Um artigo que Alexander Solzhenitsyn escreveu em 2008 (versão aberta), sobre a grande fome ucraniana de 1932-33, onde o ex-dissidente recusa que se tenha tratado de um genocídio étnico dirigido aos ucranianos:
FROM AS far back as 1917, we Soviet citizens had to hear and obediently swallow all sorts of shameless, not to say meaningless, lies. That the All-Russian Constituent Assembly was not an attempt at democracy but a counterrevolutionary scheme (and was therefore disbanded). Or that the October coup (this was Trotsky's brilliant maneuver) was not even an uprising, but self-defense from the aggressive Provisional Government (composed of the most intelligent Cadets).
But people in Western countries never became aware of these monstrous distortions of historical events - neither at the time nor later. So they had no chance to immunize themselves to the sheer impudence and scale of these lies.
The Great Famine of 1921 shook our country, from the Urals, across the Volga, and deep into European Russia. It cut down millions of our people. But the word "Holodomor" (death by hunger) was not used at that time. The Communist leadership deemed it sufficient to blame the famine on a natural drought, while failing to mention at all the grain requisitioning that cruelly robbed the peasantry.
In 1932 and 1933, when a similar Great Famine hit Ukraine and the Kuban region, the Communist Party bosses (including quite a few Ukrainians) treated it with the same silence and concealment. And it did not occur to anyone to suggest to the zealous activists of the Communist Party and Young Communist League that what was happening was the planned annihilation of the Ukrainians. The provocative outcry about "genocide" only began to be take shape decades later - at first quietly, inside spiteful, anti-Russian, chauvinistic minds - and now it has spun off into the government circles of modern-day Ukraine. Russia's parliament was correct this week to vote that the famine should not be considered genocide.
Still, defamation is easy to insinuate into Westerners' minds. They have never understood our history: You can sell them any old fairy tale, even one as mindless as this.
Alguns pontos:
- Solzhenitsyn era um ultra-nacionalista russo, logo as suas opiniões devem ter algum desconto
- Creio que ele não tinha nenhuma formação especifica como historiador e suponho que não tenha feito nenhuma investigação especial sobre a fome na Ucrânia
- Eu, Miguel Madeira, ainda menos percebo do assunto (e não faço ideia se a fome ucraniana foi um genocidio ou não)
No entanto, decidi postar este texto (com as ressalvas referidas), até para fazer o contraponto com montes de artigos, posts e comentários que surgem pela net a falar do genocídio ucraniano.
Um ponto acerca do genocídio - "genocidio" significa, mais ou menos, "matar pessoas devido à sua origem étnica", embora na linguagem comum seja frequentemente usado simplesmente com o sentido de "matar muita gente". Palpita-me que esse duplo significado inquina muita da discussão sobre se o Holodomor/Grande Fome da Ucrânia foi um genocidio. Nomeadamente a tese "o Holodomor foi um genocídio" está associada à ideia de que essa fome teve um objectivo deliberado de matar ucranianos, por contraponto à tese que houve uma politica de matar à fome as populações camponesas que se opunham à colectivização, fossem ucranianos, russos, kazaks ou de qualquer etnia. No entanto suspeito que, nos muitos parlamentos a nível mundial que votaram resoluções reconhecendo o Holodomor como um genocídio, algumas (muitas?) pessoas terão votado convencidas que estavam simplesmente a votar uma moção reconhecendo que o Holodomor provocou milhões de mortes (quando a questão não é essa, mas sim o motivo pelo qual essas pessoas foram mortas).
Mais uma nota sobre essa polémica no Ocidente - dá-me a impressão que a esquerda não costuma ligar muito a essa discussão (de vez em quando lá aparece um comunista a dizer que não morreu ninguém e foi tudo propaganda nazi); já na direita tem-se afirmado cada vez mais uma adesão à tese que o Holodomor foi um genocídio (aliás, a própria expressão "Holodomor" está associada a essa escola). O paradoxo aqui é que a tese contrária até é, na sua essência, muito mais anti-comunista: afinal, a teoria "extermínio dos camponeses que se opunham à colectivização" (seja na versão de extermínio deliberado - tirar-lhes as colheitas para morrerem à fome - ou na versão mais soft de extermínio por negligência - tirar-lhes as colheitas e se morrerem de fome, azar...) associa especificamente a fome à aplicação da ideologia comunista; pelo contrário a teoria "genocídio contra os ucranianos" associa a fome a uma perseguição étnica que poderia ocorrer em qualquer regime político (ou, pelo menos, em qualquer regime não-liberal).
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