Nesta altura do ano, algumas empresas de dimensão nacional (bem, pelo menos uma...) têm o hábito de organizar jantares de natal a nível nacional (estilo, um jantar em Lisboa para todos os funcionários) e encarregar os chefes locais de arregimentar/pressionar os trabalhadores a lá irem.
Há primeira vista (e à segunda) isto parece o cúmulo da irracionalidade económica, porque todos perdem - os trabalhadores, mesmo tendo jantar e transporte à borla, perdem várias horas de tempo livre (provavelmente mais valiosas que o custo de um jantar); aliás, o facto de muitos trabalhadores terem que ser mais ou menos pressionados a ir (com argumentos do género "se calhar vão fazer reduções de pessoal e é bom que o nosso serviço esteja bem visto") indica que isso representa um custo para eles.
Já os proprietários da empresa, à partida, também perdem, pelo simples facto de a empresa estar a gastar dinheiro em jantares e a fretar transportes.
Então, como se pode explicar isso?
A única explicação que vejo terá com a velha teoria, que esteve na moda nos anos 60, foi largamente esquecida nos 80/90, e voltou outra vez à moda com a recente crise, de que os gestores formam um grupo à parte, com interesses distintos, tanto dos trabalhadores como dos capitalistas: um gestor organizar um mega-jantar é sinal que ele consegue motivar (seja com o pau ou com a cenoura) a irem a esse jantar, o que será um sinal da sua "capacidade de liderança", e valorizando-o no "mercado dos gestores".
[Publicação cruzada no Vias de Facto; podem comentar lá se quiserem]
Tuesday, December 07, 2010
Mega-jantares de natal empresariais
Publicada por Miguel Madeira em 23:46