Saturday, December 30, 2006

A tolerância de ponto

A propósito da tolerância de ponto de 26/12/2006 e, sobretudo, do post que Isabel Faria escreveu acerca disso, ocorreu-me que uma forma de "greve" que era capaz de fazer mossa ao governo era uma "contra-greve" a uma tolerância de ponto, isto é, os funcionários públicos, como "forma superior de luta" contra as politicas do governo, irem trabalhar a um dia a que o governo desse tolerância (seria um caso extremo de "greve por bom trabalho"). Em termos de efeitos sobre a opinião pública (o objectivo, em ultima instância, de qualquer greve no sector público) seria muito mais positivo que uma greve clássica, e nem poderia ser minimizada com argumentos do género "fizeram greve só porque quiseram um dia de descanso!". Os inconvenientes eram que: a) duvido que algum sindicato declarasse um "contra-greve" dessas; b) se, mesmo assim, um sindicato apelasse à "contra-greve", muito sinceramente, duvido que alguém a fizesse; e c) como as tolerâncias costumam ser anunciadas com poucos dias de antecedência, dificilmente haveria tempo para decidir e organizar uma acção dessas, mesmo que se quisesse.

Agora, dando uma no cravo e outra na ferradura, vou analisar o outro lado do problema: os críticos das "tolerâncias", que dizem que se perde milhões de contos, que se diminui a produtividade, etc.

As contas do "prejuízo" que as tolerâncias causam são feitas de um modo curioso: sempre que aparece nos jornais que a uma tolerância de ponto custou "X", estão-se a referir ao valor de um dia de ordenado que foi pago aos trabalhadores que gozaram a tolerância - dizer que o Estado "gastou" esse dinheiro com a tolerância não é exacto, já que o Estado gastou exactamente o mesmo dinheiro que teria gasto se não houvesse tolerância (na verdade, em serviços com trabalho por turnos até gasta um pouco menos, já que paga menos suplementos de trabalho nocturno). O que se "perdeu" não foi o dinheiro mas sim os serviços que deixaram de ser prestados - até se pode admitir que, na ausência de outra medida, se avalie esses serviços pelo custo de um dia de trabalho, mas é engraçado que quem mais usa essa conta para criticar as tolerâncias seja aqueles que mais dizem que os serviços da Administração Pública valem muito menos que o dinheiro que se gasta com eles (e se calhar até têm razão, como se vê em casos destes); ora, se os serviços que o Estado presta não são assim grande coisa, então o prejuízo de não os prestar durante um dia também não é assim tão grande, não é?

Quanto aos efeitos da tolerância sobre a "produtividade", lembro que a "produtividade" é o rácio entre a produção total e o trabalho total - ora, como uma tolerância de ponto reduz tanto a produção como o trabalho, não terá efeito sobre a produtividade; em rigor, até é provável que a aumente um bocadinho, já que em serviços de determinada natureza (p.ex., contabilidade, processamento de salários, etc.) um dia de tolerância significa que o trabalho que era para ser feito nesse dia terá que ser feito nos outros dias, ou seja, a produção total não é afectada (logo, se a produção é a mesma com menos dias de trabalho, temos maior produtividade).

Solstício em Liberdade

O hábito instalou-se também entre nós: por ocasião das celebrações de Inverno, os comissários do auto-proclamado "politicamente incorrecto" insurgem-se contra a mais pequena manifestação de laicismo na chamada praça pública. Em nome - pasme-se - da liberdade de culto, não suportam que escolas do Estado (ou mesmo empresas privadas) decidam não ter presépios, são contra os cartões e mensagens oficiais de "Boas Festas" (em vez do "Feliz Natal") e sabe-se lá que mais.

Inspiração: Natal em Liberdade, de João Carlos Espada, no Expresso.

Thursday, December 28, 2006

A "Casa da Juventude" de Coppenhaga

Versão inglesa do site da "Casa da Juventude" de Coppenhaga. Já agora, também o meu comentário a um post da Causa Liberal sobre o assunto.

Wednesday, December 27, 2006

Continuando com as estatisticas do FMI...

Aproveitando aquelas estatísticas do FMI que fui buscar por causa do Chile, vou agora analisar a tal tese que diz "o nosso mal foi não termos tido uma transição gradual à espanhola".

Taxa média de crescimento anual de 1974 a 2001:

Portugal -> 2,97%
Espanha -> 2,64%

Limitando a questão a 1974-79, o periodo mais directamente afectado pela nossa revolução e pela transição deles:

Portugal -> 3,06%
Espanha -> 2,51%

Realmente, em 1974 e 75 a nossa taxa de crescimento foi menor (1,15% e -4,35%, contra 5,7% e 1,1% em Espanha), mas foi completamente recuperada nos anos seguintes.

É verdade que estas contas não provam que não estaríamos melhor se tivéssemos tido a tal "transição pactuada" (pode-se argumentar que o nosso crescimento teria sido ainda maior nesse caso), mas acho que contribuem para diminuir a importância que por vezes se dá a esse ponto.

"As raizes cristãs do Natal"

Será que na Escandinávia também haverá que fale em recuperar "as raizes cristãs do Natal"? Provavelmente haverá, mas deve ser díficil dizer isso de uma forma que faça sentido, já que nas linguas da zona a palavra para "Natal" é a mesma que para o ritual pagão do solstício do Inverno.

Tuesday, December 26, 2006

Ainda acerca do Natal, "boas festas" e afins

Religião e violência


Em primeiro lugar, não me parece correcto dizer que "o Corão milita contra judeus e cristãos" - o Corão milita contra todas as religiões não-islâmicas! Na verdade, perante a "sharia", judeus e cristãos até são uma espécie de "privilegiados", já que têm o direito de viver na "Casa do Islão" com o estatuto de "súbditos de 2ª"(dhimmis), enquanto os politeístas (e suponho que os ateus como eu) são mesmo para serem degolados (embora no Oriente o estatuto de dhimmi por vezes seja alargado a grupos - como os hindus - que em principio a ele não teriam direito).

Quanto a dizer que "o Antigo Testamento ataca os adoradores do Bezerro de Ouro" sendo literalmente correcto, acaba por ser incorrecto se a ideia (como claramente parece ser) é dizer que o ódio do Antigo Testamento dirige-se só ou principalmente contra os adoradores do Bezerro de Ouro.

Exodo, cáp. 23:

Porque o meu anjo irá adiante de ti, e te levará aos amorreus, e aos heteus, e aos perizeus, e aos cananeus, heveus e jebuseus; e eu os destruirei.

24

Não te inclinarás diante dos seus deuses, nem os servirás, nem farás conforme às suas obras; antes os destruirás totalmente, e quebrarás de todo as suas estátuas.

25

E servireis ao SENHOR vosso Deus, e ele abençoará o vosso pão e a vossa água; e eu tirarei do meio de vós as enfermidades.

26

Não haverá mulher que aborte, nem estéril na tua terra; o número dos teus dias cumprirei.

27

Enviarei o meu terror adiante de ti, destruindo a todo o povo aonde entrares, e farei que todos os teus inimigos te voltem as costas.

28

Também enviarei vespöes adiante de ti, que lancem fora os heveus, os cananeus, e os heteus de diante de ti.

29

Não os lançarei fora de diante de ti num só ano, para que a terra não se torne em deserto, e as feras do campo não se multipliquem contra ti.

