Sunday, December 28, 2014

Henrique Raposo e os desenhos animados

Henrique Raposo critica os desenhos animados atuais, argumentando que fogem ao sofrimento, ao sacrifício, ao esforço, etc.

Confesso que não conheço o conteúdo dos desenhos animados atuais - os meus sobrinhos já estão todos nos dois dígitos e já vêm mais prgramas de imagem real do que desenhos animados; e o único habitante da minha casa só com um dígito na idade não liga muito a nenhum tipo de televisão (nem sequer a documentários sobre leões, tigres, leopardos ou chitas, que à partida até lhe poderiam interessar); já o Henrique Raposo creio que tem um filha com poucos anos, pelo que efetivamente seguirá mais os desenhos animados do que eu.

No entanto, não me parece fazer grande sentido esta passagem «Então façam o favor de comparar "Era uma vez a vida" com os filmes que RTP, SIC e TVI transmitem neste período das festas. A cruz faz falta».

Vamos lá ver os filmes infantis que a SIC passou nos dias 24 e 25 (aviso - múltiplos spoilers):

- Carros: a história de um carro de alta competição que após ficar empanado numa pequena cidade, descobre os valores da comunidade, amizade, família, etc., etc. É verdade que talvez não tenha grande sofrimento e tragédia propriamente ditos, mas também não é exatamente um filme "facilitista"

- Toy Story 3: provavelmente o mais trágico da série Toy Story, em que os brinquedos são (ou julgam ser abandonados) pelo dono e vão parar a um infantário onde, além de serem maltratados pelas crianças, estão submetidos a uma espécie de brinquedo-ditador

- À procura de Nemo: uma família de peixes-palhaços em que mãe e quase todos os ovos são comidos por alguém, só sobrando o pai e um filho; depois o filho é capturado e levado para um aquário (ficando à mercê de uma rapariga assassina de peixes), tendo o pai que atravessar o oceano para o libertar

- Brave - indomável: uma princesa que, para se livrar de um casamento combinado ou coisa parecida, evoca um feitiço que acidentalmente transforma a sua mãe num urso, que ela terá que salvar de ser morta pelo seu pai, que odeia ursos (aparentemente, um urso - que seria também um príncipe transformado - comeu-lhe uma perna); não tem grande drama, mas tem a ameaça disso (e uma mensagem implícita "cuidado com soluções fáceis")

- Força Ralph: o "mau" de um jogo de vídeo (de uma casa de jogos, não daqueles que se jogam em casa) farta-se do seu papel e tenta mudar para outro jogo, dando origem a uma série de acontecimentos que põem em perigo a existência dos jogos da casa de jogos (e a vida dos seus personagem, que desaparecerão se os jogos desaparecerem); e uma das personagem secundárias está traumatizada porque, no dia do seu casamento, o noivo foi morto por um bug informático

- Arthur Christmas: a distribuição de brinquedos pela família Natal foi transformada numa mega-operação tecnologicamente sofisticada, mas algo corre mal e uma criança não recebe o seu presente; agora é necessário, pelo método antigo (o trenó movido a renas) ir entregar o presente à criança, custe o que custar (e com muitas pressões para desistir)

- Alvin e os Esquilos 3 - naufragados: até vi um bocado, mas não percebi nada

- Toy Story - perdidos no tempo: a dona dos brinquedos vai brincar com uma amiga e leva-os; na casa da outra rapariga, têm que enfrentar brinquedos que se dedicam a algo parecido com lutas de gladiadores (a sério), não sendo destruídos por pouco

(mais uns quantos filmes que deram no principio da manhã, e que provavelmente ninguém viu)

Onde é que eu quero chegar - é que todos ou quase todos destes filmes me parecem ter o tal elemento de sofrimento/esforço/perigo/drama, não têm enredos "facilitistas"

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