Thursday, April 08, 2010

Keynesianismo e "Austrianismo"

Paul Krugman escreve sobre a "escola económica austríaca":

The Austrian view is that unemployment in a slump results from the difficulty of “adaptation of the structure of production” — workers are unemployed as resources are painfully transferred out of an overblown investment-goods sector back into production of consumption goods.
But this immediately raises the question, why isn’t there similar unemployment during the boom, as workers are transferred into investment goods production?

(...)

In practice, Austrians seem to be Keynesians during booms without knowing it; they realize that high demand produces a boom, but don’t realize that this contradicts their own theory of slumps.
e
Why do periods when the economy is investing more correspond to booms, while periods when it’s investing less correspond to slumps? That’s easy to understand in Keynesian terms — but the whole Austrian claim is that they’re an alternative to Keynesianism. Yet I have never seen a clear explanation of this central point.

What happens, instead — or at least that’s how I read it — is that Austrians slip Keynesianism in through the back door. Implicitly, they associate booms and slumps with rising or falling aggregate demand — utterly unaware that their own theory doesn’t actually make room for such a thing as aggregate demand to exist, or at least to affect overall employment. So Austrians are basically Keynesians in denial — self-hating Keynesians? — pretending to themselves that they’re not using ideas that are in fact essential to their story.
Há muito que tenho a opinião que, no que diz respeito ao ciclos económicos, o "austrianismo" pode ser considerado nada mais do que o keynesianismo virado de cabeça para baixo (ou talvez seja o keynesianismo o austrianismo virado de cabeça para baixo, já que penso que a teoria austríaca dos ciclos económicos é anterior à keynesiana).

No fundo, austríacos e keynesianos concordam (parece-me) em dois pontos fundamentais:

1 - a nível micro, os preços não se ajustam instantaneamente de forma a equilibrar a oferta e a procura de cada produto; o equilíbrio vai sendo atingido aos poucos, por um processo de tentativa-e-erro dos agentes (enquanto "Chicago" tende a acreditar no equilíbrio instantâneo)

2 - a nível macro, a variação da quantidade de moeda origina, a curto e médio prazo, variações da actividade económica real (enquanto para "Chicago" origina apenas variações no nível de preços - no fundo, isto é uma consequência lógica do ponto anterior)

Um exemplo concreto - tanto keynesianos como austríacos concordarão que uma expansão da oferta monetária levará a um aumento temporário da actividade económica, enquanto para "Chicago" levará apenas a uma subida de preços (em principio, o keynesiano acha que essa expansão é boa e o austríaco que é má, mas o juízo de facto não muda muito).

Inclusive, há um dos "comentários dos leitoes" que suspeito ter sidoescrito para defender a posição austríaca mas que na essência pode perfeitamente ser subscrito por um keynesiano:
Why do periods when the economy is investing more correspond to booms, while periods when it’s investing less correspond to slumps?

With a fixed money supply, more investing means less consumption, not a slump. With a variable (Keynesian) money supply, more investing and more consumption can occur simultaneously (but not indefinitely). Eventually, reality sets in, in the form of a slump. See the past decade for evidence.
Uma nota final acerca do argumento (levantado também nessa discussão) de que o keynesianismo implicaria que o capital fosse homogéneo - isso é um perfeito disparate; p.ex., na minha cadeira de Politica Económica e Planeamento, o que eu aprendi foi, basicamente, um modelos keynesiano com capital heterógeneo; nos modelos mais "macro" o capital e o trabalho são assumidos como homogéneos apenas para simplificar a explicação, mas a lógica do modelo funciona à mesma com factores heterógeneos.

3 comments:

PR said...

Este é o melhor texto que já li acerca do tema. Penso que o Miguel o vai achar interessante [vai mesmo ao hardcore metodológico e às conclusões 'cutting edge' das várias escolas].

http://econfaculty.gmu.edu/bcaplan/whyaust.htm

AA said...

uma data de homens-de-palha, não?

sobre a patetice de krugman e os austríacos, aqui há umas coisas

http://krugman-in-wonderland.blogspot.com/

Anonymous said...

Visão interessante, sem dúvida, como muitas outras.

www.impugnador.blogspot.com