30

Pouco a pouco os lançarei de diante de ti, até que sejas multiplicado, e possuas a terra por herança.

31

E porei os teus termos desde o Mar Vermelho até ao mar dos filisteus, e desde o deserto até ao rio; porque darei nas tuas mãos os moradores da terra, para que os lances fora de diante de ti.

32

Não farás aliança alguma com eles, ou com os seus deuses.

33

Na tua terra não habitarão, para que não te façam pecar contra mim"


Deuterónomio, cap. 3:

Depois nos viramos e subimos o caminho de Basã; e Ogue, rei de Basã, nos saiu ao encontro, ele e todo o seu povo, à peleja em Edrei.

2

Então o SENHOR me disse: Não o temas, porque a ele e a todo o seu povo, e a sua terra, tenho dado na tua mão; e far-lhe-ás como fizeste a Siom, rei dos amorreus, que habitava em Hesbom.

3

E também o SENHOR nosso Deus nos deu na nossa mão a Ogue, rei de Basã, e a todo o seu povo; de maneira que o ferimos até que não lhe ficou sobrevivente algum.

4

E naquele tempo tomamos todas as suas cidades; nenhuma cidade houve que lhes não tomássemos; sessenta cidades, toda a região de Argobe, o reino de Ogue em Basã.

5

Todas estas cidades eram fortificadas com altos muros, portas e ferrolhos; e muitas outras cidades sem muros.

6

E destruímo-las como fizemos a Siom, rei de Hesbom, destruindo todas as cidades, homens, mulheres e crianças.

Deuterónomio, cap. 7:

Quando o SENHOR teu Deus te houver introduzido na terra, à qual vais para a possuir, e tiver lançado fora muitas naçöes de diante de ti, os heteus, e os girgaseus, e os amorreus, e os cananeus, e os perizeus, e os heveus, e os jebuseus, sete naçöes mais numerosas e mais poderosas do que tu;

2

E o SENHOR teu Deus as tiver dado diante de ti, para as ferir, totalmente as destruirás; não farás com elas aliança, nem terás piedade delas;

3

Nem te aparentarás com elas; não darás tuas filhas a seus filhos, e não tomarás suas filhas para teus filhos;

4

Pois fariam desviar teus filhos de mim, para que servissem a outros deuses; e a ira do SENHOR se acenderia contra vós, e depressa vos consumiria.

5

Porém assim lhes fareis: Derrubareis os seus altares, quebrareis as suas estátuas; e cortareis os seus bosques, e queimareis a fogo as suas imagens de escultura.

Deuterónomio, cap. 13:

Quando te incitar teu irmão, filho da tua mãe, ou teu filho, ou tua filha, ou a mulher do teu seio, ou teu amigo, que te é como a tua alma, dizendo-te em segredo: Vamos, e sirvamos a outros deuses que não conheceste, nem tu nem teus pais;

7

Dentre os deuses dos povos que estão em redor de vós, perto ou longe de ti, desde uma extremidade da terra até à outra extremidade;

8

Não consentirás com ele, nem o ouvirás; nem o teu olho o poupará, nem terás piedade dele, nem o esconderás;

9

Mas certamente o matarás; a tua mão será a primeira contra ele, para o matar; e depois a mão de todo o povo.

10

E o apedrejarás, até que morra, pois te procurou apartar do SENHOR teu Deus, que te tirou da terra do Egito, da casa da servidão;

11

Para que todo o Israel o ouça e o tema, e não torne a fazer semelhante maldade no meio de ti.

12

Quando ouvires dizer, de alguma das tuas cidades que o SENHOR teu Deus te dá para ali habitar:

13

Uns homens, filhos de Belial, que saíram do meio de ti, incitaram os moradores da sua cidade, dizendo: Vamos, e sirvamos a outros deuses que não conhecestes;

14

Então inquirirás e investigarás, e com diligência perguntarás; e eis que, sendo verdade, e certo que se fez tal abominação no meio de ti;

15

Certamente ferirás, ao fio da espada, os moradores daquela cidade, destruindo a ela e a tudo o que nela houver, até os animais.

Deutoronomio, cap. 22:

Porém se isto for verdadeiro, isto é, que a virgindade não se achou na moça,

21

Então levarão a moça à porta da casa de seu pai, e os homens da sua cidade a apedrejarão, até que morra;


Custará assim tanto admitir que o Antigo Testamento é uma espécie de manifesto talibã? E se irmos ver, não apenas as passagem em que Deus apela à violência, mas aquelas em que ele exerce directamente a violência (Dilúvio, Sodoma e Gomorra, primogénitos do Egipto, etc.), então a apologia do genocídio é quase uma constante (sobretudo no Genesis e no Exodo).

Claro que poderá argumentar-se que o Antigo Testamento foi escrito numa época, e se tivesse sido escrito mais tarde (p.ex., no século XVIII), provavelmente não teria a carga genocida que tem. Certíssimo. Probabilíssimo. Mas, na lógica do raciocínio, também Paulo Tunhas poderia perfeitamente ser esquimó, ou chamar-se Jeeves, - e eu, mais ambiciosamente, Presidente dos EUA, ou, melhor ainda, da ERC.

Sunday, December 24, 2006

Friday, December 22, 2006

Já vai atrasado, mas...

[Alguns espíritos mais paroquiais podem argumentar que não estamos no Verão, mas a imagem é de Bora-Bora, e lá o solstício de Verão deve ter sido ontem]

Adenda: afinal acho que o solstício foi hoje - ou seja, o meu posta até não foi atrasado!

Tuesday, December 19, 2006

Mapas

Mais outra coisa em que não sou anti-americano

Segundo uma sondagem do Finantial Times (via cinco dias) , "US respondents are the most hostile to any ban on Muslim women wearing the veil in public. Fifty-nine per cent of Americans agree with the proposition that Muslim women should have the right to wear veils if they wish to do so, compared with 23 per cent in the UK and 13 per cent in France".

The Great Wealth Transfer

Via Economist's View, um artigo de Paul Krugman sobre a concentração da riqueza nos EUA:

A generation ago the distribution of income in the United States didn't look all that different from that of other advanced countries. We had more poverty, largely because of the unresolved legacy of slavery. But the gap between the economic elite and the middle class was no larger in America than it was in Europe.

Today, we're completely out of line with other advanced countries. The share of income received by the top 0.1 percent of Americans is twice the share received by the corresponding group in Britain, and three times the share in France. These days, to find societies as unequal as the United States you have to look beyond the advanced world, to Latin America. And if that comparison doesn't frighten you, it should.

The social and economic failure of Latin America is one of history's great tragedies. Our southern neighbors started out with natural and human resources at least as favorable for economic development as those in the United States. Yet over the course of the past two centuries, they fell steadily behind. Economic historians such as Kenneth Sokoloff of UCLA think they know why: Latin America got caught in an inequality trap. For historical reasons -- the kind of crops they grew, the elitist policies of colonial Spain -- Latin American societies started out with much more inequality than the societies of North America. But this inequality persisted, Sokoloff writes, because elites were able to "institutionalize an unequal distribution of political power" and to "use that greater influence to establish rules, laws and other government policies that advantaged members of the elite relative to non-members." Rather than making land available to small farmers, as the United States did with the Homestead Act, Latin American governments tended to give large blocks of public lands to people with the right connections. They also shortchanged basic education -- condemning millions to illiteracy. The result, Sokoloff notes, was "persistence over time of the high degree of inequality." This sharp inequality, in turn, doomed the economies of Latin America: Many talented people never got a chance to rise to their full potential, simply because they were born into the wrong class.

