Thursday, June 16, 2011

Porque é que a deflação é pior que a inflação? Não é. É melhor.

Porque é que existe a tendência para considerar uma inflação amena um mal menor e não dizer o mesmo de uma deflação amena?

1. Salários:

As pessoas estão habituadas há muito a comparar os seus salários nominais com o índice de preços e esperar uma actualização ou aumento nominal dos salários, e para isso tem de existir uma iniciativa da empresa para os aumentar. Mas se a empresa nada fizer o poder de compra desce.

Em deflação, se essa mesma empresa não tomar uma acção que tem de comunicar e executar, os salários reais aumentarão. Para ajustar o nível de salários a empresa terá de tomar a iniciativa de os baixar nominalmente.

Aparentemente a deflação é melhor do ponto de vista dos trabalhadores porque a não-acção por parte da empresa beneficia-os. A acção implica assumir uma atitude. Em inflação, é o trabalhador que é obrigado a tomar uma acção.

2. Devedores e Credores:

Em inflação não antecipada, os devedores são beneficiados e os credores e aforradores são prejudicados, em deflação não antecipada o contrário. Mas onde é que do ponto de vista sistémico podemos provar que o sistema económico, prejudicando uns e beneficiando os outros, ganha na sua totalidade (maior crescimento? melhor informação?what?)?

Ter em conta que a pequena poupança de uma larga faixa de pessoas não sofisticada é efectuada por detenção de moeda e pequenos depósitos que são os prejudicados com a inflação e os beneficiados com a deflação que torna possível a poupança sem risco nominal sob a forma de moeda detida, traduzindo-se isso em independência do sistema financeiro (e na medida em que os depósitos à ordem são verdadeiros depósitos e não estão assim dados como crédito ao banco).

Mas com inflação, a poupança tem de ser canalizada para produtos financeiros que cubram ainda que só em parte a inflação (nem que seja em depósito a prazo no banco - uma operação de crédito ao banco). O que significa ficar dependente do sistema financeiro, da sua saúde, dos seus altos e baixos, das comissões, etc.

3. O adiamento/antecipação do consumo

O argumento do adiamento do consumo é igualmente falacioso e isso prova-se observando os sectores de altíssimos ganhos de produtividade onde os produtos ganham sistematicamente maior qualidade a preço mais baixo. Costumam ser aqueles com produtos que toda a gente quer comprar e onde todas as empresas gostariam de estar por serem os produtos da moda. Essas empresas vivem em deflação de preços constante e os consumidores com produtos que se tornam obsoletos rapidamente. Existe "adiamento"?

Mas se existisse realmente um efeito de adiamento de consumo em que medida é que isso seria pior que uma antecipação do consumo? Só na velha e falaciosa perspectiva Keynesiana de que é possível o aumento de consumo mantendo recursos disponíveis para o investimento, e a de que, por outro lado, a diminuição do consumo não liberta recursos para... o investimento.

Mais uma nota em relação a este suposto adiamento do consumo. A deflação benigna a dar-se é o resultado do crescimento económico, é uma sua consequência. Os custos baixam, os preços baixam. Rendimento e recursos sobram agora e ficam disponíveis para produzir e consumir mais produtos. Portanto, é contraditório dizer-se que haveria adiamento de consumo no sentido de que parecer que a produção até desceria. Para a deflação benigna se dar o crescimento económico tem de acontecer e isso significa maior produção e consumo. É um efeito simultâneo.

Quanto à simples posse de moeda, em deflação, o mesmo stock de moeda ganha poder de compra sem ser necessária a adição de mais unidades monetárias. Esse aumento do poder de compra desse stock de moeda inalterado constitui em si um incentivo ao consumo. A tendência será para preservar o poder de compra do stock de moeda médio detido. Se este aumentar, será utilizada a componente de poder de compra adicional. Em termos reais, o efeito tende a ser neutro.

Outro ponto relevante é que a inflação é canalizada através de pontos específicos da economia, por pessoas e empresas que recebem novas quantidades de dinheiro e que as utilizam com ganho, por serem as primeiras a utilizar essas novas quantidades a preços que não reflectem essa nova quantidade de moeda. Já o processo de deflação benigna tende a ser distribuído, é uma consequência de algo positivo que está a acontecer - diminuição de custos, mas a inflação é um processo exterior ao sistema económico natural e como tal tende a ser veiculado por pontos específicos resultado de relações de poder económico-político.

E sabemos também que neste sistema inflacionário, as bolhas assim induzidas, costumam criar muita riqueza dita "especulativa" porque os "especuladores" têm acesso a crédito artificialmente fácil e barato à custa dos males que essa inflação provoca em todos os outros. Exemplo prático teórico: financiamento conseguido a taxa de juro artificialmente baixa - dada a expansão de moeda subjacente - para comprar um cabaz de matérias-primas a um dado preço X, para ser vendido ao preço Y mais alto por simples antecipação do próprio efeito de inflação por si induzido. Claro que os efeitos nunca são assim tão directos, são mais difusos e mais imprevisíveis, e nunca se sabe o que aumenta de preço relativo por boas razões, daquilo que simplesmente entrou num processo típico de bolha.

Conclusão:

A deflação como resultado de estabilidade monetária e crescimento económico favorece em muito os pequenos e médios rendimentos e torna impossível a especulação maligna (a que resulta de uma simples distorção artificial de preços e não de uma legítima antecipação de preços ou preferência dos consumidores, etc.).

A inflação monetária surge genericamente porque alguém tem o poder coercivo de impor uma dada moeda; e tal como antes os monarcas e banqueiros inflacionavam a moeda (retirando percentagens crescente de ouro e prata das moedas ou inflacionando as notas e contas correntes relativamente ao ouro e prata físico realmente detido em depósito), hoje, os regimes e bancos usam a inflação de forma similar. Mas a inflação pode ser infinita. E isso é recorrente em toda a história da civilização. A moeda colapsa. Pelo caminho, para travar um processo inflacionário ou apenas o desacelerar é preciso por em prática e aceitar as dores de uma deflação maligna. Aquela que resulta de preços terem de descer depois de terem subido, como por exemplo o imobiliário. Essa é a deflação a que se atribuem os males de toda e qualquer deflação, até porque frequentemente este processo coloca os bancos em falência técnica e sujeitos a corridas a bancos, dado que os depósitos à ordem ficam sob suspeita. Consequência destes depósitos à ordem serem uma operação de risco em vez de um simples depósito civil.

A deflação benigna, pelo contrário, dá-se por causa do crescimento económico. Não é infinito no sentido quantitativo porque o ouro e prata não desaparecem. Só precisamos é de um sistema de direito civil pleno (um, onde o contrato de depósito é... um depósito), ou seja, um de reservas de 100%

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