Está a ganhar terreno a ideia de lançar um imposto sobre o consumo de fast-food - agora é David Cameron a juntar-se à procissão.
Os argumentos: "Isto é algo que temos que debater. A verdade é que temos um problema com o aumento da obesidade. Eu estou preocupado com os custos que isto vai ter para o Serviço Nacional de Saúde, bem como o facto de que algumas pessoas vão viver menos que os seus pais".
Faz sentido o Estado ter politicas contra a obesidade? Ou, pondo de outra maneira, a obesidade prejudica alguém além do próprio (a única justificação aceitável para o Estado interferir com os comportamentos individuais)?
À primeira vista, parece que sim - afinal, nos países com cuidados médicos fornecidos pelo Estado, algo que torne as pessoas mais doentes vai aumentar a despesa pública (mas ainda vou voltar a isso).
Mas à segunda vista, parece que não - afinal, nos países em que as pensões de reforma são pagas pelo Estado pelo sistema de repartição, algo que diminua a esperança de vida vai reduzir a despesa pública na Segurança Social.
Mais, nem é liquido que a obesidade aumente a despesa com a saúde - é verdade que é de esperar que uma pessoa obesa, por ano, vá mais vezes ao médico; mas também é de esperar que viva menos anos, logo não é certo que, durante o conjunto da sua vida, um obeso represente mais custo para os serviços de saúde que um não-obeso.
Ou seja, somando tudo, não me parece que se possa dizer que o consumo de fast-food (ou de comida com sal...) prejudique terceiros além de quem a consome - os vários efeitos sociais possíveis da fast-food parecem-me uns numa direcção e outros noutra, mais ou menos anulando-se mutuamente.
De novo, relembro o principio em que se baseou a minha análise - que os prejuizos que o consumo de fast-food possa provocar ao consumidor não interessam (não é da competência do Estado proteger o individuo dele próprio), apenas os prejuizos causados à sociedade.
[Post publicado no Vias de Facto; podem comentar lá]
Thursday, October 06, 2011
Publicada por Miguel Madeira em 10:28