In addition, the statistical evidence shows, unequal societies tend to be corrupt societies. When there are huge disparities in wealth, the rich have both the motive and the means to corrupt the system on their behalf. In The New Industrial State, published in 1967, John Kenneth Galbraith dismissed any concern that corporate executives might exploit their position for personal gain, insisting that group decision-making would enforce "a high standard of personal honesty." But in recent years, the sheer amount of money paid to executives who are perceived as successful has overridden the restraints that Galbraith believed would control executive greed. Today, a top executive who pumps up his company's stock price by faking high profits can walk away with vast wealth even if the company later collapses, and the small chance he faces of going to jail isn't an effective deterrent. What's more, the group decision-making that Galbraith thought would prevent personal corruption doesn't work if everyone in the group can be bought off with a piece of the spoils -- which is more or less what happened at Enron. It is also what happens in Congress, when corporations share the spoils with our elected representatives in the form of generous campaign contributions and lucrative lobbying jobs.

(...)

In the end, the effects of our growing economic inequality go far beyond dollars and cents. This, ultimately, is the most pressing question we face as a society today: Will the United States go down the path that Latin America followed -- one that leads to ever-growing disparity in political power as well as in income? The United States doesn't have Third World levels of economic inequality -- yet. But it is not hard to foresee, in the current state of our political and economic scene, the outline of a transformation into a permanently unequal society -- one that locks in and perpetuates the drastic economic polarization that is already dangerously far advanced.

Sunday, December 17, 2006

"Nada de novo sobre a Terra"

Neste texto, Pacheco Pereira faz um paralelo entre as ideologias revolucionárias do final do século XIX (nomeadamente o anarquismo e o sindicalismo revolucionário) e o que chama "utopias tecnológicas":

Gente culta e inteligente, génios da tecnologia, que não sabem muita história, não escapam à ideia de que as novas tecnologias permitirão uma engenharia social poderosa, que nos tornará mais solidários (em Rede), mais poderosos na igualdade (as ideias niveladoras fazem o seu caminho com a noção de "empowerment"), num mundo que não precisa de mediações, não necessita de delegar poderes, mais felizes porque interagimos numa terra sem propriedade (os átomos dissolvem-se nos bits e estes não tem dono).

Do Linux, e de todo o software grátis e "livre", a mágica palavra (lembram-se de "o homem livre sobre a terra livre"?), à saga teórica e prática contra os direitos de propriedade, que institucionalizou o velho "roubo" de que falavam Proudhon e Preobajensky; da "town hall democracy" à ideia de construir um mítico agora em que todos podem votar sobre todas as questões em tempo quase real, não sendo necessário nem um parlamento, nem um governo, podendo ser este apenas um grupo de tecnocratas executores das decisões da "comuna";
Exemplos abundam na bibliografia Electronic Democracy, que retrata muitas das utopias da Internet no seu início; vários textos de Eben Moglen um dos mais activos e proeminentes defensores do "free software", Anarchism Triumphant: Free Software and the Death of Copyright; Freeing the Mind : Free Software and the Death of Proprietary Culture, etc., etc.
da Wikipédia, enciclopédia colectiva dos homens comuns que não precisam de "senhores", em que mais importante do que o rigor dos artigos é o facto de serem feitos por todos, onde são as massas que "fazem" a ciência (como se diz num comentário num blogue: "A wikipédia não é mesmo uma enciclopédia de autor. Prefiro assim. Prefiro que seja validada a opinião da generalidade, daqueles que verdadeiramente fazem algo pela disseminação de cultura. O conhecimento absoluto e pessoal está condenado com este novo critério editorial") ao "jornalismo dos cidadãos", em milhares de pequenos passos, a Revolução passou para a Rede e aí dissolve os poderes tradicionais.

Parece-me que Pacheco Pereira faz este paralelismo com a intenção de desvalorizar as tais "utopias tecnológicas", género "mais não fazem que voltar a ideias com mais de cem anos", mas também podemos fazer o caminho ao contrário: ver esse suposto paralelismo como algo que valoriza os tais revolucionários de 1900, que, um século mais tarde, vêm as suas ideias serem retomadas por pessoas que quase de certeza nunca os leram.

Milagre Chileno (IV)?

Em atenção a um comentador do primeiro post, aqui vão o que me parecem ser as taxas de crescimento anual do PIB, em vários paises latino-americanos, de 1974 a 1989 (calculei-as indo a estes dados do FMI e a partir das taxas anuais de crescimento do PIB real)

Paraguai 5,88%
Brasil 4,25%
Rep. Dominicana 4,08%
Colômbia
4,06%
Equador 3,87%
México 3,78%
Costa Rica 3,61%
Honduras 3,52%
Chile 3,18%
Guatemala 2,63%
Panamá
2,42%
Uruguai 2,18%
Venezuela 1,93%
Bolívia
1,41%
Peru 1,28%
El Salvador 0,83%
Argentina -0,06%
Nicarágua
-1,35%

Note-se que, neste período, grande parte dos países em questão tinham regimes similares ao chileno, logo esta estatística interessa pouca para avaliar dos méritos relativos das democracias representativas e das ditaduras (penso que só a Costa Rica e a Venezuela foram sempre democracias "normais" neste período; já agora, o então ditador do Paraguai - que, se as minha contas estiverem certas, foi o campeão do crescimento - também morreu este ano)

Saturday, December 16, 2006

"Um coração que bate"

O campo do "não" agora usa o argumento "às dez semanas já há um coração que bate".

Mas, vamos lá ver: o argumento "pró-vida" tradicional era que "a vida começa na concepção" (tanto os óvulos como os espermatozóides são células vivas, mas pronto...). Se a ideia continua a ser essa, o coração já bater ou não às 10 semanas é irrelevante.

Assim, ao usarem esse slogan, estão implicitamente (mesmo que involuntariamente) a levarem a discussão para o ponto "que grau de desenvolvimento orgânico o embrião tem de ter para ser considerado pessoa?". Ora, a partir do momento em que o debate vai para esse ponto, porque é que a fronteira há de ser "o coração que bate" e não "o cérebro que funciona"? Afinal, se, devido a uma malformação, um bebé nascer com uma cabeça e dois corações, ninguém vai dizer que nasceram dois bebés, e os pais poderão sentir grande aflição enquanto o problema não for resolvido, mas quase de certeza que eles e os médicos não vão sentir grandes complicações éticas acerca de que coração extrair (apenas dúvidas de ordem pragmática). Agora imaginem como é se nascer um(?) bebé com duas cabeças e um coração (não sei se é biologicamente possível, mas vou assumir que sim) - em principio serão considerados como 2 bebés e se for necessário "sacrificar" um de certeza que será uma decisão muito mais dolorosa, não apenas a nivel pragmático, mas também a nível ético e emocional.

