Voltando a pegar no post de Chris Dillow que referi ali em baixo, nomeadamente nesta passagem:
One is that politicians themselves might be as prone to cognitive biases as the public. Indeed, it's possible that they are selected for such biases - because the overconfident are disproportionately likely to enter politics and because irrational consumers are likely to make irrational voters. The image promoted by behavioural economics (or its users) - of rational policy-makers operating upon irrational subjects - is therefore questionable.
Esse é um argumento muito usado contra a tendência para utilizar a chamada "economia comportamental" (isto é, a constatação que as pessoas nem sempre se comportam como os computadores humanos maximizadores de utilidade previstos nos primeiros semestres dos aulas de micro-economia) para justificar politicas intervencionistas - e parece fazer um certo sentido: afinal, se as pessoas são muitas vezes irracionais, os decisores politicos também serão muitas vezes irracionais, logo não faz sentido estar à espera que o Estado corrija a irracionalidade dos individuos.
O problema nesse raciocinio é que esquece que a "economia comportamental" pode ser usada para justificar o estatismo de duas maneiras:
a) "Se as pessoas fossem totalmente racionais, o mercado funcionaria perfeitamente. Como infelizmente as pessoas não são totalmente racionais, a regulação estatal é necessária"
ou
b) "Se as pessoas fossem totalmente racionais, a política que estamos a propor não funcionaria. Mas como felizmente as pessoas não são totalmente racionais, esta política vai à mesma funcionar"
Um exemplo do caso b) é a chamada "equivalência ricardiana": segundo muitos economistas, uma redução permanente de impostos ou um aumento permanente da despesa pública não aumenta a procura interna - os contribuintes, ao verem o deficit e a dívida a se acumular, vão assumir que mais cedo ou mais tarde a dívida vai ter que ser paga e vão começar logo a poupar dinheiro para quando chegar essa altura. Assim, o aumento do deficit público vai ser anulado pelo aumento da poupança privada. Os críticos da "equivalência ricardiana" contrapõem que a maior parte das pessoas não toma em conta o valor da dívida pública na altura de programar as suas despesas mensais (recorrendo simplesmente a regras empiricas do género "pôr metade do ordenado no banco e gastar a outra metade") , e portanto essa redução de impostos/aumento da despesa vai realmente aumentar a procura.
Ora, o argumento "se os individuos são irracionais, os políticos também são" faz sentido nas situações do tipo a), mas creio que não faz sentido nas situações do tipo b) - o caso b) apenas requer que os indíviduos não sejam racionais, não requer que os governantes sejam mais racionais que as pessoas comuns (na verdade, eu suspeito que uma política que, para funcionar, necessite que os individuos não sejam racionais, funciona ainda melhor se os governantes também não forem racionais, já que assim pôem a política em prática com mais convicção).
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