Tuesday, October 14, 2008

"Nunca antes dos 12 anos"

No fim de semana, numa revista qualquer (acho que naquela que vem com o Diário de Noticias) vinha um artigozinho a "explicar" porque os pais nunca devem deixar os filhos atravessar a rua sozinhos antes dos 12 anos (que ainda não têm o cérebro completamente desenvolvido para calcular a direcção dos carros, ou coisa assim.

Bem, eis o percurso que eu fazia de casa ao "ciclo" e vice-versa quando tinha 10/11 anos. Quando ia de casa ao ciclo, fazia o percurso "vermelho"; no regresso, tanto podia fazer o "vermelho" como o "azul". Os círculos verdes são os pontos onde eu atravessava a rua (muitas dessas ruas não tinham praticamente trânsito, é verdade, mas as ruas movimentadas - a 25 de Abril e e actualmente chamada Jaime Palhinha - estão assinaladas com círculos verdes preenchidos a amarelo). A maior parte dos meus colegas vivia do outro lado da cidade (eu era dos que morava mais perto do ciclo) e iam a pé para casa (excepto quando chovia).

Nunca nenhum foi atropelado.


[Mapa roubado ao Google Maps]

8 comments:

Miguel Noronha said...

Tem toda a razão. Com essa idade eu já ia a pé para a escola. E quando haviam "feriados" em aulas de 2 horas costumavamos atravessar toda a cidade para ir a casa de um colega que tinha um ZX81.

Anonymous said...

Tem razão. Quando eu tinha 11 anos também ia sozinho para a escola, atravessando ruas e tudo.

Hoje em dia tudo empurra os pais para a solução do automóvel. Empolam-se os perigos da rua para as crianças e sugere-se que é imprescindível que os pais as acompanhem sempre. Na prática, isso quer dizer: "leve o seu filho para a escola de automóvel".

Entretanto, suspeito que as ruas eram menos perigosas nessa época do que hoje. As velocidades praticadas eram menores e, como havia menos carros estacionados nas bermas, a visibilidade era maior. Os carros eram também mais barulhentos. Suspeito...

Luís Lavoura

SV said...

Quando tinha 10 anos e passei para o 5.º ano, entrei para o Conservatório de Dança, no Bairro Alto. Morava na linha de Sintra e, por isso, apanhava 1 autocarro para a estação de combóios, 1 combóio e o elevador da glória (quando não ia a pé pelas Escadinhas do Duque) até chegar ao meu destino. Não sei quantas ruas atravessava sozinha. Em rigor, no primeiro ano não foi bem sozinha porque tinha uma colega nas mesmas condições que eu e, nos primeiros tempos (um mês talvez), tivemos a companhia da minha mãe.
Nunca fui atropelada por qualquer carro... ou combóio, sempre consegui medir as distâncias convenientemente, portanto. Mas um certo dia, ainda não estava bem acordada, esbarrei num painel de acrílico transparente que separava 4 telefones, alí nos restauradores. Não sei se conta...

Anonymous said...

Na 2ª classe, já fazia quase um km para ir prá escola. Qual é o espanto?

Anonymous said...

Daqui a pouco, proíbem os putos de jogarem à bola num clube aos 10anos (cá para mim, bem mais perigoso do que de andar na estrada, em termos de probabilidades uma lesão qualquer).

Anonymous said...

Humm.
Por um lado é verdade, e concordo que se protege demais as crianças hoje em dia, eu pecadora me confesso.

Por outro lado (e sem saber há quanto é que teve 11 anos), faço o mesmo exercício comigo. Eu fazia com 10/11 anos coisas que não deixo o meu filho fazer (tem essa idade).

Havia menos predadores, hava menos trânsito, havia um maior sentido de comunidade, e de responsabilidade comunitária.

Os tempos são diferentes, os perigos são diferentes e as consciências do que são os perigos também se alteraram.

Acho que nem tanto ao mar nem tanto à terra :)

Anonymous said...

Esta atitude de "atrasado mental até prova em contrário" faz, em última consequência, com que esses putos de 12 anos, que já podem atravessar ruas, o façam enquanto jogam PSP, uma coisa segura para fazer até aos 12 anos.

O problema não está nas crianças e no desenvolvimento do seu cérebro mas sim em certos cérebros que pararam de desenvolver aos 12 anos e um dia mais tarde escrevem em jornais e revistas...

Penso que tenho dois filhos perfeitamente "dentro da média" e posso garamtir que aos 8 e 7 anos respectivamente, qualquer um sabe atravessar uma estrada. Se fosse esperar pelos 12 anos sei o que acontecia - porque o fiz, todos fizémos - "ah é proibido? então vou sem eles saberem".

Comheço um caso real de um pai que não deixa o filho de 10 anos, 4ª classe, pequena (mesmo) aldeia quase sem trânsito, ir da escola para casa sózinho. Mas deixa-o ver filmes pornográficos nos canais descodificados dna TV...

Depois queixam-se...

Helena Araújo said...

O meu filho, de 11 anos, vai para a escola de bicicleta. São 4 km pelo centro de Berlim.
Da primeira vez, o pai fez o percurso com ele, e verificou que é muito cauteloso e tem bom controle da bicicleta.
Verdade seja dita, desde os 5 anos que vai para a escola de bicicleta.
Além disso, na Alemanha há uma lei que dá toda a culpa ao condutor, no caso de um acidente de viação em que esteja envolvida uma criança. Já estão a ver: aparece uma criança na rua, e os carros até sobem paredes para se desviarem dela...

Quando eu tinha três anos, ia para o infantário com o meu irmão de cinco anos. Seria 1 km, e tínhamos de atravessar uma via rápida (mas é verdade que naquele tempo não havia tantos carros). Lembro-me de lhe dar a mão com a certeza de que tínhamos de conseguir aquilo juntos. Nada de "toma conta de mim", mas antes "vamos a isto!"
Das primeiras vezes, a minha mãe seguiu-nos a uma certa distância, sem nós sabermos, para ter a certeza de que nós estávamos capazes de o fazer.

Bem, e também há as histórias que uma rapariga da aldeia contava, do género ter de levar o almoço do pai à fábrica, e de uma vez ter apanhado com um lobo no meio da floresta...

Moral da história: que espécie de adultos vamos criar, se os protegermos de forma tão excessiva?