direito a 5 segundos de emissão anual. Parece minúsculo, mas, através da criação de associações de pessoas que quisessem ver emitido determinado programa, já daria para os cidadãos terem uma influência real na programação.

PS, PSD e TV privada

Milho transgénico (VI)

Vamos lá ver o que irá dizer este estudo (apresentação aqui).

[Via Sardera e InGENEa]

Saturday, October 13, 2007

Baldios

Fala-se que, "pela primeira vez em 100 anos", vai haver um plano de gestão dos baldios.

Eu não conheço bem a questão dos baldios, mas parece-me que, atendendo que os baldios têm comissões de gestão, eleitos pelas populações (os "compartes") que os utilizam, quere dizer que há muito tempo que são geridos - as comissões podem não chamar às decisões que tomam "plano de gestão", mas, no fundo, é isso que se trata, não?

E, mesmo que estejamos a falar de um "plano de gestão" centralizado, também já houve - até foi escrito um livro e feita uma série de televisão sobre isso.

Finalmente, na reportagem da RTP sobre o assunto, falava-se muito na "falta de controle" sobre as receitas dos baldios, de contabilidade deficiente, etc. (a mim, pareceu-me que, nas entrelinhas se estava a defender "gestão profissionalizada", estatal ou empresarial). Mas o certo é que não vi nenhum "comparte" a queixar-se de "má gestão" das comissões de baldios (nem sequer em contraluz e com voz distorcida); quem vi com essa conversa foram autarcas e técnicos do Ministério da Agricultura - pelo que concluo que as pessoas que seriam lesadas por uma eventual gestão deficiente e/ou pouco clara dos baldios não dão sinais de estarem descontentes, e são os políticos e burocratas que, na sua infinita benevolência, pretendem levar às massas os elevados padrões de gestão rigorosa que, com certeza, praticam nas suas autarquias e ministérios (ou será que a ideia é a gestão empresarial que, essa sim, nunca tem manobras nem jogadas esquisitas na contabilidade?).

Friday, October 12, 2007

Sistema eleitoral "alemão" e bipolarização

Há tempos, Ana Rita Ferreira sugeria um sistema eleitoral de tipo "alemão". Nos comentários, gerou-se um debate, com Daniel Oliveira dizendo que tal ia levar à bipolarização eleitoral, com os votos a serem concentrados nos grandes partidos, e Luís Lavoura a dizer que não.

Como disse nos comentários, a melhor maneira é ir ver os resultados eleitorais nos países que têm o sistema "alemão" (o "sistema proporcional misto") e conferir se há efectivamente essa tendência para os votos se concentrarem nos grandes partidos.

Assim, vamos ver os países/regiões que usam esse sistema - Alemanha, Nova Zelândia, Pais de Gales e Escócia (também é usado na Bolívia, Lesoto e Venezuela, mas acho que a situação politica desses países é pouco comparável com a nossa; Ontário também esteve para o usar, mas a ideia foi rejeitada anteontem), e comparar com Portugal (onde os 2 maiores partidos tiverem, em conjunto, 73,8% dos votos).

Na Alemanha, em 2005, a CDU/CSU e o SPD tiveram, na votação nacional, 69,4% dos votos; na Nova Zelandia, em 2005, Trabalhistas e Nacionais tiveram 80,2%; em Gales, em 2007, os Trabalhistas e o Playd Cymru (regionalista) tiveram 51%; e na Escócia, em 2007, o SNP e os Trabalhistas tiveram 60,2%.

É verdade que a baixa bipolarização em Gales e na Escócia pode ser explicada por aí, além da divisão esquerda-direita, haver a divisão regionalistas/partidos nacionais; no entanto, olhando só para a Alemanha (menos bipartidária que Portugal) e para a Nova Zelândia (mais bipartidária), não me parece que o "sistema proporcional misto", comparado com o português, só por si, leve a mais bipolarização - e convém lembrar que a Nova Zelândia teve um sistema maioritário durante quase século e meio, até 1996, o que, concerteza é uma das razões para a concentração de votos nos grandes partidos.

Mas, não haverá tendência, como o Daniel Oliveira sugeria, para as eleições uninominais levarem a uma concentração de votos nos candidatos locais dos grandes partidos e que, por arrastamento, haja também essa concentração no voto nacional?

Acho que não, mas antes vou explicar um mal-entendido frequente.

