Monday, June 11, 2012

Anarquismo e "A Bela e o Paparazzo"

Apesar de ser um "país" (não me lembro se os personagem, nalgum momento, chegam a usar a palavra "Estado"), acho que há algo de anarquista na ideia do "Tiago" de "A Bela e o Paparazzo" de criar um país independente no seu prédio (tem implícito a ideia de direito de secessão, fala em criar uma federação com prédios vizinhos - e não em alargar o país ao prédios vizinhos - e creio que até tinha uma ideia qualquer de cada andar ter as suas próprias leis).

Penso que não seria é enquadrável nos modelos clássicos do anarquismo: não seria anarco-socialismo (já que não há qualquer intenção de alterar as relações de propriedade), mas também não me parece o anarco-capitalismo tradicional - neste, provavelmente o prédio seria governado pelos proprietários (tal qual uma assembleia de condomínios, com voto por permilagem); o filme não foi muito claro a esse respeito, mas tudo aponta para o voto nas assembleias que o Tiago organizava ser por habitante (acho que ele fala em ser tudo decidido pelo "povo", e parece-me que numa das reuniões alguém quer deixar de pagar renda, o que implica que os inquilinos também participavam). Por outro lado, talvez o Tiago fosse o dono de prédio (parece-me que no principio alguém diz "o prédio é teu", mas isso pode ter muitos significados), e nesse caso acabará, por vias convulutas, de ser uma forma de anarco-capitalismo: o proprietário proclama a independência da sua propriedade e decide como ela deve ser governada (e, neste caso, o proprietário decidiu implantar lá uma democracia directa como poderia ter decidido implantar lá outra coisa qualquer).

Ou talvez não seja boa ideia tentar fazer grandes reflexões teóricas a partir de uma side story protagonizada pelo Nuno Markl dentro de um filme da Soraia Chaves.

1 comment:

CN said...

Pode haver secessão dentro de um contrato de condomínio pré-aceite no acto da compra?

O ideal é que se preveja tal mecanismo e consequências.

Isso pode levar a secessão apenas para não pagar despesas de condomínio? talvez, mas podem existir formas de ostracismo (não uso de elevadores, fruição de equipamento).

Outra questão são os contratos de arrendamento e como podem ser ou não abrangidos.