Rodrigo Adão Fonseca pergunta(-se) "que traços da identidade americana, que valores da sua democracia e do seu povo merecem o apreço da esquerda portuguesa, que com frequência dá a entender que não é anti-americana? Em que é que os EUA os atrai, que referências, personalidades, partidos políticos e identidades lhes merecem elogios? Qual é, a seus olhos, a América Boa?"
Eu só posso falar por mim, não pela "esquerda portuguesa" no seu todo, mas aqui vai uma lista avulsa de coisas que eu admiro na sociedade norte-americana (em rigor, na minha imagem do que é a sociedade norte-americana - eu nunca lá pus os pés e estou a "falar de cor"):
Admiro a abertura aos imigrantes, que me parece ser maior do que na Europa.
Admiro a "contra-cultura" norte-americana dos anos 60/70 (resposta previsível...), que acho que foi muito mais importante que o "Maio de 1968" francês - os "Sixties" norte-americanos levaram para aí uma década e creio que mudaram bastante a sociedade norte-americana em montes de aspectos (nomeadamente naquilo a que o Sérgio Sousa Pinto chamaria "questões fracturantes"); o Maio de 68 foram 2 meses e não teve efeito quase nenhum sobre a sociedade e a cultura francesa.
Admiro o hábito de montes de assuntos serem decididos em referendo - nomeadamente o "referendo revogatório" parece ser um instituto mais efectivo na Califórnia do que na Venezuela; ainda a respeito do sistema politico, simpatizo com o sistema de grande parte dos cargos oficiais (em certos sítios, acho que até os apanhadores de cães) serem eleitos em eleições próprias, em vez de nomeados.
Em larga medida, acho muito cinema norte-americano, não apenas mais divertido, mas até mais interessante que muito cinema europeu - é um lugar-comum dizer que o cinema norte-americano é um instrumento de "manipulação e alienação das massas e promotor do conformismo e do alheamento face aos problemas do mundo", mas o que é certo é que é mais fácil encontrar chamadas de atenção para os problemas políticos e sociais nos filmes norte-americanos do que nos europeus, que, esses sim, caem frequentemente na "passividade" e "no alheamento face aos problemas do mundo" (ou de tudo o que não seja o umbigo de quem faz o filme) - mesmo atendendo à diferença de escala, creio que cinema norte-americano fez muitos mais filmes sobre a guerra do Vietname que o francês sobre a Argélia ou o português sobre a guerra colonial; aliás, em Portugal quase nem há filmes sobre o 25 de Abril, p. ex. Até é engraçado que Hollywood esteja entre dois fogos - na Europa é acusado pelos intelectuais de esquerda de ser um instrumento da "hegemonia cultural do imperialismo americano", e nos EUA pela direita de propagandear o "anti-americanismo", o "humanismo secular" e de destruir os "valores tradicionais".
Em termos de personalidades admiro, assim ao acaso, John Brown, Henry David Thoreau, Ralph Nader, Noam Chomsky (ok, a previsibilidade continua), Wright Mills, Abbie Hoffman, em parte Edward Abbey, etc. (e, claro, os mártires de Chicago).
Admiro a esquerda norte-americana por - pelo menos em comparação com a europeia - nunca ter caído de amores pelos regimes da Europa de Leste: enquanto na Europa, durante muitos anos, ter sido do PC (ou compagnon de route) fazia parte quase obrigatória do curriculum vitae de qualquer "intelectual de esquerda" que se prezasse, nos EUA as modas sempre foram mais o anarquismo, o marxismo-deleonismo, o trotskismo, etc. (já agora, do outro lado da barricada, também acho mais interessantes os "libertarians" norte-americanos que os liberais europeus).
Praticamente todos os sites não-portugueses que costumo ler regularmente são norte-americanos (mas também deve ser culpa de só perceber português e inglês: no liceu às vezes tinha 20 em Francês - numa escala de 100): Economist's View, Mutualist Blog, AntiWar.com, Historical Atlas of the 20th Century, Unofficial Paul Krugman Web Page, etc. Também a maioria esmagadora das músicas que estão a tocar na meu computador neste momento são norte-americanas (com algumas gregas, árabes, uma israelita e uma catalã à mistura).
Finalmente, tenho a impressão que os parques naturais dos EUA devem ser melhores que os da Europa (pelo menos são mais conhecidos, o que deve significar alguma coisa).
Admiro a abertura aos imigrantes, que me parece ser maior do que na Europa.
Admiro a "contra-cultura" norte-americana dos anos 60/70 (resposta previsível...), que acho que foi muito mais importante que o "Maio de 1968" francês - os "Sixties" norte-americanos levaram para aí uma década e creio que mudaram bastante a sociedade norte-americana em montes de aspectos (nomeadamente naquilo a que o Sérgio Sousa Pinto chamaria "questões fracturantes"); o Maio de 68 foram 2 meses e não teve efeito quase nenhum sobre a sociedade e a cultura francesa.