É usual dizer-se que, no "sistema alemão", metade dos deputados são eleitos por sistema maioritário em círculos uninominais, e que a outra metade é eleita num circulo nacional, proporcionalmente à votação - e, aliás, parece-me que Ana Rita Ferreira escreveu o seu post nessa premissa.

Não é assim (isso é no chamado "sistema russo" - que já foi abandonado pela Rússia - ou "sistema maioritário misto") - efectivamente, no "sistema alemão", metade dos deputados são eleitos por sistema maioritário uninominal, mas a outra metade não é eleita proporcionalmente - os deputados do circulo nacional são distribuidos de forma a que o total dos deputados seja proporcional.

P.ex, imaginemos que Portugal estava dividido em 115 circulos uninominais e um circulo nacional de 115 deputados, e que o PS, com 45% dos votos, tinha ganho em 75 círculos uninominais. Nesse cenário, o PS não iria eleger 52 deputados (= 45% * 115) no circulo nacional, mas sim 29 ( 45% * 230 - 75).

Ora, num sistema desses, quase não há incentivo ao "voto útil" - porque razão é que, nos círculos locais, os eleitores de esquerda iriam concentrar os seus votos no PS ou os de direita no PSD, se isso nada afecta o resultado final? Um deputado do PS (ou do PSD) eleito no circulo local apenas significa menos um deputado do PS (ou do PSD) eleito no circulo nacional!

Só vejo duas razões para o "voto útil", e nenhuma me parece causadora de bipolarização - por um lado, um eleitor até pode ter uma grande simpatia pelo candidato de um grande partido no seu circulo e votar nele para ser esse candidato (e não outro do mesmo partido) a ir para o parlamento, mas esse tipo de razão não me parece que vá contaminar o voto para a lista "nacional". Por outro lado, efectivamente, é possível que um deputado de dado partido eleito no circulo local não signifique menos um deputado no circulo nacional - no caso de ser de esperar que esse partido eleja tantos deputados nos círculos locais que não tenha direito a nenhuns no circulo nacional; no entanto, nesse caso é que não há mesmo razão para votar igual nos dois votos - se há fortes probabilidades do partido em que votei no circulo local não ter direito a deputados no circulo nacional, aí o "voto útil" é, exactamente, partir o voto e dar cada qual ao seu partido (já que dar ao voto nacional ao mesmo partido que o local era desperdiçar um voto, já que não iria eleger nenhum deputado adicional).

Teste de personalidade Dilbert

Enquanto, estava à procura daquela tira, encontrei este teste. O meu resultado:

NerdTests.com User Test: The Dilbert Personality Test.


Nota: acho que na questão 13 a minha resposta deve ter tido mais a ver com as minhas "fantasias" do que com o que eu faria na realidade, mas enfim (e, de qualquer forma, não deve ter afectado o resultado final).

Baixas

Este post do Henrique Raposo fez-me lembrar uma tira do Dilbert - ainda andei à procura a ver se a achava, mas não achei.

É assim - o chefe-de-cabelo-pontiagudo convoca uma reunião de trabalho e diz que há uma situação que não pode continuar: 40% das baixas por doença dos empregados eram metidas à sexta ou à segunda!

Tuesday, October 09, 2007

IRS de casados, solteiros, viúvos...(2)

Afinal eu estava errado.

No entanto, convem ter a atenção que, tenho quase a certeza, a maioria dos filhos de pais divorciados (ou que nunca foram casados) não recebe pensões de alimentação de 6.500 euros, logo também não será correcto dizer que "Sendo, actualmente, o número de crianças e jovens filhos de pais casados ou viúvos igual a metade do seu número total, isto é, igual ao número de crianças e jovens de pais com outros estados civis, esta questão pode ser resolvida sem qualquer encargo adicional para o Estado, fazendo com que todos os pais, independentemente do seu estado civil, possam deduzir metade do valor actualmente permitido apenas para os pais não casados ou não viúvos". Provavelmente implicará um cálculo mais complexo (sim, isto é também uma tentativa desesperada minha de não sair totalmente derrotado desta questão).

