Tuesday, April 04, 2017

Os robots estão a destruir empregos? (post n+1 sobre o assunto)

Ultimamente tem-se discutido muito a questões sobre se a automatização está a destruir postos de trabalho - nos últimos dias tem sido apresentado o paper Robots and Jobs: Evidence from US Labor Markets, de Daron Acemoglu e Pascual Restrepo, como evidência que essa destruição está efetivamente a ocorrer.

Mas antes acho que é necessário clarificar alguns conceitos: primeiro, o que se quer dizer quando se fala em destruição de empregos pelos robots? Tanto podemos estar a falar da destruição de empregos concretos (isto é, haver empregos específicos que são destruídos pelos robots), como de destruição líquida de empregos (isto é, não apenas que os robots destroem alguns empregos, mas que esses empregos, no conjunto da economia, não são compensados por outros que surgem); para nos orientarmos, vou chamar à primeira situação "micro-destruição de empregos" e à segunda "macro-destruição de empregos".

Por outro lado, entre as pessoas que negam ou minimizam o problema da destruição de empregos, há duas grandes linhas de argumentação - há os que consideram que a automatização não vai causar problema nenhum, que desde a Revolução Industrial que há substituição do trabalho humano por máquinas e não estamos todos no desemprego por causa disso, e que os empregos que se destroem num lado são compensados com empregos que surgem noutros (o meu professor de matemática do secundário dava o exemplo da automatização, creio, da FIAT: segundo ele, desaparecerem muitos trabalhos nas linhas de montagem, mas como passou a produzir-se e vender-se mais carros, surgiram depois empregos nas oficinas de reparação automóvel que mais que compensaram a destruição de empregos nas fábricas); e há os que consideram que, pura e simplesmente, não parece estar a acontecer nenhuma automatização significativa (ver este meu post e os seis últimos parágrafos deste post do Pedro Romano). Dito de outra maneira (e usando a terminologia que inventei) - os primeiros consideram que a micro-destruição de empregos não irá originar macro-destruição; já os segundos contestam que esteja a existir mesmo micro-destruição, pelo menos a nível significativo.

E agora entra aqui o estudo de Acemoglu e Restrepo - o que esse estudo argumenta é que as industrias e regiões onde houve mais introdução de robots nas últimas décadas foram aquelas onde houve maior redução de emprego e/ou dos salários; isso parece refutar (sobretudo no que diz respeito às regiões) o argumento de que os robots, quando são introduzidos, não levam a uma destruição líquida de postos de trabalho; mas parece-me largamente irrelevante para o argumento de que não está a haver grande introdução de robots (imagine-se uma analogia - vamos supor que estamos a discutir se o vírus Lujo causa grande mortalidade; mesmo que uma alta percentagem de pessoas infetadas com o vírus morra, isso pode não ser muito relevante se muitas poucas pessoas forem infetadas).

Agora, o estudo também, ainda que de passagem, aborda a questão sobre se está a haver muita robotização: nas páginas 16 e 17, é referido que "In our sample of European countries, robot usage starts near 0.6 robots per thousand workers in the early 1990s and increases rapidly to 2.6 robots per thousand workers in the late 2000s. In the United States, robot usage is lower but follows a similar trend; it starts near 0.4 robots per thousand workers in the early 1990s and increases rapidly to 1.4 robots per thousand workers in the late 2000s", dando a entender que entre entre o principio dos anos 90 e o final dos "anos 0" terá havido grande crescimento da quantidade de robots utilizados (para aí uns 10% ao ano, se estivermos a falar de um período de uns 15 anos); no entanto, pelo menos na Europa, a partir daí parece ter havido estagnação do uso de robots (página 41) - o que é paradoxal, porque tem sido sobretudo desde então que mais tem estado na moda a conversa que os robots vão ficar com os nossos empregos:

Já nos EUA, o crescimento do número de robots parece ter-se mantido mais ou menos ao mesmo ritmo.

1 comment:

pedro romano said...

Muito interessante.