A respeito disto, ocorreu-me que um governo maquiavélico poderia usar essa estratégia como uma forma convuluta de privatizar a televisão.
Passos a seguir:
1 - Anunciar que vai fechar a televisão pública esta noite; como reação, os jornalistas fecham-se lá dentro e uma multidão junta-se à porta
2 - Anunciar que a policia vai evacuar o edificio; por carros da policia de choque sempre lá ao pé, mas não fazer nada, apenas para manter a tensão
3 - A emissão continua, sobre auto-gestão dos trabalhadores; no entanto, quando chegar o fim do mês, não há dinheiro para ordenados (já que as contas bancárias devem estar sob autoridade governamental)
4 - Os sindicatos e os "media alternativos" lançam uma campanha (talvez mundial) de solidariedade com os trabalhadores da televisão, com recolhas de fundos para apoiar a sua luta; isso seria uma desenvolvimento provável por duas razões: uma tradição sindical de realmente fazer recolhas de fundos (inclusive a nível internacional) em solidariedade com lutas badaladas; e existirem hoje em dia muitos "media alternativos", com uma orientação de esquerda, que realmente se financiam via "crowdfunding. Assim, seria uma saltinho de cobra (sem praticamente nenhuma grande mudança de paradigma) financiar a "luta dos trabalhadores" da estação de televisão dessa maneira
5 - E pronto, sem ninguém dar por isso, a televisão do estado foi efectivamente privatizada, transformando-se numa espécie de sociedade de jornalistas financiada por contribuições voluntárias dos espectadores (e já não por impostos ou taxas coercivos); e ainda por cima que na prática fez a privatização não foi o governo, mas as forças que em teoria são mais hostis à ideia de privaizar seja o que for.
O fecho da ETR tem sido apresentado por toda a gente como um tiro no pé do governo grego; mas será que estamos a ver mal a coisa e na verdade foi um golpe de génio de Samaras?
[Ou será que eu estou a delirar?]
Friday, June 14, 2013
Privatização sui generis? (II)
Publicada por Miguel Madeira em 16:07
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