A propósito da tolerância de ponto de 26/12/2006 e, sobretudo, do post que Isabel Faria escreveu acerca disso, ocorreu-me que uma forma de "greve" que era capaz de fazer mossa ao governo era uma "contra-greve" a uma tolerância de ponto, isto é, os funcionários públicos, como "forma superior de luta" contra as politicas do governo, irem trabalhar a um dia a que o governo desse tolerância (seria um caso extremo de "greve por bom trabalho"). Em termos de efeitos sobre a opinião pública (o objectivo, em ultima instância, de qualquer greve no sector público) seria muito mais positivo que uma greve clássica, e nem poderia ser minimizada com argumentos do género "fizeram greve só porque quiseram um dia de descanso!". Os inconvenientes eram que: a) duvido que algum sindicato declarasse um "contra-greve" dessas; b) se, mesmo assim, um sindicato apelasse à "contra-greve", muito sinceramente, duvido que alguém a fizesse; e c) como as tolerâncias costumam ser anunciadas com poucos dias de antecedência, dificilmente haveria tempo para decidir e organizar uma acção dessas, mesmo que se quisesse.
Agora, dando uma no cravo e outra na ferradura, vou analisar o outro lado do problema: os críticos das "tolerâncias", que dizem que se perde milhões de contos, que se diminui a produtividade, etc.
As contas do "prejuízo" que as tolerâncias causam são feitas de um modo curioso: sempre que aparece nos jornais que a uma tolerância de ponto custou "X", estão-se a referir ao valor de um dia de ordenado que foi pago aos trabalhadores que gozaram a tolerância - dizer que o Estado "gastou" esse dinheiro com a tolerância não é exacto, já que o Estado gastou exactamente o mesmo dinheiro que teria gasto se não houvesse tolerância (na verdade, em serviços com trabalho por turnos até gasta um pouco menos, já que paga menos suplementos de trabalho nocturno). O que se "perdeu" não foi o dinheiro mas sim os serviços que deixaram de ser prestados - até se pode admitir que, na ausência de outra medida, se avalie esses serviços pelo custo de um dia de trabalho, mas é engraçado que quem mais usa essa conta para criticar as tolerâncias seja aqueles que mais dizem que os serviços da Administração Pública valem muito menos que o dinheiro que se gasta com eles (e se calhar até têm razão, como se vê em casos destes); ora, se os serviços que o Estado presta não são assim grande coisa, então o prejuízo de não os prestar durante um dia também não é assim tão grande, não é?
Quanto aos efeitos da tolerância sobre a "produtividade", lembro que a "produtividade" é o rácio entre a produção total e o trabalho total - ora, como uma tolerância de ponto reduz tanto a produção como o trabalho, não terá efeito sobre a produtividade; em rigor, até é provável que a aumente um bocadinho, já que em serviços de determinada natureza (p.ex., contabilidade, processamento de salários, etc.) um dia de tolerância significa que o trabalho que era para ser feito nesse dia terá que ser feito nos outros dias, ou seja, a produção total não é afectada (logo, se a produção é a mesma com menos dias de trabalho, temos maior produtividade).
Agora, dando uma no cravo e outra na ferradura, vou analisar o outro lado do problema: os críticos das "tolerâncias", que dizem que se perde milhões de contos, que se diminui a produtividade, etc.
As contas do "prejuízo" que as tolerâncias causam são feitas de um modo curioso: sempre que aparece nos jornais que a uma tolerância de ponto custou "X", estão-se a referir ao valor de um dia de ordenado que foi pago aos trabalhadores que gozaram a tolerância - dizer que o Estado "gastou" esse dinheiro com a tolerância não é exacto, já que o Estado gastou exactamente o mesmo dinheiro que teria gasto se não houvesse tolerância (na verdade, em serviços com trabalho por turnos até gasta um pouco menos, já que paga menos suplementos de trabalho nocturno). O que se "perdeu" não foi o dinheiro mas sim os serviços que deixaram de ser prestados - até se pode admitir que, na ausência de outra medida, se avalie esses serviços pelo custo de um dia de trabalho, mas é engraçado que quem mais usa essa conta para criticar as tolerâncias seja aqueles que mais dizem que os serviços da Administração Pública valem muito menos que o dinheiro que se gasta com eles (e se calhar até têm razão, como se vê em casos destes); ora, se os serviços que o Estado presta não são assim grande coisa, então o prejuízo de não os prestar durante um dia também não é assim tão grande, não é?
