O que eu me dá a ideia é que, nesta polémica, nem Krugman nem os "austríacos" percebem bem a posição do "adversário".
- Krugman parece-me achar que a "escola austríaca" é apenas a "escola de Chicago" sem equações e derivadas e, portanto, está à espera que os "austríacos" digam que o aumento da procura nuns sectores implica uma redução noutros (como os economistas com que ele está habituado a discutir acabam por dizer implicitamente); ao ver que os austríacos dizem que nos booms há simultaneamente aumento da procura de bens de consumo e de investimento, isso parece-lhe uma cedência escondida ao keynesianismo, em vez de um aspecto fundamental (acho eu) da teoria
- Já os austríacos parecem confundir o keynesianismo com uma doutrina que diz que aumentar a procura (nomeadamente através de deficits) gera sempre crescimento económico (em vez de só o originar em condições muito específicas); claro que o facto de por vezes alguns auto-proclamdos keynesianos parecerem defender na prática essa ideia também ajuda à confusão
Friday, April 09, 2010
Keynesianismo e "Austrianismo" (V)
Publicada por Miguel Madeira em 21:47
Etiquetas: teoria dos ciclos na economia
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1 comment:
Excelente série de posts.
Uma das coisas que provavelmente também ajuda à confusão é a enorme quantidade de "subdivisões" de cada escola de pensamento. Quem quiser um homem de palha para tomar o todo pela parte não tem dificuldade em encontrar um.
Por exemplo, eu também aprendi que o keynesianismo só prevê a utilização de déficites até atingir o pleno emprego. Mas há imensos autores (supostamente neo ou póskeynesianos) que defendem que a expansão da procura agregada pode ser levada quase até ao infinito. E na década de 60 e 70 havia quem defendesse que as políticas públicas não eram um meio de ajustar o ciclo económico às potencialidades da economia mas sim uma forma de a impulsionar permanentemente (teoricamente, até aumentava a produtividade).
Também é duvidoso que a escola de Chicago defenda que qualquer aumento da procura conduz a um imediato aumento de preços. Penso que o argumento é outro: à medida que a inflação se internaliza, a única forma de continuar a manter o emprego é acelerar essa taxa.
Por outro lado, a ideia de que numa altura de recessão é necessário baixar as taxas de juro não choca necessariamente com Chicago: o próprio Friedman defendeu que a Grande Depressão foi "facilitada" pela política monetária restritiva da Fed.
Ou seja, e no que diz respeito aos juros, parece-me que a oposição entre Chicago e Keynes é meramente de grau (descer mais ou menos, durante quanto tempo, etc.), enquanto que a oposição entre estes dois e a austríaca é de facto de qualidade (embora o "mecanismo" de recessão possa ser muito semelhante, como o Miguel mostra).
[Agora que noto, acabei por me alongar um pouco no comentário...]
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