Acerca da discussão n'O Insurgente e do documentário "Praxis", Luis Pedro Mateus, no Centro Social, escreve:
[o documentário] se dirige principalmente a academias que de tradição académica muito pouco têm, se é que se pode afirmar mesmo que o que têm é Praxe Académica. É o caso de Lisboa, Évora e afins, onde o fenómeno das praxes é algo recente e que se baseia em “caçoadas” a caloiros. Coisa que, sendo parte da Praxe Académica, não a define nem a resume. Desde logo, ao focar-se em Academias bastante desenraizadas dum propósito tradicional, não contribui para um espelho fiel do que são as tradições académicas e muito menos para uma verdadeira compreensão do que é a verdadeira Praxe Académica. (...)Penso que o problema aqui é que, pela minha experiência, pelo menos de Loures para baixo, "praxe" é sinónimo de "recepção ao caloiro" - ninguém (ou quase) chama "praxe", p.ex., à Semana Académica de Lisboa, ao traje académico, à benção das fitas, etc; e, pelo menos no ISEG dos anos 90, a "Comissão de Praxe" era formada no principio do ano lectivo e dissolvida após a "recepção ao caloiro". Também no Algarve, quer antes de ir para a faculdade, quer depois de regressar, nunca ouvi ninguém falar (no contexto universitário) de "praxe" com outro sentido que não esse. Aliás, é frequente dizer-se "na universidade X, a praxa dura 1 semana; na Y, dura 3 semanas, etc."; ora, se a palavra "praxe" tivesse o significado corrente que Luis Mateus lhe dá, a praxe não duraria um dado período de tempo, seria até acabar o curso.
o autor, de todas as actividades e dinâmicas que se englobam na Praxe Académica, decide apenas focar-se, pelo que é dado a parecer, nas “caçoadas” aos caloiros, nas recepções para eles preparadas pelos mais velhos. Ora, mais uma vez, ao focar-se apenas nessa prática e ao ignorar dezenas de outras, está a enviezar a sua amostra. Porque não uma abordagem aos cortejos de queima das fitas? Ao cortejos de Latadas? A imposições de insígnias? A serenatas? Tudo isto faz parte do universo das tradições académicas, mas parece que se insiste em ignorá-lo. Infelizmente.
Voltando ao ISEG dos anos 90, e à terminologia em uso na época, "praxe" significava "recepção ao caloiro"; todos os outros hábitos e costumes da "vida estudantil" (de certeza que muito menos codificados do que em Coimbra) eram designados por "espírito académico".
Ou seja, pelo menos para a maior parte das pessoas de Loures para baixo (mas diga-se que eu não faço a menor ideia de onde o Luis Pedro Mateus é, vive ou viveu), o argumento "a praxe não é só as «caçoadas» aos caloiros" é como, numa discussão sobre se os Estados Unidos têm uma política imperialista, alguém argumentar que os Estados Unidos Mexicanos há mais de 150 anos que não intervêm noutros países (excluindo eventualmente intervenções multilaterais no quadro da ONU ou da Organização dos Estados Americanos). Formalmente é correcto, mas não tem nada a ver com o que se está a discutir: não só quase ninguém (pelo menos nas zonas que conheço) usa "praxe académica" nesse sentido lato, como os críticos da "praxe académica" usam o termo exclusivamente ou quase nesse sentido.
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