Friday, April 09, 2010

Keynesianismo e "Austrianismo" (II)

 António Costa Amaral, a respeito de Krugman, os keynesianos e a "escola austríaca", recomenda esta blogue.

Há lá algumas coisas que gostaria de comentar, a começar por esta:

Krugman, on the other hand, believes that it is good for government to hold down the rates, but then apply regulation to stop potential bubbles. Here he is in his own words:

But did I call for low interest rates? Yes. In my view, that’s not what the Fed did wrong. We needed better regulation to curb the bubble — not a policy that sacrificed output and employment in order to limit irrational exuberance.
This is more telling -- and more contradictory to the Keynesian arguments than what Krugman will admit, for he is hinting that low interest rates can lead to a bubble, which is what Austrians would call malinvestments (or maybe malinvestments on steroids). However, he believes that government can head off such malinvestments through regulation.

This is very interesting, for on one hand, he claims that it is all aggregate demand, but on the other hand, he is saying that forcing down interest rates can have consequences if government does not try to regulate away the excesses. However, he cannot have it both ways. Indeed, he is accusing us of employing back-door Keynesianism, but then tries to do the same with Austrian theory.

Não existe nehuma contradição entre o keynesianismo (e a teoria da procura agregada) e a ideia que a baixa da taxa de juro pode provocar "bolhas". Vou explicar como surge uma expansão artificial num modelo keynesiano:

A curva IS (investment-saving) relaciona a procura de bens e serviços com a taxa de juro (quanto mais baixos os juros, maior a procura); a curva LM relaciona, para um dado nivel de preços, o produto e a taxa de juro com a procura de moeda (quanto maior o juro, menor a procura de moeda; quanto maior a produção/rendimento, maior a procura de moeda; portanto, para um dado nivel de oferta de moeda, quanto maior o juro, maior terá que ser o produto e vice-versa, para a procura e oferta de  moeda se manterem em equilibrio).

Aquela recta tracejada é o nivel da actividade económica em que não há, nem pressões inflacionistas, nem deflacionistas.

Agora imaginemos que o banco central aumenta a moeda em circulação; assim, passa a ser possivel um aumento do produto e/ou uma redução da taxa de juro sem provocar um desiqulibrio entre a oferta e a procura de moeda (no fundo, o que os austríacos chamaram "investimento sem poupança prévia"); ou seja, a curva LM desloca-se para a direita:


E agora, temos, ao mesmo tempo, uma expansão económica (aumento do produto) e uma redução da taxa de juro.

No entanto, isso não se consegue manter a prazo - o facto da economia estar a funcionar acima da sua capacidade "natural" acaba, ao fim de algum tempo por levar a uma subida dos preços, de forma que, em termos reais, a oferta de moeda acaba por ser reduzir, levando a uma deslocação para a esquerda da curva LM, que até pode levar a ecomomia a um nivel inferior ao que tinha inicialmente:



Mais - como agora há investimentos que foram realizados no tempo dos juros baixos e ecomomia em alta que estão desaproveitados, a propensão a investir será menor do que inicialmente, levando a que, mesmo para o mesmo nivel de juros, haja menos procura de bens e serviços que inicialmente, deprimeindo ainda mais a economia; ou seja, a curva IS também se desloca para a esquerda:


e pronto, já temos um modelo keynesiano (nivel do 2º ano de um curso de Economia) em que temos uma expansão monetária a provocar primeiro uma descida dos juros e um "boom" artificial da economia, seguido de uma recessão e de máquinas ao abandono (no fundo, algo que me parece muito parecido com a teoria austríaca dos ciclos económicos).

Podemos achar que este modelo está correcto ou não, mas não dizer que a teoria keynesiana é incompatível com a existência de "bolhas".

William Anderson (o autor do tal blogue) também escreve que, durante um "boom", o que há não é "more investment", mas "malinvestment"; mas parece-me que a existência de "malinvestment" implicará "more investment" (embora a inversa não seja verdadeira) - o facto de os juros serem baixos levará alguns "maus investimentos" a serem realizados, mas não levará a que nenhum "bom investimento" deixe de se realizar, logo haverá, não apenas "mau", mas também "muito" investimento.

Finalmente, a respeito da frase final - "Indeed, he is accusing us of employing back-door Keynesianism, but then tries to do the same with Austrian theory"; nada de especial com isso - se assumirmos que a teoria keynesiana e a austríaca baseiam-se em premissas largamente idênticas (apenas usando um palavreado diferente), é natural que, quando um adepto de uma delas começa a explicar os pormenores da sua teoria, os adeptos da outra pensem "o que ele está a fazer é introduzir a nossa teoria pela porta das traseiras".

Nota - quando falo em "keynesianismo", não estou a distinguir entre Keynes, Hicks, Samuelson, Krugman, etc.; estou a juntar o pensamento deles todo no mesmo saco (acho que Keynes nunca desenharia aqueles gráficos que fiz).

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