No blog da Atlantico, a respeito de uma suposta aliança entre a Fatah, Israel e os EUA, Henrique Raposo escreve "Uau!! Os coitadinhos dos palestinianos aliados com o Satão, o grande e o pequeno. Como é que a esquerda reaccionária vai explicar isto?".
Eu não sei o que Henrique Raposo quer dizer exactamente com "esquerda reaccionária" (este género de expressões indefinidas têm a vantagem de serem dificilmente refutáveis num debate), mas não me parece que a esquerda (sem adjectivos) tenha grande dificuldade em explicar isso.
P.ex., tomemos este comunicado 29/06/2006 da "Liga Internacional dos Trabalhadores", divulgado pela Ruptura/FER, em que a dada altura se diz "As recentes eleições para o governo da ANP foram vencidas pelo Hamas, uma organização que, ainda que se mostrasse disposta a negociar uma trégua, ainda mantém no seu programa o não reconhecimento do Estado de Israel, frente à corrente Al Fatah, apoiada pelos israelitas e pelo imperialismo" (negrito meu) .
Já há muitos anos, nos primeiros tempos dos acordos de Oslo, quando a Autoridade Nacional Palestiniana estava a ser implantada, a Politica Operária tinha um artigo dizendo qualquer coisa como "Sinal dos tempos - os jovens palestinianos já estão a aprender a atirar pedras à policia de Arafat, como faziam aos soldados israelitas".
Indo para outro campo da "esquerda", temos o artigo "Palestine - What future for the national liberation movement?", de Setembro de 2002, publicado pelo International Viewpoint (correspondente ao ex-PSR em Portugal), aonde a dada altura se argumenta que o governo de Arafat estaria a desempenhar cada vez mais o papel de agente da repressão ao serviço dos EUA e de Israel.
Ainda para outra facção, temos os artigo "Israel/Palestine - The End of a Political Fiction?", de 31/01/2006, da ZNet, aonde se escreve «The Palestinian Authority under Fatah rule - with a few notable exceptions following the uprising that began in September 2000 - was generally marked by little more than verbal disputes with the Israeli government. PA security forces coordinated with the Israeli military, arrested political opponents and activists, responded to Israeli actions on the ground with little more than muted, rhetorical opposition, and routinely repeated the idiotic mantra of the “violence on both sides”»
Aonde é que eu quero chegar com esta colecção de citações, de várias origens (trotskistas-morenistas da FER, ex-maoistas da PO, trotskistas-mandelistas do IVP, "chomskyistas" da ZNet)? Que a uma aliança Fatah-Israel-EUA, a ocorrer, não é nada que a esquerda não consiga explicar - afinal, é o que a esquerda anda a dizer à montes de tempo!
Aliás, já nos anos 70, a moda entre os autores de esquerda era exactamente dizer que a Fatah era um movimento "pequeno-burguês" e que a sua "natureza de classe" iria levá-la a um "compromisso com o imperialismo" - quem se der ao trabalho de ir procurar esse género de literatura nas livrarias do Bairro Alto e arredores facilmente descobrirá isso.
Eu não sei o que Henrique Raposo quer dizer exactamente com "esquerda reaccionária" (este género de expressões indefinidas têm a vantagem de serem dificilmente refutáveis num debate), mas não me parece que a esquerda (sem adjectivos) tenha grande dificuldade em explicar isso.
P.ex., tomemos este comunicado 29/06/2006 da "Liga Internacional dos Trabalhadores", divulgado pela Ruptura/FER, em que a dada altura se diz "As recentes eleições para o governo da ANP foram vencidas pelo Hamas, uma organização que, ainda que se mostrasse disposta a negociar uma trégua, ainda mantém no seu programa o não reconhecimento do Estado de Israel, frente à corrente Al Fatah, apoiada pelos israelitas e pelo imperialismo" (negrito meu) .
Já há muitos anos, nos primeiros tempos dos acordos de Oslo, quando a Autoridade Nacional Palestiniana estava a ser implantada, a Politica Operária tinha um artigo dizendo qualquer coisa como "Sinal dos tempos - os jovens palestinianos já estão a aprender a atirar pedras à policia de Arafat, como faziam aos soldados israelitas".
Indo para outro campo da "esquerda", temos o artigo "Palestine - What future for the national liberation movement?", de Setembro de 2002, publicado pelo International Viewpoint (correspondente ao ex-PSR em Portugal), aonde a dada altura se argumenta que o governo de Arafat estaria a desempenhar cada vez mais o papel de agente da repressão ao serviço dos EUA e de Israel.
Ainda para outra facção, temos os artigo "Israel/Palestine - The End of a Political Fiction?", de 31/01/2006, da ZNet, aonde se escreve «The Palestinian Authority under Fatah rule - with a few notable exceptions following the uprising that began in September 2000 - was generally marked by little more than verbal disputes with the Israeli government. PA security forces coordinated with the Israeli military, arrested political opponents and activists, responded to Israeli actions on the ground with little more than muted, rhetorical opposition, and routinely repeated the idiotic mantra of the “violence on both sides”»
Aonde é que eu quero chegar com esta colecção de citações, de várias origens (trotskistas-morenistas da FER, ex-maoistas da PO, trotskistas-mandelistas do IVP, "chomskyistas" da ZNet)? Que a uma aliança Fatah-Israel-EUA, a ocorrer, não é nada que a esquerda não consiga explicar - afinal, é o que a esquerda anda a dizer à montes de tempo!
Aliás, já nos anos 70, a moda entre os autores de esquerda era exactamente dizer que a Fatah era um movimento "pequeno-burguês" e que a sua "natureza de classe" iria levá-la a um "compromisso com o imperialismo" - quem se der ao trabalho de ir procurar esse género de literatura nas livrarias do Bairro Alto e arredores facilmente descobrirá isso.
2 comments:
"esquerda reacionaria", já estamos habituados a ouvir outras derivações e adjectivos vindos dessas paragens.
em relação a uma aliança, há muito para dizer.
mas antes convem recordar o que alguma direita pensava sobre o arafat, partidario do fatah...
eu não vejo nada contra essa conjugação temporaria de interesses, desde que todos os envolvidos reconheçam ambos os estados e não tenham atitudes belicistas, como acontece agora por parte de alguns (israel e eua).
por falar nisto, no "arrastão" vai uma salgalhada sobre a questão isrealo-palestiniana, sionismo etc etc
Os seus comentários sobre a geração dos recibos verdes também são um caso imperdível de ambiguidades à solta...
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