Monday, October 08, 2007

Poupanças

Pelos vistos, alguém na Administração norte-americana está a dar ouvidos às criticas de "irresponsabilidade orçamental" e está a fazer algo para conter as despesas com a guerra do Iraque: os soldados em serviço no Iraque têm direito a apoio do Estado para despesas de educação (se forem tirar cursos após a missão, o Estado paga parte das despesas - pelos vistos isso representará entre 500 e 800 dólares por mês); no entanto, só têm direito a esses apoios após 730 dias de serviço. Assim, os soldados da Guarda Nacional do Minnesota tiveram uma desagradável surpresa quando, após a sua missão no Iraque, foram requerer os tais apoios e, aí, tomaram consciência que a sua estadia no Iraque tinha sido de apenas... 729 dias (via Economist's View).

Uma visão da situação politica na Tailãndia

The Kingdom of Thailand, champion of democracy? (este artigo é da International Viewpoint, uma revista alinhada com a APSR de Francisco Louçã).

No fruitsandvotes também há alguns posts sobre a nova constituição tailandesa, nomeadamente este.

IRS de casados, solteiros, viúvos...

Adenda2: afinal o que escrevi era um quase absoluto disparate, já que as pensões de alimentação têm uma dedução especifica, e só a partir de um dado valor (os tais 6.500 ou talvez mais) é que começam a pagar IRS

O post original:

Há uma semana, li uma entrevista de um dirigente da "Associação Portuguesa de Familias Numerosas" em que este se queixava que os pais divorciados ou solteiros podiam descontar 6.500 euros no IRS pelos filhos e que os casados ou os viúvos não.

Primeiro pensei "quase que aposto que isso não é assim - tenho certeza que o tramento fiscal dos viuvos é identico ao dos solteiros e dos divorciados; pelo menos, para as retenções, só existe as opções «1 titular» e «2 titulares», logo tanto faz ser viúvo ou solteiro", e até pensei em procurar informação sobre isso.

Ontem, lendo a petição da APFN (via Direita por Linhas Tortas) lá percebi a pseudo-lógica nessa queixa: o problema é que as pensões de alimentos que os pais separados pagam podem ser deduzidas no IRS (até 6.500 euros). Como, num caso de viuvez, não há ninguém a pagar pensão de alimentos, efectivamente este beneficio não se aplica aos viúvos.

No entanto, não me parece que os viúvos estejam a ser discriminados: um viúvo com filhos a cargo está exactamente na mesma situação que um divorciado com filhos a cargo ou um solteiro com filhos a cargo - nenhum pode descontar essa verba no IRS, já que nenhum paga pensão de alimentos. Em rigor, quem é discriminado nessa situação não são os viúvos, mas os ex-conjugues: enquanto no caso de um divórcio, o elemento que não fica com filhos pode descontar a pensão de alimentos no rendimento para IRS, no caso de uma viúvez o elemento que morre não paga pensão de alimentos e , portanto não a pode abater ao rendimento. No entanto, como, por norma, os mortos não pagam IRS (pagam no primeiro ano, mas é respeitante ao rendimento que auferiram quando estavam vivos), penso que a sua discriminação em sede fiscal não é problema significativo.

Mas, mesmo na comparação entre divorciados e casados, penso que não há qualquer discriminação - efectivamente, a pensão de alimentos paga por um pai divorciado (ou uma mãe) é abatida ao seu rendimento, mas acho que é incluida no rendimento da mãe (ou do pai), logo parece-me que, no final, fica tudo na mesma (e, seja como fôr, nos ultimos tempos tem-se generalizado a tutela partilhada, onde muitas vezes não há pagamento de pensões).

Por acaso, até acho que as associações "de defesa da familia" até tinham uma razão para se queixar, não do IRS, mas do abono de familia, onde os unidos-de-facto-que-fazem-IRS-separado frequentemente recebem mais que os casados ou os unidos-de-facto-que-fazem-IRS-juntos, já que nos primeiros conta só o rendimento da mãe, o que faz subir o escalão (embora eu também não veja como isso poderia ser resolvido); mas como por várias vezes a APFN disse que está mais preocupada com as questões fiscais do que com as politicas de assistência, estão claramente a abandonar o terreno onde poderiam ter razões de queixa.

Saturday, October 06, 2007

Ainda acerca da Blackwater no Iraque (II)

Falsely accused woman freed after 70 years

História no Daily Telegraph (via prisonlawinsideout):

Seventy years locked up in institutions hardly seems to be a punishment that befits the crime of stealing half-a-crown.