[Alguém poderá achar esta minha posição de considerar que o marco para o embrião ser considerado pessoa é "o cérebro que funciona" e não "o coração que bate" como uma posição tipicamente "cerebral" e "insensível", mas convém lembrar que mesmo aquilo a que na linguagem poética-metafórica se chama "coração" - o espaço das emoções e sentimentos - fica no cérebro]

Friday, December 15, 2006

Trabalho temporário e desemprego

Via Economist's View, um artigo[pdf] aonde, através de estudo feitos na cidade de Detroit, se argumenta que o trabalho temporário pode não ajudar a arranjar um emprego definitivo, e até pode prejudicar - nomeadamente, parece que, muitas vezes, pessoas que recusam trabalhos temporários e preferem permanecer no desemprego enquanto procuram um trabalho mais estável, ao fim de 2 anos têm melhores empregos e a ganhar mais do que as pessoas que aceitam trabalhos temporários (uma possível explicação é que os trabalhadores temporários têm menos disponibilidade para procurar empregos que os desempregados).

Ainda sobre o mundo em 2096

Esta passagem do artigo de Krugman, "escrita" pelo tal economista de 2096: "And that is why writing this article is such an opportunity. I actually don't mind my day job in the veterinary clinic, but I have always wanted to be a full-time economist; an article like this might be just what I need to make my dream come true".

Sabem o que essa ideia (no futuro termos economistas a trabalharem em clínicas veterinárias e a escreverem artigos sobre economia no seu tempo livre) me lembrou? Que talvez o futuro dos licenciados em economia fosse mesmo irem trabalhar nos serviços administrativos de hospitais, ganhado aí o seu sustento, e depois terem um blogue aonde, como hobby, escreveriam sobre politica e economia.

Mas depois lembrei-me que os "serviços administrativos" são dos tais que provavelmente irão desaparecer.

Previsões para o século XXI

Um curioso artigo de Paul Krugman, escrito em 1996, mas como se fosse um artigo de um economista imaginário de 2096, sobre a evolução do mundo nos últimos 100 anos (i.e., de 1996 a 2096).

Algumas das previsões são surpreendentes - se algum dos meus leitores chegar a 2096, poderá verificar se foi assim ou não (bem, a parte de em 2043 o imposto sobre os rendimentos ser abolido nos EUA e o estado passar a financiar-se com a venda de "licenças de poluição" eu ainda posso conferir - aos 70 anos espero estar lúcido).

E ao contrário?

Por acaso, eu estava à espera que, face à minha questão anterior, alguêm me fizesse a questão inversa - "E se um parlamento, democraticamente eleito, decidisse devolver as empresas aos anteriores proprietários? O Miguel acharia aceitável que os trabalhadores dessas empresas se sublevassem (por algumas coisas que aparecem nesse blogue, é de imaginar que sim)?".

Ainda ninguêm fez a questão, mas vou tentar respondê-la - se essa medida não tivesse feito parte do programa eleitoral das forças dominantes nesse parlamento, um levantamento popular (ou, pelo menos, a desobdiência civil) seria perfeitamente legitimo.

Caso a medida fizesse parte do programa eleitoral dos vencedores - e estes tiverem tido a maioria absoluta dos votos expressos - já me inclino para a ilegitimidade duma acção dessas.

Claro que podem-se levantar aqui mais questões: e se a maioria democrática nacional quiser uma coisa e num concelho quiser outra? P. ex., as várias "Leis de Reforma Agrária" publicadas desde 1976, determinando um devolução gradual de terras aos antigos latifundiários, se calhar até tiveram o apoio da maioria da população a nivel nacional, mas foram claramente rejeitadas pela maioria da população na área abrangida. Da mesma forma, é bastante provável que, mesmo que o "sim" à legalização da IVG ganhe, o "não" ganhe nalgumas regiões.

Outro caso - se fosse decidido, democraticamente (em referendo, já agora), obrigar/proibir o uso do vêu islâmico, seria legitimo que alguma mulher se recusasse a acatar a obrigação/proibição e continuasse a sair à rua sem/com vêu? A minha primeira reacção é "claro que sim!", mas, por outro lado fico a pensar "E qual é o limite? Se cada um comçar a fazer o que acha moralmente correcto, indepentemente da lei, não acabaremos aos tiros uns com os outros?".

À partida, inclino-me para achar que, em questões de direitos de propriedade, deve-se respeitar a vontade democrática, enquanto que em matéria de liberdades civis a desobediência individual já faz mais sentido. A razão é porque em matéria de direitos de propriedade, diferentes concepções acerca de quem é o proprietário legitimo de alguma coisa chocam-se inevitavelmente, logo é necessário (pelo menos na mesma área geográfica) um padrão comum. Pelo contrário, em matéria de liberdades civis há muitas situações em que é possivel desobedecer à lei sem isso afectar outras pessoas. Mas não sei se este meu raciocinio fará grande sentido.

Thursday, December 14, 2006

Uma questão

Imagine-se que um parlamento democraticamente eleito aprovava uma lei determinando, p.ex., que todas as empresas com mais de 13 funcionários seriam nacionalizadas, sob gestão eleita pelos trabalhadores.

Os blasfemos, insurgentes, etc., considerariam, como defensores da "democracia limitada", que a partir desse momento passaria a ser aceitável, digamos, um golpe de estado (já que se estaria a viver em "democracia iliberal")?

Wednesday, December 13, 2006

Milagre Chileno (III)?

Divida externa em percentagem do PNB, em 1980 e 1991, e variação em pontos percentuais:


1980 1991
Bolivia 93,3% 85,3% -8,0
Peru 47,6% 44,3% -3,3
Brasil 31,3% 28,8% -2,5
Argentina 48,4% 49,2% +0,8
México 30,5% 36,9% +6,4
El Salvador 26,2% 37,4% +11,2
Paraguai 20,7% 35,0% +14,3
Guatemala 14,9% 29,5% +14,6
Chile 45,5% 60,7% +15,2
Costa Rica 57,7% 74,9% +17,2
Colômbia
20,9% 43,5% +22,6
Venezuela 42,1% 65,3% +23,2
Uruguai 17,0% 45,3% +28,3
Rep. Dominicana 31,2% 65,7% +34,5
Panamá 87,5% 130,1% +42,6
Nicarágua
108,5% 153,5% +45,0
Honduras 60,5% 113,8% +53,3
Equador 53,8% 114,5% +60,7

Milagre Chileno (II)?

Crescimento do salário por empregado na indústria em 1980-90 (a fonte é a mesma):

Brasil 4,8%
Panamá 2,2%
Colômbia
1,6%
Honduras 0,9%
Uruguai 0,8%
Argentina -0,8%
Chile -1,0%
Equador
-1,5%
Guatemala -1,9%
Costa Rica -2,2%
Peru -3,5%
México -3,9%
Venezuela -5,2%
Bolivia -6,4%

Mantém-se o padrão - na catástrofe sul-americana, o Chile não se saiu muito mal, mas em termos absolutos não me parece grande milagre.

Milagre Chileno?

Taxa de crescimento do PNB p.c. de vários países latino-americanos, de 1980 a 1991 (fonte - o Caderno de Macroeconomia II do ISEG):

Peru………2,4%
Chile………1,6%
Colômbia....1,2%
Costa Rica………0,7%
Brasil………0,5%
Rep.Dominicana………-0,2%
El Salvador………-0,3%
Uruguai………-0,4%
México………-0,5%
Honduras………-0,5%
Equador………-0,6%
Paraguai………-0,8%
Venezuela………-1,3%
Argentina………-1,5%
Guatemala………-1,8%
Panamá………-1,8%
Bolívia………-2,0%
Nicarágua………-4,4%

Parece uma boa classificação, não é? No entanto, no mesmo periodo, Portugal teve um crescimento de 3,1%, a França de 1,8%, o Canadá 2%, etc. Ou seja, em termos de PNB p.c., não houve propriamente um "milagre" no Chile - o que houve, nos anos 80, foi uma "maldição" na América Latina, que fez o Chile, com um crescimento médio, fazer parecer um grande sucesso.

Sunday, December 10, 2006

El Pueblo unido jamas sera vencido

Música de Victor Jara, assassinado pelo regime de Pinochet.

Prós e Contras

Mensagem que mandei para a RTP:

Porque é que a RTP, para o programa Prós & Contras da próxima segunda-feira, convida os candidatos que ficaram em 1º (Carmona), 2 (Carrilho), 3º (Ruben de Carvalho) e 5º lugares (Nogueira Pinto) e não o que ficou em 4º (Sá Fernandes)?


E o critério de "apenas as forças políticas que formaram coligações para a governação da autarquia podem estar presentes" não serve - todas as forças politicas que deram origem ao partido que Sá Fernandes representa (o BE) já integraram coligações que ganharam a Camara.

Friday, December 08, 2006

Já agora, em Portugal...

...também tem havido alguma discussão (mas muito restrita) sobre a viabilidade do controle pelos trabalhadores das empresas que fecham (afinal, todas as semanas há noticias de uma empresa que fecha de surpresa e que os trabalhadores ficam de vigilância para não deixar sair as máquinas).

Recentemente, a respeito da fábrica da Opel da Azambuja, a Ruptura/FER defendia a "sua nacionalização sob gestão eleita pelos trabalhadores" (e o mesmo para as fábricas em vias de "deslocalização" do calçado e do téxtil).

Em resposta, a Associação Politica Socialista Revolucionária (o antigo PSR) argumenta:

A reivindicação, dos camaradas “críticos”, da nacionalização das empresas que os patrões pretendem encerrar e deslocar impondo o controlo dos trabalhadores sob a gestão dessas empresas… é o caso da OPEL tem tanto de realista - neste momento – como a exigência de greve geral ilimitada na Administração Pública, só desconvocada por plenários de base
. A nacionalização da OPEL caía ao 2º dia quando faltassem todas as peças e todos os materiais de montagem; além disso caía porque não podia produzir nenhum modelo de carro que se pudesse vender onde quer que fosse. Recorde-se que o Bloco já apresentou propostas de ataque às deslocalizações que passam por legislação e luta europeia.

A última e mais emblemática ocupação de empresa pelos trabalhadores foi a da empresa Confecções Afonso. A vitória final destas trabalhadoras foi conseguirem arranjar novo patrão – não foi assumirem elas próprias a direcção da empresa.

[Acerca do caso das Confecções Afonso, ver aqui, aqui, aqui e aqui. Não sei se o "novo patrão" referido na artigo é a senhora que comprou a fábrica por 1 euro ou se é alguém que apareceu depois]

As empresas ocupadas na Argentina

Via Mutualist Blog, um artigo sobre as empresas ocupadas na Argentina e as dificuldades que enfrentam devido à falta de definição legal do seu estatuto:

In recent years leading up to Argentina's 2001 financial crisis, thousands of factories have closed and millions of jobs have been lost. Many workers have decided to defeat the destiny of unemployment, taking over their workplace and recuperating their dignity as workers. More than 180 recuperated enterprises are up and running, employing more than 10,000 Argentine workers at cooperative-run businesses, which were closed down by bosses and reopened by employees. In almost all cases workers took over businesses that had been abandoned or closed by their owners in the midst of a financial crisis.

Many worker controlled factories today face hostility and frequently violence from the state. Workers have had to organize themselves against violent eviction attempts and other acts of state violence. This impacts the workers and the enterprises as it means that employees have to leave the work place, invest energy in a legal battle and fight for laws in favor of worker recuperated businesses.

To counter oppose an uncertain legal future, many recuperated enterprises have mobilized to press for the government to resolve their cooperative's legal status. On October 27, workers from Renacer domestic appliance cooperative, CUC worker run shoe company, BAUEN hotel, City Hotel, Bahía Blanca ex-Paloni slaughter house, La Foresta meat packing cooperative and Zanon-FaSinPat worker run ceramics plant rallied outside a federal court to push for a national expropriation law.

Since 2003, workers have operated the BAUEN cooperative hotel with no legal standing or government subsidies. Since taking over the hotel on March 21, 2003, the workers have slowly begun to clean up the ransacked hotel and rent out the hotel's services. The hotel re-opened with 40 employees and now employs some 150 workers.

Employees rallied throughout December last year to pressure the Buenos Aires city government to veto a law in favor of putting the hotel back into the hands of the former owner. The B.A. government refused to veto the law. If the BAUEN cooperative does not succeed in pushing through a new favorable law they risk losing their hotel.

A dozen workers from Renacer (Ex-Aurora) traveled over 5,000 kilometers for the rally in Buenos Aires, to press for the permanent expropriation of their plant. The Renacer domestic appliance producer cooperative formed in 2000 after the former owner decided to shut down operations, owing banks and workers' thousands of dollars in unpaid salaries. The plant formerly known as Aurora produced washing machines. For decades industry activity had declined in the region, which is the most expensive places to live in Argentina. Ushuaia is also known as "the end of the world," with a harsh artic climate, less than 500 kilometers from the Southern Artic.

"The auctioning off of our plant is a constant threat, we are looking for a permanent solution so we can produce our own products independently of the state," explains Monica Acosta, the current president of Renacer. Over 100 workers and their families rely on the cooperative, which hasn't been able to put out full production inside the plant. "Most of the expropriation laws that recuperated enterprises have won last two years. After two years, the cooperative has to go through the process once again and look for a legal solution in order to continue to produce."

Ainda sobre o "romance policial"

Já repararam como o nome "romance policial" condiz pouco com o conteúdo desse tipo de histórias? Afinal, a policia raramente desempenha algum papel relevante. Seria mais adequado chamar-lhes "romances criminais".

Isto adequa-se bem ao ultimo que li, que basicamente é uma história de "criminosos bons" (traficantes de droga, entre outras coisas) contra "criminosos maus" (um rede de prostituição infantil).

Livro vs. Filme

Ao ver o filme "Cartas na Mesa", uma adaptação da obra homónima de Agatha Christie, nos últimos 20 minutos passei o tempo a pensar "Mas isto tem algum jeito? O livro não é assim!" (e parece um sentimento generalizado).

Mas, pensado melhor, se calhar faz todo o sentido que, em romances policiais, o final seja alterado - afinal, grande parte da graça do romance policial está na surpresa. Assim, sendo o filme diferente do livro (sobretudo se se souber, previamente, que o filme pode ser - ou não - diferente do livro) os leitores/espectadores têm em duplicado a emoção e o suspense de "quem será o culpado?" - afinal, creio que algumas telenovelas também têm um final diferente para o Brasil e para Portugal, para manter o interesse do público.

[O que eu não consegui mesmo ver foi "O Homem do Fato Castanho", quando passou há uns anos na televisão: era tão diferente do original - talvez o meu livro favorito de Agatha Christie, apesar de não ser um "típico" livro de Agatha Christie - que mudei de canal]

Tuesday, December 05, 2006

Um ano

Há um ano atrás, dei inicio a este blog (na verdade, primeiro dei inicio a este, mas depois não gostei muito do editor do Sapo e mudei para o Blogger).

