Segundo o Público, "a produtividade do trabalho (medida como o produto por pessoa empregada) também caiu em Portugal de forma muito forte no terceiro trimestre do ano. De acordo com a OCDE, a descida deste indicador foi de 1%. Apenas mais três países registaram quebras: a Suécia, com 0,2%, e a Áustria e a França, com 0,1%."
Confesso que, quando comecei a ler a notícia ("Portugal foi o país da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) que registou durante o terceiro trimestre deste ano uma descida mais acentuada das remunerações por unidade produzida e da produtividade do trabalho."), pensei que houvesse algum engano; porquê? Porque as "remunerações por unidade produzida" são equivalentes a [total das remunerações]/[total de unidades produzidas]; e a "produtividade" (no contexto deste estudo) é equivalente a [total de unidades produzidas]/[total de trabalhadores].
Isso quer dizer que:
[remuneração por unidade produzida]=[total das remunerações]/[total de unidades produzidas] ↔
↔ [remuneração por unidade produzida]={[total das remunerações]/[total de trabalhadores]}*{(total de trabalhadores]/[total de unidades produzidas]} ↔
↔ [remuneração por unidade produzida]=[remuneração média]/[produtividade]
Ou seja, é muito dificil a "remuneração por unidade produzida" e a "produtividade" descerem ao mesmo tempo (e sobretudo terem ambos uma grande quebra)- tal implica que, não só que a produtividade desça, mas que as remunerações desçam ainda mais (se as remunerações por unidade desceram 1,4% e a produtividade desceu 1%, então os salários terão que ter descido 2,4%); por isso quando li o título até pensei que fosse alguma confusão do jornalista (que o que tivesse descido não tivesse sido "os salários e a produtividade", mas sim os "salários face à produtividade" ou coisa parecida), mas lendo a noticia toda, parece que foi mesmo isso: tanto os custos unitários do trabalho como a produtividade desceram (ver adenda).
Os salários descerem não tem nenhum mistério - é o que e suposto ocorrer durante uma recessão e sob uma politica de austeridade; já a quebra da produtividade é mais misteriosa (talvez a queda dos salários tenha tornado viáveis actividades económicas pouco produtivas - que antes nem se chegavam a realizar - fazendo assim baixar a produtividade média?)
Já agora, seria útil saber se essa queda é comparada com o segundo trimestre deste ano, ou se é com o terceiro trimestre do ano anterior.
Adenda - achei a informação no site da OCDE; aqui temos um PDF com os dados por país.
Pelo que vejo na página 4 do PDF, os custos unitários do trabalho desceram 0,4%, a produtividade desceu 1%, e os salários por unidade de trabalho desceram 1,4% (o que faz sentido: 1% + 0,4% = 1,4%). Eu dá-me a ideia que a noticia do público confude os "custos por unidade produzida" (que desceram 0,4%, quando a noticia refere 1,4%) com os "custos por unidade de trabalho" (que, esses sim, desceram 1,4%).
E trata-se de uma comparação trimestre a trimestre, pelo que percebo.
Thursday, December 19, 2013
Portugal com a maior quebra da produtividade da OCDE?
Publicada por Miguel Madeira em 13:58
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