Agora parece que é moda dizer mal da mudança da hora.
Pois eu acho uma maravilha – no Verão posso, depois do trabalho ficar
mais uma hora na praia do que ficaria se tivéssemos a hora “solar” (que
não é bem, porque já está meia hora adiantada, mas pronto…) o ano todo.
E não, não era melhor ficarmos sempre na hora de Verão (mais uma hora
e meia do que a hora solar), porque assim tínhamos (bem, muitos já têm,
mas seriam ainda mais) que ir para o trabalho ainda de noite no Inverno, e não se ganhava quase nada ao fim do dia, porque de qualquer maneira
normalmente não há tempo – tanto “weather” como “time” – suficiente para
se fazer qualquer coisa depois do trabalho que requeira luz solar (frequentemente está frio, chuva, e de qualquer maneira anoitece cedo).
Sim, há quem diga que a mudança de hora afeta a saúde, mas também há quem diga que não; confesso que a mim custa-me a acreditar - em primeiro lugar, por experiência própria: nunca senti mais dificuldade em acordar nos dias a seguir a uma mudança de hora nos que em qualquer outro dia (mas pronto, admito que eu não seja estatisticamente significativo); mas sobretudo porque isso me parece difícil de conciliar com a nossa história evolucionária - durante (creio) dezenas de milhares de anos fomos caçadores-recoletores, uma atividade que frequentemente requeria grandes mudanças no horário de trabalho durante o ano e até durante a semana - mesmo há bocadinho estive a ver um documentário sobre os esquimós do Canadá a apanharem mexilhões, atividade que está muito dependente das marés (no caso deles, porque a maré cria "grutas" no gelo onde eles vão apanhar os mexilhões, grutas essas que se fecham quando a maré muda, em principio matando quem não saia de lá a tempo), pelo que imagino que a rotina diária deles mude bastante ao longo da semana conforme as marés (de certeza que não vão todos os dias à mesma hora à pesca); e depois uns milhares de anos como agricultores, uma atividade talvez mais regular que a caça-e-recoleção, mas também com mudanças de ritmo ao longo do ano (logo o clássico trabalhar de "sol-a-sol" em vez de "das tantas às tantas", que por si só implicaria que, pelos padrões modernos, a hora do levantar e do deitar estaria sempre a mudar ao longo das estações). Assim, custa-me a acreditar que tenhamos mesmo essa necessidade de nos deitarmos e levantarmos a horas certas (padrão de comportamento que me parece mais otimizado para assalariados numa sociedade industrial ou pós-industrial - por um lado dependendo muito menos dos ritmos da natureza, e por outro dependendo muito mais dos ritmos das outras pessoas, pelo que dá jeito termos horários sincronizados, ou pelos menos previsíveis - do que para humanos vivendo em estado natural) e que vamos ficar cheios de perturbações na saúde por causa da mudança da hora.
Admito uma exceção ao que escrevo - os trabalhadores por turnos, que têm que trabalhar ao fim de semana e por isso muitos terão menos uma hora de sono no dia da mundança de hora (nem me admirava que os tais estudos que indicam um aumento de problemas de saúde nos dias a seguir à mudança de hora estejam a ser inflacionados por dados referentes aos trabalhadores por turnos).
Sunday, March 25, 2018
Em defesa da mudança da hora
Publicada por Miguel Madeira em 02:11
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment