Tuesday, August 28, 2007

Acerca da ETA e do País Basco

Helena Matos escreve acerca da ETA:


"O que pode levar, por exemplo, uma sociedade em plena Europa a premiar os terroristas? E o prémio de facto existe: as votações nos partidos que servem de capa à ETA não descem muito significativamente após a realização dos atentados. Em alguns casos existem mesmo subidas. Por exemplo na localidade de Ordicia o número do votos do Batasuna subiu após um etarra matar com dois tiros Dolores Kataraín quando esta passeava com o filho de três anos. Note-se que Dolores Kataraín não era uma cidadã anónima ou uma agente da polícia. Fora fundadora da ETA e em meados dos anos 80 resolvera abandonar a organização. A direcção da ETA considerou-a um mau exemplo para os jovens e como tal matou-a.E não é apenas no Páis Basco que este prémio eleitoral acontece. Quando em 2004 se descobriu que o líder catalão Carod Rovira fizera um pacto com a ETA prometendo-lhe apoio às suas reivindicações em troca da promessa da organização terrorista de poupar a Catalunha aos atentados, rebentou uma crise na campanha eleitoral. E não faltou quem vaticinasse o fim da carreira política de Rovira. Na verdade as urnas mostraram que muitos catalães apoiavam a estratégia de Rovira pois a votação no seu partido subiu espectacularmente."

A conclusão que podemos tirar é que muita gente no Pais Basco e na Catalunha vê com simpatia os objectivos da ETA (e, pelos vistos, alguns até os meios criminosos que utiliza), o que poderá levantar a dúvida sobre a legitimidade do Estado Espanhol para governar essas regiões.

"Porque acontece numa sociedade rica e dotada dos mecanismos duma democracia, o terrorismo da ETA parece ainda mais absurdo. Mas não é verdade."

Se há problema dificil para as democracias é o do separatismo, que pode funcional como o "caso exemplar" dos paradoxos da democracia: como aplicar a "regra da maioria" (seja ela simples ou qualificada) numa situação em que o cerne da discussão é exactamente "qual é maioria que deve contar?".

Por exemplo, qual é a "maioria democrática" que têm competência para decidir o destino do Pais Basco? Se a "maioria democrática" dos bascos for pela independência e a "maioria democrática" dos espanhóis for contra? Qual é a maioria que vale? E se, sendo os bascos maioritariamente pela independência, no distrito de Alava a maioria local for contra?

[A minha opinião é que a maioria - eventualmente qualificada, 2/3 ou coisa assim - dos habitantes de um território devem ter sempre o direito de proclamar a independência de uma unidade politica maior; assim acho que o Pais Basco têm o direito, se os seus habitantes assim o entenderem, a ser independente, tal como Alava, se fosse o caso, também teria o direito a abandonar o Pais Basco e regressar a Espanha]

6 comments:

Anonymous said...

concordo.

Anonymous said...

«"caso exemplar" dos paradoxos da democracia: como aplicar a "regra da maioria" (seja ela simples ou qualificada) numa situação em que o cerne da discussão é exactamente "qual é maioria que deve contar?".»

Bem visto MM. Cada vez gosto mais deste blogue.

Não consigo é perceber a atracção pelo comunismo de conselhos. Pode escrever um post sobre isso?

Anonymous said...

Meditando sobre este assunto, que tal, a criação de um movimento para tornar o algarve «Independente».

Apoios não vão faltar, contem com o meu.

Anonymous said...

Eu sou de Faro e concordo com a proposta do d.neves. Depois iriamos ver o concelho de Loulé a pedir também independencia para não ter que pagar os desvarios da CMFaro =)f

Anonymous said...

a independencia só é suportavel a um determinado ponto.

caso contrario, eu declarava o meu jardim independente. por acaso nao tenho jardim, mas podia ter.

e viva a republica popular o forno.

Luís Bonifácio said...

Na realidade a ETA é hoje em dia o maior aliado dos nacionalistas castelhanos. Enquanto existir a ETA, o PNV não poderá avançar com o objectivo da independência.