Até há pouco tempo, eu estava convencido que, num país integrado numa moeda única, não havia qualquer problema em ter dívida externa, e que o conceito de "dívida externa" nem fazia grande sentido nesse caso.
Actualmente, acho que estava errado - mesmo numa moeda única, há problema se o Estado, individuos e/ou empresas deverem muito ao exterior: pode-se facilmente caír num ciclo vicioso de endividamente-deflação-endividamento.
Imagine-se que, num país, por qualquer razão, os preços baixam - em principio isso aumenta a procura externa (as exportações tornam-se mais competitivas) e nenhuns ou quase nenhuns efeitos tem sobre a procura interna (aumenta a riqueza real de quem tem dinheiro ou é credor de dívidas e diminui a dos devedores, sem efeitos sobre a riqueza global).
Mas agora imagine-se que a maior parte das dívidas dos nacionais é ao estrangeiro - nesse caso, uma redução dos preços levará a que, em termos reais, a divida ao estrangeiro (e os juros pagos) aumente; e como essa aumento diminui o rendimento disponível interno, faz também reduzir a procura interna.
Ora, se o endividamento for tão grande que este efeito seja maior que o efeito do aumento da procura externa, temos o tal ciclo vicioso: a redução dos preços faz reduzir a procura, o que por sua vez faz os produtores reduzirem ainda mais os preços, aumentando ainda mais o valor real da dívida e reduzindo ainda mais o rendimento disponível e a procura, num processo que talvez só acabe à medida que os devedores vão falindo (acabando-se assim a dívida).
Dizendo as coisas de outra maneira, podemos concluir que uma elevada divida externa leva a que, a partir de certa altura, a curva da "procura agregada" fique inclinada para trás - em vez do cenário clássico, em que quanto menor os preços maior a procura, temos um cenário em que menores preços levam a menos procura.
Thursday, September 16, 2010
O problema da dívida externa
Publicada por Miguel Madeira em 12:46
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