Já agora, se os leitores quiserem falar (ou escrever) do que gostam e do que não gostam neste blog, aproveitem a caixa de comentários (informo desde já que eu, em principio, não irei alterar o estilo do blog em função do que disserem - esta "sondagem" é mesmo só por pura curiosidade).

Monday, December 04, 2006

Hitler foi eleito democraticamente? (II)

A TLEBS

Pelo que tenho lido, a TLEBS parece-me uma coisa um bocado abstrusa (assim algo como ensinar o corpo dos complexos na matemática do ciclo) .

No entanto, estou a reparar numa coisa: muitas das pessoas que andam a criticar (justamente) a TLEBS por introduzir uma complexidade inútil não são exactamente as mesmas que, há pouco tempo, andavam a criticar o "eduquês" por "infantilizar" o ensino e as matérias e preocupar-se mais com as técnicas pedagógicas do que com a transmissão rigorosa de conteúdos? Agora que têm um programa feito, não por "pedagogos", mas por "especialistas em conteúdos" (i.e., por linguistas e não por licenciados em ciências da educação) e mais preocupados com o rigor cientifico do que com questões menores estilo "como é que os alunos vão aprender isto?", os críticos do eduquês não deviam estar a abrir uma garrafa de champanhe?

Sunday, December 03, 2006

Eu não sou contra a aborto

Nem a favor.

Muita gente do campo do sim é contra o aborto, mas defende a sua legalização para diminuir o aborto clandestino.

É uma posição que tem a sua lógica, mas não é a minha. A minha posição é que, se uma mulher (antes do embrião ter actividade cerebral), pesando os prós e contras de ter um filho nessa fase da sua vida, com os prós e contras de fazer um aborto (incluindo os "contras" morais que ela possa ter), chega à conclusão que é melhor abortar (ou não), quem sou eu para me pôr a dar palpites sobre o que ela deve ou não fazer? Da mesma forma, também não concordo com as pessoas que, acerca de raparigas que ficam grávidas e têm filhos, fazem comentários do género "Grande parva. Em vez de ter resolvido logo a situação...".

Mais: nem sequer sei se sou contra o aborto clandestino - que eu saiba, ninguém do meu circulo mais chegado de relacionamentos alguma vez passou por uma situação dessas, e se tivesse passado talvez a minha opinião fosse diferente, mas, à partida, parece-me que o aborto clandestino é um mal menor - afinal, se mesmo com todos os perigos, há mulheres que recorrem a ele, isso quer dizer que a alternativa é ainda pior.

[Mas se calhar é melhor é não falar muito sobre o aborto porque, no referendo anterior, quando eu tentava converter indecisos ao "sim", muitos saiam da conversa inclinados para o "não" - ou seja, eu devo ser um argumentador muito mau nesta matéria; a sorte é que quase ninguém lê este blog]

Saturday, December 02, 2006

Cultura e Classe

No texto (bastante interessante, na minha modesta opinião) de Pacheco Pereira sobre Jorge Silva Melo (e a geração de 68), este, a dada altura, escreve:

Mas Jorge Silva Melo está (como eu) entre dois mundos: o que gostamos é o que desgostamos. Nas suas memórias entrevistadas está uma contradição que não se sabe resolver. Ele gosta da "plebe", da "canalha" de Gomes Leal, da malta suburbana que fala o português do Kuduro, e queixa-se ao mesmo tempo de que ninguém vai ao teatro nesta "não-cidade" em que vivemos.

(...)

Claro que ninguém vai ao teatro, claro que acabaram os cafés (pelo menos em Lisboa), claro que se desertificaram os bairros, claro que acabou a Lisboa dos anos 60, tão íntima como provinciana, onde éramos os absolutos cosmopolitas, exactamente porque os filhos dos deserdados das cheias, os filhos dos operários do Barreiro, os filhos das criadas de servir, os filhos dos emigrantes de Champigny, os filhos da "canalha" anarco-sindicalista e faquista de Alcântara mandam no consumo e o mundo que eles querem é muito diferente. Eles entraram pelos cafés dentro e transformaram-nos em snackbars e em lanchonetes, entraram pelas televisões e querem os reality shows, entraram pela "cultura" e pela política e não querem o que nós queremos, ou melhor, o que nós queríamos por eles. O acesso das "massas" ao consumo material e "espiritual" faz o mundo de hoje, aquele que é dominado pela publicidade, pelo marketing, pelas audiências, pelas sondagens. É um mundo infinitamente mais democrático, mas menos "cultural" no sentido antigo, quando a elite, que éramos nós, decidia em questões de bom senso e bom gosto.

E agora? Queríamos que "eles" tivessem voz e agora que a têm não gostamos de os ouvir quando o enriquecimento revelado por todos os indicadores económicos e sociais dos últimos 30 anos transformou muitos pobres na actual classe média, "baixa" como se diz na publicidade, nos grupos B e C das audiências. Nós queríamos que eles desejassem Shakespeare e eles querem a Floribella, os Morangos e o Paulo Coelho. E depois? Ou ficamos revoltados ou pedagogos tristes e ineficazes, ou uma mistura das duas coisas. Nós ajudámos a fazer este mundo de mais liberdade e mais democracia, que o é de facto.

Eu não tenho é tanta certeza dessa ligação "cultura de massas" <==> "classe média-baixa/baixa". Afinal, quando eu dava aulas - na escola nocturna - tinha uma aluna que era - suponho que ainda seja - "auxiliar administrativa" (ou seja, uma espécie de continua) e fã dos filmes de Godard.

Por outro lado, arrisco-me a dizer que todas as classes, hoje em dia, querem a Floribella, os Morangos e o Paulo Coelho.

Friday, December 01, 2006

Experiência cancelada

Hoje, decidi voltar a usar espuma de barbear.

Thursday, November 30, 2006

Pró-Vida

Tuesday, November 28, 2006

Acerca de Milton Friedman


In 1976 Friedman was awarded the Nobel Prize in economics for his contributions to scientific economics. These contributions are marked by two characteristics. First, they are imbued with an underlying conservative partisanship characterized by profound animus to government. Second, Friedman achieved public standing through his macroeconomic work, much of which has been discredited. In a sense, Friedman is the economist who lost the battle but ended up winning the war, convincing society to adopt his view of the world.

One of Friedman’s most widely recognized contributions is monetarism, which recommends that central banks target money supply growth. Monetarism flourished in the late 1960s and 1970s and was briefly adopted by central banks as a policy framework in the late 1970s and early 1980s. That experiment produced devastating interest rate volatility, prompting central banks to revert to their traditional practice of targeting interest rates.

Monetarism was supported by Friedman’s joint work with Anna Schwartz in which they argued that the Federal Reserve caused the Great Depression through mistaken monetary tightening. This was Friedman’s first major salvo in his crusade against government, implicitly blaming government for the Depression. Friedman’s claim has always smacked of the tail wagging the dog since the Fed’s tightening was modest and brief, suggesting an underlying instability of the 1929 economy. The 1929 stock market was characterized by feverish speculation, and the Fed would indeed have done better to provide easy liquidity when investors rushed to exit. However, that also proves the dangerous instability of financial markets and makes the case for an active government regulatory presence, the very opposite of Friedman’s philosophical perspective.

At the theoretical level, monetarism asserts that central banks control the money supply and should aim for steady money supply growth. Friedman even recommended replacing the Fed with a computer that would mechanically manage the money supply regardless of the economy’s state. Furthermore, he suggested the Fed aim for a zero nominal interest rate. If the equilibrium real interest rate is three percent, that policy implies steady deflation of three percent.

