Monday, February 23, 2015

"Capital humano"

Branko Milanovic é contra a expressão "capital humano"; Nick Rowe é a favor; Noah Smith não é nem deixa de ser contra.

Um problema que vejo com a expressão "capital humano" é que o "capital humano" (ao contrário da capital a sério) não pode ser vendido, alugado, dado, confiscado, hipotecado, etc., etc, sem vender, alugar, dar, confiscar, hipotecar, etc. o  trabalho da pessoa que o possui, pelo que é mais uma subcategoria do fator "trabalho" do que do fator "capital".

Isso leva a uma importante diferença - é perfeitamente possível num processo de produção o capital físico pertencer a uma pessoa e o trabalho a outra: um taxista pode alugar um taxi para trabalhar, ou inversamente o dono de um taxi pode contratar um taxista; mas já não é possível alguém fazer o trabalho de um engenheiro usando os conhecimentos de engenharia de outra pessoa (sim, é possivel alguém sem conhecimentos de engenharia trabalhar seguindo as instruções de um engenheiro, mas aí o engenheiro também tem que trabalhar; por outro lado, o engenheiro pode explicar a outra pessoa como fazer o trabalho de forma a que ela possa trabalhar sozinha, mas nesse caso a outra pessoa passou a possuir efetivamente esse "capital humano").

O corolário dessa diferença é que a distribuição do "capital humano" é, em certo sentido, mais relevante do que a do capital propriamente dito: no caso do capital propriamente dito - se assumirmos mercados financeiros e laborais com poucos ou nenhuns custos de transação, pouco diferença faz, em termos da capacidade produtiva de uma economia, quem possui o capital propriamente dito (já que os donos do capital e quem vai trabalhar com esse capital podem sempre fazer uma negociação e, ou os capitalistas contratarem trabalho, ou os trabalhadores contratarem capital); já no caso do "capital humano" é bastante provável que 9 pessoas com o 12º ano e 1 pessoa com 10 licenciaturas tenham um potencial produtivo bastante diferente do que 10 pessoas com uma licenciatura cada uma.

Pegando no post anterior, uma implicação disto é que para incentivar a acumulação de capital propriamente dito talvez o que interesse seja sobretudo a taxa marginal marginal (já que a acumulação de capital pode ser feita recorrendo sobretudo às pessoas com mais rendimentos - por definição, são quem pode poupar mais dinheiro), enquanto para incentivar a acumulação de "capital humana" seja mais relevante a taxa marginal média (como o "capital humano" não pode ser acumulado por umas pessoas para ser usado por outras, a sua aquisição tem, em principio, que ser mesmo distribuída por grande parte da sociedade).

Já agora, outra questão em que há uma diferença ente capital propriamente dito e "capital humano" é a que referi aqui - como o "capital humano" não pode ser hipotecado separadamente do dono, é mais difícil financiar a aquisição de "capital humano" via empréstimos.

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