Tuesday, January 02, 2018

Em defesa do "agente racional"

Why use rational choice models?, por "Upholding Economics":

A particular focus of criticism of mainstream economics is the use of rational choice in many orthodox models. Some critics are so extreme as to claim the use of rational choice should invalidate a model a priori. In reality there are many sensible reasons rational choice was and is still used commonly in economics:

Many results in behavioural economics come from small scale experiments in the form of simple games or challenges a small group of test subjects, often students, take part in. Some critics have challenged the external validity of these experiments and their application to the situations economists usually study, which might include seasoned entrepreneurs rather than nervous test participants unfamiliar to the ‘game’. Richard McKenzie emphasizes this point on his work defending the use of rationality. For instance, Richard McKenzie challenges the work of Kahneman for assuming that people favouring a ‘sure thing’ (option A: $800) over a gamble (option B: 85% chance of $1000, 15% chance of nothing) contradicts rational choice , he writes:
What the behavioralists miss is that variance in outcomes is also consequential in assessing options. Option A has no variance; Option B has a substantial variance, with the outcome ranging from zero to $1,000. Hence, for many choosers, Option A can be more valuable than Option B. Indeed, if expected value were all that mattered, people would never buy insurance. Is the purchase of insurance irrational?”
He goes on to demonstrate how framing choice problems like these in a more relevant entrepreneurial/investment setting, with more realistic outcomes and pay-offs, allowing for repeats of the test to account for learning, and ensuring the students of a personal/financial stake in the choice they make causes the behaviour of the students to converge towards rational choice as predicted by conventional theory. (...)

This of course corroborates previous studies that find experience is both a ‘catalyst’ for rationality and a ‘filter’ of irrationality, where aggregated market outcomes “quickly converge to neoclassical predictions.” To summarise, the results showing irrationality from first generation of economic experiments, often involving students in very limited scenarios with no personal stake, are not necessarily applicable to real world markets and scenarios — while there is strong evidence that real world market experience causes individuals to converge towards rational choice. (...)

One alternative to using rational choice is to explicitly model irregularities and biases as if they are a consistent aspect of behaviour which can be used to make predictions. There is a challenge with this approach however: self awareness.

Many studies have shown that anomalies (divergences from what an efficient ‘rational’ market would produce) in asset pricing behaviour soon disappear once papers are published on their existence. This strongly suggests that behavioural irregularities in relevant economic scenarios cannot be relied upon to be persistent, and because of this may not be suitable for use in long term predictive models.
Uma nota especial acerca da preferência por um resultado certo a um jogo com valor esperado superior - se os comportamentalistas usam esse exemplo para dizer que os agentes não são racionais, então isso não tem ponta onde se lhe pegue; esse é exatamente o resultado previsto pelo modelo do agente racional (aversão ao risco). Fariam mais sentido se usassem o exemplo oposto (como, aliás, de certo modo o João Vasco parece-me fazer aqui): de que muitas vezes as pessoas preferem resultados incertos a um valor certo, mesmo quando o resultado esperado é igual ou até inferior (de qualquer maneira, eu suponho que mesmo isso poderá ser enquadrado no modelo do agente racional - quase toda a gente que faz o totoloto sabe que em média perde-se mais do que ganha, logo suspeito que não é bem uma questão de "irracionalidade" mas de preferências mais complexas do que os modelos tradicionais postulam; pode ser que ainda faça um post sobre isso).

1 comment:

João Vasco said...

Olá Miguel,

Dois comentários:

1- «se os comportamentalistas usam esse exemplo para dizer que os agentes não são racionais, então isso não tem ponta onde se lhe pegue; esse é exatamente o resultado previsto pelo modelo do agente racional (aversão ao risco)»
Claro!!
Mas os comportamentalistas não dizem nada disso. Aliás, eu estava a ler o texto e sentia-me na "twilight zone". Tive de reler umas três vezes até confirmar que o autor estava tão escandalosamente equivocado a respeito dos comportamentalistas.
Talvez algum mais pateta pense isso, mas o Kahneman não teria ganho um prémio Nobel se tivesse uma noção tão desinformada daquilo que é consistente com o modelo do agente racional num contexto de incerteza.
(Já agora, no meu trabalho eu faço uso da aproximação do agente racional, pelo que naturalmente que acredito que existem contextos em que é uma boa aproximação da realidade. O meu problema com esse texto é o de ser uma crítica tão desinformada).


2-«se os comportamentalistas usam esse exemplo para dizer que os agentes não são racionais, então isso não tem ponta onde se lhe pegue; esse é exatamente o resultado previsto pelo modelo do agente racional (aversão ao risco). Fariam mais sentido se usassem o exemplo oposto (como, aliás, de certo modo o João Vasco parece-me fazer aqui): de que muitas vezes as pessoas preferem resultados incertos a um valor certo, mesmo quando o resultado esperado é igual ou até inferior (de qualquer maneira, eu suponho que mesmo isso poderá ser enquadrado no modelo do agente racional - quase toda a gente que faz o totoloto sabe que em média perde-se mais do que ganha, logo suspeito que não é bem uma questão de "irracionalidade" mas de preferências mais complexas do que os modelos tradicionais postulam; pode ser que ainda faça um post sobre isso)»

Podes enquadrar com muita facilidade o apreço pelo risco num modelo de agente racional. O que contraria o modelo simples do agente racional é que os mesmos agentes comportam-se com aversão ao risco e apreço pelo risco de forma que contraria os axiomas usados no modelo do agente racional.
Isso está demonstrado empiricamente.
No caso do totoloto, a inconsistência do "agente representativo" não é jogar totoloto. É ao mesmo tempo jogar totoloto mas exigir um retorno maior para acções mais arriscadas do que para acções mais seguras. Com mercados aproximadamente completos, a convivência entre estas duas situações não ocorreria.
Claro que existem uma série de outras demonstrações mais directas e inequívocas dessa inconsistência.

Agora, claro que é sempre possível salvar o "agente racional" se recuares um nível: dizes que o agente não está a optimizar as suas escolhas de forma consistente como se tivesse recursos cognitivos infinitos, mas sim a fazer escolhas que não são perfeitas mas que são as melhores que podem ser feitas com recursos cognitivos limitados.

Foi o que escrevi nesse mesmo comentário que linkas:

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Mesmo aqui tu podes dizer, mas talvez esta dificuldade de ser consistente nas preferências possa ser modelada assumindo um agente racional com capacidade de processamento limitada e que gere essas limitações na capacidade de processamento da forma racional.
Isto é diferente do ponto anterior: o agente não está a optimizar o número de vezes que optimiza, mas a optimizar a própria forma de optimizar tendo em conta recursos cognitivos limitados.
Mas isto também já foi feito, pelo Michael Woodford: "Prospect Theory as Efficient Perceptual Distortion" e "Stochastic Choice: An Optimizing Neuroeconomic Model", por exemplo.
Mas mesmo que isto dê uma fundamentação teórica para a prospect theory, continua a ser difícil integrá-la na maior parte dos modelos micro e macroeconómicos por razões matemáticas. Às tantas há muitas circunstâncias em que tem de se simplificar a assumir o agente totalmente racional.
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