Admiro o hábito de montes de assuntos serem decididos em referendo - nomeadamente o "referendo revogatório" parece ser um instituto mais efectivo na Califórnia do que na Venezuela; ainda a respeito do sistema politico, simpatizo com o sistema de grande parte dos cargos oficiais (em certos sítios, acho que até os apanhadores de cães) serem eleitos em eleições próprias, em vez de nomeados.
Em larga medida, acho muito cinema norte-americano, não apenas mais divertido, mas até mais interessante que muito cinema europeu - é um lugar-comum dizer que o cinema norte-americano é um instrumento de "manipulação e alienação das massas e promotor do conformismo e do alheamento face aos problemas do mundo", mas o que é certo é que é mais fácil encontrar chamadas de atenção para os problemas políticos e sociais nos filmes norte-americanos do que nos europeus, que, esses sim, caem frequentemente na "passividade" e "no alheamento face aos problemas do mundo" (ou de tudo o que não seja o umbigo de quem faz o filme) - mesmo atendendo à diferença de escala, creio que cinema norte-americano fez muitos mais filmes sobre a guerra do Vietname que o francês sobre a Argélia ou o português sobre a guerra colonial; aliás, em Portugal quase nem há filmes sobre o 25 de Abril, p. ex. Até é engraçado que Hollywood esteja entre dois fogos - na Europa é acusado pelos intelectuais de esquerda de ser um instrumento da "hegemonia cultural do imperialismo americano", e nos EUA pela direita de propagandear o "anti-americanismo", o "humanismo secular" e de destruir os "valores tradicionais".
Em termos de personalidades admiro, assim ao acaso, John Brown, Henry David Thoreau, Ralph Nader, Noam Chomsky (ok, a previsibilidade continua), Wright Mills, Abbie Hoffman, em parte Edward Abbey, etc. (e, claro, os mártires de Chicago).
Admiro a esquerda norte-americana por - pelo menos em comparação com a europeia - nunca ter caído de amores pelos regimes da Europa de Leste: enquanto na Europa, durante muitos anos, ter sido do PC (ou compagnon de route) fazia parte quase obrigatória do curriculum vitae de qualquer "intelectual de esquerda" que se prezasse, nos EUA as modas sempre foram mais o anarquismo, o marxismo-deleonismo, o trotskismo, etc. (já agora, do outro lado da barricada, também acho mais interessantes os "libertarians" norte-americanos que os liberais europeus).
Praticamente todos os sites não-portugueses que costumo ler regularmente são norte-americanos (mas também deve ser culpa de só perceber português e inglês: no liceu às vezes tinha 20 em Francês - numa escala de 100): Economist's View, Mutualist Blog, AntiWar.com, Historical Atlas of the 20th Century, Unofficial Paul Krugman Web Page, etc. Também a maioria esmagadora das músicas que estão a tocar na meu computador neste momento são norte-americanas (com algumas gregas, árabes, uma israelita e uma catalã à mistura).
Finalmente, tenho a impressão que os parques naturais dos EUA devem ser melhores que os da Europa (pelo menos são mais conhecidos, o que deve significar alguma coisa).
4 comments:
gosto da expressão que eles tem como "be my own boss" ou "working for the man".
personalidades não faltam. desde o inicio que a america teve personalidades anarquistas, interessantes e "exoticas".
tem uma fabulosa tradição de movimentos sociais, de trabalhadores, etc. desconfiança tanto perante o estado (usada e abusada pela direita) como para com "the man" (entretanto adormecida).
gosto de certa musica, mas não aquela que passa na mtv, adoro jazz, por exemplo.
cinema...existem filmes interessantes, outros dão vontade de vomitar, há de tudo.
não gosto de catalogar as coisas entre europeu e/ou americano, mas confesso que o europeu me diz mais... em termos de diversidade, experimentalidade, etc..
no fundo, gosto na america o que gosto na europa, ou noutro local do mundo em que algo me desperte interesse.
o anti americanismo é uma expressão absurda.
trata-se mais de uma questão de "anti-direitismo" e de certas politicas, mas afinal sou de esquerda.
Divagando um pouco, o espirito de filmes como "Os Inadaptados" é muito "anti-trabalho assalariado" - imagino que esse espirito corresponda a algo de real (ou pelo menos a algo de real no Oeste americano de meados do século XX): o realizador e o argumentista devem se ter inspirado nalguma coisa...
Não tens as referências mas certas, mas pelo menos sabes o que queres:)
Um abraço,
RAF
O velho marx considerou uma vez que a fuga para o Oeste era um movimento de esquerda dos trabalhadores a fugirem do trabalho assalariado.
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