Monday, May 05, 2014

Thomas Piketty

Se percebi bem o que tenho lido sobre o livro de Thomes Piketty, a sua tese central é que a riqueza acumulada pelas principais famílias capitalistas irá ser cada vez maior face ao conjunto da economia (se a taxa de remuneração do capital for maior que a taxa de crescimento da economia).

A minha dúvida é se essa compraração em que de um lado temos um stock (a riqueza dos capitalistas) e do outro um fluxo (o rendimento total da economia) fará sentido.

3 comments:

João Vasco said...

Faz sentido, e interrogo-me como é que é possível que isto seja uma novidade.

Cheguei lá sozinho, em conversa com um amigo há cerca de um ano, e é uma inevitabilidade matemática.

Tens duas grandezas, A e B. Não importa qual é a proporção inicial entre A e B: desde que uma cresça a uma taxa ligeiramente superior à outra, dado suficiente tempo o racio entre a que cresce menos e a que cresce mais será inevitavelmente ínfimo - porque a proporção entre elas varia em resultado da diferença entre as taxas. Daí se conclui essa tese central. E também se conclui que só uma tributação sobre "stocks" pode criar um sistema minimamente estável/sustentável (antes o imposto sobre heranças, gradualmente abolido, fazia este papel).
Mas ninguém tinha chegado lá antes?

Creio que o trabalho de Piketty tem uma forte fundamentação empírica, e quero acreditar que essa foi a novidade dele. Custa-me a crer que ninguém tenha reparado que essa conclusão é uma consequência necessária e inevitável dessa diferença entre taxas.

Miguel Madeira said...

Imagine-se que a proporção do rendimento nacional que vai para os rendimentos do capital se mantêm constante.

Assim, mesmo que o valor do stock do capital cresça mais que a economia, a taxa de lucro (isto é, o rácio [rendimentos do capital]/[valor do capital]) tenderá a descrescer; ou seja, em termos de rendimentos (e não de riqueza) não haverá à partida nenhuma razão para o aumento da desigualdade.

João Vasco said...

Não Miguel.

A questão é outra. A questão é que se os rendimentos do capital são maiores que o crescimento económico, a riqueza dos detentores do capital investido está a aumentar mais do que a riqueza dos outros elementos da sociedade.
Ou seja, se os detentores de capital hoje detêm 30% da riqueza, amanhã vão deter 99%. Isto decorre inevitavelmente de terem retornos superiores.
E é possível demonstrar isto por absurdo: se imaginarmos que a proporção de riqueza fica constante, então as taxas ajustadas ao risco têm de ser iguais.

E isto não é economia, mas sim matemática:

Se a proporção entre A e B é constante e A cresce a x%, b cresce necessariamente a x% também.

Demonstração:

A1 = (1+x)A0

B1 = (1+y)B0

A1/B1 = A0/B0

Então: (1+x)A0/(1+y)B0 = A0/B0
Logo: 1+x=1+y => y = x