However, it is just such a fate that befell Jean Gambell when at the age of 15, in 1937, she was falsely accused of stealing 2s 6d (12.5p) from the doctor's surgery where she worked as a cleaner.

She was sectioned under the 1890 Lunacy Act and even though the money was later found, she has been moved from mental institution to mental institution. More recently, she went into a care home and has been lost to her family, who thought she was dead.

But last month, by chance, her brother stumbled across correspondence which led to the discovery of her existence and the family was reunited.

(...)

Friday, October 05, 2007

Eu sou 110% anti-monárquico...

... mas o certo é que não sei de ninguém da família Bush a querer ter ido combater para o Iraque.

Thursday, October 04, 2007

Ainda sobre o padrão-ouro

Continuando a escrever sobre o padrão-ouro (assunto que, pelo que vejo, tem estado no berra no blogue de solidariedade internacionalista com Ron Paul).

Evolução do valor do ouro - mercado de Nova York - e do dólar (corrigidos para a inflação) nos EUA de 1935 a 2005 (o valor do ouro fui buscar aqui; a inflação aqui; para o valor corrigido do ouro, dividi o preço do ouro em dólares pelo indice de preços para cada ano; o valor corrigido do dólar é, simplesmente, o inverso do índice de preços; ambas as séries começam no valor "35", porque uma onça de ouro valia 35 dólares em 1935).














[Em 1971, Nixon acabou com o padrão-ouro; não me perguntem como é que o valor do ouro e do dólar começam a divergir um pouco antes]

Agora, vamos ver a taxa de variação anual do ouro e do dólar (descontando a inflação; a taxa de variação do dólar é a inversa da taxa de inflação):















O que concluo destes gráficos - que o padrão-ouro, mais do que "colar" o dólar ao ouro, "colava" o ouro ao dólar: com o fim do padrão-ouro, a evolução do dólar manteve-se muito parecida ao que era antes (ainda que com algum aumento da inflação); pelo contrário, o ouro "ficou à solta", com uma valorização média muito maior do que tinha antes, mas também com muito mais instabilidade.

Em termos numéricos, entre 1935 e 67, o valor real do ouro e do dólar teve, como variação anual média, -2,69% e uma volatilidade de 3,27%.

De 1972 a 2005, o dólar teve uma variação anual média de -4,48% e uma volatilidade de 2,7%; o ouro teve uma variação anual média de 4,78% e uma volatilidade de 24,12%.

Ou seja, não me parece que o padrão-ouro contribua muito para a estabilidade da moeda (talvez contribua alguma coisa, mas não me parece que seja muito) - contribui mais para a estabilidade do ouro.

Reconheço que esta análise tem um ponto fraco - está a tomar, como termo de comparação, um padrão-ouro garantido por reservas parciais (quando os defensores mais radicais desse sistema defendem reservas a 100%). Infelizmente, não sei onde obter estatísticas detalhadas referentes ao um padrão ouro com reservas a 100% - as estatísticas de preços do Departamento do Trabalho dos EUA começam exactamente em 1913 (que é quando foi criada a Reserva Federal); e mesmo antes, penso que já havia criação de moeda pelos bancos privados.

Seguem-se os dados utilizados (ainda tentei por isto num "ler mais", mas isso ultrapassa as minhas capacidades, sobretudo à 1:26 da manhã):

