Tuesday, October 06, 2015

Razão e emoção (III)

Ainda a respeito da suposto dicotomia razão-emoção, para falar a verdade, ocorre-me uma tese mais radical da que exponho aqui, de que "os eixos razão vs. instinto/bom senso/senso comum/intuição e emoção vs. calma parecem-me perpendiculares, sem qualquer oposição entre entre razão e emoção". Será que, no mundo real, até não há uma correlação positiva entre "razão" e "emoção" (ou, dito de outra maneira, uma oposição entre "sensibilidade" e "bom senso")?

Isto é, o que suspeito é que muitas vezes as pessoas mais racionais e analíticas (que fazem sempre grandes reflexões e análises antes de chegar a qualquer conclusão, e muitas vezes com interesse em temas como xadrez, matemática, filosofia, programação informática e/ou discussões teóricas) até são as mais dadas a serem afetadas por emoções intensas (sejam essas emoções ataques de fúrias, nervosismo, paixões obsessivas, ansiedade, entusiasmo, etc, etc. - o catálogo é provavelmente infinito), enquanto as pessoas que vivem mais de acordo com regras expeditas (o tal "bom senso") e que não perdem muito tempo com "especulações" até não serão muitas vezes as mais calmas e emocionalmente equilibradas?

Há uns tempos esteve na moda a teoria da distinção entre inteligência e "inteligência emocional", com os seus proponentes a dizerem que muitas vezes as pessoas com alta inteligência tinham baixa "inteligência emocional"; se assumirmo que "inteligência" e "razão" andam perto ("razão" será talvez um misto de "inteligência" e "tendência para a reflexão") e que "inteligência emocional" (ao contrário do que o nome pode dar a entender) parece-me, na prática, siginificar ser pouco emocional (creio que a definição teórica será mais algo como saber controlar as emoções, mas na prática acho que isso vai dar em ser pouco emocional), não será algo parecido com a tese que avento neste post?

Mais dois ponto:

Compare-se as seguintes frases: "Fulano é uma pessoa muito emocional, que pensa sempre muito antes de fazer qualquer coisa" e "Fulano é uma pessoa muito nervosa, que pensa sempre muito antes de fazer qualquer coisa"; estas duas frases são quase iguais em significado (quase, porque "muito nervoso" implica "muito emocional", mas o inverso não), mas a segundo soa como algo relativamente normal de se dizer, enquanto à primeira audição a primeira parece quase um contra-senso (um exemplo dos efeitos do framing?).

Se a hipotese que proponho neste post fizer sentido, terá alguma ligação com o que deu origem à conversa (a tendência para a esquerda ou para a direita)? Talvez; não me admirava que as pessoas "racionais" e "emocionais" tenham tendência para a esquerda, para o extremismo e/ou para posições minoritárias, enquanto as pessoas com mais "bom senso" e emocionalmente equilibradas tenham tendência para a direita, para a moderação e/ou para posições maioritárias (mas isto, claro, são puros palpites a partir de uma tese que é ela própria apenas um palpite).

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