Tuesday, September 06, 2011

A contradição prática da ciência económica de direita

Neste momento, parece estar a nascer uma revolta na direita blogosférica (e não só) contra os aumentos de impostos deste governo.

Creio que isso é o resultado de uma profunda contradição prática (ainda que não teórica) nas doutrinas económicas actualmente mais populares entre a direita - por um lado, como liberais, são contra os altos impostos; por outro, como anti-keynesianos, são contra os deficits orçamentais, e muitas vezes essas duas posições são apresentadas como se fossem fundamentalmente a mesma coisa; mas não são! Na verdade, sobretudo se confrontados na realidade com um deficit, esses dois sabores da economia direitista (contra os deficits e contra os impostos) revelam-se como completamente opostos.

Podemos aliás, ver isso em dois políticos que frequentemente são equiparados - Ronald Reagan e Margaret Thatcher; o primeiro desceu os impostos, originando acidentalmente um dos maiores deficits da história dos EUA; já Thatcher a primeira ou segunda coisa que fez quando foi para o governo foi aumentar os impostos para reduzir o deficit.

[uma curiosidade acerca de Thatcher - quando ela aumentou os impostos, 346 economistas, mais ou menos keynesianos, escreveram uma carta ao Times dizendo que essa politica durante uma recessão iria ser uma catástrofe para a economia; nos últimos tempos, por vezes aparecem referências - mais lá fora do que cá, mas já vi falarem disso em comentários n'O Insurgente - em blogs de direita a isso, num tom de "Estão a ver como os keynesianos são estúpidos? Afinal o Reino Unido foi um caso de sucesso!"; a ironia disto é que estamos a falar de uma politica que a maior parte dos blogo-direitistas actuais, se fossem politicamente vivos na altura, também teria sido contra, ainda que por razões diferentes - reduzir o deficit aumentando a receita?? Sacrilégio!!]

É verdade que em teoria as duas politicas (reduzir impostos e reduzir o deficit) não são opostas - é só reduzir as despesas ainda mais que os impostos; mas na prática um corte tão drástico da despesa raramente consegue ser feito - por norma, a redução do déficit faz-se reduzindo a despesa e aumentando a receita.

É verdade que houve uma tentativa intelectual de resolver a contradição - a "economia do lado da oferta", que, na versão "forte" diz que as redução de impostos, ao estimularem o crescimento económico, aumentam as receitas em termos absolutos, e na versão "fraca" diz que, mesmo que as receitas diminuam e o deficit em valor absoluto aumente, o crescimento da economia e da poupança torna o deficit menor em proporção. Assim poderia-se ter ao mesmo tempo menos impostos, redução do deficit e satélites anti-missil em órbita da Terra. Mas na prática parece que essas reduções de impostos sem redução da despesa o que originaram sempre foi maiores deficits, e que no fundo a "economia do lado da oferta" foi mais uma maneira de governos de direita continuarem a fazer keynesianismo (usar os deficits para aquecer a economia) fingindo estar a fazer outra coisa.

2 comments:

Anonymous said...

Independentemente das convicções ideológicas de cada um, não podemos descurar que numa ótica liberal, a europa ocidental é em grande medida "socialista", já que muitas empresas estão completamente dependentes do orçamento do Estado. Desse modo, a austeridade tem efeitos recessivos porque causa realmente uma espiral de desemprego, mas sem essa política de choque tão criticada na Esquerda não se consegue criar um aparelho produtivo em tudo independente do Estado o que seria o óptimo segundo o ponto de vista deles. (Sei que isto não acrescenta nada ao post, mas foi só para provar que a contradição prática na ciência económica de direita é um reflexo da contradição prática da esquerda reformista, que por mais progressista que queira ser tem as suas limitações que nunca serão ultrapassadas sem uma certa doutrina revolucionária - no caso da direita, o ser revolucionário é não ter medo de assumir que teremos de passar por uma catástrofe de desemprego para que a sociedade possa tornar-se liberal a longo prazo)

Anonymous said...

o problema é que muita gente fala do que não sabe. Liberais julgam-se donos da lógica, mas não conhecem os factos. Os socialistas nem um nem outro.