O "Público" pergunta "se estamos dispostos a comer fruta feia para reduzir o desperdício".
O essencial pode ser invisível aos olhos, mas, a acreditar na expressão popular, é com eles que comemos. Quando foi a última vez que, na zona dos frescos de um supermercado, pegámos numa peça de fruta sem avaliar se essa era a mais bem-parecida do caixote? E se, querendo maçãs, só encontramos exemplares sem o aspecto regular e o brilho a que já nos habituámos, compramos na mesma? É um pequeno gesto, mas com grande impacto em cadeia.Os jornalistas têm mesmo certeza que são os consumidores que têm um problema com a "fruta feia"? Eu, entre as pessoas das minhas relações, nunca notei que houvesse alguma preferência por "fruta bonita" - sim, as pessoas não querem fruta com ar de estar a começar a apodrecer ou de ter sido picada pelos pássaros, mas isso são coisas que têm a ver com a qualidade intrínseca do produto, não a preocupação puramente estética descrita no artigo. A mim parece-me que quem tem a "pancada" da fruta bonita são mais os distribuidores (e não sei se os regulamentos da UE e os programas de certificação ISO-9000 e coisas do género não terão algo a ver com isso) do que propriamente os clientes (mas, como eu já escrevi várias vezes, eu sou uma pessoa estranha; talvez seja a minha opinião sobre as preferências dos consumidores que esteja errada?).
Como os consumidores preferem frutas e hortaliças perfeitas, os grandes canais de distribuição transferem essa preferência para os agricultores, que só conseguem vender para os supermercados as peças com melhor aspecto. O resultado é um desperdício produtivo de 30%, o que em Portugal significa mandar para o lixo ou para a alimentação do gado uma tonelada de produtos fruto-hortícolas com qualidade para estarem à nossa mesa, mas não com o aspecto desejado.
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