A questão da concentração de erros que surge numa crise é crucial porque de forma simultânea parece que todos os agentes económicos falham naquilo em que a função empresarial é única: antecipar procura, preços de inputs (incluindo de taxas juro) e de outputs (incluindo taxas de retorno exigido). Em situação económica normal estas falhas existem em contínuo, por isso empresas têm prejuízos e são obrigadas a corrigir a sua actividade, empresas até desaparecem nesse processo. Mas as falhas de uns dão-se ao mesmo tempo da correcta antecipação de condições económicas (e preferências de consumidores) futuras por outros.
Assim, perguntar como é que nesse dado ponto, em todos os sectores, todos os empresários parecem ter falhado na antecipação de procura, dos preços de input e outputs faz todo o sentido.
Por vezes, na procura de culpados pela crise, parece surgir a ideia que esses empresários, gestores, accionistas, aforradores, mercados de capitais, mercados de mercadorias, mercado imobilário, credores, etc., cuja interaccção é altamente descentralizada e feita de acções correctivas constantes, conseguem acumular uma série de erros (sem origem em nada de especial) e de repente esses enganos como que se materializam todos. Os preços estão incorrectos, a procura de produto A, B, C, está incorrecta, a poupança disponível é outra, a preferência por certo tipo de casas a dado preço falha completamente, o risco de negócio foi altamente desvalorizado, e ficam todos na vertigem de falência (bancos, empresas, pessoas).
Qualquer teoria sobre ciclos económicos tem de responder a este aspecto e de forma consistente com a sua própria visão, se bem que Keynes sugere no fundo que isto é apenas um comportamento bipolar estrutural nos consumidores e empresários. No fundo deu lugar ao economista como um psicanalista que tem de conduzir os agentes pela sua depressão até conseguir elevar outra vez ao optimismo.
1 comment:
Essa pergunta é respondida pelo Miguel Madeira no texto do blogue que se segue:
http://ventosueste.blogspot.com/2011/06/erros-dos-agentes-economicos-e.html
«Portanto, porque razão é que a maior parte dos agentes cometem, ao mesmo tempo, o erro de praticar preços mais altos do que os adequados?
Imagine-se que, esta noite, por volta das 5 da manhã, a temperatura terrestre descia 10º; seria de esperar que muita gente amanhã vestisse roupa fresca (pelo menos, no Hemisfério Norte) e só quando saíssem à rua é que percebessem que estava muito mais frio do que esperavam; não há nenhum mistério em muita gente cometer o euro de se vestir "à fresca" - afinal, se toda a gente foi afectada por um descida inesperada da temperatura, é natural que comentam o mesmo erro ao vestir-se.
Da mesma maneira, se houver um aumento geral da procura de moeda, e portanto, uma redução geral da procura de bens e serviços (o que não exclui que possa haver um aumento da procura de alguns bens ou serviços especificos), é também perfeitamente normal que a maior parte das empresas se veja com preços mais elevados do deveria ser; da mesma maneira, nenhum mistério aqui.»
Post a Comment