Monday, May 09, 2011

A vontade indómita e a sociedade "industrial-burguesa"

Lendo o post d'O Insurgente de André Abrantes Amaral sobre o romance The Fountainhead de Ayn Rand, uma coisa que me ocorre é que o texto não precisava de grandes alterações para soar como aqueles manifestos romanticos "anti-bugueses" dizendo "o que é importante é expressar a nossa criatividade, não o dinheiro ou o reconhecimento social" (a única coisa que falta é a parte de "o dinheiro ou", mas é dificil ganhar dinheiro se os nossos bens ou serviços não forem apreciados pelos outros).*

Também duvido que numa sociedade de pessoas que "acreditam nas suas capacidades e não as desvirtuam para serem reconhecidos, (..) que não aguardam qualquer agradecimento, [a]creditam na criatividade do homem quando não controlada por quem a receia ver fluir, [n]ada esperam dos demais e têm fé em si mesmos" fosse viável a existência de empresas (pelo menos, a partir de uma certa dimensão) - afinal, pessoas com essa atitude dificilmente aceitariam estar numa empresa a fazer coisas de maneira diferente da forma como elas próprias achariam que deveriam ser feitas (o que acontece em qualquer organização, e em principio quanto maior mais acontece); afinal, a atitude de "eu cumpro as politicas da empresa mesmo que pessoalmente não concorde com elas" é uma forma de abdicar da sua individualidade em troca do reconhecimento alheio (note-se que aqueles livrinhos estilo "Como ter sucesso nos testes psicótecnicos" normalmente recomendam "na dúvida, deia a resposta mais normal possível", o que parece indicar que as empresas querem funcionários que se ajustam facimente às expectativas sociais)...

Não que uma sociedade sem empresas ou organizações me incomadasse muito, mas suponho que incomodasse a Rand, com o seu entusiasmo pelos big bussiness; em termos de individualistas radicais, um Lysander Spooner ou um Ted "Unabomber" Kaczinsky (anti-grandes empresas) são muito mais logicamente coerentes (bem, em defesa de Rand, tenho a ideia que ela defendia esse espírito não para toda a gente, mas apenas para uma elite; e uma sociedade em que apenas uma elite tem o tal individualismo que não liga ao reconhecimento social já será compativel com grandes empresas - serão os outros que irão trabalhar nelas como subalternos).

Dois textos (vagamente) sobre o assunto:
*note-se que escrito pela minha pena caneta pelo meu teclado isso não é necessariamente uma crítica

Adenda: convém notar que este post pretende ser um comentário ao post do A.A.Amaral, não à obra de Rand, que nunca li (embora já tenha visto no canal Hollywood um documentário sobre a carreira do Gary Cooper).

4 comments:

Anonymous said...

o ted kaczinsky é um individualista anti individuos. não vejo grande coerência lógica nisso

João Vasco said...

«dizendo "o que é importante é expressar a nossa criatividade, não o dinheiro ou o reconhecimento social" (a única coisa que falta é a parte de "o dinheiro ou", mas é dificil ganhar dinheiro se os nossos bens ou serviços não forem apreciados pelos outros)»

Creio que não leste o livro :s

Lendo-o parece-me que nem a parte do dinheiro falta. O livro passa muito a ideia de que só uma pessoa fraca e desprezível «vende a sua alma» por dinheiro.
O herói não quer saber e dinheiro para nada, e esse desprendimento é muitas vezes salientado.

Ou seja, a tua ideia «o texto não precisava de grandes alterações para soar como aqueles manifestos romanticos "anti-bugueses" dizendo "o que é importante é expressar a nossa criatividade, não o dinheiro ou o reconhecimento social" » nem precisa de qualquer ressalva.

Miguel Madeira said...

Para falar a verdade, não me lembro se com "o texto" me referia ao da Rand ou ao post do A.A.Amaral

João Vasco said...

Ah, ok.

E é curioso que faça diferença, ehehehe