Sunday, November 23, 2014

Um voto nunca fez diferença?

Por vezes diz-se que é praticamente impossível um voto individual decidir uma votação - é verdade que há casos reais de eleições decididas por um voto (ou com margens ainda menores), mas na maior parte dos casos trata-se de eleger representantes para um órgão colectivo, logo um voto só faria mesmo diferença se, além da eleição de um representante ser decidida por um voto, esse representante individual fosse decisivo para decidir quem tinha a maioria na assembleia (uma probabilidade quase nula).

Mas agora temos um exemplo fresquinho - a votação para a Mesa Nacional do Bloco de Esquerda foi empatada (ambos com 259 votos), e, na semana passada, na Assembleia Eleitoral de Olhão a moção E (Pedro Filipe Soares) ficou a um voto de eleger mais um delegado em Olhão; assim, se mais um bloquista olhanense tivesse votado na moção E, hoje essa moção teria sido a mais votada para a Mesa Nacional.

3 comments:

HO said...

Miguel Madeira,

Há factores ideológicos envolvidos nesta disputa pela liderança do BE? Trotskistas vs maoistas ou algo assim? Ou é, em primeira instância, motivada por questões tácticas e estratégicas? O que poderia ser o futuro imediato do BE com cada uma das lideranças?

Miguel Madeira said...

A principal diferença entre a E e a U (e, já agora, a A e a B) é de ordem de estratégia e não de ideologia de fundo - a E (P. F. Soares) acha que a U (Semedo e Catarina) está demasiado tentada a fazer acordos com o PS (dando como exemplo aquela reunião PS-BE que houve quando o governo esteve para cair); já a B e sobretudo a A (esta composta por elementos de Viana do Castelo que negociaram uma aliança autárquica com o PS que depois foi vetada pela Mesa Nacional) acusam a atual direção do oposto - ser demasiado sectária). Por ordem crescente de disponibilidade para fazer acordos com o PS teríamos E, U, B e A. Das cinco moções a que me parece ter mais raizes ideológicas é a R (integrada por vários membros da família Louçã, mas não o mais famoso), usando argumentos tipicamente trotskistas (contra a "burocratização" do partido, etc.).

Creio que há também uma diferença "cultural" entre a E e a U (embora sendo a minha cidade um reduto da E, eu possa ter uma percepção distorcida das opiniões dominantes entre a U) - a U privilegia mais a ação parlamentar e institucional, enquanto a E tende mais a valorizar a luta "de rua" e sindical - essa diferença pode ter algo de ideológico, mas creio que acaba por ser sobretudo sociológica: entre um sector da "elite cultural" de Lisboa (vindo do PSR, da PXXI e de uma certa "intelectualidade de esquerda" até então não ligada a um partido especifico), e um sector mais "popular" e mais espalhado pelo país (vindo da UDP).

HO said...

Excelente explicação. Obrigado.