Sunday, November 01, 2009

Re: O estranho catolicismo de José Manuel Pureza


No núcleo do Portimão do Bloco de Esquerda há um aderente que é católico praticante ou coisa parecida e que, efectivamente, se recusa a participar em campanhas relacionadas com assuntos como aborto, casamento entre pessoas do mesmo sexo, etc. Não me parece ser esta a posição de Pureza, pelo que também a mim ele me parece um católico à margem das posições da Igreja (mas quem sou eu, um ateu, para dar opinião sobre isso?).

No entanto, não se pode querer "sol na eira e chuva no nabal" - se se considerar que Pureza não é um "verdadeiro católico", então não se pode dizer (como muita gente diz) que "Portugal é um país maioritariamente católico" - a maioria dos tais 85% de "católicos" segue ainda menos a doutrina da Igreja do que José Manuel Pureza (p.ex., em 2007, apenas 18% dos eleitores inscritos - 40% de 43% de votantes - votou contra a legalização do aborto; em 1998, foram 16% - 50% de 32%; mesmo que, devido aos eleitores fantasma, admitamos que a percentagem real de eleitores que foram às urnas votar "não" tenha sido de 20%, isso quer dizer que 3/4 dos supostos "católicos" não se dignaram a ir "defender a vida"). O Pureza consta que ao menos vai à missa, o que ultrapassa em muito o grau de empenhamento da maioria dos católicos.

Um aparte: o tal documento da ICAR diz, a respeito da família tradicional, "devem ser salvaguardadas a tutela e promoção da família, fundada no matrimónio monogâmico entre pessoas de sexo diferente e protegida na sua unidade e estabilidade, perante as leis modernas em matéria de divórcio: não se pode, de maneira nenhuma, pôr juridicamente no mesmo plano com a família outras formas de convivência, nem estas podem receber, como tais, um reconhecimento legal" (negrito meu); dá-me a ideia que isso põe fora do "verdadeiro" catolicismo, não apenas os defensores do casamento homossexual, mas também os defensores da des-estatização do casamento: afinal, se o casamento passar a ser apenas regulado pelas regras gerais do direito privado, passa a estar "juridicamente no mesmo plano", não apenas com "outras formas de convivência" mas com qualquer tipo de relação contratual.

2 comments:

Ricardo Alves said...

Pureza pode ser um verdadeiro católico do ponto de vista da prática, e não o ser do ponto de vista doutrinal. Parece-se ser esse o caso.

Algarviu said...

O catolicismo de José Manuel não prima pela pureza. Digo eu.