These monetarist propositions reflect a flawed understanding of money. Money is a form of credit - an IOU. If central banks try to control the narrow money supply, the private sector just moves to create other forms of credit. That is why the Fed was unsuccessful in targeting the money supply, and why predicating economic policy on the relationship between the money supply and economic activity is a will o’ the wisp. With regard to deflation, Japan’s recent experience has confirmed the lessons of the Great Depression. In a credit-money economy generalized deflation is catastrophic and should be avoided.

Monetarism’s most famous aphorism is that “inflation is always and everywhere a monetary phenomenon.” This saying reflects Friedman’s polemical powers, capturing for monetarists what all sensible economists already knew. Inflation is about rising prices, and prices are intrinsically a monetary phenomenon since they are denominated in money terms.

Sustained inflation requires that the money supply grow in order to finance transacting at higher prices. For Friedman, this made villainous central banks the exclusive cause of inflation because of his belief that they control the money supply. However, the reality is that the private sector can also inflate the money supply through its own credit creation activities. Additionally, central banks (viz. the Bernanke Fed) may be compelled to temporarily accommodate inflationary private sector pressures to avoid triggering costly recessions. The implication is that inflation can have different causes, something Friedman denied. Sometimes inflation is caused by excessively easy monetary policy or large budget deficits financed by central banks. Other times it is due to private sector forces, including speculative booms and conflicts over income distribution.

Monetarism asserts that monetary policy is all-powerful. Subsequently, Friedman changed his view and argued that monetary policy had no long-run real economic impacts. Friedman cleverly termed his later theory the natural rate of unemployment, thereby enlisting nature on his side.

His new theory supported an extreme conservative policy agenda that still lives. According to the theory, the minimum wage increases unemployment by driving up wages, and should therefore be done away with. The same holds for unions. No consideration is given to the possibility that these institutions create an income distribution that promotes mass consumption and full employment. Finally, since central banks supposedly have no long run effect on unemployment and wages, they are not responsible for labor market outcomes. Natural rate theory thereby allows the Fed and European Central Bank to take full employment policy off the table while protecting them from charges that their policies may contribute to wage suppression.

Close inspection reveals natural rate theory to be akin to a religious doctrine. This is because it is not possible to conceive of a test that can falsify the theory. When predictions of the natural rate turn out wrong (as they repeatedly have), proponents just assert that the natural rate has changed. That has led to the most recent incarnation of the theory in which the natural rate is basically the trend rate of unemployment. Whatever trend is observed is natural – case closed.

Since natural rate theory cannot be tested, a sensible thing would be to examine its assumptions for plausibility and reasonableness. However, Friedman’s early work on economic methodology blocks this route by asserting that realism and plausibility of assumptions have no place in economics. With most economists blindly accepting this position, the result is a church in which entry is conditional on accepting particular assumptions about the working of markets.

(...)

Lastly, Friedman was an early proponent of flexible exchange rates. Whereas the argument that flexible exchange rates facilitate macroeconomic adjustment has worn well, Friedman’s arguments against the dangers of destabilizing speculation have not. In line with his ideological predisposition for markets and against government intervention, Friedman ruled out destabilizing speculation. His argument was there exists a fundamental equilibrium price, and if prices depart from this speculators see a profit opportunity and drive prices back. However, experience has shown that exchange rates and asset markets are prone to speculative bubbles, and it has been extremely difficult to find a relation between exchange rates and fundamentals – whatever they are.

Monday, November 27, 2006

O véu islâmico (II)

Apesar disso, há duas situações em que pode fazar sentido a proibição do véu: uma é no caso de menores, que não têm capacidade para decidir livremente se o querem usar ou não. Não sei bem aonde traçar o limite, mas inclino-me para as abayas, duppattas e hijabs serem toleradas e as burkas e niqabs proibidos (tradução) - afinal, se os pais obrigarem as filhas a usarem burkas ou niqabs é claramente "maus tratos a menores" e se, não os obrigarem, mas deixarem, talvez possa ser considerado "negligência paternal" permitirem que as filhas andem com uma coisa dessas.

Outra situação é situações em que seja desejável que a pessoa possa ser identificada - aí, nesses casos, de novo faz sentido proibir a burka e o niqab, que impedem a identificação da portadora (que até pode ser "um portador").

Já agora, diga-se que, no meio da opressão a que está associado, o véu traz alguns bónus não previstos para as mulheres das teocracias islâmicas - p. ex., na Arábia Saudita as mulheres não podem viajar sem autorização do marido mas, graças ao véu, muitas conseguem viajar usando as autorizações passadas às amigas (afinal, se aparece lá um vulto negro dizendo ser a senhora Jamila e mostrando uma autorização do respectivo marido para viajar, como é que os funcionários do aeroporto vão descobrir que, na realidade, se trata da senhora Hafiza, que não tem autorização nenhuma?)

O vêu islâmico

Quando se fala na eventual proibição do véu islâmico, um argumento usual é que essas mulheres são obrigadas pelos maridos ou pela familia a usarem o véu. Ora, julgo que metade das mulheres muçulmanas de Portimão que usam uma variante do véu são casadas com cristãos (ou melhor, "é casada" - trata-se de uma em duas). Será que usa o véu obrigada pelo marido? Claro que se pode dizer "Ela pode não ter ninguém a obrigá-la a usar o véu, mas é à mesma obrigada por uma cultura interiorizada", mas, se se trata de uma caso de "auto-opressão", a melhor solução é esperar que elas se "auto-libertem", não que venham terceiros obrigarem-nas a ser livres.

Outro argumento revelador é que se custuma ler nas caixas de comentários dos blogues é "as nossas jornalistas, quando vão a esses país têm que andar sempre tapadas!". Digo que é revelador porque mostra que muitos defensores da ilegalização do véu o são, não por qualquer preocupação com o laicismo ou os direitos das mulheres, mas apenas por uma atitude de "estão cá, têm que seguir as nossas tradições!" - se essas pessoas tivessem nascido num país muçulmano com certeza seriam os maiores defensores da lei islâmica (e, quem sabe, da restauração do califado...). Já agora, diga-se que a analogia não é correcta - na maior parte dos paises muçulmanos não há nenhuma lei obrigando ao uso de véu (e é disso que se fala, de uma lei proibindo o uso do véu).

Já agora, quanto a questão se o véu é um simbolo de integração ou de separação, eu acho-a irrelevante (o que interessa é se é voluntário ou imposto), mas mesmo que fosse uma questão importante, suspeito que os véus, abayas, hijabs, burkas, etc. tenham aparecido, nem para "integrar" nem para "segregar", mas para uma razão mais prosaica: reduzir as perdas de água devido à transpiração num clima desértico (note-se que os trajes tradicionais dos homens nesses países também não deixam muita pele à mostra) e, com o tempo, o que era apenas um hábito motivado por razões práticas tornou-se um tabu social. Aliás, nem sei se será correcto falar em véu "islâmico": não tenho certeza, mas penso que o Corão apenas diz que a mulher deve "andar coberta", sem especificar exactamente o que deve andar "coberto" - claro que, numa sociedade em que, devido às tais razões climáticas, as mulheres (e os homens) usam panos da cabeça aos pés, o "andar coberta" acabou por ser interpretado como "coberta da cabeça aos pés", mas, se o islamismo tivesse surgido em França ou na Amazónia, se calhar, o "andar coberta" seria interpretado de forma totalmente diferente (mesmo que as palavras fossem exactamente as mesmas).