Ano Ouro IPC ouro' dólar' ouro % dólar%
1935 35,00 13,7 35,00 35,00

1936 35,00 13,9 34,50 34,50 -1,44% -1,44%
1937 35,00 14,4 33,30 33,30 -3,47% -3,47%
1938 35,00 14,1 34,01 34,01 2,13% 2,13%
1939 35,00 13,9 34,50 34,50 1,44% 1,44%
1940 35,00 14,0 34,25 34,25 -0,71% -0,71%
1941 35,00 14,7 32,62 32,62 -4,76% -4,76%
1942 35,00 16,3 29,42 29,42 -9,82% -9,82%
1943 35,00 17,3 27,72 27,72 -5,78% -5,78%
1944 35,00 17,6 27,24 27,24 -1,70% -1,70%
1945 35,00 18,0 26,64 26,64 -2,22% -2,22%
1946 35,00 19,5 24,59 24,59 -7,69% -7,69%
1947 35,00 22,3 21,50 21,50 -12,56% -12,56%
1948 35,00 24,1 19,90 19,90 -7,47% -7,47%
1949 35,00 23,8 20,15 20,15 1,26% 1,26%
1950 35,00 24,1 19,90 19,90 -1,24% -1,24%
1951 35,00 26,0 18,44 18,44 -7,31% -7,31%
1952 35,00 26,5 18,09 18,09 -1,89% -1,89%
1953 35,00 26,7 17,96 17,96 -0,75% -0,75%
1954 35,00 26,9 17,83 17,83 -0,74% -0,74%
1955 35,00 26,8 17,89 17,89 0,37% 0,37%
1956 35,00 27,2 17,63 17,63 -1,47% -1,47%
1957 35,00 28,1 17,06 17,06 -3,20% -3,20%
1958 35,00 28,9 16,59 16,59 -2,77% -2,77%
1959 35,00 29,1 16,48 16,48 -0,69% -0,69%
1960 35,00 29,6 16,20 16,20 -1,69% -1,69%
1961 35,00 29,9 16,04 16,04 -1,00% -1,00%
1962 35,00 30,2 15,88 15,88 -0,99% -0,99%
1963 35,00 30,6 15,67 15,67 -1,31% -1,31%
1964 35,00 31,0 15,47 15,47 -1,29% -1,29%
1965 35,00 31,5 15,22 15,22 -1,59% -1,59%
1966 35,00 32,4 14,80 14,80 -2,78% -2,78%
1967 35,00 33,4 14,36 14,36 -2,99% -2,99%
1968 39,26 34,8 15,46 13,78 7,66% -4,02%
1969 41,51 36,7 15,50 13,07 0,26% -5,18%
1970 36,41 38,8 12,86 12,36 -17,03% -5,41%
1971 41,25 40,5 13,95 11,84 8,54% -4,20%
1972 58,60 41,8 19,21 11,47 37,64% -3,11%
1973 97,81 44,4 30,18 10,80 57,14% -5,86%
1974 159,74 49,3 44,39 9,73 47,08% -9,94%
1975 161,49 53,8 41,12 8,91 -7,36% -8,36%
1976 125,32 56,9 30,17 8,43 -26,63% -5,45%
1977 148,31 60,6 33,53 7,91 11,12% -6,11%
1978 193,55 65,2 40,67 7,35 21,30% -7,06%
1979 307,50 72,6 58,03 6,60 42,68% -10,19%
1980 612,56 82,4 101,85 5,82 75,51% -11,89%
1981 459,64 90,9 69,27 5,28 -31,98% -9,35%
1982 375,91 96,5 53,37 4,97 -22,96% -5,80%
1983 424,00 99,6 58,32 4,81 9,28% -3,11%
1984 360,66 103,9 47,56 4,62 -18,46% -4,14%
1985 317,66 107,6 40,45 4,46 -14,95% -3,44%
1986 368,24 109,6 46,03 4,38 13,81% -1,82%
1987 447,95 113,6 54,02 4,22 17,36% -3,52%
1988 438,31 118,3 50,76 4,05 -6,04% -3,97%
1989 382,58 124,0 42,27 3,87 -16,73% -4,60%
1990 384,93 130,7 40,35 3,67 -4,54% -5,13%
1991 363,29 136,2 36,54 3,52 -9,43% -4,04%
1992 344,97 140,3 33,69 3,42 -7,82% -2,92%
1993 360,91 144,5 34,22 3,32 1,58% -2,91%
1994 385,42 148,2 35,63 3,24 4,12% -2,50%
1995 385,50 152,4 34,65 3,15 -2,74% -2,76%
1996 389,09 156,9 33,97 3,06 -1,96% -2,87%
1997 332,39 160,5 28,37 2,99 -16,49% -2,24%
1998 295,24 163,0 24,81 2,94 -12,54% -1,53%
1999 279,91 166,6 23,02 2,88 -7,24% -2,16%
2000 280,10 172,2 22,28 2,78 -3,19% -3,25%
2001 272,22 177,1 21,06 2,71 -5,50% -2,77%
2002 311,33 179,9 23,71 2,67 12,59% -1,56%
2003 364,80 184,0 27,16 2,61 14,56% -2,23%
2004 410,52 188,9 29,77 2,54 9,61% -2,59%
2005 440,00 195,3 30,87 2,46 3,67% -3,28%

ouro' = (ouro/IPC)/(ouro1935/IPC1935)*35
dólar' = IPC1935/IPC*35