Quanto aos efeitos da tolerância sobre a "produtividade", lembro que a "produtividade" é o rácio entre a produção total e o trabalho total - ora, como uma tolerância de ponto reduz tanto a produção como o trabalho, não terá efeito sobre a produtividade; em rigor, até é provável que a aumente um bocadinho, já que em serviços de determinada natureza (p.ex., contabilidade, processamento de salários, etc.) um dia de tolerância significa que o trabalho que era para ser feito nesse dia terá que ser feito nos outros dias, ou seja, a produção total não é afectada (logo, se a produção é a mesma com menos dias de trabalho, temos maior produtividade).
2 comments:
isto faz-me lembrar quando eu estava no secundario e se fez greve.
por incrivel que pareça eu não participei, pelo menos na forma "grevista", mas obriguei os stores a darem-me aulas em exclusivo, ou practicamente. durante as aulas lá decidia pegar em tudo que os stores falavam e relaciona-los com os temas e as preocupações que foram a causa da greve, com as quais eu concordava.
eu decidi ter esta atitude, pois já me tinha apercabido ao longo de conversas acaloradas com o meu pai e amigos, que a greve em si já tinha e tem pouco efeito.
principalmente quando não existe por detrás uma base de discussão ou forum que permita o debate, o interesse e a participação dos estudantes, mas simplesmente alguem decide fazer a coisa e a coisa acontece.´
claro que havia discussão mais ou menos informal nas horas de "recreio", no entanto não havia uma plataforma organizacional, e está claro há aproveitamento politico e malta com t-shirts do cheguevara... bem está a ver onde quero chegar.
já nessa altura e ainda hoje acredito que a melhor forma de combater o poder e as mentes retrogradas (são todos uma gereação rasca e coisa e tal) é através da demonstração de superioridade e criatividade reevindicativa.
por exemplo, eu propus, ou tentei propor à associação de estudantes o ajuntamento num sabado com formas criativas de protesto e depois se a coisa não fosse avante, partiamos para a greve e até outras formas mais "disruptoras" de luta.
assim levavam-nos a sério, mostravamos maturidade e que sabiamos com quem estavamos a lidar, talvez agora não estariamos ainda a discutir as mal-fadadas aulas de educação sexual e outras questões...
1. Gosto bastante da ideia. Há uma série enorme de maneiras de explorar este tipo de ideias: Por exemplo, os gajos do Metro podiam fazer greve recusando-se a cobrar bilhetes, mas mantendo o sistema a funcionar.
Nada disto alguma vez vai acontecer.
2. Das duas uma: ou se argumenta que o estado ia gastar na mesma esse dinheiro, portanto perdeu-se o que seria produzido nesse dia, mas nesse caso é preciso manter essas horas (que foram pagas pelos contribuintes) para efeitos de cálculo de produtividade. Ou então, diz-se que essas horas não foram trabalhadas e então o custo do trabalho sobe, de facto.
3. Certas repartições estatais produzem de facto muito pouco, ou até têm efeitos negativos no bem estar dos cidadãos. No entanto, simplesmente fechar os serviços não serve de nada se não se exonerar o cidadão de cumprir o processo associado. Assim, não é incoerente dizer (1) esta repartição só prejudica e (2) esta repartição não deve fechar um dia senão ainda prejudica mais.
Aquelas repartições que abrem das 10-12 e nas quais é preciso fazer um merda qualquer não melhoravam por abrir somente da 10-11, mas até melhoravam se estivessem abertas todo o dia. Para certos processos, era no entanto preferível fosse não ter sequer de ir lá (por exemplo, certas coisas em que é preciso ir ao fisco no nosso bairro fiscal que tem horários limitados: era melhor simplesmente poder fazer isso na loja do cidadão; ou as parvoíces que é preciso levar uma fotocópia de notário em vez de ser possível simplesmente mostrar uma fotocópia e o original do documento).
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