Monday, September 05, 2011

Ainda sobre o romance policial (vs. o "romance de fantasia")

Uma coisa que tenho notado (pelo menos pelas prateleiras das livrarias e da secção de livros do Continente) é, primeiro uma decadência e recentemente um regresso do romance policial como o "mais popular romance de entretenimento".

Há uns anos atrás, esse lugar parecia ter sido ocupado pela "fantasia", com todos os romances sobre elfos, duendes, vampiros, magos, etc. O aparente desaparecimento da colecção "Vampiro Gigante" dos "Livros do Brasil" (que a dada altura passou a ter apenas uma obra por volume em vez de duas, e depois parece ter acabado de vez) parecia-me o perfeito símbolo do fim de uma era. Eu até pensei em escrever um post sobre o assunto (eventualmente referindo o conflito entre misticismo e racionalismo*), mas depois abandonei a ideia.

Mas entretanto, a maré parece ter mudado - à volta do gajo que escreveu três livros e depois morreu, parece ter entrado na moda uma série de policiais nórdicos (p.ex., Camilla Läckberg); por outro lado, o romance de "fantasia" parece (influências crepusculares?) estar a reduzir-se ao "romance de vampiros" (que, para falar a verdade, suspeito que muitas vezes não passa do clássico "romance sentimental" transplantado para um universo em que a bebida favorita não é a Coca-Cola...). As N-logias sem fim em que a "fantasia" parece ter entrado ("A Saga das Pedras Mágicas" já vai em quantos capítulos? Para não falar das "Crónicas de Gelo e Fogo"...), se ajudam a fixar público, provavelmente também não ajudarão a ganhar novos públicos.

De qualquer forma, haverá alguma razão para esta queda e ascenção do romance policial? Ou talvez o que tenha havido seja simplesmente uma ascenção e queda da "fantasia" (motivado primeiro pelo cinema - O Senhor dos Anéis e Harry Potter - que acabou por se esgotar com o fim da sua inspiração cinematográfica), que provocou uma imagem inversa sobre o policial.

Uma nota final - alguns poderão argumentar que na minha análise do romance de entretenimento estou a deixar de lado uma terceira componente: a chamada "literatura light" (Margarida Rebelo Pinto e as apresentadores de televisão que escrevem livros). É verdade - mas a "literatura light" acaba por explorar temas formalmente parecidos com a chamada "literatura séria" (pondo de uma maneira - ambos correspondem na literatura ao género que no cinema se denomina "drama"), apenas com a diferença de não vir acompanhada de reflexão social ou filosófica (ou seja, é mais uma versão de má qualidade do mesmo género do que um género distinto)

*note-se que eu vivo numa cidade com pelo menos dois autores (ou um tradutor e um autor) de livros de fantasia (Jorge Candeias e Fábio Ventura); talvez isso influencie?

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