Como foi dito aqui (e nos comentários) a teoria de Mises da mentalidade anti-capitalista no romance policial é bastante duvidosa.
E, de qualquer maneira, parece-me feita sobretudo a pensar no "romance negro" norte-americano, que é onde os temas do detective privado (muitas vezes levando uma existência à beira da miséria) em luta ao mesmo tempo contra os poderosos da cidade e contra o "police department" são mais visíveis.
Já no policial inglês, o detective é um típico cavalheiro da alta sociedade - o culpado normalmente também o é, mas porque todos os personagens o são (ou seja, não há nenhuma tendência para apresentar os "ricos e poderosos" como naturalmente culpados); uma possivel excepção serão os romances de Agatha Christie à volta do tema "poderosa rede criminal com um chefe misterioso" - O Adversário Secreto e O Homem do Fato Castanho - em que o chefe misterioso é alguém muito mais importante socialmente do que os outros protagonistas, mas isso também faz algum sentido (afinal, é o lider de uma rede criminal, é natural que também o seja na vida "civil"). E a policia, embora seja apresentada como incompetente, não tem uma imagem tão negativa (por mais defeitos que tenha, o inspector Japp acaba por ser uma espécie de amigo de Poirot, em vez de o mandar espancar, como, p.ex., a policia de Los Angeles faz regularmente a Donald Lam); e personagens como o Tommy e a Tuppence são mais "policias a falsos recibos verdes" do que outra coisa qualquer.
Mas voltando ao "romance negro", a sua análise ideológica é ambígua - quase diria que é "pro-market" e "anti-business": "pro-market" na medida em que o herói é o detective privado, mas terá traços anti-bussiness na medida em que os maus são por vezes empresários poderosos da cidade. Talvez a "ideologia" desse tipo de obras seja uma espécie de "radicalismo jeffersoniano", defensor dos pequenos proprietários contra o Estado e o grande capital (neste caso, o detective privado contra o crime organizado, a policia e as pessoas influentes da cidade).
Agora, a respeito do que Mises também escreve:
A consistent Marxian would have to call the detective story—perhaps together with the Hollywood pictures, the comics and the “art” of striptease—the artistic superstructure of the epoch of labor unionism and socializationAté não me admirava que, na sua época dourada, há umas décadas atrás, o "leitorado" do romance policial fosse capaz de ter um grande coincidência com o eleitorado dos partidos socialistas/social-democratas - basicamente, classe média-baixa urbana (não que a classe média-alta não leia romances policiais - eu, apesar de tudo, considero-me classe média-alta e leio romances policiais - mas é demograficamente menor, e também lê outros géneros que não serão tão populares entre a média-baixa).
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