Um ultimo ponto: também pretendem ilegalizar os trajes típicos das mulheres ciganas (pelo menos um desses trajes é quase igual ao das mulheres iranianas)?

Friday, November 24, 2006

Sobre os manuais escolares

Ao contrário do Henrique Raposo, acho que a melhor maneira de aprender quando andava na escola era lendo o manual da disciplina - aprende-se mais e melhor do que assistindo à aula.

Nem que seja porque, ao se assistir à aula, das duas uma: ou estamos a prestar atenção e portanto, não estamos a tirar apontamentos; ou então estamos a tirar apontamentos e portanto não podemos estar a prestar a devida atenção à aula (há uma terceira hipotese, que é não estarmos a prestar atenção nem a tirar apontamentos).

Mais uns posts do Economist's View

Em vez de meter mais uma carrada de posts transcrevendo os do Economist's View, é melhor apresentar mais umas"leituras sugeridas" num só post:

Welfare Spendig and Incarceration Rates, sobre este artigo, argumentando que, quanto menor é a despesa com a assistência social descem, maior a percentagem de gente na prisão

Is Venezuela a Sucess?, uma visão aparentemente balanceada sobre a atitudes face às politicas de Chavez

When Votes Disappear

No Economist's View, um exerto de um artigo de Paul Krugman sobre os resultados do voto electrónico:

You know what really had me terrified on Nov. 7? The all-too-real possibility of a highly suspect result. What would we have done if the Republicans had held on to the House by a narrow margin, but circumstantial evidence strongly suggested that a combination of vote suppression and defective — or rigged — electronic voting machines made the difference?

Fortunately, it wasn’t a close election. But ...[t]here were many problems with voting in this election — and in ... one Congressional race, the evidence strongly suggests that paperless voting machines ... delivered the race to the wrong candidate.

Here’s the background: Florida’s 13th Congressional District is currently represented by Katherine Harris, who as Florida’s secretary of state during the 2000 recount famously acted as a partisan Republican... This year Ms. Harris didn’t run for re-election, making an unsuccessful bid for the Senate instead. But according to the official vote count, the Republicans held on to her seat, with Vern Buchanan ... narrowly defeating Christine Jennings, the Democrat.

The problem is that the official vote count isn’t credible. In much of the 13th District, the voting pattern looks normal. But in Sarasota County, which used touch-screen voting machines ..., almost 18,000 voters — nearly 15 percent of those who cast ballots using the machines — supposedly failed to vote for either candidate.... That compares with undervote rates ranging from 2.2 to 5.3 percent in neighboring counties.

Reporting by The Herald-Tribune ... strongly suggests that the huge apparent undervote was caused by bugs in the ... software. About a third of those interviewed ... reported that they couldn’t even find the Congressional race on the screen. ... Moreover, more than 60 percent of those interviewed ... reported that they did cast a vote in the Congressional race — but that this vote didn’t show up on the ballot summary...

If there were bugs in the software, the odds are that they threw the election to the wrong candidate. An Orlando Sentinel examination of other votes cast by those who supposedly failed to cast a vote ... shows that they strongly favored Democrats, and Mr. Buchanan won the official count by only 369 votes. ...

Shrinking Opportunities

No Economist's View, um post sobre educação e desigualdade, com um trecho de um editorial do Washigton Post:

"Guess which high school graduate is more likely to go to college: the ill-prepared student who is financially well-off or a high-achieving student from a low-income family? According to a new study, they have pretty much the same chance -- and that is an embarrassment to the American educational system."

Teens Frustrate Military Recruiter's ASVAB Scam


With MySpace.com bulletins and a handful of homemade flyers, two teens have struck a blow against the American Warfare State, Lindale, Georgia Division.

On a Friday afternoon the 17th of November, 17-year-old high school seniors Robert Day and Samuel Parker decided to act after Day overheard some teachers at Pepperell High School saying that first thing Monday morning the school's juniors would be made to take the ASVAB military aptitude test.

Often administered under the guise of a career aptitude test, the ASVAB's purpose is to better equip the State to prey on young people tricked or pressured into taking the test. According to Debbie Hopper of Mothers Against the Draft, it is often given under the pretext of being a "career placement" test. (In some cases it has in fact been used that way, no doubt in an attempt to legitimize what many Americans regard as not legitimate: the use of government schools as military recruiting grounds.)

The school board answered a concerned email from Parker's mother with a suggestion that the test is not mandatory but "customary." Sane Americans might ask, "Where, in Prussia?"

As a senior, he would not be made to take the test, but Day confronted the high school principal, Phil Ray, in defense of students younger than himself, and was told that the test was mandated by federal law. Day says he already believed that to be false, since he remembered the test being given only to the kids actually trying to join the military the year before. Regardless, the principal dismissed his objections. The juniors who were to be tested for their military "aptitude" were not to be told before the weekend.

Principal Ray did not return repeated calls to his office.

Not easily deterred, Day and Parker decided they would do what they could to "warn" the juniors themselves. They talked to a few kids at the end of school Friday afternoon, and over the weekend sent out more than 20 messages to MySpace bulletin boards discouraging cooperation. Arriving early Monday morning, Day and Parker picked out spots soon to be populated with kids waiting for the bell to ring, and with the help of some others who quickly volunteered, rapidly distributed their 200 homemade fliers to some and also spoke to many others, encouraging all to refuse to report to the cafeteria or to sabotage the test – either by ripping it up or filling in false information.

One of the military recruiters present attempted to snub their efforts, claiming the No Child Left Behind Act allows access to all of their information anyway, and so they might as well take the test.

Journalist and author James Bovard says the NCLB does indeed "roll out a red carpet" in terms of empowering the military to demand school records, but says that the ASVAB is far beyond what even it allows. The pushing of this military aptitude test, Bovard says, is "typical of how government guides kids – to an early funeral."

Despite the recruiter's interruption, Parker says that he, Day and their volunteers made sure every junior who may not have wanted to take the test had a chance to hear them explain its purpose and to understand that it was not mandatory.

They estimate that about half of the school's juniors refused to even leave their regular classes to report to the testing site in the school's cafeteria. Some of the teachers, apparently learning about this at the last minute like most everyone else, and confused as to the nature of the proceedings, insisted that their students at least go to the cafeteria even if they did not mean to cooperate with the military. Once they were there, the kids were informed that anyone who showed up in the cafeteria would be made to take the test.

The old lunch room Catch-22.

Some of the students decided to deliberately fill in faulty information. Perhaps that will go on their permanent record instead. "Listen kid, we're looking for test-refusers just like yourself. Do you have what it takes?"

The soldiers told the students that if anyone ripped up their test, then all the tests, including those belonging to the one-third or so of the kids who actually wanted to take it and receive their scores, would be thrown out. This bit of blackmail apparently worked on the kids who had reluctantly taken it, as no one physically destroyed their tests. Day and Parker estimate that less than a third of Pepperell's juniors went along with their government's scheme.

The high school counselor, Ms. Nixon, made it clear to the juniors that she was very disappointed in them for embarrassing principal Ray, but so far, no punishments have been handed down.

All in all, Parker and Day said they were pleasantly surprised by the help and encouragement of kids who they thought would not have cared at all.