Monday, February 09, 2015

Indemnizações de guerra?

Sinceramente, acho ridículo (talvez com uma exceção), a respeito da questão da renegociação da dívida, vir invocar que a Alemanha ainda deve dinheiro das indemnizações da II (ou mesmo da I) Guerra Mundial.

Para começar essa dívida já foi perdoada pelos países supostamente credores, logo a Alemanha já não deve nada por aí (vir agora falar de dívidas que já foram perdoadas seria como se agora se conseguisse renegociar a dívida grega mas daqui a umas décadas voltassem a pedir o dinheiro).

Falar disso (das dívidas perdoadas) é relevante em abstrato, como defesa do principio que em certos momentos o melhor que há a fazer é perdoar (total ou parcialmente) dívidas (ou juros); mas falar nisso como se se quisesse vir agora buscar mesmo esse dinheiro acho que não tem grande lógica.

Além disso, "indemnizações de guerra" não são dívidas a sério - não passam de um tributo que os vencedores impunham aos vencidos no fim das guerras; e isso aplica-se sobretudo à suposta dívida da Alemanha a Portugal, resultante de "indemnizações" de uma guerra em que Portugal se meteu largamente porque quis.

Qual a exceção que referi acima? Durante a II Guerra Mundial, os alemães exigiram da Grécia um "empréstimo forçado", em que o Banco Central grego imprimiu uns milhares ou milhões de dracmas que "emprestou" ao exército alemão (creio que foi esse dinheiro que os soldados alemães gastaram durante a ocupação). Neste caso, haverá mesmo uma dívida - trata-se mesmo de um empréstimo que a Alemanha (quando estava na mó de cima) contraiu junto da Grécia (não de um valor que os vencedores decidiram que o vencido teria que pagar, como no caso das indemnizações propriamente ditas). De qualquer forma,  mesmo neste caso, se não se aplica a segunda objeção, continua a aplicar-se a primeira.

[Post publicado no Vias de Facto; podem comentar lá]