O principal problema de Portugal, mais do que o deficit, é o quase nulo crescimento económico; e esse baixo crescimento é o resultado de nos últimos 10 anos os preços (e salários nominais) terem crescido muito mais depressa em Portugal (e na periferia da UE - Grécia, Espanha, Irlanda) no que no resto da Europa (suponho que o principal incentivo para isso tenham sido os juros baixos propiciados pela moeda única).
E o resultado desses preços altos é que os sectores que estão em competição com o exterior (seja porque exportam, seja porque competem com as importações), como a indústria ou a agricultura, perderam "competitividade" e deixaram de ser viáveis, ficando o país largamente reduzido aos sectores que tem que ser produzidos no lugar onde são consumidos, como o comércios, serviços e imobiliário, uma situação que não é sustentavel a prazo.
E há solução para isso? Não. Mesmo que fosse possível deflacionar (seja por uma deflação mesmo, seja saido do euro e desvalorizando o "novo escudo"), o resultado disso seria um aumento enorme do valor da dívida - p.ex., se tivessemos uma deflação de 30% (um número que costuma ser sugerido), isso significaria um aumento de 43% no valor real da dívida.
Desta forma, estamos entre a morte lenta do "não produzir nada" e a morte rápida da deflação e falência total; ou seja, acho que não há solução dentro do sistema.
[Artigo publicado no Vias de Facto; podem comentar lá se quiserem]
Thursday, September 30, 2010
Porque Portugal está condenado ao colapso
Publicada por Miguel Madeira em 13:59