Tuesday, June 09, 2020

Re: A economia faz-te mais sexista?

Segundo um estudo recente feito no Chile, os estudantes de economia tenderão a ter atitudes e opiniões mais machistas do que os de outras disciplinas, seja no sentido de serem já assimlogo quando entram no curso, como de esse machismo (ou sexismo, ou o que lhe queiram chamar...*) se tornar mais pronunciado ao longo do curso (o que indicia que haveria algo nos cursos de economia que incentivaria essas atitudes).

Confesso que comecei logo a suspeitar de uma coisa, seja por isso que eu suspeitei é muito frequente, seja pelas referências a "[e]studantes mais religiosos ou que se identifiquem politicamente mais à direita têm mais tendência para ir para cursos de economia" e sobretudo "[e]m geral, os alunos de economia, têm menos contacto com mulheres ao longo do curso, seja como professoras ou colegas" - isto é, eu nos quatro anos que frequentei um curso de economia nunca reparei que houvesse mais alunos que alunas (devia andar pelos 50/50), e nem sequer que os alunos tendessem a ser especialmente política ou socialmente conservadores. Claro que eu andei na universidade em Portugal, não no Chile (e ainda por cima o ISEG talvez seja atípico) - mas o estudo é claramente feito a pensar na área de Economia em geral, não apenas na Economia-académica-chilena, logo a minha experiência portuguesa torna-se relevante.

De qualquer maneira, fui dar uma olhada no estudo, Does Economics Make You Sexist? (NBER Working Paper No. 27070); e em breve tive a confirmação das minhas suspeitas: "Table 5 compares students in Business and Economics to students in other disciplines" (página 19), e ao longo do artigo vão falando em B&E.

Ou seja, isso é um estudo sobre os alunos de economia e gestão, não sobre economia apenas, e duvido muito que faça grande sentido, sobretudo em estudos sobre atitudes, misturar economia com gestão (até pela minha experiência, suspeito que os alunos das duas áreas tendem a ser bastante diferentes); p.ex., a teoria de que a culpa pode ser do ensino dos modelos da concorrência perfeita que dizem que o salário é igual à produtividade marginal do trabalhador poderá fazer sentido no caso dos economistas em sentido estrito, mas duvido que o faça no caso dos alunos da área de gestão (onde o que se ensina, ao que sei, tem muito pouco a ver com o modelo da concorrência perfeita, onde mal há lugar para o próprio conceito de "gestão").

*na prática o uso de "sexism" em american english tende a ser equivalente a "machismo" em português (enquanto em american english "machismo" tem um significado completamente diferente - tem mais a ver com um culto do ser "machão")

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